Blog do Santayana, 9 de jan de 2017
Como anda a entrega do petróleo brasileiro aos estrangeiros
Por Mauro Santayana
O governo
Dilma caiu, a economia está cada vez pior, mas a manipulação midiática continua
canalha, mendaz, descarada e imparável.
Não
bastasse a manipulação de dados e prazos em recentes mensagens publicitárias - sem contestação, principalmente jurídica,
da oposição, que prova que, no quesito estratégico, é tão incompetente fora
como dentro do poder - a última manobra de alguns jornais e emissoras
particularmente hipócritas está voltada para convencer os desinformados que
compõem seu público que a recuperação do preço das ações da Petrobras neste ano
se deu por causa da mudança de diretoria e da “venda” de 13.6 bilhões de
dólares em ativos e não graças à
recuperação da cotação do petróleo nos mercados internacionais, além da compra
de bilhões de reais em ações quando elas estavam no fundo do poço, por parte de
“investidores” estrangeiros, que nunca deram bola para o discurso catastrófico
e derrotista dos inimigos da empresa.
Os
últimos três “negócios”, feitos na derradeira semana de 2016, foram a
transferência de uma usina de biocombustíveis para os franceses e de duas
empresas (petroquímica e têxtil) para mexicanos.
Como há
que dar uma no cravo e outra na ferradura e água mole em pedra dura tanto bate
até que fura, os mesmos meios de comunicação lembram que, apesar da valorização
de suas ações em mais de 100% neste ano, a Petrobras deve, ainda, quatro
centenas de bilhões de reais.
Ora, independentemente da questão do endividamento da Petrobras, constantemente exagerada para
justificar seu desmonte, se uma empresa deve 400 bilhões, 13.6 bilhões
de dólares, que não chegam a 10% desse montante pela cotação atual da moeda,
arrecadados com a apressada venda de ativos
estratégicos, longe de serem decisivos, são praticamente irrisórios em termos
contábeis.
Sendo
assim, nesse contexto, sua citação
triunfal a todo momento só pode ser compreendida como mais um esforço -
patético - de enganação da opinião pública, para justificar a entrega, nos
próximos meses e anos, de uma fatia ainda maior do patrimônio de nossa maior
empresa a concorrentes estrangeiros, sem nenhum critério estratégico e a preço
de banana.
O discurso entreguista é tão contraditório, que,
por um lado critica-se a “incompetência estatizante” da Petrobras, a mais
premiada empresa do mundo no desenvolvimento de tecnologia para a exploração de
petróleo em águas profundas, e, por outro, se
transfere seus poços e empresas a estatais estrangeiras como a Statoil e
para fundos de pensão também estatais como o da província de British
Columbia, no Canadá, um dos novos donos dos Gasodutos do Sudeste.
A
“imprensa” cita como objetivo, nesse quesito, para 2017, a “negociação”, pela
Petrobras, de pouco mais de 23 bilhões de dólares em ativos.
Uma quantia que equivale a cerca de 7% das
reservas internacionais brasileiras, que poderiam perfeitamente ser usados pelo
governo para capitalizar a empresa sem depená-la, como a uma ave natalina, para
servi-la, a preço de restaurante popular, para as multinacionais, como está
sendo feito agora.
Não é por
outra razão, apesar de o ano de 2016 ter sido o mais fraco das últimas décadas
em exploração - a descoberta de novos poços caiu, segundo a Agência Nacional do
Petróleo, em mais de 70% no ano passado, para apenas dois, devido,
principalmente, à retração de atividades da Petrobras, diuturnamente atacada,
vilipendiada e sabotada em várias frentes - que a parcela estrangeira na
produção de petróleo no Brasil, devido, entre outras razões, à
transferência de campos como Carcará a empresas multinacionais - cresceu em 14%
no último ano, para 457.000 barris diários, e deve atingir em 2017, perto de
900.000 barris, ou quase a metade do que a Petrobras produz em território
nacional.
Isso
ocorrerá não apenas pela continuação da venda - se não houver contestação
jurídica - de ativos da Petróleo Brasileiro S.A a estrangeiros, mas também pela
queda intencional e programada de investimentos em exploração por parte da
empresa, cuja produção crescerá - segundo prevê o “mercado” - em apenas 2% este
ano.
Enquanto
isso, graças à tentativa suicida – para
não dizer imbecil - de repassar, imediatamente, as cotações internacionais para
o consumidor brasileiro, o preço dos combustíveis continua subindo nos postos,
a quase toda semana, mesmo quando o custo do barril
desce no exterior.
Ou alguém
já viu - sem tabelamento, eventual promoção, “batismo” ou falsificação -
gasolina baixar de preço nas bombas, no Brasil?
