segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A baiana de Morro do Chapéu que bateu um recorde de 16 anos

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03/08/2011

Nova recordista dos 10.000 m chegou a SP com R$ 52

 
Por Rodolfo Lucena
Em uma tarde de gala no Ibirapuera, Simone Alves da Silva (foto CBAt/Divulgação) derrubou hoje mais um recorde da grande Carmem Oliveira. Ela correu os 10.000 m em 31min16s56, estabelecendo nova marca sul-americana –o recorde de Carmem faria 18 anos no próximo dia 21. Com esse tempo, Simone, 26, também conseguiu índice para participar do Pan de Guadalajara, em outubro, e do Mundial de Daegu, na Coreia do Sul, que começa no próximo dia 27.
A vitória mostra a consistência da evolução de Simone, que foi a melhor brasileira na São Silvestre do ano passado e que, em maio último, também na pista do Ibirapuera, quebrou o recorde sul-americano dos 5.000 moutra marca de Carmem Oliveira que já estava na maioridade.
Acima de tudo, as conquistas demonstram a determinação dessa baiana de Morro do Chapéu, que chegou a São Paulo há dez anos sem dinheiro nem trabalho, apenas com a vontade de ser atleta.
“Mãe, vou para São Paulo. Vou treinar com o técnico do Marílson, mãe, do Marílson!!!”, disse a menina de apenas 16 anos à mãe, que trabalhava como lavadeira em Jacobina, onde a família vivia na época.
Simone, que começara a correr com 14 anos, depois de uma brincadeira, uma gincana com colegas de escola, já tinha se entusiasmado com o mundo das corridas de rua. Obteve alguns bons resultados na região, e um amigo acabou apresentando a garota para o técnico Adauto Domingues, que viu nela grande potencial.
Convencer a mãe até foi fácil, difícil foi arranjar dinheiro. A mãe não tinha de onde tirar e pôde apenas dar R$ 2 a Simone, que conseguiu com amigos e parentes na cidade outros R$ 50; a passagem em um ônibus clandestino foi de graça, e enfim a garota desembarcou em São Paulo.
Seu abrigo foi com a irmã, que já estava havia alguns anos na cidade grande e trabalhava como cabeleireira. Simone queria treinar e participar de corridas de rua, tentar beliscar um pódio, algum prêmio. Mas só com isso não dava para viver.
Trabalhei como babá, fui faxineira, vendia lingerie para as colegas de corrida”, lembrou ela hoje, depois de sua bela vitória na pista do Ibirapuera.
O suficiente para se manter, mas não para garantir uma alimentação adequada para uma atleta: “Teve época em que eu comia pipoquinha doce no café, no almoço e na janta; era o que dava”.
Os treinos e as corridas era seu esteio, e os colegas de atletismo uma nova família –literalmente: durante dois anos morou na casa da família de Adauto Domingues e na equipe veio a conhecer seu marido, com quem vive hoje em uma casa alugada em São Caetano.
Situação bem melhor do que a enfrentada há pouco mais de dois anos, quando o casal tinha de morar com a sogra de Simone, em Paraisópolis, na zona sul de São Paulo. Ela e Carlos levavam até três horas de ônibus para chegar aos treinos e ainda precisavam fazer bico, como o trabalho de sacoleira de Simone.
Até que Adauto apresentou a garota aos patrocinadores, e ela acabou sendo contratada. Com renda fixa, ganhou tranquilidade, os resultados melhoraram, a família teve mais paz. E o casal continuou sempre se ajudando, tanto que Carlos deu um tempo em seus treinos específicos –também é corredor de 5.000 m e 10.000 m—para servir de coelho durante a preparação de Simone.
O resultado está se vendo nas pistas brasileiras. Em breve, em pistas internacionais.

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