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Carta Maior, 20/08/2014
A resposta de Obama ao Bonner da Fox
Por Saul Leblon
Por Saul Leblon
Há alguma coisa de
profundamente errado com a liberdade de expressão num país quando, a
cada escrutínio eleitoral, a maior preocupação de uma parte da opinião
pública e dos partidos, do início ao fim da campanha, não é propriamente
com o debate de ideias, mas com o impacto da ‘emboscada midiática’.
Não se duvida de que ela virá.
Apenas se especula como e com que intensidade a maior emissora de televisão do país -seus satélites e assemelhados- agirá na tentativa de raptar o discernimento do eleitor, sobrepondo-lhe denúncias, recortes e interditos da exclusiva conveniência dos interesses que vocaliza.
Carta Maior já disse algo parecido na eleição de 2012, na de 2010 e na de 2006; outros veículos e blogs fizeram o mesmo, assim também como muitos advertiram em 2002 e 1989...
Infelizmente, depois da ‘entrevista’ a que foi submetida a Presidenta Dilma no Jornal Nacional, nesta 2ª feira, não há motivo para não reiterar a mesma assertiva na forma e no conteúdo.
A novidade é a radicalização observada, inversamente proporcional à capacidade conservadora de oferecer um projeto alternativo à sociedade que não se magnetize em torno da palavra arrocho.
Hoje isso é mais ostensivo do que em 2010.
Abre-se assim uma etapa de viva transparência; um embate bruto em que a mídia dominante não consegue dissimular as consequências daquilo que a define.
Tampouco parece ter pejo em descartar uma isenção – a rigor nunca praticada - mas da qual sempre se avocou em guardiã, para sonegar pertinência à democratização estrutural dos meios de comunicação.
A isenção parece, enfim, não representar mais um valor passível sequer de ser simulado por quem se arroga o papel de um poder moderador acima da sociedade.
Caricaturas de um oligopólio que não pretende debater, nem informar, mas apenas veicular a agenda conservadora, Willian Bonner e Patrícia Poeta deram inestimável contribuição a esse enredo nesta 2ª feira.
A forma amadora, sôfrega e abusada com que se dirigiram à Presidenta Dilma evidenciou a urgente necessidade de uma regulação da mídia no país.
A colisão entre o ritual democrático e a usurpação da vontade do eleitor por um interdito que se pronuncia de véspera e assim persiste até a boca da urna, acompanha o calendário político brasileiro, desde o fim da ditadura.
É como se o país sofresse de uma doença maligna que trocou a farda pela recidiva midiática.
A evidência mais grave dessa anomalia é que todos sabem de que garrote vil se fala, qual o intento do poder retratado e que interesses ele dissemina.
Não precisar nominá-lo é pouco menos que a tragédia na vida de uma Nação - já se disse mais de uma vez neste espaço.
O espetáculo encenado pela dupla Bonner e Poeta reitera a maleita de pontualidade afiada.
É a confirmação do poder paralelo asfixiante, ubíquo, previsível e consentido que impõe sua tutela ao voto graças a um arsenal composto de 26 canais de televisão, dezenas de rádios, jornal impresso, editora, produção de cinema, vídeo, internet e distribuição de sinal e dados.
Tudo regado por uma hegemônica participação no mercado publicitário.
Inclusive de verbas públicas.
Não há nessa constatação qualquer traço de fobia persecutória.
O que há são antecedentes.
Abundantes. Dotados de uma regularidade e arrojo tais que justificam o uso da palavra escárnio à cínica tentativa de negá-los.
Mencione-se apenas a título ilustrativo três assaltos ao território que deveria ser inviolável, e pelo qual muitos lutaram e não poucos morreram para que fosse assim.
Em 1982, a Rede Globo e o jornal O Globo arquitetaram um sistema paralelo de apuração de votos nas eleições estaduais do Rio de Janeiro.
