segunda-feira, 31 de outubro de 2011

O realejo de banalidades e seu espaço ideal

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CartaCapital, Ed. 670



Os embalos da opinião econômica


Por Luiz Gonzaga Belluzzo

Professor da escola de economia de Paris, Bertrand Rothé abre seu artigo na revista Marianne com uma pergunta: por que os economistas midiáticos defendem com tanto ardor um sistema falido? Ele responde: porque eles são pagos pelos bancos. Um tanto rude, a resposta.
Mas Rothé mata a cobra e mostra o pau. Diz o economista que, em 10 de agosto, o jornal Le Monde publicou no caderno Debates 22 depoimentos de especialistas na matéria. Nesse grupo de sabichões, 16 (76,6%) são ligados a instituições financeiras. A promiscuidade vai longe. Anton Brender, reputado economista da esquerda francesa, hoje diretor de estudos econômicos do Dexia Asset Management usou duas páginas do Nouvel Observateur para concluir que “não são os mercados que estão em causa, mas a impotência política.”

A quase unanimidade, o realejo de opiniões banais encontra na mídia contemporânea um espaço ideal. Um jornalista do L’Expansion justificou a preferência pela ligeireza: “Os economistas de bancos sabem responder rápido, eles são pagos para isso. Esse já não é o caso dos universitários que se entregam à reflexão e cujas nuances são difíceis de transcrever.”
Vamos às relações entre “impotência política”, descuidos midiáticos e captura dos economistas. Até mesmo um idiota fundamental é capaz de perceber que na construção da crise atual a “impotência política” tem origem na ocupação do Estado e de seus órgãos de regulação pelas tropas da finança e dos graúdos interesses, digamos, corporativos, aí incluídos aqueles das megaempresas de mídia. As tropelias do meliante Rupert Murdoch dão testemunho das ligações perigosas entre o mass media, a política e a polícia. No Brasil é o “puder”, já na pérfida Albion it’s power.
O americano Robert Kaiser no livro So Damn Much Money listou 188 ex-congressistas registrados oficialmente como lobistas em Washington. A pesquisa de Kaiser revela como funciona a porta giratória entre os grandes negócios e a política. Estudo realizado por um grupo de advogados, o Public Citizen, flagrou na nobre ocupação de lobistas metade dos senadores e 42% dos deputados que deixaram o Congresso entre 1998 e 2004. No período 1998-2011 o setor financeiro gastou 84,5 bilhões de dólares com essa turma. Há “rachuncho” com o caixa das campanhas políticas.
Não escasseiam relatórios oficiais, depoimentos, documentários e livros de gente oriunda dos mercados a respeito da invasão dos bárbaros na cidadela da política e das políticas. Nesse espaço que, generosamente, me reserva CartaCapital, já publiquei um artigo sobre o relatório do Congresso americano que expõe as tropelias dos agentes da finança na montagem da crise financeira.
“No relatório do Congresso, o percurso em direção à crise é analisado mediante a narrativa de episódios esdrúxulos e de depoimentos patéticos de banqueiros, altos executivos e autoridades. A articulação entre as falas e as narrativas permite uma avaliação do papel desempenhado pelos vários fatores e protagonistas que levaram a economia global da euforia e da depressão: as inovações financeiras geradoras de instabilidade, a omissão sistemática das autoridades encarregadas de supervisionar os mercados de hipotecas e, finalmente, a farra da emissão de securities lastreadas em empréstimos imobiliários.
Before Our Very Eyes, assim é denominado o primeiro capítulo do Relatório do Congresso. Em linguagem popular Estava na Cara”. É difícil negar que, ao longo dos anos de gestação da crise, os olhos – os da mídia incluídos – estiveram vendados pela trava que os hipócritas apontam na visão alheia (Palavras de Cristo, de admirável sabedoria). Já no caso de muitos economistas eminentes, sempre procura-dos para opinar, os olhos estavam travados, mas as imagens e palavras do documentário de Charles Ferguson, Inside Job, sugerem que os bolsos estavam arreganhados para a grana que escorria das façanhas da haute finance.
Ian Fletcher, autor do livro Free Trade Doesn’t Work, descreve formas mais sutis de cooptação dos economistas. Tais métodos, diz ele, não frequentam o ethos de bordel, com propostas do tipo “diga X e lhe pagarei Y”. Mas na faina de conseguir clientes, muitos economistas devem cultivar a reputação de sempre dizer aquilo que o freguês quer ouvir. “Certas ideias, como o aumento da desigualdade e problemas acarretados pelo livre-comércio devem ser evitadas. Elas não são economicamente corretas.” A mídia, em seus trabalhos de purificação da opinião pública, cuida de retirar tais “excentricidades” de circulação, assim como a polícia leva a enxovias os manifestantes de Ocupe Wall Street, uma súcia de desordeiros desatinados e desordeiras de barriga de fora.

Os perfis atuais de nossos escravos e escravocratas

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CartaCapital, Ed. 670



Os escravocratas

 

Por Leandro Fortes

 

Na terça-feira 25, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) lançou um estudo sobre o trabalho escravo no meio rural brasileiro em busca de um perfil dos personagens da escravidão.

Finalizado o documento, a pesquisadora Adonia Prado, do Grupo de Estudo e Pesquisa Trabalho Escravo Comtemporâneo, da UFRJ, concluiu que, longe de ser um resquício do séxulo XIX, esse modo de produção compõe a cadeia de commodities e do capitalismo de ponta no Brasil.
"Ele é funcional a esse modo de produção globalizado altamente concentrador de renda", diz.

Segundo a pesquisa,
o perfil do trabalhador escravo é o do homem negro e nordestino, que se desloca da sua terra natal para o Centro-Oeste e Norte e acaba preso nas fazendas escravagistas - geralmente depois de contrair dívidas ou perder a noção de localização em regiõoes isoladas. Já o empregador, em sua maioria, é branco, do sexo masculino e nascido no Sudeste.

A pesquisa constatou que do total de 12 entrevistados, um dos
empregadores era filiado ao PSDB, um ao PMDB e outro foi vereador e prefeito pela coligação PL-PMDB. Um deles foi filiado ao PFL, mas não é mais.

Segundo a pesquisadora, que visitou os locais e constatou condições subhumanas de trabalho,
as fazendas são empreendimentos de ponta que produzem para exportação. "Vale a pena para os empregadores manter essa condição", diz. "Apesar dos milhares de casos de denùncia, até hoje ninguém foi preso."

