domingo, 31 de agosto de 2014

Jovens, vocês querem mesmo Marina?



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Portal Vermelho, 31 de agosto de 2014



Jovens, vocês querem mesmo Marina?



Por Gilson Caroni Filho



​A simples leitura do programa de governo de Marina da Silva que, como todos sabem, foi escolhida pela "providência divina" e os acontecimentos recentes envolvendo as alterações no seu programa partidário permitem levar ao eleitorado jovem pontos fundamentais que revelam a natureza extremamente conservadora do eleitorado mais jovem.

Comecemos pelas questões macroeconômicas:

1) Marina pretende dar autonomia para o Banco Central. O que significa isso? Entregar o Banco para o mercado financeiro. Não por acaso conta com o apoio de banqueiros em sua campanha.

2) No documento, consta que políticas fiscais e monetárias serão instrumentos de controle de inflação de curto prazo. Como podemos ler este ponto? Arrocho salarial e aumento nas taxas de desemprego.

3) O programa ainda menciona a diminuição de normas para o setor produtivo. Os mais açodados podem pensar em menos carga tributária e burocracia para as empresas. Não, trata-se de reduzir encargos trabalhistas com a supressão de direitos que facilitem as demissões. Há muito que a burguesia patrimonialista pede o fim da multa rescisória de 40% a ser paga a todo trabalhador demitido sem justa causa. O capital agradece.

4) Redução das prioridades de investimento da Petrobrás no pré-sal. O que significa? Abrir mão de uma decisão estratégica de obter investimentos para aplicar na Saúde e na Educação. Isso, meus amigos mais jovens, é música para hospitais privados, planos de saúde e conglomerados estrangeiros que atuam na educação. O que o grupo Galileo fez com a Gama Filho e Univercidade , aqui no Rio, é fichinha perto do que está por vir. Era com uma coisa desse tipo que vocês sonhavam quando foram às ruas em junho do ano passado?

5) Em vez do fortalecimento do Mercosul, o programa da candidata, que "quer fazer a nova política," prega o fortalecimento das relações bilaterais com os Estados Unidos e União Europeia.Vamos retroceder vinte anos e assistir a um aumento da desnacionalização da economia latino-americana. É isso que vocês querem?

6) Meus caros amigos, não sei se foi a providência divina quem derrubou o avião em que viajava Eduardo Campos. Mas o que a vice dele, uma candidata que está à direita de Aécio Neves, lhes oferece é o pão que o diabo amassou. Gosto da vida, gosto da juventude, mas, agora, cabe a vocês escolher o que desejam enfiar goela adentro. Não há mais ninguém inocente.

No campo dos costumes, cabem outras indagações. O Partido Socialista Brasileiro, que sempre teve uma agenda progressista, foi criado em 1947 .Ao ceder a pressões para lançar a candidatura de Marina da Silva, acabou. No lugar dele, surgiu um PSB capturado pelo "Rede" da candidata do Criador.

Pois bem, bastaram quatro tuitadas do Pastor Malafaia para o partido retirar de seu programa de governo o casamento civil igualitário. Se em quatro mensagens por twitter houve um retrocesso desse porte, imaginem em quatro anos de um eventual governo do consórcio Itaú-Assembléia de Deus. Descriminalização do aborto? Esqueçam. Descriminalização dos usuários de drogas? Nem pensar. No mínimo, procedimentos manicomiais para os dependentes. Pensem nos direitos conquistados pelas mulheres nos últimos anos sendo submetidos ao crivo de dogmas medievais. Nos homossexuais como anomalias apenas " toleradas", jamais como sujeitos de direitos. Sim, pois vislumbramos uma religião se transformando em política de Estado.

É isso que vocês querem para o país? É isso que vocês querem para suas vidas e a dos filhos que vierem a ter? Em caso afirmativo, chamem Torquemada e me avisem: não quero ver ninguém ardendo em fogueiras. Tudo é força, mas só Malafaia é poder. Não acredito que vocês desejem isso.

Melhor, não quero acreditar.

*Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista do Portal Vermelho.






