21/08/2012
QUANDO OS SOLDADOS PREFEREM MORRER
Por Mauro Santayana
Em julho passado,
revelam fontes oficiais, 38 militares norte-americanos se mataram. Um aumento de
mais de 100% sobre os casos de suicídio do mês anterior. Vinte e dois deles se
encontravam em serviço.
Os demais haviam voltado para casa, mas já não se sentiam em
seus lares. Eram outros homens, desfeitos e refeitos pelo horror.
Provavelmente não se
sentissem combatentes por sua pátria ou suas idéias, e, sim, meros mercenários,
enviados para assassinar em nome de interesses que nada têm a ver com os de seu
povo. Salvo nas duas guerras mundiais, quando justa era a luta contra os alemães
e o nazismo, os soldados ianques lutam por Wall Street. O genocídio inútil de
Hiroxima e Nagasáki, ao manchar com a desonra o combate pelos valores humanos,
confirmou os exércitos dos EUA como bandos de pistoleiros do imperialismo.
Os Estados Unidos
nunca tiveram que lutar em seu solo, a não ser na Guerra da Independência.
Sempre invadiram o solo alheio, a partir da guerra contra o México, em 1846,
quando anexaram mais de 40% do território do país vencido. A Guerra da
Independência, bem antes, se travara contra homens iguais, da mesma etnia, da
mesma fé, e poderíamos dizer, quase das mesmas idéias. O mesmo veio a ocorrer no
conflito interno, o da Guerra da Secessão, apesar da crueldade dos combates e a
bandeira ética do Norte contra a escravocracia do Sul.
Esse enorme privilégio
– o de não conhecer as botas dos ocupantes estrangeiros – transformou-se
em maldição.
Os militares ianques já não encontram na alma, desde a derrota
no Vietnã, quaisquer razões para a luta. Assim, são corridos pela depressão, ou
se transformam em animais, como os que se deixaram fotografar em Abu Ghraid, com seus cães.
A depressão os leva a desertar das fileiras, de forma absoluta, ao estourar a
cabeça ou o coração com suas próprias armas.
O filósofo espanhol
Ortega y Gasset tem uma tese interessante sobre os militares e as guerras. Ele
considera o cerco de Granada, pelos Reis Católicos, em 1492 – o mesmo ano da
descoberta da América por Colombo – como o fim do soldado que combatia com
honra, e o início do soldado “técnico”, que atua como simples extensão de sua
arma.
No cerco de Granada, e
na vitória que se seguiu, os castelhanos usaram o planejamento tático e
estratégico, superando, e em muito, os gregos e os romanos no projeto de suas
operações. Segundo Ortega, ali morreu a bravura, e nasceu o combatente moderno,
mera máquina de matar, sem honra e sem sentimentos, a não ser os do ódio
induzido.
Os soldados americanos
que se matam, torturados pelo remorso, talvez sigam o lema que os japoneses
inscrevem nos sabres destinados ao harakiri: saiba morrer com honra quem com
honra não soube viver.
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