Câncer, mal-estar e sintomas na mídia

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 Segunda-Feira, 31  de Outubro de 2011

SAÚDE DE LULA

Câncer, mal-estar e sintomas na mídia

 
Por Rogério Christofoletti


O anúncio da descoberta de um câncer na laringe do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva provocou, ao longo do sábado (29/10), uma correria nas redações brasileiras. Se geralmente o fim de semana reserva a produção de matérias mais mornas no âmbito da política, desta vez, foi diferente. Não bastasse o plantão hospitalar por conta da internação do cantor Luciano, em Curitiba, após uma intercorrência por abuso de medicamentos, lá se foram mais repórteres para o Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, para uma notícia também inesperada. De forma geral, os telejornais brasileiros foram ágeis o suficiente para dar conta do primeiro boletim médico, para ouvir especialistas e repercutir o diagnóstico com personagens políticos. Também foram produzidas artes que pudessem ilustrar a doença para o público mais geral, e especulou-se um pouco em torno de possíveis causas do câncer de Lula. Consumo de álcool, tabagismo e poluição foram apontados como “fatores de risco”.
Os jornais também tiveram tempo e espaço para dedicar generosas páginas ao drama do ex-presidente. O assunto teve chamada de capa e disputou a manchete do domingo, conforme se pôde ver nas bancas pelo país:

** Agora: “Lula está com câncer na garganta”
** Folha de S.Paulo: “Lula tem câncer na laringe e vai passar por quimioterapia”
** Notícia Agora: “Lula está com câncer”
** O Dia: “Com câncer, Lula agora luta pela vida”
** O Estado de S.Paulo: “Lula está com câncer na laringe e fará quimioterapia”
** O Globo: “Com câncer, Lula inicia tratamento amanhã”
** O Povo: “Uma nova batalha para Lula”
** Zero Hora: “Exames detectam câncer em Lula”
** Correio: “Ex-presidente Lula tem câncer na laringe”
** Diário da Manhã: “Lula com câncer”

No exterior, os diários mais importantes da América do Sul também deram a notícia. Na Argentina, Clarín (“Conmoción em Brasil: Lula padece cáncer de laringe”) e La Nacion (“Lula, enfermo de cáncer”) fizeram o registro em suas primeiras páginas. O mesmo aconteceu com o chileno El Mercurio (“Cáncer de Lula remece a Brasil e impacta em el mundo político”), com o colombiano El Tiempo (“Lula tiene cáncer en la laringe”) e o venezuelano El Nacional (“Ex-presidente Lula da Silva tiene cáncer”).
As revistas semanais de informação não tiveram tempo para dar a notícia, já que chegam às bancas e aos assinantes justamente no fim de semana. Os portais noticiosos alardearam como puderam o diagnóstico de Lula, mas nada que se descolasse do já esperado.
 
Reações extremas
A novidade mesmo pode ter vindo do lado de lá do balcão desse negócio chamado jornalismo. As redes sociais convulsionaram com o anúncio da doença do ex-presidente. O assunto dominou o Twitter, gerando diversas hashtags e provocando até mesmo uma “campanha” para que Lula fizesse seu tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Opositores do político fizeram piadas de gosto duvidoso, atacaram seus familiares e destilaram alguns litros de fel nas redes sociais. Partidários do líder petista reagiram, recomendando que se deixasse de seguir os “oportunistas” e “desumanos” que fizeram troça da doença de Lula.
Entre os jornalistas mais influentes, houve manifestações escassas. Talvez a mais contundente tenha sido a de Gilberto Dimenstein (Folha.com, no domingo, 30/10), que disse ter sentido “um misto de vergonha e enjoo” ao receber “uma enxurrada de ataques desrespeitosos, desumanos, raivosos, mostrando prazer com a tragédia de um ser humano”.
Para Dimenstein, a interatividade democrática da internet é um avanço do jornalismo e “uma porta direta com o esgoto de ressentimento e da ignorância”. Razão pela qual o colunista reforça que um dos papéis dos jornalistas na atualidade “é educar os e-leitores a se comportar com um mínimo de decência”. Dimenstein tem motivos realmente fortes para ter ojeriza do comportamento demonstrado por alguns internautas que, protegidos atrás de seus teclados, revelam-se violentos e perversos. Difícil justificar tanta carga negativa e prazer pelo sofrimento alheio.
Recentemente, diversos casos de doentes célebres têm mostrado não apenas reações distintas dos públicos quanto dos próprios veículos de informação. A longa luta do ex-vice-presidente José Alencar contra um câncer foi acompanhada com apreensão e respeito pela serenidade do político diante da virtual morte. Alencar foi uma exceção, pois no terreno da política, a artilharia é mais pesada. Que o digam os presidentes Hugo Chávez (Venezuela) e Fernando Lugo (Paraguai), que batalham pelas próprias vidas e desviam de ataques e pragas. E mesmo a então candidata à presidência Dilma Rousseff, teve uma acompanhamento da imprensa ostensivo, apreensivo e ligeiramente especulativo.
Já com o empresário da tecnologia Steve Jobs, o desfecho fatal ganhou tons de idolatria na mídia e entre o público. Atualmente, o enfrentamento da doença pelo ator Reynaldo Gianecchini tem uma cobertura jornalística que não esconde a torcida nacional pelo restabelecimento do jovem astro.
Os ataques a Lula mostram mais uma vez que a internet permite uma polifonia pouco controlável, independentemente do bom senso, dos bons modos, das virtudes mais esperadas. Há quem se sinta seguro e confiante atrás de uma tela para julgar, ofender e caluniar. Há quem reaja também na mesma intensidade. Jornalistas ficam aturdidos no meio do tiroteio verbal. Compreensível.
 