Leonel Brizola era favorito, mas o candidato das Organizações Globo, Moreira Franco, recebera privilégios de cobertura e genuflexão conhecidos.
Os sinais antecipavam o estupro em marcha.
E ele veio na forma de um contagem paralela contratada pela Globo , a privilegiar colégios do interior, onde Moreira Fraco liderava. O intuito sibilino era criar um ‘consenso’ receptivo a acertos espúrios.
A violação só não se consumou porque Brizola recusou o papel de hímen complacente. Ao reagir convocou a imprensa internacional, denunciou o golpe em marcha e brigou pelo seu mandato. Em entrevista histórica –ao vivo, por sua arguta exigência-, Brizola denunciou a manobra da Globo falando à população através das câmeras da própria emissora.
Venceu por uma margem de 4 pontos.
Em 1983, os comícios contra a ditadura e por eleições diretas arrastavam multidões às ruas e grandes praças do país. A Rede Globo boicotou a irrupção democrática o quanto pode.
O Brasil retratado em seu noticioso era um lago suíço de resignação, até que no dia 25 de janeiro de 1984, aniversário da cidade São Paulo, um comício monstro tomou a praça da Sé, na capital paulista.
Mais de 300 mil vozes exigiam democracia e cobravam eleições.
A direção editorial do grupo que hoje é um dos mais aguerridos centuriões da liberdade na Argentina, Venezuela e outros pagos ‘populistas’, abriu espaço então no JN para uma reportagem .
Estava em causa, de um lado, a democracia, de outro, a continuidade da ditadura. Não para a escalada do JN, que associou a multidão na praça da Sé a ‘um show em comemoração aos 430 anos da cidade’.
Em 1989, o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Collor de Mello realizariam o debate final de uma disputa acirrada e histórica: era o primeiro pleito presidencial a consolidar o fim da ditadura militar. Collor tinha uma vantagem de margem de erro sobre um Lula ascendente.
A Globo editou o debate duas vezes. Até deixá-lo ‘ao dente’, para ser exibido no Jornal Nacional: Collor teve um minuto e oito segundos a mais que Lula; as falas do petista foram escolhidas entre as suas intervenções mais fracas; as do oponente, entre as suas melhores.
São amplamente conhecidas as reiterações desse ‘método jornalístico’ em 2002, 2005, 2006, 2010 e 2012 para que se possa dar o benefício do ponto fora da curva ao desempenho de Bonner e Poeta.
Eles são a própria curva.
A histórica obra de construção de uma democracia social no país, iniciada por Lula, e continuada por Dilma, não avançará nos próximos quatro anos , como se pretende, sob o poder ilegítimo de veto que o dispositivo midiático desfruta no Brasil.
A dois meses da urna não há espaço hábil para se redimir o tempo perdido com um aggiornamento regulatório da comunicação audiovisual .
Mas a campanha progressista não pode omitir o tema em sua agenda, sob o risco de não ter mais o direito de escandalizar-se com o que já ocorreu, e ainda ocorrerá, até as urnas de outubro.
Supor indulgência, em troca de silencio, é creditar ao pescoço a responsabilidade de afrouxar a corda do enforcado.
O dedos em riste de Bonner e Poeta não autorizam ilusões.
Nem o lhano Barack Obama silenciou diante de um cerco de abrangência talvez até mais modesto.
Na verdade, uma das denúncias mais duras da decadência dos princípios liberais na mídia partiu justamente dos porta-vozes do democrata.
E ela se ajusta na medida ao que se passa no Brasil.
Em 2009, Anita Dunn, Diretora de Comunicações de Obama e David Axelrod, principal assessor de comunicação, assim se referiram à rede Fox, do direitista Rupert Murdoch, ferrenho opositor de Obama:
‘A rede Fox está em guerra contra Barack Obama (…) não precisamos fingir que o modo como essa organização trabalha é jornalístico. Quando o presidente fala à Fox, já sabe que não falará à imprensa, propriamente dita. O presidente já sabe que estará debatendo com um partido da oposição’, resumiu a atilada Diretora de Comunicações da Casa Branca.
