A perseverança é uma arma poderosíssima...
Última Instância, 30/11/2010
Representantes do MPF-SP (Ministério Público Federal em São Paulo), em conjunto com equipe técnica encontraram restos mortais no interior de um ossário clandestino que ficava embaixo de um canteiro com o letreiro do cemitério Vila Formosa, na zona leste de São Paulo. Os trabalhos de busca no cemitério, iniciados no dia 8 de novembro, têm o objetivo de localizar os restos de aproximadamente dez desaparecidos políticos da época da ditadura militar.
O grupo responsável pelas buscas é formado por membros do MPF-SP, da CEMDP (Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos) - ligada à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República -, do INC (Instituto Nacional de Criminalística) do Departamento de Polícia Federal e do IML (Instituto Médico Legal) do Estado de São Paulo. Até a profundidade em que o material foi vasculhado, os peritos visualizaram restos mortais no interior de sacos.
Segundo a procuradora da República Eugênia Augusta Gonzaga e o procurador regional da República Marlon Alberto Weichert, os trabalhos dos peritos prosseguirão até a próxima sexta-feira (3/11). Os dois procuradores são autores de uma ação que pede a responsabilização das autoridades públicas que autorizaram a ocultação dos cadáveres de opositores políticos mortos durante a ditadura. Mais de 450 pessoas foram mortas ou desapareceram durante o período do regime militar no Brasil.
Depois do trabalho de localização, serão selecionadas ossadas para pesquisa antropológica, quando fotos e dados médicos e dentários das vítimas serão cruzados com as características das ossadas. Essa primeira fase será realizada em conjunto pelo IML e o INC, que extrairá dos ossos o material genético para a segunda fase. Nesta etapa, o material extraído dos ossos será confrontado com o material colhido dos familiares das vítimas e que compõe o banco de DNA.
Caso não ocorra identificação positiva, o MPF pleiteia que no local seja erguido um monumento em homenagem aos mortos e desaparecidos na Ditadura Militar.
Desaparecido
Entre os restos mortais procurados, estão os de Virgílio Gomes da Silva. Conhecido como Jonas, ele liderou o sequestro do embaixador americano Charles Elbrick.
A família de Virgílio obteve documentos que apontam o número do terreno em que ele teria sido enterrado no cemitério da Vila Formosa, em 1969. As informações foram repassadas aos procuradores, que realizaram uma série de diligências preparatórias no cemitério. Durante o trabalho de buscas, foi constatado que a sepultura e respectiva quadra foram renumeradas. Além disso, antigos funcionários indicaram que os restos mortais foram transferidos para esse ossário clandestino, posteriormente coberto pelo canteiro e pelo letreiro. “Estamos procurando por Virgílio na quadra 50 e trabalhos de escavação já estão sendo feitos para localizar a sepultura”, informou o procurador regional da República Marlon Alberto Weichert.
Uma análise do INC, realizada com base nos dados preliminares coletados com ajuda de um radar de penetração no solo, combinado com fotografias aéreas de 1972, permitiram aos peritos localizar a estrutura embaixo do canteiro, removido para que fossem iniciados os trabalhos nesta segunda-feira (29/11). A avaliação dos peritos é de que esse compartimento tenha aproximadamente três metros de largura por três de comprimento, com profundidade indefinida.
Histórico
Até a construção do cemitério de Perus, os cadáveres dos militantes políticos eram enterrados em outros cemitérios públicos, sendo o mais conhecido o de Vila Formosa. Na época em que foram concluídas as ações de ocultação de cadáveres em Perus (exumações em massa e transferência para vala comum), em 1975, o cemitério de Vila Formosa também passou por um processo de descaracterização.
As alterações foram realizadas sem projeto formal de reforma, registro ou cautela em preservar a possibilidade de futura localização de sepulturas. Estas informações foram apuradas pela CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Câmara Municipal de São Paulo, instituída por ocasião da abertura da vala do cemitério de Perus, em 1990.
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Folha de São Paulo, 18/03/2010
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
Policiais federais, representantes do Ministério Público Federal e peritos do IML (Instituto Médico Legal) do Pará recolheram na segunda-feira, em uma escavação em Brejo Grande (cidade 620 km a sudeste de Belém), restos mortais que podem ser de um ou mais guerrilheiros desaparecidos na região do Araguaia na primeira metade dos anos 70.
Foram encontrados pedaços de crânio, parte de uma mandíbula, dentes e um osso que pode ser do dedo de uma mão. O terreno havia sido parcialmente revolvido no sábado por parentes do guerrilheiro Antônio Teodoro de Castro, o Raul.
A irmã dele, Mercês Castro, 49, percorre o Araguaia desde o ano passado em busca dos restos mortais de Raul. Um mateiro indicou a ela onde teriam sido enterrados três guerrilheiros. O ponto fica na fazenda Tabocão, a 30 metros da área escavada pelo GTT (Grupo de Trabalho Tocantins) em 2009.
O GTT foi criado pelo Ministério da Defesa para, em obediência a uma ordem da Justiça Federal, buscar restos mortais dos cerca de 60 guerrilheiros desaparecidos há quase 40 anos na floresta amazônica. Nenhum osso foi encontrado.
Assim que achou os primeiro vestígios -pedaços de crânio e mandíbula-, Mercês interrompeu a escavação improvisada e contatou a 23ª Brigada de Infantaria de Selva do Exército, em Marabá.
Mercês e seu marido, Jadiel Camelo, também procuraram em Marabá o procurador da República Tiago Modesto, que montou uma equipe de policiais federais, peritos e legistas.
A equipe ampliou a área escavada e encontrou mais fragmentos de crânio, um pedaço de tecido de tom avermelhado, uma corda com nós, uma sola de calçado e ossos variados.
O material recolhido está sob a guarda do Ministério Público Federal e do IML do Pará, que deverá realizar perícia. A ideia é comparar o DNA dos ossos com o de parentes dos guerrilheiros.
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