Jornal GGN, 02/01/16
Por Fábio de Oliveira Ribeiro
Reproduzo abaixo a carta do serial killer que matou várias pessoas em Campinas. Destaquei algumas passagem para poder analisar melhor o conteúdo da mensagem.
“Não tenho medo de morrer ou ficar preso, na verdade já estou preso na angustia da injustiça, além do que eu preso, vou ter 3 alimentações completas, banho de sol, salário, não precisarei acordar cedo pra ir trabalhar, vou ter representantes dos direito humanos puxando meu saco, tbm não vou perder 5 meses do meu salário em impostos.
Morto tbm já estou, pq não posso ficar contigo, ver vc crescer, desfrutar a vida contigo por causa de um sistema feminista e umas loucas. Filho tenha certeza que não será só nos dois quem vamos nos foder, vou levar o máximo de pessoas daquela família comigo, pra isso não acontecer mais com outro trabalhador honesto. Agora vão me chamar de louco, más quem é louco? Eu quem quero justiça ou ela que queria o filho só pra ela? Que ela fizesse inseminação artificial ou fosse trepar com um bandido que não gosta de filho.
No Brasil, crianças adquirem microcefalia e morrem por corrupção, homens babacas morrem e matam por futebol, policiais e bombeiros morrem dignamente pela profissão, jovens do bem (dois sexos) morrem por celulares, tênis, selfies e por ídolos, jornalistas morrem pelo amor à profissão, muitas pessoas pobres morrem no chão de hospitais para manter políticos na riqueza e poder!
Eu morro por justiça, dignidade, honra e pelo meu direito de ser pai! Na verdade somos todos loucos, depende da necessidade dela aflorar!
A vadia foi ardilosa e inspirou outras vadias a fazer o mesmo com os filhos, agora os pais quem irão se inspirar e acabar com as famílias das vadias. As mulheres sim tem medo de morrer com pouca idade.
Aproveitando, peço aos amigos que sabem da minha descrença, que não rezem e por mim, se fazerem orações façam por meu filho ele sim irá precisar! Quero ser enterrado com a cabeça para baixo se garante que assim posso ir pro inferno buscar a velha vadia (que era até ministra de comunhão na igreja) que morreu antes da hora. Demorei pra matar ela pq me apaixonei por um anjo lindo!
(…)
Ela não merece ser chamada de mãe, más infelizmente muitas vadias fazem de tudo que é errado para distanciar os filhos dos pais e elas conseguem, pois as leis deste paizeco são para os bandidos e bandidas. A justiça brasileira é igual ao lewandowski, (um marginal que limpou a bunda com a constituição no dia que tirou outra vadia do poder) um lixo!
Se os presidentes do país são bandidos, quem será por nós?
Filho, não sou machista e não tenho raiva das mulheres (essas de boa índole, eu amo de coração, tanto é que me apaixonei por uma mulher maravilhosa, a Kátia) tenho raiva das vadias que se proliferam e muito a cada dia se beneficiando da lei vadia da penha!
Não posso dizer que todas as mulheres são vadias! Más todas as mulheres sabem do que as vadias são capazes de fazer!
Filho te amo muito e agora vou vingar o mal que ela nos fez! Principalmente a vc! Sei o qto ela te fez chorar em não deixar vc ficar comigo qdo eu ia te visitar. Saiba que sempre te amarei! Toda mulher tem medo de morrer nova, ela irá por minhas mãos!”
“(…) eu ia matar as vadias (eu já tinha a arma e raspei a numeração pra não prejudicar quem me vendeu, ela precisava de dinheiro). Família de policial morto não recebe tantos benefícios com a família de presos. Cadê os ordinários dos direitos humanos? Estão sendo presos por ajudar bandidos né? Paizeco de bosta.
Sei que me achava um frouxo em não dar uns tapas na cara dela, más eu não podia te dizer as minhas pretensões em acabar com ela! Tinha que ser no momento certo. Quero pegar o máximo de vadias da família juntas.
