21/08/2012
QUANDO OS SOLDADOS PREFEREM MORRER
Por Mauro Santayana

Provavelmente não se
sentissem combatentes por sua pátria ou suas idéias, e, sim, meros mercenários,
enviados para assassinar em nome de interesses que nada têm a ver com os de seu
povo. Salvo nas duas guerras mundiais, quando justa era a luta contra os alemães
e o nazismo, os soldados ianques lutam por Wall Street. O genocídio inútil de
Hiroxima e Nagasáki, ao manchar com a desonra o combate pelos valores humanos,
confirmou os exércitos dos EUA como bandos de pistoleiros do imperialismo.
Os Estados Unidos
nunca tiveram que lutar em seu solo, a não ser na Guerra da Independência.
Sempre invadiram o solo alheio, a partir da guerra contra o México, em 1846,
quando anexaram mais de 40% do território do país vencido. A Guerra da
Independência, bem antes, se travara contra homens iguais, da mesma etnia, da
mesma fé, e poderíamos dizer, quase das mesmas idéias. O mesmo veio a ocorrer no
conflito interno, o da Guerra da Secessão, apesar da crueldade dos combates e a
bandeira ética do Norte contra a escravocracia do Sul.
Esse enorme privilégio
– o de não conhecer as botas dos ocupantes estrangeiros – transformou-se
em maldição.
Os militares ianques já não encontram na alma, desde a derrota
no Vietnã, quaisquer razões para a luta. Assim, são corridos pela depressão, ou
se transformam em animais, como os que se deixaram fotografar em Abu Ghraid, com seus cães.
A depressão os leva a desertar das fileiras, de forma absoluta, ao estourar a
cabeça ou o coração com suas próprias armas.
O filósofo espanhol
Ortega y Gasset tem uma tese interessante sobre os militares e as guerras. Ele
considera o cerco de Granada, pelos Reis Católicos, em 1492 – o mesmo ano da
descoberta da América por Colombo – como o fim do soldado que combatia com
honra, e o início do soldado “técnico”, que atua como simples extensão de sua
arma.
No cerco de Granada, e
na vitória que se seguiu, os castelhanos usaram o planejamento tático e
estratégico, superando, e em muito, os gregos e os romanos no projeto de suas
operações. Segundo Ortega, ali morreu a bravura, e nasceu o combatente moderno,
mera máquina de matar, sem honra e sem sentimentos, a não ser os do ódio
induzido.
Os soldados americanos
que se matam, torturados pelo remorso, talvez sigam o lema que os japoneses
inscrevem nos sabres destinados ao harakiri: saiba morrer com honra quem com
honra não soube viver.
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