Diagnóstico apressado
Como já disse, Dimenstein tem razões para sentir nojo do que viu. Mas particularmente penso que não se pode mais esperar que os jornalistas eduquem “os e-leitores a se comportar com um mínimo de decência”. Na atualidade, as redações têm se preocupado muito mais em aprender com seus públicos, não a ensiná-los, já que tutelas deste tipo estão esfarelando bem na frente de nossos olhos. Novos pactos entre audiências e veículos estão surgindo, bem como relações mais horizontalizadas, o que simplesmente dispensa o paternalismo e o didatismo sobre os quais o jornais do século 20 se consolidaram.
O câncer de Lula gerou um mal-estar não apenas restrito ao seu círculo familiar. Outros brasileiros também se comovem com o estado de saúde do ex-líder metalúrgico, dada a sua história pessoal, carisma incontestável e trajetória política. Lula é mesmo um fenômeno. Mas a enfermidade que o acomete revela sintomas que extrapolam seu organismo. O primeiro deles é que a sociedade brasileira atual é mais complexa do que jamais foi e tem ânsias para se manifestar, qualquer que seja o assunto e a sua conveniência. Outro sintoma é que as novidades nem sempre vêm das redações, e tem se tornado comum que venham do lado de lá do balcão. Um terceiro sinal, neste diagnóstico, é que os jornalistas talvez não precisem mais educar seus públicos ou simplesmente não possam mais fazê-lo.
Mais recomendável nesse caso é que o jornalismo revise seus hábitos, reencontrando os tons para fazer coberturas que fiquem na fronteira do público-privado, como as que relacionam saúde e poder. Prescreve-se, portanto, mudança de hábitos, mas nada de repouso.

Opusleaks - A vergonha documentada

Para quem não sabe, o (des)governador de São Paulo é colaborador da Opus Dei.


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 Segunda-Feira, 31 de Outubro de 2011

OPUSLEAKS

A vergonha documentada

 
Por Gabriel Perissé
 
O site opuslibros.org nasceu em 2002 para incomodar o Opus Dei. Um de seus objetivos é divulgar o que acontece nos bastidores dessa instituição católica, em contraste evidente com o discurso oficial, cheio de referências à liberdade, ao amor e ao respeito pelo indivíduo. Mais precisamente, além de inúmeros (e estarrecedores) depoimentos de ex-membros, Opuslibros publica “documentos internos” da prelazia, aos quais o próprio Vaticano não tem acesso.
Nesses documentos, encontramos um Opus Dei que controla de maneira obsessiva e doentia a vida e a consciência de seus membros. Podemos encontrar textos em que, ao contrário do que o Opus Dei propaga a seu próprio respeito, fica patente que a prática institucional cerceia a liberdade de seus membros com relação ao uso de seus salários, ao seu tempo, à atividade profissional, à relação com os familiares, a escolhas tão prosaicas como comprar uma roupa, ler um livro, navegar na web, ir ao cinema…
Quase dez anos depois, o Opus Dei resolveu atacar mais intensamente esse “opusleaks”, que traz à luz material suficiente para suscitar uma já tardia intervenção da Santa Sé (os motivos dessa intervenção estão nesse artigo). Aliás, tudo leva a crer que essa intervenção se avizinha (na velocidade da burocracia eclesiástica...), e a cúpula do Opus Dei está agora interessada em apagar pistas, mantendo intacta a fachada de instituição aberta, que dialoga com o mundo e, de modo especial, com os meios de comunicação.
 
Documentos que envergonham
Os advogados do Opus Dei querem que o Opuslibros retire do ar documentação que, como é evidente, envergonha os líderes, membros e simpatizantes da prelazia. Pois é documentação autêntica sobre comportamento que contradiz a propaganda oficial. Se fosse documentação adulterada pelos ex-membros, a instituição não argumentaria que tais documentos são propriedade sua e devem permanecer dentro das gavetas de seus dirigentes.
Se essa documentação não lhe causasse vergonha, o Opus Dei teria, ao contrário, orgulho da divulgação. O fato é que a iniciativa judicial virou notícia, e o jornal El País na edição de sábado(29/10), para oferecer mais subsídios, começa a difundir com maior poder de fogo o que o Opuslibros divulgava modestamente: cópiasde documentosda Obra que comprovam sua atuação como seita proselitista.
Não se trata de uma luta como a que o Opus Dei empreendeu contra o Código da Vinci faz alguns anos. Agora não é ficção, mas realidade institucional. Fica evidente, por exemplo, que a Obra proíbe seus membros de se confessarem com padres que não pertençam ao Opus Dei. O Vaticano não pode permitir tal regra, tal arbitrariedade. Fica evidente que a correspondência dos membros do Opus Dei sempre foi violada pelos diretores antes que chegasse aos destinatários. O Vaticano não pode ser conivente com essa conduta criminosa. Bento 16 terá inclusive de revisar certas questões jurídicas que os canonistas do Opus Dei manipulam com maestria. O Opus Dei não dá satisfação de suas regras internas nem ao papa nem aos bispos dos países onde atua.
 
Acesso à verdade
Carlos Alberto di Franco, membro do Opus Dei, formador de jornalistas e editores brasileiros, cultiva um discurso moralista contra a falta de clareza. Em seus artigos no Estado de S.Paulo defende a imprensa livre. Defende o pluralismo. Quer que aprendamos a denunciar os desmandos, a denunciar quem pratica a arte do engodo. Defende a apuração isenta. Para ele, devemos nos comprometer com a verdade. São palavras suas: “Os meios de comunicação existem para incomodar”. Devemos ter acesso à informação, ao conhecimento, à verdade.
Pois bem, apliquemos suas sábias palavras ao caso Opus Dei. Muitas pessoas, católicas ou não, têm interesse pela verdade que incomoda.


[Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br]

Mundo chega a 7 bilhões de pessoas


 
G1, 31/10/2011 09h06
 

Mundo chega a 7 bilhões de pessoas

 
Do G1, em São Paulo
 
A população mundial alcançou a marca dos 7 bilhões de habitantes nesta segunda-feira (31) por volta das 4h, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), e uma pequena filipina de nome Danica, nascida em Manila, foi a escolhida inicialmente para simbolizar os desafios planetários de crescimento demográfico. Rússia e Índia também reivindicam o nascimento do bebê-símbolo.
O planeta atingiu a população de seis bilhões em 1999. Na ocasião, a ONU escolheu Adnan Nevic, um menino nascido em Sarajevo, como representante simbólico da marca. Desta vez, a ONU optou por não designar nenhuma criança com antecedência e vários países pretendiam reivindicar a efeméride.
"É muito bonita. Não posso acreditar que seja a habitante sete bilhões do planeta", comentou emocionada a mãe da menina. Danica receberá uma bolsa de estudos e seus pais uma quantia em dinheiro para abrir uma loja.
Danica May Camacho, nascida no domingo, dois minutos antes da meia-noite, no José Fabella Memorial Hospital, um centro público da capital filipina, tem 2,5 quilos. Seus pais, Florante Camacho e Camille Dalura, foram felicitados por representantes das Nações Unidas.
"O mundo e seus sete bilhões de habitantes formam um conjunto complexo de tendências e paradoxos, mas o crescimento demográfico faz parte das verdades essenciais em escala mundial", declarou a representante do Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA) nas Filipinas, Ugochi Daniels.


