domingo, 7 de agosto de 2011

Crises agudas expõem fragilidade das previsões

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São Paulo, domingo, 07 de agosto de 2011


ANÁLISE PREVISÃO ECONÔMICA

Crises agudas expõem fragilidade das previsões

HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA

Sempre que as Bolsas de todo o mundo despencam em uníssono, economistas e jornalistas são recriminados por não ter previsto a crise.
De fato, o histórico de prognósticos corretos dessas categorias (às quais se deve somar a dos analistas políticos) não é dos melhores.
Num estudo de 2005, o psicólogo Philip Tetlock coletou ao longo de 20 anos 28 mil previsões sobre economia e eventos políticos feitas por 284 experts em diversos campos. A conclusão básica é que eles se saíram pouco melhor que o acaso. Um macaco lançando uma moeda obteria resultados comparáveis.
Por quê? Quem arrisca algumas explicações é Dan Gardner em "Future Babble" (balbucio sobre o futuro).
Nós nos habituamos a ver a ciência prevendo com enorme sucesso fenômenos como eclipses e marés. Só que esses são sistemas não complexos. Aqui, para efeitos práticos, o todo não difere da soma das partes, o que permite montar equações que resultam em predições acuradas.
O problema é que muitos fenômenos naturais e quase todas as atividades humanas constituem sistemas complexos, nos quais o todo é mais do que a soma das partes.

AS PARTES E O TODO
Pense num avião. Nenhuma das peças que o compõem é capaz de voar, mas o conjunto apresenta essa característica. Prognósticos sobre sistemas complexos, quando possíveis, ficam à mercê de pequenas perturbações que podem alterar de forma dramática os resultados.
A analogia que cabe é com a previsão meteorológica. Os modelos funcionam bem para um período de 24 horas. Se queremos uma predição para dois dias, o índice de acerto cai consideravelmente. Previsões para mais de duas semanas já são inúteis.
Se assimilássemos bem essa lição, só levaríamos a sério experts que expressassem suas previsões na forma "há x% de probabilidade de que o cenário y se materialize".
No mundo real, porém, não é o que acontece. O cérebro humano procura tão avidamente por padrões que os encontra até mesmo onde não existem. Temos ainda compulsão por histórias, além de um desejo irrefreável de estar no controle.
Dessa forma, alguém que ofereça numa narrativa simples uma explicação sobre o mundo já estará apelando a várias de nossas preferências inatas.
Se esse modelo trouxer ainda a perspectiva de predizer o futuro, nós simplesmente não resistimos.  Não é por outra razão que oráculos e profecias estão presentes em quase todas as religiões.

rat agency
São Paulo, domingo, 07 de agosto de 2011

O momento "Tea Party" da S&P

CLÓVIS ROSSI

O rebaixamento da nota dos títulos norte-americanos é o momento "Tea Party" de uma agência de "rating", no caso a Standard & Poor's.
Trata-se de uma alucinação e de uma irresponsabilidade explícitas. Pena que a reverência com que governos, mídia e economistas passaram a tratar tais agências faz com que se aceite a decisão como uma espécie de palavra de Deus.
Se as agências tivessem tal capacidade de premonição teriam antevisto, por exemplo, a quebra do Lehman Brothers. Não viram.
O banco quebrou, o que desencadeou a Grande Recessão de 2008/2009, que agora volta a assombrar o planeta.
Se seu sócio numa empresa recomendasse comprar, digamos, o Mappin, o que você faria com ele, quando faliu miseravelmente? No mínimo, tentaria pô-lo na cadeia. No máximo, contrataria um pistoleiro de aluguel.
Não recomendo que se faça isso com a S&P apenas por conta de minha índole cristã e pacífica. Mas daí a continuar tratando as agências como palavra de Deus vai uma distância que só o predomínio avassalador do sistema financeiro na economia global permite percorrer.
Não é só o passado que condena a S&P. As alegações do presente também. O principal ponto para "explicar" o rebaixamento é o suposto "enfraquecimento das instituições", o que, por extensão, levaria à incapacidade de operar mais cortes, até levá-los à altura que a agência quer impor, os US$ 4 trilhões.
Que a política norte-americana se tornou disfuncional ninguém nega. Mas daí a fazer previsões sobre o comportamento futuro das instituições, da dívida, dos cortes, das negociações no Congresso é um exercício puramente especulativo. E especulação não é um instrumento válido para intrometer-se em avaliações teoricamente técnicas.
Primeiro, qualquer tamanho de corte que se queira estabelecer é arbitrário. Ninguém consegue adivinhar o desempenho em dez anos (prazo para os cortes) de uma dada economia, menos ainda de uma economia potente, diversificada e tremendamente rica como a norte-americana, apesar dos problemas que enfrenta.
Se, daqui a alguns meses ou um, dois anos, a economia voltar a crescer, sobe a receita, e o corte, mesmo menor do que a S&P deseja, pode bastar para manter a dívida em níveis perfeitamente administráveis.
Mais: mesmo disfuncionais, as "instituições" já acertaram, na undécima hora, um corte inicial de quase US$ 1 trilhão. E, até novembro, sai outro pacote, maior ainda, de US$ 1,5 trilhão, o que elevará os cortes ao tamanho da economia brasileira.
Ainda que não haja acordo, o pacote aprovado há pouco prevê um gatilho automático para disparar os cortes, que, de resto, serão feitos em dez anos.
Nesse período, haverá três eleições presidenciais e seis congressuais, o que pode devolver um mínimo de funcionalidade à política norte-americana. Ou um máximo.
Tudo somado, agir agora especulando com o futuro parece apenas uma tocaia a Barack Obama, que enfrentará a campanha com o rótulo de primeiro presidente da história a perder o triplo A.
Típico comportamento do "Tea Party".

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