Brasil
247, 9/1/17
Retalhar e privatizar Petrobras é crime de lesa-pátria
Por
José Carlos de Assis
Mais de 60 anos de bem
sucedida política do petróleo e de construção no Brasil da maior empresa da América Latina e de uma das maiores
petrolíferas do mundo estão sendo destruídos, em questão de meses, pela
política tucana entreguista de Temer/Meirelles/Serra mediante o retalhamento
criminoso da Petrobrás. A sociedade brasileira parece congelada diante
desse crime, sob a anestesia da campanha
contra a corrupção. Quando não tínhamos petróleo, a Nação se levantou na
campanha de o petróleo é nosso. Quando o temos, a Nação assiste a entrega das
fabulosas reservas do pré-sal a grupos estrangeiros sem reagir.
Qual é a explicação para essa terrível contradição? Em primeiro
lugar houve o impacto do impeachment que atraiu o foco das atenções para a
crise política. Em segundo lugar houve o
terremoto da Lava Jato, que confundiu corrupção na Petrobrás com corrupção da
Petrobrás, o que justificou uma perseguição da empresa por parte de forças
internas e externas. O cidadão se confundiu com a sequência de denúncias de
televisão e de revistas especializadas em escândalos, possibilitando o assalto
indiscriminado a nossa riqueza principal enquanto as atenções eram desviadas
para delações premiadas e listas de empreiteiras.
O Brasil está sendo
assaltado sob nossas vistas, e a Nação não reage. Há pouco o Governo Temer/Meirelles preparou
uma doação às teles de mais de R$ 100 bilhões através de uma maquinação no
Senado que evoluiu à margem do conhecimento de alguns dos próprios apoiadores
do Governo. Se não fosse pela atenção dada ao tema por parte da senadora Vanessa
Grazziotin e pelo senador Roberto Requião,
a trama seria consumada na calada da noite mediante sanção presidencial. Mais
deprimente ainda foi a aprovação pelo Senado da PEC-55/241, denominada a PEC da
Morte, destinada a promover no país o Estado mínimo.
É a crise econômica, como base da crise política, que tem servido
de pretexto para o Governo fazer um programa de entrega do petróleo às
petrolíferas estrangeiras. Contudo, ele parte
de uma premissa falsa. É claro que houve roubos na Petrobrás, mas seus responsáveis
estão presos ou premiados pela Lava Jato. Com
seu imenso potencial, tanto em termos de geração de caixa como em termos de
capacidade de endividamento, a Petrobrás poderia e pode se levantar da crise
conjuntural que viveu, sem necessidade de queima de ativos produtivos
estratégicos e voltando aos altos níveis de investimento de 2014.
Essa volta dos investimentos da empresa é essencial para a economia
pois a Petrobrás respondia por mais de 70% dos investimentos globais do país
antes da crise. Sem isso, dificilmente o Brasil sairá do buraco em que se
encontra, com a contração do PIB de cerca de 8% em dois anos, 2015 e 2016, e
sob ameaça de nova contração no próximo ano. Ainda no início de 2015 apresentei
três alternativas possíveis para a retomada dos investimentos da empresa ao
nível de 2014. Seria ou financiamento do Tesouro, ou financiamento chinês, ou
financiamento por venda antecipada de petróleo à China. Ignoraram as sugestões.
Acharam melhor retalhar a empresa numa política suicida aprofundada
por Pedro
Parente sob Temer e Meirelles. O que se tornou evidente é que o atual Governo não quer recuperar
plenamente a Petrobrás. E aparentemente fica até mesmo contrariado com os dados
positivos que a empresa, mesmo com baixos investimentos, está apresentando.
Seu programa consiste em fatiá-la para
privatizá-la aos pedaços matando a galinha de ovos de ouro da economia
brasileira. Isso só não foi ainda mais a fundo porque a AEPET, Associação
dos Engenheiros da Petrobrás, conseguiu bloquear em parte na Justiça o
plano privatista.
Deve ficar bem claro para os abutres que se apropriaram da
Petrobrás para privatizá-la que políticas de lesa-pátria podem ser revertidas
por cima da superficialidade da lei. Como disse certa vez o ministro Marco Aurélio a respeito de outra situação, “pau que bate em Chico bate em Francisco”.
Estejam certos os assassinos da política de petróleo, um dos poucos legados
econômicos indiscutivelmente positivos do Governo Lula, que não haverá segurança jurídica para as
barbaridades que estão cometendo. E que isso seja um aviso também para os
compradores das fatias da Petrobras: um dia tudo será revisto, e tudo será cobrado com juros!
*Economista, doutor em Engenharia de Produção pela
Coppe-UFRJ, professor de Economia Internacional da UEPB
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