Pequena filipina simboliza o ser humano de número 7 bilhões

Da AFP
 
Danila Camacho bebê 7 bi (Foto: AP)
Danica vai receber uma bolsa de estudos, 
enquanto seus pais terão ajuda para abrir loja (Foto: AP)

domingo, 30 de outubro de 2011

As mentiras que nos contam sobre a economia mundial

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As mentiras que nos contam sobre a economia mundial


Eduardo Febbro - Correspondente da Carta Maior em Paris

Conforme a hora do dia, o analista, o colunista ou o canal de televisão, os argumentos para explicar a crise mundial variam como a cor do céu. Qual é a verdade? Na realidade, a verdade é um acúmulo de mentiras que se disparam de todas as partes: o Fundo Monetário Internacional mente, as agencias de qualificação mentem, os analistas financeiros mentem, as instâncias de regulação mentem. A mentira, ou sua exposição, é a trama do ensaio dos economistas franceses Olivier Pastré e Jean-Marc Sylvestre. Em seu livro “Nos mentem!”, Pastré e Sylvestre elaboraram uma espécie de catálogo da mentira em economia política ao mesmo tempo que evidenciam os erros monumentais dos organismos de crédito multilaterais, das agencias de qualificação e da mídia, que dão crédito às mentiras travestido-as de verdade.

Não escapam às análises os dirigentes políticos e os grupos como o G20, todos amordaçados e paralisados até que o incêndio cerca a casa. Mas como destaca nessa entrevista o professor Olivier Pastré, uma vez que o incêndio se afasta, o sistema volta a reproduzir os mesmos problemas.

Seu livro é uma espécie de catálogo das mentiras que os atores econômicos expandem pelo mundo seja para explicar a crise, seja para ocultá-la. Por acaso pode se dizer que o capitalismo parlamentar nos mentiu para manter as coisas no mesmo lugar?

Como dizia Lampeduza, tem que mudar tudo para que nada mude! Mas acredito que não se deva ter visões simplificadoras. Com isso quero dizer que é muito provável que um segmento importante dos dirigentes não tenha nenhum desejo de que as coisas mudem. Sendo assim, mentem a si mesmos primeiro e depois mentem ao seu público. Contudo, para explicar a cegueira do sistema, também há que mencionar uma espécie de mecanismo de auto-sugestão. Há uma frase muito conhecida na bolsa que dizas árvores não sobem até o céu”. Até há pouco, os dirigentes da economia de mercado acreditaram que as árvores subiam sim até o céu.

Lembro que existe uma referência recente desta com a bolha internet, a bolha das novas tecnologias. Em 2000, a valorização das empresas que operavam na rede chegou à loucura total. Contudo, os dirigentes políticos, os bancos, os analistas financeiros, os meios de comunicação, todo o mundo dizia que a internet havia criado um novo modelo e que uma empresa podia valer 500 vezes seus lucros anuais. Aqui está uma prova de inconsciência que foi sancionada pelos mercados. O mesmo acontece agora. A inconsciência de 2005, 2006 e 2007 está sendo agora sancionada pelos mercados, mas de uma forma muito mais grave. Hoje, diferente do que ocorreu com a bolha das novas tecnologias, todos os setores e todos os países estão envolvidos. Nisso radica a gravidade da crise atual.

Existem outros emissores de mentiras que detém um poder considerável: as estatísticas, as agências de qualificação e o FMI.

Se observarmos as previsões do FMI constatamos que desde muito tempo são errôneas. O FMI não antecipou a crise e hoje este organismo nos diz com certa dificuldade que a crise se instalou. E, contudo, apesar de que as previsões do FMI são largamente falsas, continuam considerando-as com uma devoção quase religiosa. E com as agencias de qualificação acontece exatamente a mesma coisa. Nenhuma agencia antecipou a crise. Quero lembrar que as agencias de qualificação haviam dado aos créditos sub prime um triple A, o que é muito preocupante. Aqui também se segue escutando as agencias de qualificação como se fossem uma Virgem Santa.

Mas a devoção e a idolatria não têm nenhuma justificativa. Se trata agora de saber a quem há que criticar: as estatísticas, as agências de qualificação, aqueles que lhe dão uma importância maior? Todo o mundo é responsável do que está acontecendo. Os bancos centrais são responsáveis, em particular o banco central norte americano, as autoridades bancárias são responsáveis, os bancos, as agências de qualificação, os analistas financeiros, os Estados são igualmente responsáveis. De fato, não há que destacar um culpável nem procurar um bode expiatório. A responsabilidade é global. A responsabilidade da crise não é só das estatísticas ou das agências de qualificação. A responsabilidade é inescapavelmente coletiva.

Outra das mentiras que você assinala e que se transformou num mito desde 2008 é o da regulação financeira. Você afirma que o G20 é em realidade papel molhado.

Sobre o G20 é preciso dizer três coisas. A primeira é que a criação do G20 foi uma muito boa idéia. Antes da criação do G20 a economia mundial estava governada pelos países mais endividados: Estados Unidos, França, etc. Além disso, haviam sido deixados de fora os países que criavam mais valores, ou seja, Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul. A criação do G20 é então, uma evolução extremamente positiva em matéria de governança econômico mundial.
Em segundo lugar, na cúpula do G20 que se celebrou em Londres em 2009 se tomaram decisões corretas no que concerne ao papel do FMI, os paraísos fiscais ou as bonificações dos traders. Mas em terceiro lugar, e aqui está o problema, desde esta cúpula de Londres o G20 deixou de tomar decisões. Por quê? Pois porque o G20, como todas as demais instâncias de regulação, só toma decisões quando se espalha o medo. Tem que acontecer o que vimos com Lehman Brothers para, seis meses depois, tomar as decisões necessárias.

O problema radica em que, uma vez que passa a tormenta, nos esquecemos de que tivemos medo e tudo volta a começar igual: a especulação, as bonificações surrealistas destinadas aos traders, etc., etc. Prova disso, foi necessário que explodisse a crise grega para que os reguladores tivessem medo e voltassem a regular. Por conseguinte, se pode dizer que a governança mundial só progride com a crise. Só quando os reguladores têm medo se botam a regular.