Carta Maior,  31/08/2014



A miragem chamada Marina



Por Flavio Aguiar


Na falta de melhor opção, parte da “direita móvel” brasileira vem cultivando uma miragem chamada Marina Silva. À sua sombra viceja o acalentado desprezo pela política, manifesto neste vago desejo, transformado em promessa imprecisa, de “governar fora das alianças”. O que isto quer dizer ninguém sabe, talvez nem mesmo a própria Marina. Falo em “direita móvel” para caracterizar a direita de vocação predominantemente rentista, que pode tanto animar-se com Aécio, como já se animou no passado, com Alckmin e Serra, em contraponto à “direita imóvel”, como são por exemplo, os saudosos da ditadura militar, os membros da bancada ruralista, para quem qualquer coisa que não seja Ronaldo Caiado é intragável.

Mas vai ser impossível governar sem alianças. E o que se vislumbra, no momento, é que a candidatura de Marina – que se lança internacionalmente como a possível primeira mandatária “verde” no mundo – vai na direção de atrelar novamente o país ao que de mais recessivo e depressivo há no mundo em matéria de economia e política econômica.

O panorama internacional das grandes economias mundiais é assustador. É verdade que nem mesmo os BRICS escapam desta sina, com a estagnação da economia russa e a diminuição dos créditos e dos investimentos na China, e a crise energética na Índia. O Japão vai mal, e já há muito tempo.

Mas o lado mais desastroso desta situação está na Europa Continental, com a recessão “austera” atingindo agora de frente e de vez, suas maiores economias: França, Itália e mesmo a gigante Alemanha. Nos Estados Unidos a situação melhorou um pouco, mas as incertezas permanecem quanto ao futuro. E o que assoma neste futuro não é nada agradável, com as conturbações que se propagam desde o confronto na Ucrânia, tanto do ponto vista militar quanto do político e do econômico.

É dentro desta moldura – em que a “coligação ocidental” está mais para Titanic do que para Arca de Noé – que a candidatura de Marina e sua programação acenam com uma desaceleração da integração latino-americana, da diversificação da agenda internacional brasileira, da construção progressiva e progressista da nossa autonomia energética podendo alavancar, inclusive, parte das economias sulamericanas. De quebra, apontam para a reatrelação de nossa presença mundial às combalidas carroças norte-americana e europeia.

Os riscos desastrosos de tal atitude são de grande monta, e inevitáveis. À desmontagem interna das políticas sociais – elogiadas no mundo inteiro – que seu programa prevê implicitamente se somará uma perda irremediável de credibilidade internacional, ainda que tudo isto possa ser embrulhado no papel crepom dos elogios que começarão a se derramar desde a mídia que catapulta os princípios da City londrina, da Wall Street norte-americana e do novo Consenso de Bruxelas/Frankfurt/Berlim que governa o desgoverno europeu. O Brasil voltaria ao seu papel de país de segunda ordem e de segunda mão.

Os custos sociais e políticos de tais retrocessos também serão incalculáveis. Porque aquela “direita móvel” não deseja apenas “corrigir os rumos” da economia e da política brasileiras.

Querem mesmo fazer retroceder o relógio da história, montando um plano que, a começar pela desvalorização do salário mínimo, vai trazer inevitavelmente uma contenção do poder aquisitivo da maioria da população – exatamente como se faz hoje na Europa, por exemplo. Quando isto atingir a rede de proteção social que vem se montando na Brasil, rede que vai desde as políticas de transferência de renda até os subsídios para alavancar setores econômicos, o desmonte poderá – deverá, na verdade – provocar um terremoto social de consequências imprevisíveis.

A orgia financeira dominará as políticas do tal Banco Central “independente”, enquanto o funeral das políticas sociais votará a colocar o Brasil na condição de órfão de si mesmo. E na frente internacional o país se tornará o sócio menor (de idade) das políticas recessivas do desastre ocidental. A “direita móvel” não hesitará em louvar Marina enquanto ela capitanear esta passagem à catástrofe. Mas também não hesitará em neutralizá-la ou até removê-la, se considerar que seu “fundamentalismo ambientalista” irá atrapalhar seus planos de ganhar poder e renda graças à administração da catástrofe. Portanto, até a própria Marina poderá se tornar a vítima da “miragem Marina”.

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