O GLOBO, 16/8/2012
A vez do Brasil
ZUENIR VENTURA
O Brasil como modelo para o Ocidente — quem diria? Pois Domenico De Masi diz. Segundo ele, o nosso país "não é o melhor dos mundos possíveis, mas é o melhor dos mundos existentes".
O sociólogo
italiano está escrevendo um livro em que analisa a crise europeia, onde,
como afirma, não faltam leis e tribunais, direitos civis, bem-estar,
liberdade de expressão, igrejas, empresas. "Nunca tantos filhos com
educação superior à paterna." Mas, conclui, não há progresso sem felicidade, e "o Ocidente não é feliz".
Na sua visão, os modelos que a Europa e depois os EUA elaboraram ao
longo da história — o cristão, o renascentista, o iluminista, o
industrial e o pós-industrial — resultaram "inadequados" e hoje a imagem
que lhe ocorre é a do Ocidente que nem um marinheiro desorientado que
espera um vento favorável, sem saber que direção seguir. Quem pode lhe mostrar o caminho? De Masi acha que é o Brasil, por várias razões:
é "a única democracia do planeta onde o PIB está crescendo
continuamente por trinta anos, as distâncias sociais diminuem, a
qualidade de vida melhora, a alternância do poder é assegurada por
regulares eleições democráticas", além de ser o único país onde "por oito anos um presidente operário aumentou a riqueza nacional e a redistribuiu com mais equidade".
Tudo bem. Mas e
a impunidade, os escândalos, a violência? O sociólogo evidentemente não
desconhece os problemas, mas faz comparações. "Seus (do Brasil)
muitos defeitos — gritantes desigualdades socioeconômicas, falta de
infraestrutura, criminalidade difundida, corrupção — ainda são menores
do que os defeitos de outros países. E suas vantagens —
social-democracia, alegria, sensualidade, acolhimento, pacifismo — são
muito maiores do que as de outros lugares". O que falta então? "Autoconsciência da situação objetiva e da urgência em transformá-la em modelo teórico para si próprio e para os outros",
uma "honra" que caberia aos nossos intelectuais, "assim como os
intelectuais ingleses a tiveram para o modelo capitalista, e os
franceses para o modelo iluminista". Seria "uma mensagem de salvação
para o Ocidente doente". Mesmo que se queira relativizar essas opiniões
por serem de um apaixonado pelo país, são palavras de um importante
sociólogo e que soam em nossos ouvidos cansados de receber os sons
impuros que vêm de Brasília como uma doce música. E como um bálsamo para
nossa autoestima tão maltratada pela política.
Não há progresso sem felicidade. Quem pode mostrar o caminho? O sociólogo De Masi acha que é o Brasil.
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