sábado, 6 de agosto de 2011

Só falta dizer que ele é negro



Só falta dizer que ele é negro


Flávio Aguiar

A camaçada de pau em cima de Obama não para de cair. Vem da direita, insatisfeita, como sempre, e da esquerda, satisfeita demais consigo mesma, como sempre. Os adjetivos à esquerda se sucedem: vendido, entregue, fraco, frouxo, etc., tudo lembrando esse moralismo velado e meio vagabundo que sempre nos inspirou desde a campanha da UDN contra Getúlio, de que nossos avós foram partícipes, é bom lembrar.

Não importa muito, é verdade. Os números da recente pesquisa do NY Times/ CBS falam mais chão e mais alto. A avaliação de Obama segue equilibrada, naquela base dos 49% pra cá, 49 % pra lá, a maioria dos eleitores considera os republicanos mais culpados pela crise do que os democratas e do que Obama. A maioria também reprova o Tea Party, acha que ele têm influência demasiada junto aos republicanos, e acha que criar empregos é mais importante do que cortar gastos do governo.

Deixo de citar os números, que podem ser encontrados no blog do Velho Mundo. A questão é que a esquerda está perdendo, mais uma vez, o foco. Ou está ganhando o foco errado. Quer ridicularizar o drama pessoal Obama. E esquece de atacar, sobretudo, a direita, e suas propostas. Afinal, quais são as propostas da esquerda? Não as encontro. Nos Estados Unidos? Inexistem, porque a esquerda inexiste. Na Europa? Muito menos. Esquerda? Bom, o novo partido Die Linke vai tentar sobreviver aqui em Berlim, nas eleições próximas de 18 de setembro, como membro da coligação - praticamente única na Europa - entre ele e o SPD social-democrata. Tomara que consiga. É uma gota d'água no deserto direitista mundial.

Quais são as propostas da esquerda? Não me refiro ao Brasil, onde elas existem, e são perfeitamente capitalistas, ainda que do tipo social-democrata. No mundo, onde estão? Desconheço. Se alguém souber, me avise. O fato é que a esquerda está na UTI da história, e a direita na administração do hospital. A América do Sul é a exceção, não a regra. Os outros continentes estão à direita, não à esquerda. Mas ao invés de apontar a própria indigência, é mais fácil dizer que Obama é o indigente. Ecoando a direita.

Talvez ele esteja passando por um momento de indigência, é verdade. Mas vai ter que sair desse momento se puxando pela própria pele, porque de lugar nenhum vai lhe vir ajuda. Da esquerda muito menos. Afinal, para administrar a crise mundial, o que ela tem a oferecer? Se alguém souber a resposta (não a análise), me escreva, que eu publico.

Vai cair muito mais pau em cima de Obama. O que vai favorecer, é claro, uma candidatura republicana. Ele é fraco, É frouxo. É banana. É babaca. É vendido. Etc. Só falta dizer que ele é negro.

Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior em Berlim.

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