terça-feira, 2 de agosto de 2011

Devagar quase parando nos EUA e na Europa

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São Paulo, terça-feira, 02 de agosto de 2011


Sob críticas, plano anticalote é aprovado por Câmara dos EUA

LUCIANA COELHO
DE WASHINGTON

Em meio a críticas, queixas e insatisfação por todo o espectro político, a Câmara dos EUA aprovou um pacote fiscal anunciado anteontem pelo presidente Barack Obama para evitar um calote, após um mês árido de negociações e tensões até o minuto final.
O
plano foi aprovado no início da noite por 269 votos a 161, e o projeto segue para o Senado hoje, a data-limite. A principal falha do acordo costurado no fim de semana sob a pressão do relógio e da opinião pública é que ele é vago e pontual.
Evita um calote ao elevar o limite da dívida do governo -que bateria no teto hoje, impedindo-o de tomar empréstimos para pagar contas. Mas não freia o deficit nem resgata a credibilidade dos EUA.
Tampouco reduz a tensão, com republicanos e democratas ainda se acusando e repetindo que "o plano não é ideal" -atraiu críticas de gente tão díspar como o premiê russo Vladimir Putin e o bilionário conservador Donald Trump, além de analistas.
Mesmo quando levado a voto, detalhes se perdiam na retórica de deputados que tentavam explicar a suas bases que não abdicaram de seus princípios nem optaram por uma solução incompleta.
"O acordo pode ser o melhor possível, politicamente, mas mal vale ser chamado de acordo", escreveu Sebastian Mallaby, do Council on Foreign Affairs. "Não trata dos desafios fiscais de longo prazo do país nem acaba com a incerteza política que prejudica a economia." Um calote (ou "default") dos EUA -a suspensão do pagamento dos juros que eles devem a países e investidores que compraram títulos de sua dívida- infectaria as finanças globais.
Os títulos do país servem de referência ao mercado, por serem numerosos e porque os EUA são tidos como ótimos pagadores. Isso mudaria com o calote, encarecendo os juros que eles pagam e as taxas de outros títulos.
Além disso, a dúvida poderia fazer parte dos investidores migrar para emergentes como o Brasil -com dólares em maior quantidade nessas economias, a moeda local e a inflação sobem.
A princípio, isso será evitado. O plano eleva o teto da dívida em US$ 900 bilhões, para US$ 15,2 trilhões -sete PIBs do Brasil. Ficam livres US$ 400 bilhões agora e o resto até fevereiro.
Além disso, o pacote impõe US$ 917 bilhões em cortes ao longo de dez anos -Obama havia anunciado US$ 1 trilhão, bem aquém dos US$ 4 trilhões que agências que classificam risco querem.


Dados sobre indústria anulam otimismo no mercado com acordo

ÁLVARO FAGUNDES
DE NOVA YORK

Os problemas na economia americana superaram o otimismo com a perspectiva de um acordo sobre o aumento do teto da dívida e fizeram com que as Bolsas terminassem ontem em baixa.
O índice do setor manufatureiro dos EUA, pesquisado pela empresa ISM, apontou o pior resultado em quase dois anos. O setor se aproxima da retração, aumentando as preocupações sobre a saúde da maior economia mundial.
Depois do resultado desapontador do Produto Interno Bruto no primeiro semestre, com alta de 0,9%, analistas esperavam que a economia começasse a mostrar força na segunda metade do ano. O dado do segmento manufatureiro, porém, jogou água fria nesse otimismo.
A Bolsa de Nova York, que chegou a ter alta ontem de 1,15%, passou a recuar após o anúncio dos números da indústria e terminou o dia com queda de 0,09%. O índice S&P 500, mais abrangente, com 500 empresas (ante as 30 do Dow Jones), caiu 0,41%.
No Brasil, a Bovespa fechou em baixa de 0,49%.
Ainda que as Bolsas tenham terminado em queda, outros indicadores financeiros mostraram otimismo dos investidores com o acordo. O dólar se valorizou ante as principais moedas globais e o preço do ouro (refúgio dos investidores em períodos de instabilidade) recuou. O rendimento dos títulos de dez anos do Tesouro americano caiu para o menor patamar desde novembro.
Com a economia fraca e o desemprego em alta, economistas divergem sobre a necessidade de o governo cortar gastos, parte do plano para elevar o teto da dívida.
Para Alan Viard, que foi economista da divisão em Dallas do Fed (banco central dos EUA), trata-se de uma escolha: haverá prejuízos para a economia no curto prazo, mas eles serão compensados ao longo do tempo.
Já Lawrence Mishel, do Economic Policy Institute, defende que não há motivo para reduzir o deficit no momento em que o desemprego está alto (9,2% em junho) e os cortes poderão aumentar o número de desempregados.

