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Manchetômetro, 19 de agosto de 2014
Teologia, necrofilia e sustentabilidade
Por Wanderley Guilherme dos Santos
Em 16 de agosto, a então candidata a
vice-presidente Marina Silva declarou ao jornal Estado de São Paulo que
não estava no jatinho em que morreu Eduardo Campos, segundo a
reportagem, “por providência divina”. Foi sua primeira declaração sobre o
acidente, repetida, com variantes, em todas as suas declarações
posteriores.
Espantou-me a teologia implícita na
espiritualidade propagada pela missionária Marina Silva. O ardor com que
defende a sobrevivência do mais humilde ser terreno, animal, mineral ou
vegetal, indiferente aos custos do bem estar do rebanho humano,
imprimiu ao tema da sustentabilidade da saúde planetária um rigor
imobilista de difícil adesão. Na parte humana de seus mandamentos, os
vetos à mudança em costumes e aos experimentos científicos condenariam a
espécie às tábuas atuais de causas mortis, intolerância social e
crimes. A variante teológica de fundo parecia duramente reacionária.
Mas é ainda mais implacável a teologia
da missionária Marina. Para preservar sua missão, providenciou um
acidente que matou o candidato a presidente de sua coligação partidária
(pois seu verdadeiro partido, o REDE, era declaradamente um mioma que
esperava crescer no ventre do hospedeiro PSB), e todos os acompanhantes
de Eduardo Campos, pilotos, repórteres, assessores, dos quais não se
conhece a confissão religiosa, nem se haviam concordado em sacrificar a
própria vida em nome dessa implacável e ególatra missão.
O noticiário tende a difundir a mesma
necrofilia teológica, linguagem que a mídia escolheu para enquadrar o
acidente e suas consequências político-eleitorais. As próximas
pesquisas, menos debochadas, informarão qual o impacto imediato na
distribuição das preferências préeleições.
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