Mas como se pode explicar tal recurso à mentira em economia política. Economistas, dirigentes políticos, organismos internacionais, todos mentem.

É lamentável mas esta é a triste realidade. Há três tipos de mentiras: a mentira voluntária, esta que se apoia atrás do argumento segundo o qual esconder a realidade é um bom princípio; a mentira involuntária que se funda sobre uma análise errônea da situação e conduz a difundir falsas informações quase de boa fé: e a mentira que se conta a si mesmo, ou seja, quando se dispõe de uma boa análise da situação mas como não se quer reconhecer a validade da mesmo se acaba dissimulando a realidade.
Nos três casos se emitem enunciados falsos e quase ninguém questiona o discurso dominante. Há vários elementos para explicar isso. Um deles é o chamado pensamento único. Às pessoas gostam pensar o que pensam os demais. Na sociedade atual contar com um pensamento heterodoxo não é algo fácil. Por outra parte, os meios de comunicação têm uma marcada tendência a acentuar este fenômeno. Os meios se focalizam no instantâneo, no espetacular. Assim terminam difundindo a mesma análise sem profundidade.

Você é um dos poucos analistas econômicos que afirma sem ambiguidade que os Estados Unidos estão em processo de quebra.

Se os Estados Unidos fossem uma empresa já tinham declarado falência. Não há nenhuma dúvida a respeito. Os Estados Unidos viveram acima de seus meios, se endividando além do razoável e desindustrializando-se em excesso. Isso dura 20 anos! A situação norte americana é muito, muito má.

Entretanto, pese ao inocultável marasmo, você sugere que não tudo está perdido. Como se sai deste pântano? Por acaso há que terminar com a tão comentada globalização?

Eu sou um crítico das teses que propõem o fim da globalização. De fato, a globalização teve muitos defeitos, é obvio que aprofundou as desigualdades, mas, globalmente, a economia mundial nunca conheceu um crescimento tão forte como com o processo de globalização. Não há, então, que se jogar tudo no lixo. A desglobalização poderia acarretar uma perda dos benefícios adquiridos. Não quero dizer com isso que, por exemplo, a situação dos operários chineses que trabalham no setor industrial graças à globalização seja boa, não, nada disso. O que digo, sim, é que a globalização foi um fator de crescimento inquestionável, em particular para os países do sul.

Os excessos da globalização devem ser criticados. Nesse sentido, se continuo sendo otimista é precisamente porque se admitimos que todos somos responsáveis da situação atual, tanto as empresas, os bancos, os dirigentes políticos, as instâncias de regulação como as pessoas em geral, podemos mudar o curso das coisas. Se cada um destes atores econômicos se reforma é possível desembocar num governo econômico mundial mais satisfatório. Lamentavelmente, as reformas só se realizam quando não cabe outra saída. Provavelmente fará falta que a crise se agrave mais para que os dirigentes e os dirigidos aceitem as reformas.

Tradução: Libório Junior

Gilberto Dimenstein: O câncer de Lula me envergonhou

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30/10/2011

O câncer de Lula me envergonhou

DE SÃO PAULO

Senti um misto de vergonha e enjoo ao receber centenas de comentários de leitores para a minha coluna sobre o câncer de Lula. Fossem apenas algumas dezenas, não me daria o trabalho de comentar. O fato é que foi uma enxurrada de ataques desrespeitosos, desumanos, raivosos, mostrando prazer com a tragédia de um ser humano. Pode sinalizar algo mais profundo.
Centenas de e-mails pediam que Lula não se tratasse num hospital de elite, mas no SUS para supostamente mostrar solidariedade com os mais pobres. É de uma tolice sem tamanho. O que provoca tanto ódio de uma minoria?
Lula teve muitos problemas - e merece ser criticado por muitas coisas, mas não foi um ditador, manteve as regras democráticas e a economia crescendo, investiu como nunca no social.
No caso de seu câncer, tratou a doença com extrema transparência e altivez. É um caso, portanto, em que todos deveriam se sentir incomodados com a tragédia alheia.
Minha suspeita é que a interatividade democrática da internet é, de um lado um avanço do jornalismo e, de outro, uma porta direta com o esgoto de ressentimento e da ignorância.
Isso significa que um dos nossos papéis como jornalistas é educar os e-leitores a se comportar com um mínimo de decência.

Gilberto Dimenstein, 54, integra o Conselho Editorial da Folha e vive nos Estados Unidos, onde foi convidado para desenvolver em Harvard projeto de comunicação para a cidadania.


A voz do Brasil que nunca teve voz


Por Saul Leblon



Lula completou 66 anos esta semana: a metade deles emprestando a voz rouca e grave à defesa da democracia e da justiça social. Avant la lettre, ele deu voz à 'primavera árabe' brasileira. Mesmo quando lhe faltaram microfones, nas assembléias históricas da Vila Euclides, no ciclo das grandes greves do ABC paulista, nos anos 80, a voz rouca e grave ecoou através de outras vozes para se fazer ouvir em todos os cantos e lares mais humildes do país..

A economia e a sociedade que essa voz ajudou a construir hoje falam por ele. E torcem por ele, na certeza de que ele ainda falará por ela durante muito tempo, como líder político incontestável da grande frente progressista que deu voz a um Brasil que nunca antes teve voz nem vez na política nacional.

Na campanha de 2002, num discurso emocionado, quando a vitória ainda era incerta, Lula disse que se considerava uma obra coletiva do povo brasileiro. E que assim persistiria , fosse qual fosse o resultado daquela disputa. De fato. Lula se transformou no intérprete mais fiel das lutas e sonhos da gente brasileira, a ponto de o seu nome ter se incorporado ao vocabulário nacional ('agora é Lula!') como uma espécie de sinônimo do orgulho, da resistência e do discernimento de uma população que, ao seu modo, nele se enxergou como fonte de poder e de direitos .

Essa força tamanha não vai silenciar. Não apenas porque Lula em breve voltará a expressá-la, mas porque em qualquer tempo, e em qualquer lugar , sempre que interesses de uma elite anti-social e demofóbica ameaçarem as conquistas e anseios dessa gente, haverá quem cante, assovie, murmure ou mencione o refrão que enfeixa um punhado de significados e entendimentos, todos eles imiscíveis com a prepotência e a humilhação que encontrou nesta voz um contraponto de alteridade e hegemonia que as ruas dificilmente esquecerão: 'olê, olê, olê, olá, Lula, Lula...'