Numa escalada de entrevistas e disparos cuidadosamente arquitetados, Dunn e Axelrod falaram alternadamente a diferentes segmentos midiáticos de todo o país. E o fizeram com o mesmo propósito: dar o nome aos bois e assim qualificar o sentido do cerco em torno de Obama.
‘Mr. Rupert Murdoch tem talento para fazer dinheiro, e eu entendo que sua programação é voltada a fazer dinheiro. Só o que argumentamos é que [seus veículos] não são um canal de notícias de verdade. Não só os âncoras, mas a programação toda. Não é notícia de verdade, mas é a pregação de um ponto de vista. E nós vamos tratá-los assim’, bateu Axelrod em seguida ao ataque de Anita Dunn.
Não há muita diferença entre o que se passa nos EUA e a divisão de trabalho observada no Brasil, onde as rádios chutam o governo petista abaixo da linha da cintura; os jornalões dão ‘credibilidade’ à asfixia, enquanto a rede Globo faz a edição final no JN, transformando o boa noite diário da dupla Bonner e Poeta em uma espécie de ‘meus pêsames, brasileiros, pelo governo que escolheram; não repitam isso em outubro próximo, OK?’.
É oportuno ressaltar, Barack Obama não delegou a tarefa de dar transparência a esse arsenal apenas aos assessores.
O flexível democrata –não Chávez, não Cristina, não Correa- comprou a briga pessoalmente contra a Fox News e nem por isso deixou de ser reeleito.
E não apenas nos idos de 2009.
Mas desde 2009...
Em janeiro deste ano, em entrevista que foi ao ar em horário nobre, antes do Super Bowl, o mais importante evento esportivo do país, Obama –ao vivo- acusou novamente a emissora Fox News de manipular o noticiário para inflamar a opinião pública contra o seu governo.
Repita-se: Obama disse isso ao vivo ao âncora Bill O’Reilly, apresentador de um dos programas mais populares do canal a cabo e autor de vários best-sellers com críticas às políticas do Partido Democrata norte-americano.
A seguir, trechos da inspiradora transparência adotada pelo democrata nessa ‘sabatina’ feita pelo golpismo midiático de lá:
O’Reilly, pergunta detalhes do plano de saúde compulsório aprovado por Obama no Congresso e sugere que se trata do “maior erro de sua Presidência”.
Obama (sardônico) : ‘Bem, Bill, você mantém sempre uma longa lista dos meus erros como presidente, não é?’
O’Reilly interrompe-o em seguidas, várias vezes, quando tentava explicar o ataque armado à embaixada norte-americana em Bengazi, na Líbia, que terminou com a morte do embaixador em setembro de 2012.
Obama: ‘… e eu estou tentando explicar a você — se você quiser ouvir’.
O’Reilly afirma que muitos acreditavam que Obama tentara encobrir o caso Bengazi em um momento em que estava em plena campanha pela reeleição.
Obama: ‘Eles acreditam nisso porque pessoas como você continuam a dizer a eles que foi isso que aconteceu.’
O’Reilly muda de assunto e diz que as isenções de imposto de renda de Obama discriminaram grupos à direita do Presidente. Em seguida dispara uma denúncia de corrupção na Receita Federal dos EUA.
Obama: ‘Não houve nada disso; não foi isso que aconteceu. As pessoas puderam ver isso claramente nas muitas audiências a respeito da questão no Congresso’.
O’Reilly insiste com o clássico: ‘muitas pessoas continuam achando suspeita a situação, senhor Presidente’
Obama: ‘Esse tipo de coisa continua vindo à tona em parte por causa de você e sua rede de TV...’
O’Reilly corta; afirma que várias “perguntas que continuavam sem resposta’; insiste na corrupção na Receita Federal.
