segunda-feira, 1 de agosto de 2011

A mensagem de um sobrevivente de massacre na Noruega ao terrorista

Grande recado, garoto!


Opera Mundi, 01/08/2011

Sobrevivente de massacre na Noruega escreve para atirador: 'Você fracassou'


Daniella Cambaúva | Redação

"Você não pode nos alcançar, pois somos maiores do que você", escreveu Oesteboe

"Querido Anders Behring Breivik. Não responderemos o mal com mal, como você gostaria. Combateremos o mal com o bem. E venceremos”. A mensagem de tolerância aparece em uma carta escrita pelo jovem Ivar Benjamin Oesteboe, que sobreviveu ao atentado na ilha de Utoeya, na Noruega, ao atirador, responsável por 77 mortes - 69 na ilha e oito em uma explosão em Oslo. A carta foi divulgada nesta segunda-feira (01/08) na rede social Facebook e reproduzida pelo jornal norueguês Dagbladet.

"Você pensa que venceu porque matou meus amigos e meus companheiros. Pensa que destruiu o Partido Trabalhista, mas acreditamos em uma sociedade multicultural. Você fracassou", afirmou Oesteboe, de 16 anos. Ele perdeu cinco amigos no atentado. "Você se descreve como um herói, um cavaleiro. Mas não, você não é um herói. Uma coisa está clara: você criou heróis. Em Utoeya, naquele dia de julho de calor, você conseguiu criar alguns dos maiores heróis do mundo", escreveu o adolescente.

Oesteboe e alguns colegas se esconderam após escutarem os tiros disparados por Breivik e esperaram a policia chegar. Em entrevista ao jornal Dagbladet, o sobrevivente contou que o atirador os enganou por estar vestido com um uniforme do corpo de segurança norueguês. "Chamamos Brevik, mexendo os braços. Ele estava tentando tranquilizar quem estava ao seu redor, mas, de repente, deu a volta e começou a disparar”, contou o jovem ao Dagbladet, segundo a agência AFP.

Oesteboe finalmente conseguiu se salvar quando a polícia chegou à ilha, às 18h25 (horário da Noruega), mais de uma hora depois do início do tiroteio. "Vou te explicar como funcionou seu plano. Você conseguiu ser o homem mais odiado da Noruega. Muitos estão furiosos com você; eu, não. Não pode nos alcançar, somos maiores que você”, concluiu o garoto na carta.

Breivik, fundamentalista cristão e ultradireitista, exigiu em seu último depoimento a renúncia do governo de Jens Stoltenberg em troca de uma declaração íntegra sobre seus ataques. Além do duplo atentado, Breivik teria  planejado outros ataques a bomba contra o Palácio Real de Oslo e a sede do partido social-democrata do primeiro-ministro Jens Stoltenberg. 


  São Paulo, domingo, 31 de julho de 2011

O baú dos templários

EDSON ARAN

Até que demorou para a extrema direita europeia buscar inspiração nos templários para seus atos terroristas, como fez Anders Breivik.
O norueguês homicida afirma pertencer a uma nova Ordem dos Cavaleiros do Templo, que reúne europeus engajados em combater o multiculturalismo em geral e o islã em particular.
Faz sentido. Dependendo do ponto de vista, os templários são os maiores heróis da cristandade -ou os piores vilões.
A ordem foi fundada no 19º ano do Reino Cristão de Jerusalém, que havia sido conquistado meio por acaso em 1099, durante a Primeira Cruzada. Como a população da cidade fora dizimada pelos invasores -que não fizeram distinção entre cristãos ortodoxos, judeus e muçulmanos-, os novos soberanos passaram a pregar a imigração de europeus para a Terra Santa.
O problema é que as rotas eram infestadas de criminosos. Em 1118, Hugo de Payens e mais oito cavaleiros criaram uma organização autônoma de monges combatentes para proteger os peregrinos. A ordem jurava fidelidade apenas ao papa e, financiada por impostos eclesiásticos, se tornou o primeiro exército regular do Ocidente desde a queda de Roma em 476 d.C.
Com a conquista de Jerusalém por Saladino, em 1187, os templários voltaram sua atenção para a Europa, onde adquiriram vastas extensões de terra e organizaram um rudimentar sistema bancário. As lendas, no entanto, os transformaram em guardiões do Santo Graal, o místico cálice que Jesus Cristo usara na Santa Ceia e que servira para recolher seu sangue na cruz.
Os mitos do Graal são uma espécie de compensação cultural pela perda da Terra Santa para o islã.
Não por acaso, em narrativas posteriores, o cálice se transforma na própria descendência de Cristo e Maria Madalena, que, refugiada no sul da França, dá origem à dinastia dos reis merovíngios e, mais tarde, à casa dos Habsburgos, soberanos do Império Austro-Húngaro. A linhagem, como o cálice, estaria sob a proteção dos templários, braço armado de organização ainda mais misteriosa, o Priorado de Sião.
Ao contrário da trama de "O Código Da Vinci", de Dan Brown, os guardiões do Graal não querem promover filosofia "new age", mas restaurar a monarquia na França e restabelecer o Reino Cristão de Jerusalém. Afinal, Jesus Jr., além de merovíngio e Habsburgo, também descende do rei Davi e, portanto, é legítimo soberano da Terra Santa.
Nada agrada mais à extrema direita do que sociedades secretas excludentes e elitistas. O nazismo sempre foi associado a ordens esotéricas, que, no entanto, não o salvaram da derrota. Os templários não tiveram melhor sorte.
A ordem foi exterminada em 1307, quando o último grão-mestre, Jacques De Molay, foi condenado à fogueira por heresia. A Inquisição acusava os cavaleiros de adorarem um demônio de três cabeças chamado Bafomé. Entre os ocultistas, a criatura é associada à sabedoria, mas há também quem veja em seu nome uma corruptela de "Maomé", que a ordem teria aprendido a cultuar na Terra Santa.
Se deus existe, ele tem mesmo um senso de humor dos diabos.

EDSON ARAN é autor de "Conspirações - Tudo o que Não Querem que Você Saiba" e diretor de Redação da revista "Playboy".

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