segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Obama é um dos presidentes mais ativamente anticastristas




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Carta Maior, 11/08/2014


 



Obama, o anticastrista ativo


Por Fernando Ravsberg | público.es




A agência norte-americana Associated Press parece estar decidida a tornar públicos todos os planos do governo dos Estados Unidos. Sua primeira grande revelação foi que Alan Gross – o norte-americano preso em Havana – havia atuado com sistemas de comunicação tão sofisticados que eram de uso do Pentágono e da CIA. Além disso, provaram que, para realizar essas operações, ele havia cobrado centenas de milhares de dólares de Washington, quebrando a imagem de desinteressado colaborador judeu que arrisca sua liberdade para levar internet à sua comunidade na ilha.

Tempos depois, a AP publicou a existência do programa Zunzuneo, uma espécie de Twitter desenhado especialmente para influenciar na situação política interna de Cuba usando mensagens de celular. Alcançaram umas 40 mil pessoas dentro da ilha. O plano consistia em enviar informações interessantes, mas politicamente inócuas para ganhar credibilidade em um público ao qual, posteriormente, seriam levados materiais com a finalidade de influir na situação interna cubana com o fim de “promover a democracia”.

Agora, a agência coloca sobre o tapete que, após a captura de Gross, a administração de Obama infiltrou grupos de jovens latino-americanos – da Costa Rica, do Peru e da Venezuela – em Cuba para fomentar a oposição. Fizeram isso escondido, sob a fachada de programas de saúde.

O senador democrata Patrick Leahy, titular da comissão que supervisiona o orçamento da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USAID, em sua sigla em inglês) declarou que a fachada utilizada é “pior do que irresponsável” porque “nunca deveria sacrificar a verba de programas de saúde ou cívicos em favor de objetivos de espionagem”. Entretanto, os falsos cooperantes acabavam sendo um negócio muito bom porque o salário dado a eles era ínfimo e, se fossem presos, não se transformariam num problema para a Casa Branca. Melhor ainda, criaria conflitos entre Havana e os governos da região. 


Recorde de punições

Apesar de os políticos cubano-americanos o classificarem como brando, Obama é um dos presidentes mais ativamente anticastristas. Já é seu o recorde – global e individual – de multas a empresas estrangeiras que negociam com Cuba, aplicando punições de bilhões. Em operações encobertas, tem uma boa média, ainda que dificilmente consiga se igualar a seus antecessores dos anos 60 com o Plano Mangosta, as conspirações para cometer assassinatos, apoiar grupos armados internos e organizar possíveis invasões.

O governo de Obama buscou, de fato, uma solução para apoiar e promover a oposição interna depois de a promotoria do Congresso comprovar que o dinheiro enviado aos grupos anticastristas de Miami eram usados com chocolates, casacos de couro e serras elétricas. Precisariam pular os cubano-americanos se quisessem que os recursos chegassem realmente à dissidência interna. Assim, deve ter surgido a ideia de contratar norte-americanos e latinos para levar os equipamentos de comunicação e recursos financeiros a Cuba.

Desde sua campanha eleitoral, ficou claro que Obama é um homem que sabe se mover no ciberespaço e usar as redes sociais com finalidades políticas. Ninguém deveria se surpreender por ter acontecido uma Primavera Árabe e por terem tentado usar essa mesma tática contra Havana.

No caso cubano, não se deve culpar o presidente pelo fracasso. Na verdade, desde o início, contou com poucas possibilidades de êxito. Tentar uma guerra cibernética em um país que recentemente desenvolveu sua internet é como encarregar os marinheiros da invasão da Bolívia. Além disso, jogou os dados sem levar em conta as mudanças que acontecem dos dois lados do estreito da Flórida, como as reformas de Raúl Castro e sua aproximação dos mais importantes e influentes empresários cubano-americanos, como Fanjul, Bacardí ou Saladrigas.

A abertura migratória também prejudicou os planos de Washington. Atualmente, os dissidentes perderam até sua mínima presença porque passaram muito tempo fora de Cuba, seja estudando jornalismo na Flórida ou fazendo turnês propagandísticas pela Europa.

A imprensa anticastrista de Miami reflete que “após a reforma migratória do governo de Raúl Castro se criou a tendência ao desenvolvimento de uma dissidência viajante, que conseguiu ampliar seus horizontes internacionais ao ver sua influência na ilha se reduzir”.

Como se tudo isso fosse pouco, a Casa Branca deve enfrentar agora sua própria oposição interna, que cresce rapidamente. Desde uma Hilary Clinton, que deixa Obama sozinho com o embargo a Cuba, até aqueles que mostram para a imprensa onde a USAID enterrou seus esqueletos.

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