Obama: ‘Estou lhe dizendo que não houve sequer corrupção; não houve nem mesmo uma migalha de corrupção’.
A entrevista foi encerrada.
Não se duvida de que ela virá.
Apenas se especula como e com que intensidade a maior emissora de televisão do país -seus satélites e assemelhados- agirá na tentativa de raptar o discernimento do eleitor, sobrepondo-lhe denúncias, recortes e interditos da exclusiva conveniência dos interesses que vocaliza.
Carta Maior já disse algo parecido na eleição de 2012, na de 2010 e na de 2006; outros veículos e blogs fizeram o mesmo, assim também como muitos advertiram em 2002 e 1989...
Infelizmente, depois da ‘entrevista’ a que foi submetida a Presidenta Dilma no Jornal Nacional, nesta 2ª feira, não há motivo para não reiterar a mesma assertiva na forma e no conteúdo.
A novidade é a radicalização observada, inversamente proporcional à capacidade conservadora de oferecer um projeto alternativo à sociedade que não se magnetize em torno da palavra arrocho.
Hoje isso é mais ostensivo do que em 2010.
Abre-se assim uma etapa de viva transparência; um embate bruto em que a mídia dominante não consegue dissimular as consequências daquilo que a define.
Tampouco parece ter pejo em descartar uma isenção – a rigor nunca praticada - mas da qual sempre se avocou em guardiã, para sonegar pertinência à democratização estrutural dos meios de comunicação.
A isenção parece, enfim, não representar mais um valor passível sequer de ser simulado por quem se arroga o papel de um poder moderador acima da sociedade.
Caricaturas de um oligopólio que não pretende debater, nem informar, mas apenas veicular a agenda conservadora, Willian Bonner e Patrícia Poeta deram inestimável contribuição a esse enredo nesta 2ª feira.
A forma amadora, sôfrega e abusada com que se dirigiram à Presidenta Dilma evidenciou a urgente necessidade de uma regulação da mídia no país.
A colisão entre o ritual democrático e a usurpação da vontade do eleitor por um interdito que se pronuncia de véspera e assim persiste até a boca da urna, acompanha o calendário político brasileiro, desde o fim da ditadura.
É como se o país sofresse de uma doença maligna que trocou a farda pela recidiva midiática.
A evidência mais grave dessa anomalia é que todos sabem de que garrote vil se fala, qual o intento do poder retratado e que interesses ele dissemina.
Não precisar nominá-lo é pouco menos que a tragédia na vida de uma Nação - já se disse mais de uma vez neste espaço.
O espetáculo encenado pela dupla Bonner e Poeta reitera a maleita de pontualidade afiada.
É a confirmação do poder paralelo asfixiante, ubíquo, previsível e consentido que impõe sua tutela ao voto graças a um arsenal composto de 26 canais de televisão, dezenas de rádios, jornal impresso, editora, produção de cinema, vídeo, internet e distribuição de sinal e dados.
Tudo regado por uma hegemônica participação no mercado publicitário.
Inclusive de verbas públicas.
Não há nessa constatação qualquer traço de fobia persecutória.
O que há são antecedentes.
Abundantes. Dotados de uma regularidade e arrojo tais que justificam o uso da palavra escárnio à cínica tentativa de negá-los.
Mencione-se apenas a título ilustrativo três assaltos ao território que deveria ser inviolável, e pelo qual muitos lutaram e não poucos morreram para que fosse assim.
Em 1982, a Rede Globo e o jornal O Globo arquitetaram um sistema paralelo de apuração de votos nas eleições estaduais do Rio de Janeiro.
Leonel Brizola era favorito, mas o candidato das Organizações Globo, Moreira Franco, recebera privilégios de cobertura e genuflexão conhecidos.
Os sinais antecipavam o estupro em marcha.