Brasil volta a ser um país de imigrantes


O Globo.com, 29/10/2011 às 19h09m


Onda estrangeira

Crise global e crescimento do país fazem número de imigrantes crescer 52% no ano, superando 2 milhões


Gilberto Scofield Jr. (gils@oglobo.com.br) e Marcelle Ribeiro (marcelle@sp.oglobo.com.br)

SÃO PAULO - Depois de duas décadas exportando mão de-obra brasileira para o mundo - uma linguagem técnica para descrever o movimento migratório de brasileiros que deixaram o país em busca de emprego e melhores condições de vida lá fora -, o Brasil volta a ser um país de imigrantes, resgatando uma característica de sua História que parecia perdida após anos de crises econômicas. Levantamento do Ministério da Justiça mostra que a quantidade de estrangeiros vivendo no Brasil - trabalhando, estudando ou simplesmente acompanhando seus cônjuges - superou, pela primeira vez em 20 anos, o número de brasileiros que deixam o país para viver no exterior pelos mesmos motivos.
Segundo o Departamento de Estrangeiros da Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça, o número de estrangeiros em situação regular no Brasil aumentou em 52,4% nos últimos seis meses, e continua crescendo este semestre. Até junho de 2011, o Brasil tinha 1,466 milhão de estrangeiros, contra 961.877 em dezembro de 2010. A concessão de vistos de permanência cresceu 67% de 2009 para 2010, enquanto os processos de naturalização dobraram: de 1.056 para 2.116.
Não há estatísticas oficiais sobre a quantidade de imigrantes em situação irregular no país, mas os principais institutos e ONGs que trabalham com imigrantes no Brasil calculam esse número em 600 mil, o que levaria o total de estrangeiros morando hoje no Brasil para mais de dois milhões. O crescimento desse grupo também é grande. Segundo a maior instituição de apoio aos imigrantes irregulares no país - o Centro Pastoral dos Migrantes, em São Paulo -, a Casa do Migrante hospedou 477 pessoas em 2010 (267 da América do Sul), alta de 76% em relação a 2009. Este ano, no primeiro semestre, o avanço já chega a 84%.
Total de brasileiros lá fora cai à metade
A explosão de entrada de estrangeiros no país (imigração) contrasta com o encolhimento na ida de brasileiros para o exterior (emigração). O ministério estima que hoje dois milhões de brasileiros vivam no exterior, uma queda radical em comparação a 2005, quando eram quatro milhões. A razão para a balança migratória ter mudado de lado é econômica, explica o secretário nacional de Justiça, Paulo Abrão. O crescimento da economia brasileira, aliado às crises que afetam os três maiores polos de desenvolvimento mundial - EUA, Europa e Japão - transformaram o país num ímã de mão de obra legal e ilegal.
- Com esse movimento migratório econômico, o Brasil voltou a ser um país de imigração e não mais de emigração. E à medida que o país vai enriquecendo, a questão da imigração vai se tornando cada vez mais importante - diz Abrão.
Apesar disso, dizem representantes das organizações e universidades que estudam o assunto, o governo não tem uma política para lidar com o tema.
- A anistia concedida aos imigrantes em 2009 foi importante, mas não resolve um problema que é basicamente de mercado de trabalho - diz o professor Helion Póvoa Neto, do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Migratórios da UFRJ. - Com o assunto disperso entre vários ministérios, acaba que os imigrantes só são visíveis quando a Polícia Federal, um órgão de governo preocupado com segurança, investiga algum caso criminoso de trabalho escravo ou tráfico de pessoas.
Entre os imigrantes legais, os maiores grupos são os de origem portuguesa, boliviana, chinesa e paraguaia, nesta ordem. Entre os irregulares, tomando como base os registros de estrangeiros que aproveitaram a anistia concedida pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2009 - quem estivesse em situação irregular poderia pleitear um visto provisório e, em dois anos, regularizar sua situação -, os maiores grupos são os bolivianos (40% do total de cerca de 47 mil vistos provisórios emitidos), chineses (13%), peruanos (11%), paraguaios (10%) e coreanos (3%).
O empresário Miguel Assis, de 32 anos, ajuda a engrossar os números dos que deixaram Portugal para redescobrir o Brasil. Há sete meses morando em São Paulo com a mulher, ele veio abrir empresa de eventos, ampliando seus negócios de Portugal.
- A economia do Brasil está crescendo. Há empresas internacionais que olham para o Brasil com outros olhos, e muitas já eram nossas clientes em Portugal. Elas pediam para a gente vir para o Brasil, abrir uma unidade aqui - diz Assis.
Assis criou até uma comunidade no Facebook que reúne 780 portugueses que moram no Brasil e, em sua maioria, vieram recentemente. Para ele, o perfil dos portugueses que vem para o Brasil mudou: - É uma geração diferente da que veio em 1970 e 1980, porque tem formação acadêmica. São arquitetos, advogados, que vêm devido à crise que está afetando Portugal. Em 1980, os patrícios vinham para fazer negócios, começavam com uma padaria, com negócios pequenos. Hoje já há oportunidades maiores.
Acreditando no aprofundamento das relações entre Brasil e China, Noé Chiang, de 28 anos, deixou Taiwan no fim de 2009 para ensinar mandarim em São Paulo. Ele pensa até em se naturalizar brasileiro, como já fez sua mulher, pois acredita que com um passaporte brasileiro terá mais facilidade de circular pelo mundo.
- Os brasileiros são muito amigáveis e o ambiente é melhor que na Ásia. Lá tem muita indústria, contaminação no ar. Aqui no Brasil tudo é muito mais limpo - diz.

O tumor de Lula: A chocante celebração dos comentaristas

Escutem o incrível áudio de Lúcia Hippolito através do link abaixo.

Este gente não vale nada! São dementes de tanto fascismo!

