segunda-feira, 25 de agosto de 2014

A impunidade de Wall Street




http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Economia/Bank-of-America-prova-a-invencibilidade-de-Wall-Street-/7/31672




Carta Maior, 25/08/2014 


Bank of America prova a invencibilidade de Wall Street



Jon Queally - Common Dreams


 


O anúncio do governo norte-americano de um acordo onde o Bank of America terá de pagar 16,65 bilhões de dólares é mais uma encenação do que justiça, é mais um dos negócios de sempre e não uma punição real.

Apresentado ao público como uma vitória para o Departamento de Justiça, que intercedeu na negociação a favor do governo, detalhes do acordo oferecem uma perspectiva do quanto os bancos evitaram se responsabilizar pela forma como se comportaram e levaram a economia global à queda livre há seis anos. Grande parte do valor — cerca de 7 bilhões de dólares — não é paga em dinheiro, mas sim em “contribuições indiretas,” que são isentas de impostos.

Phineas Baxandall, analista que trabalha com o grupo US PIRG, declarou ao New York Times que “o povo americano estava esperando que o Departamento de Justiça responsabilize os bancos por seus erros em relação à quebra das hipotecas. Mas estas isenções de impostos colocam o peso nas costas nos cidadãos e mandam a mensagem errada ao tratar parte do acordo como gastos não-tributados.

Após o anúncio, as ações do banco — um dos maiores dos EUA — subiram 4 pontos.

Criticando este acordo e outros similares, Wiliam D. Cohan — ex-operador de fusões e aquisições bancárias que escreveu três livros sobre Wall Street — escreveu um editorial na revista Times esta semana, onde ele mostrava como o procurador-geral Eric Holder alardeou o acordo como uma história de sucesso. Cohan escreveu:

O fato é que ao promover acordos bilionários com os grandes bancos de Wall Street — com dinheiro que vem do bolso dos acionistas — Holder está apenas permitindo que eles evitem que seus erros sejam expostos. Com os acordos, os erros são permanentemente encobertos.

E isso não ajuda a ninguém. O povo americano é privado de saber precisamente como as coisas aconteceram dentro destes bancos até a crise financeira, e os bancos, sabendo que serão salvos da humilhação que seria causada pela publicação de seus e-mail e documentos, sem dúvida repetirão seu comportamento insensível e indiferente.

Ao invés da verdade, o que recebemos é uma “declaração sobre os fatos” sobre o que supostamente correu mal. No caso do JPMorgan, a declaração de 21 páginas continha pouco conteúdo substancial para além do fato de que um whistle-blower não-identificado que trabalhava no banco tentou alertar a seus superiores sobre sua crença de que hipotecas de má qualidade estavam sendo vendidas como hipotecas seguras. Suas advertências não foram ouvidas e as hipotecas continuaram a ser vendidas da mesma forma.

Críticos dos esforços investigativos do governo repetiram diversas vezes que processos criminais — incluindo a prisão de banqueiros e executivos — seriam a melhor resposta às atividades que desencadearam tantos danos à sociedade.

Dean Baker, economista e diretor do Center for Economic & Policy Research, em artigo intitulado: “Procuradores poderiam mandar banqueiros à prisão”, argumentou: “vender hipotecas fraudulentas é fraude, o que é um crime sério que pode ser punido com anos de cadeira. O risco de prisão pode desencorajar os banqueiros a realizar este tipo de operação.”

De acordo com Yves Smith, que administra o blog Naked Capitalism, “o segredo sujo” destes acordos é que “o governo não está apenas protegendo os bancos, mas também precisa esconder o quão clientelista é este comportamento

Nos vários acordos entre os bancos e o governo, Cohan concluiu que “alguma coisa me diz que este é precisamente o jeito que os poderes queriam que estas negociações ocorressem, mas o povo americano merece e que algo melhor.”




Tradução de Roberto Brilhante

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