E ele veio na forma de um contagem paralela contratada pela Globo , a privilegiar colégios do interior, onde Moreira Fraco liderava. O intuito sibilino era criar um ‘consenso’ receptivo a acertos espúrios.
A violação só não se consumou porque Brizola recusou o papel de hímen complacente. Ao reagir convocou a imprensa internacional, denunciou o golpe em marcha e brigou pelo seu mandato. Em entrevista histórica –ao vivo, por sua arguta exigência-, Brizola denunciou a manobra da Globo falando à população através das câmeras da própria emissora.
Venceu por uma margem de 4 pontos.
Em 1983, os comícios contra a ditadura e por eleições diretas arrastavam multidões às ruas e grandes praças do país. A Rede Globo boicotou a irrupção democrática o quanto pode.
O Brasil retratado em seu noticioso era um lago suíço de resignação, até que no dia 25 de janeiro de 1984, aniversário da cidade São Paulo, um comício monstro tomou a praça da Sé, na capital paulista.
Mais de 300 mil vozes exigiam democracia e cobravam eleições.
A direção editorial do grupo que hoje é um dos mais aguerridos centuriões da liberdade na Argentina, Venezuela e outros pagos ‘populistas’, abriu espaço então no JN para uma reportagem .
Estava em causa, de um lado, a democracia, de outro, a continuidade da ditadura. Não para a escalada do JN, que associou a multidão na praça da Sé a ‘um show em comemoração aos 430 anos da cidade’.
Em 1989, o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Collor de Mello realizariam o debate final de uma disputa acirrada e histórica: era o primeiro pleito presidencial a consolidar o fim da ditadura militar. Collor tinha uma vantagem de margem de erro sobre um Lula ascendente.
A Globo editou o debate duas vezes. Até deixá-lo ‘ao dente’, para ser exibido no Jornal Nacional: Collor teve um minuto e oito segundos a mais que Lula; as falas do petista foram escolhidas entre as suas intervenções mais fracas; as do oponente, entre as suas melhores.
São amplamente conhecidas as reiterações desse ‘método jornalístico’ em 2002, 2005, 2006, 2010 e 2012 para que se possa dar o benefício do ponto fora da curva ao desempenho de Bonner e Poeta.
Eles são a própria curva.
A histórica obra de construção de uma democracia social no país, iniciada por Lula, e continuada por Dilma, não avançará nos próximos quatro anos , como se pretende, sob o poder ilegítimo de veto que o dispositivo midiático desfruta no Brasil.
A dois meses da urna não há espaço hábil para se redimir o tempo perdido com um aggiornamento regulatório da comunicação audiovisual .
Mas a campanha progressista não pode omitir o tema em sua agenda, sob o risco de não ter mais o direito de escandalizar-se com o que já ocorreu, e ainda ocorrerá, até as urnas de outubro.
Supor indulgência, em troca de silencio, é creditar ao pescoço a responsabilidade de afrouxar a corda do enforcado.
O dedos em riste de Bonner e Poeta não autorizam ilusões.
Nem o lhano Barack Obama silenciou diante de um cerco de abrangência talvez até mais modesto.
Na verdade, uma das denúncias mais duras da decadência dos princípios liberais na mídia partiu justamente dos porta-vozes do democrata.
E ela se ajusta na medida ao que se passa no Brasil.
Em 2009, Anita Dunn, Diretora de Comunicações de Obama e David Axelrod, principal assessor de comunicação, assim se referiram à rede Fox, do direitista Rupert Murdoch, ferrenho opositor de Obama:
‘A rede Fox está em guerra contra Barack Obama (…) não precisamos fingir que o modo como essa organização trabalha é jornalístico. Quando o presidente fala à Fox, já sabe que não falará à imprensa, propriamente dita. O presidente já sabe que estará debatendo com um partido da oposição’, resumiu a atilada Diretora de Comunicações da Casa Branca.