São Paulo, terça-feira, 02 de agosto de 2011

A encrenca dos EUA e a nossa

VINICIUS TORRES FREIRE

VAMOS SUPOR que a encrenca da dívida do governo federal americano se acalme nos próximos meses. Sim, uma calmaria de fato é ficção, mas vamos supor pelo menos que o pior não aconteça. Qual o efeito dessa paz dos cemitérios na economia mundial e na do Brasil?
Se nada de mais imprevistamente grave acontecer no resto do mundo, os fatores que provocaram a supervalorização do real vão continuar presentes, se é que não vão receber impulso adicional.
Ou seja, a anemia das economias dos EUA e da Europa será duradoura
. A taxa de juros permanecerá baixa, assim como continuarão escassas as oportunidades de aplicação rentável do dinheiro abundante. O capital continuará sobrando no mundo rico (aliás, no mundo todo), sem uso por lá.
Para onde irá o dinheiro (pode-se perguntar também a mesma coisa para o dinheiro dos emergentes)? Para o "mundo emergente". Nós.
Na primeira metade de 2011, a economia dos EUA cresceu a um ritmo que, repetido no resto do ano, daria em alta de 0,9% do PIB. Em termos de PIB per capita (por pessoa), haveria estagnação.
O número ruim fica ainda pior quando se lembra que os dados do PIB americano de 2008, 2009, 2010 e do primeiro trimestre de 2011 foram revisados para baixo, para um buraco muito mais profundo.
Números divulgados ontem indicam que a produção industrial quase parou de crescer em julho. A anarquia nos EUA e a crise da dívida na Europa ajudaram a derrubar o crescimento nos dois continentes, certo.
Clima ruim, gasolina cara, catástrofe no Japão etc., tudo isso também fez o caldo entornar.
Mas a economia dos EUA rateava bem antes da influência desses fatores "transitórios", como mostram os dados revisados do PIB.
A contenção dos gastos do governo na Europa e nos EUA vai tirar ainda mais sangue das economias anêmicas. Diz-se que o pacote fiscal americano vai cortar pouco no ano fiscal de 2012 (que começa agora em outubro), de uns US$ 16 bilhões a US$ 30 bilhões, ninharia de fato, para a economia dos EUA. Mas:
1) a economia precisava de mais estímulo fiscal, não o fim da transfusão de sangue: as famílias estão endividadas demais para gastar, há desempregados demais, as empresas temem, pois, investir;
2) vários programas de estímulo da economia (gastos com emprego, por exemplo) vencem em 2012;
3) O corte federal de despesas vai afetar transferências federais para os Estados, já na pindaíba;
4) o corte maior está marcado para começar logo em 2013, o que não é animador de investimentos.
Tal cenário depende, claro, que um mundo de outras coisas "permaneçam constantes". Para início de conversa, a hipótese iria à breca em caso de desfecho operístico e trágico da crise da dívida europeia.
Pode ser também que o desaquecimento das economias europeia e americana seja tão grande e brusco que o comércio mundial fique deprimido, balance a economia chinesa e, assim, derrube o preço de commodities.
Exportamos commodities em massa, e o alto preço desses produtos ajuda a equilibrar as nossas contas externas e a valorizar a nossa moeda.
Mas o cenário mais provável parece ser o devagar quase parando nos EUA e na Europa.

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