A injustiça campineira me condenou por algo que não fiz! Espero que eles sejam punidos de alguma forma.
Chega!! Ela tem que pagar pelo que fez.”
O autor da carta não quer pagar impostos, não acredita na justiça brasileira e, sobretudo, defende seu suposto direito de matar para restabelecer o equilíbrio que ele acredita ter sido destruído pelas feministas. Três coisas são importantes nesta mensagem.
A primeira é a negação da autoridade do Estado, a segunda é a glorificação da violência e a terceira, talvez a mais importante, a irracionalidade dos argumentos públicos apresentados para a concretização de uma vingança privada.
Ninguém tem o direito de matar. Todos devem se submeter às Leis. O mau exemplo dado por alguns não é justificativa para os excessos cometidos por alguém descontente. Numa democracia o cidadão tem direito de interferir na esfera pública (em favor da aprovação das Leis que acreditar necessárias e da revogação daquelas que julgar injusta), mas sua vida privada não é absolutamente isenta de interferência estatal.
Não pagamos impostos porque gostamos. Até mesmo aqueles que não desejam pagar impostos (ou os sonegam) são beneficiados pelos serviços públicos permanentemente prestados pelo Estado (conservação de vias públicas, escolas, hospitais, distribuição de justiça, policiamento, etc...). Se os serviços não são satisfatórios, o cidadão tem direito de recorrer ao Judiciário para obrigar o Estado a garantir os direitos que são conferidos a ele pela Constituição Federal.
A carta revela uma deficiência cívica e civilizatória. A autotutela violenta parece ser a única coisa em que seu autor acredita. Nesse sentido, ele confirma as suspeitas que eu venho expondo desde 2007:
“Ao contrário do que pensam alguns políticos a população brasileira é inteligente. Ela percebeu a progressiva ineficácia do Poder Judiciário. Para qualquer lado que olhemos, se observarmos com atenção, veremos que os bons cidadãos sentem-se frustrados e os maus cidadãos sabem-se impunes. PORTANTO, AO CONTRÁRIO DO QUE TEM AFIRMADO A MÍDIA NÃO ESTAMOS DIANTE DE UM AUMENTO DA VIOLÊNCIA E SIM DA PROGRESSIVA SUBSTITUIÇÃO DA SUBMISSÃO AO PODER JUDICIÁRIO PELA AUTOTUTELA. É fundamental reformar, ampliar, tornar célere, eficiente e eficaz o Poder Judiciário. Contudo, isto de nada adiantará se a corrupção e o nepotismo continuar a abalar sua respeitabilidade. E esta é uma questão realmente delicada. Afinal, a CF/88 assegura a autonomia e a independência dos poderes. Será preciso, então, inventar uma forma de convencer o Poder Judiciário zelar pela autonomia e independência lhe conferidas pela Constituição sob pena de perdê-las temporariamente."
http://jornalggn.com.br/blog/
Em 2016 o Judiciário brasileiro chegou ao fundo do poço. Vários Ministros do STF participaram ativamente do golpe de estado que rasgou 54,5 milhões de votos em Dilma Rousseff. Milhares de juízes que ganham acima do teto passaram a defender publicamente seus privilégios salariais. Alguns deles tiveram a ousadia de rejeitar irracionalmente o Projeto de Lei que pretende limitar seu “direito divino” de cometer abusos sem sofrer qualquer tipo de punição.
Além de ser muito caro e lento, o Judiciário deixou de lado os processos para adentrar na arena política com o objetivo de se apropriar das funções do Poder Executivo e cercear a liberdade do Poder Legislativo. A tragédia de Campinas não pode ser isolada deste contexto. Ela ocorreu justamente porque os juízes ajudaram a destruir a percepção popular de que o Brasil é capaz de distribuir justiça de maneira correta, eficiente.
O autor da carta cometeu um crime horrendo. Mas o crime cometido pelo Judiciário (a destruição de sua própria credibilidade) ficará impune.
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