E está excelente a análise do Nassif.



https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-SHpXvq1Vg08q6mYLsU_yODd-nm8We-tbFuQxATEGCxtLyHzR5K4k9gPxhlc5a4EXQ2t455sxjYexAmErWwlBA956-wyiTn-IK0_t-yZ9FbjI_AdR68Oc_CghO51b0KgafQpX4BkOx1Q/s1600/alegria.jpg
Esta imagem não é de Lucia Hippolito ao saber que Lula está com um tumor na laringe

http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/gerson-carneiro-praga-de-urubu-nao-pega.html



29 de outubro de 2011 às 22:17

Praga de urubu não pega


Gerson Carneiro, por e-mail

Caríssimos Luiz Carlos Azenha e Conceição Lemes, segue áudio da Lucia Hippolito debochando, torcendo e comemorando a doença do Lula. Inacreditável. Aparece coisas do tipo:
“… não é surpresa tendo em vista o abuso da fala do Presidente que jamais teve um exercício de fonoaudiologia, de nada disso, e tava no palanque todo santo dia, tabagismo, alcoolismo..”
“…o presidente Lula sempre teve aquela voz feia…”
Essa demonstração de euforia por vislumbrar uma possibilidade de finalmente calar o Lula, demonstrada pela Lúcia Hippolito, é um um sinal de extrema fraqueza, porque,  além de tudo, deixa transparecer que lhe resta como única possibilidade de felicidade a morte do Lula.  Tudo isso mostra  a pequenez dos porta-vozes da direita e como Lula é grande.


 
29 de outubro de 2011

Luis Nassif: Como seria um Brasil sem Lula?



Agora que as notícias dão conta da boa perspectiva de restabelecimento do Lula, é curioso debruçar nas análises apressadas sobre uma era pós-Lula.
Aliás, chocante a maneira como algumas comentaristas celebraram a doença de Lula. Até nos ambientes mais selvagens – das guerras, por exemplo – há a ética do guerreiro, de embainhar as armas quando vê o inimigo caído, por doença, tragédia ou mesmo na derrota. Por aqui, não: é selvageria em estado puro.
A analista-torcedora supos que, com a doença de Lula, haveria uma mudança radical no quadro político. Sem voz, Lula seria como um Sansão sem cabelos. Sem Lula, não haveria Fernando Haddad. Sem contar os diagnósticos médico-políticos-morais, de que Lula foi castigado por sua vida desregrada. Zerado o jogo político, concluiu triunfante.
Num de seus discursos mais conhecidos, Lula bradava para a multidão: “Se cortarem um braço meu, vocês serão meu braço; se calarem a minha voz, vocês serão minha voz…”.

Qualquer tragédia com Lula o alçaria à condição de semideus, como foi com Vargas. O suicídio de Vargas pavimentou por dez anos as eleições de seus seguidores. É só imaginar o que seriam os comícios com a reprodução dos discursos de Lula. Haveria comoção geral.
A falta de Lula seria visível em outra ponta: é ele quem segura a peteca da radicalização. Quem seguraria suas hostes, em caso da sua falta? Seu grande feito político foi promover um pacto que envolveu os mais diversos setores do país, dos movimentos sociais e sindicais aos grandes grupos empresariais. E em nenhum momento ter cedido a esbirros autoritários, a represálias contra seus adversários – a não ser no campo do voto -, mesmo sofrendo ataques implacáveis.
Ouvindo os analistas radicais, lembrando-se da campanha passada, como seria o país caso Serra tivesse sido eleito? É um bom exercício. Não sobraria inteiro um adversário. Na fase Lula, há dois poderes se contrapondo: o do Estado e o da mídia e um presidente que nunca exorbitou de suas funções. No caso de Serra, haveria a junção desses dois poderes, em mãos absolutamente raivosas, vingativas.
Ao fechar todos os canais de participação, Serra sentaria em cima de uma panela de pressão. Sem canais de expressão, muitos dos adversários ganhariam as ruas. Sem a mediação de Lula, não haveria como não resultar em confrontos. Seria uma longa noite de São Bartolomeu.
Essa teria sido a grande tragédia nacional, que provavelmente comprometeria 27 anos de luta pela consolidação democrática.

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjerKbPNnGqQCqrUg64q7az51mFq5d7edGYvzy2g8jgbO663kWvdHagipeIPJpD7TWCXTxbDaN69US5ATkuJzClPppTP6xa6rFToVoRblku6z_pa7sqDTca9rGArZVxjTgX3COhx_clUPI/s1600/dilma+e+lula+no+Paran%C3%A1.jpg

http://blog.planalto.gov.br/em-nota-presidenta-dilma-rousseff-deseja-rapida-recuperacao-ao-ex-presidente-lula/



Sábado, 29 de outubro de 2011 às 14:31

Em nota, presidenta Dilma Rousseff deseja rápida recuperação ao ex-presidente Lula

 

Nota Oficial A presidenta Dilma Rousseff divulgou hoje (29) nota à imprensa em que deseja a “rápida recuperação do presidente Lula”. No texto, ela diz que como “Presidenta da República e ex-ministra do presidente Lula, mas, sobretudo, como sua amiga, companheira, irmã e admiradora” estará ao lado dele com apoio e amizade para acompanhar a superação de mais esse obstáculo.
Leia abaixo a nota oficial.
Em meu nome e de todos os integrantes do governo, junto-me neste momento ao carinho e à torcida de todo o povo brasileiro pela rápida recuperação do presidente Lula.
Graças aos exames preventivos, a descoberta do tumor foi feita em estágio que permite seu tratamento e cura. Como todos sabem, passei pelo mesmo tipo de tratamento, com a competente equipe médica do Hospital Sírio Libanês, que me levou à recuperação total. Tenho certeza de que acontecerá o mesmo com o presidente Lula.
O presidente Lula é um líder, um símbolo e um exemplo para todos nós. Tenho certeza de que, com sua força, determinação e capacidade de superação de adversidades de todo o tipo, vai vencer mais esse desafio. Contará também, para isso, com o apoio e a força de D.Mariza.
Como Presidenta da República e ex-ministra do presidente Lula, mas, sobretudo, como sua amiga, companheira, irmã e admiradora, estarei a seu lado com meu apoio e amizade para acompanhar a superação de mais esse obstáculo.