Numa escalada de entrevistas e disparos cuidadosamente arquitetados, Dunn e Axelrod falaram alternadamente a diferentes segmentos midiáticos de todo o país. E o fizeram com o mesmo propósito: dar o nome aos bois e assim qualificar o sentido do cerco em torno de Obama.
‘Mr. Rupert Murdoch tem talento para fazer dinheiro, e eu entendo que sua programação é voltada a fazer dinheiro. Só o que argumentamos é que [seus veículos] não são um canal de notícias de verdade. Não só os âncoras, mas a programação toda. Não é notícia de verdade, mas é a pregação de um ponto de vista. E nós vamos tratá-los assim’, bateu Axelrod em seguida ao ataque de Anita Dunn.
Não há muita diferença entre o que se passa nos EUA e a divisão de trabalho observada no Brasil, onde as rádios chutam o governo petista abaixo da linha da cintura; os jornalões dão ‘credibilidade’ à asfixia, enquanto a rede Globo faz a edição final no JN, transformando o boa noite diário da dupla Bonner e Poeta em uma espécie de ‘meus pêsames, brasileiros, pelo governo que escolheram; não repitam isso em outubro próximo, OK?’.
É oportuno ressaltar, Barack Obama não delegou a tarefa de dar transparência a esse arsenal apenas aos assessores.
O flexível democrata –não Chávez, não Cristina, não Correa- comprou a briga pessoalmente contra a Fox News e nem por isso deixou de ser reeleito.
E não apenas nos idos de 2009.
Mas desde 2009...
Em janeiro deste ano, em entrevista que foi ao ar em horário nobre, antes do Super Bowl, o mais importante evento esportivo do país, Obama –ao vivo- acusou novamente a emissora Fox News de manipular o noticiário para inflamar a opinião pública contra o seu governo.
Repita-se: Obama disse isso ao vivo ao âncora Bill O’Reilly, apresentador de um dos programas mais populares do canal a cabo e autor de vários best-sellers com críticas às políticas do Partido Democrata norte-americano.
A seguir, trechos da inspiradora transparência adotada pelo democrata nessa ‘sabatina’ feita pelo golpismo midiático de lá:
O’Reilly, pergunta detalhes do plano de saúde compulsório aprovado por Obama no Congresso e sugere que se trata do “maior erro de sua Presidência”.
Obama (sardônico) : ‘Bem, Bill, você mantém sempre uma longa lista dos meus erros como presidente, não é?’
O’Reilly interrompe-o em seguidas, várias vezes, quando tentava explicar o ataque armado à embaixada norte-americana em Bengazi, na Líbia, que terminou com a morte do embaixador em setembro de 2012.
Obama: ‘… e eu estou tentando explicar a você — se você quiser ouvir’.
O’Reilly afirma que muitos acreditavam que Obama tentara encobrir o caso Bengazi em um momento em que estava em plena campanha pela reeleição.
Obama: ‘Eles acreditam nisso porque pessoas como você continuam a dizer a eles que foi isso que aconteceu.’
O’Reilly muda de assunto e diz que as isenções de imposto de renda de Obama discriminaram grupos à direita do Presidente. Em seguida dispara uma denúncia de corrupção na Receita Federal dos EUA.
Obama: ‘Não houve nada disso; não foi isso que aconteceu. As pessoas puderam ver isso claramente nas muitas audiências a respeito da questão no Congresso’.
O’Reilly insiste com o clássico: ‘muitas pessoas continuam achando suspeita a situação, senhor Presidente’
Obama: ‘Esse tipo de coisa continua vindo à tona em parte por causa de você e sua rede de TV...’
O’Reilly corta; afirma que várias “perguntas que continuavam sem resposta’; insiste na corrupção na Receita Federal.
Obama: ‘Estou lhe dizendo que não houve sequer corrupção; não houve nem mesmo uma migalha de corrupção’.
A entrevista foi encerrada.
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