Dilma Rousseff
Presidenta da República Federativa do Brasil

'Bonequinha de Luxo' completa 50 anos

 

 

O Estadão.com, 30 de outubro de 2011

'Bonequinha de Luxo' completa 50 anos

Clássico do cinema ganha caixa de DVD e livro sobre bastidores


Ubiratan Brasil - O Estado de S.Paulo

Tinha tudo para dar errado: autor do livro que inspirou o filme Bonequinha de Luxo, o vaidoso Truman Capote queria Marilyn Monroe para o papel de Holly Golightly, a interiorana que cria uma persona para brilhar em Manhattan. Mais: insatisfeitos com uma das canções, os produtores pretendiam extirpá-la. Tratava-se de Moon River, de Henri Mancini e Johnny Mercer. "Felizmente, nada disso aconteceu, Audrey Hepburn ficou com o papel e a música tornou-se um clássico", comentou o jornalista Sam Wasson, autor de Quinta Avenida, 5 da Manhã, lançado recentemente pela editora Jorge Zahar.
Audrey. Elegância com o "pretinho básico" de Givenchy - Divulgação
Divulgação
Audrey. Elegância com o "pretinho básico" de Givenchy

Trata-se não apenas dos bastidores de um filme que se tornou um clássico, mas principalmente do relato de como uma obra contribuiu para transformar a moda, a liberdade feminina e a indústria cinematográfica. O livro chega no momento em que se comemoram 50 anos de Bonequinha de Luxo, fato também comemorado pela Paramount, que está lançando uma caixa de DVDs com discos repletos de extras (o making of é imperdível), fotos, livro e uma carta assinada pelo cineasta Blake Edwards.
Wasson conversou com o Estado por telefone e anunciou que já prepara outra biografia, dessa vez do diretor e coreógrafo Bob Fosse que, com Cabaret, Sweet Charity e All That Jazz, revigorou o cinema musical nos anos 1970. "Meu interesse sempre foi grande pelos pioneiros, daí gostar tanto de Bonequinha de Luxo."

'Bonequinha de Luxo', clássico do cinemas', completa 50 anos Reprodução

De fato, a história da moça que chega em Nova York em busca de um homem que a sustentasse, enquanto vive sozinha e disponível para festas e sexo casual, escandalizou o público quando publicada em livro, por Capote, em 1961. "Aparentemente, era um livro inadaptável para o cinema, pois a história não tinha um fim conclusivo, a personagem principal era liberal demais e ainda amiga de um gay", conta Wasson. "E, para completar, Capote queria Marilyn Monroe para o papel principal."
Não era surpresa tal desejo. Segundo Wasson, até aquele momento, as mulheres no cinema eram divididas em duas categorias: boas e más, Doris Day e Marilyn. Se a primeira usava vestidos com cores claras e sempre era premiada por um final feliz, a outra... Bem, as más usavam batom vermelho, decote de parar o trânsito e conquistavam a redenção pela morte ou arrependimento. Assim, nada mais natural que uma das estrelas mais sexy do cinema assumisse o papel.
"Com a confirmação de Audrey Hepburn como Holly, Bonequinha de Luxo modificou essa dicotomia profundamente”, sustenta Wasson, lembrando que a vitória na escalação foi conquistada pela insistência do diretor Blake Edwards. “Foi um importante passo dado por Hollywood, pois uma mulher tão bela e respeitável como Audrey mostrava ser possível representar uma jovem que aprontava sem ser vista como uma menina má."
Claro que a evolução foi tortuosa, pois a atriz chegou a recusar o convite ao perceber (e se assustar com) os detalhes do papel. E a aceitação representou o início dessa consolidação de uma nova imagem feminina. "Não foi fácil para Audrey, especialmente porque ela acabara de ser mãe e também prezava a vida pessoal", conta o autor. "Holly era um papel que negava a imagem que o público tinha dela. Foi muito custoso para os produtores convencerem a Paramount e o marido de Audrey (o ator Mel Ferrer) de que era algo que ela podia fazer."

Outra ousadia estava no figurino. Uma das profissionais mais respeitadas nessa área no cinema, a mítica Edith Head foi obrigada a abrir mão de vestir a estrela do filme, responsabilidade assumida por Hubert de Givenchy. Certamente, até hoje as mulheres de todo o mundo agradecem ao estilista pois a imagem de Audrey, vestida com um "pretinho básico", transmitia uma sofisticação que parecia acessível às garotas que estavam na plateia do cinema, ao contrário dos figurinos da maioria das divas dos anos 1940 e 50.
De fato, na abertura do filme (cena gravada, aliás, na Quinta Avenida, às 5 horas da manhã, daí o título do livro), a atriz aparece diante da Tiffany’s, a famosa joalheria de Manhattan - e Audrey nunca esteve tão encantadora e luminosa. Com o cabelo puxado para trás, óculos escuros e portando uma piteira, ela incorporou uma imagem inesquecível que não esmaeceu com o tempo. Nem todos os muros, porém, foram derrubados. O homossexualismo do vizinho, por exemplo, foi ignorado e Holly não exibe uma vida sexual tão aberta na tela grande. Mas cenas como a de Audrey procurando seu gato pelas ruas de Nova York durante um temporal transformam Bonequinha de Luxo em um dos dramas mais românticos e deliciosos de Hollywood.

sábado, 29 de outubro de 2011

Infinitas flôres para Nelson Cavaquinho

Centenário do nascimento do nosso grande músico e poeta



  
Nelson (Antônio da Silva) Cavaquinho

* 29/10/1911
- Rio de Janeiro (RJ)

+ 18/02/1986 - Rio de Janeiro (RJ)

Cuba alfabetiza 5.706.082 pessoas em 28 países da América Latina e Caribe


Cuba na Unesco

Por Emir Sader


  http://www.radioangulo.cu/en/plugins/content/jumultithumb/img.php?src=Li4vLi4vLi4vaW1hZ2VzL3N0b3JpZXMvMjAxMS9tYXJ6by9taWd1ZWxfZGlhemNhbmVsX3JhZGlvYmF5YW1vLmpwZyZhbXA7dz0yNTAmYW1wO2g9MTQwJmFtcDtxPTkwJmFtcDt6Yz0x

Discurso de Miguel Diaz-Canel, Ministro da Educação Superior de Cuba na Assembleia Geral da Unesco:

“O mundo vive indignado. Os povos se rebelam contra as injustiças e as promessas vazias. Se indignam pelas frustrações acumuladas e pela ausência de esperanças. Se rebelam contra um sistema devastador que já não pode seguir enganando com um falso rosto humano. Um sistema que continua marginalizando as maiorias excluídas, em benefício de um punhado de privilegiados que possuem tudo. Que não repara no resgate de banqueiros corruptos que multiplicam seus lucros, enquanto diminuem os recursos para a educação, a saúde ou a criação de empregos.

A crise do sistema capitalista é sistêmica e multisetorial. É crise financeira, econômica e social e também ética. Os poderosos apostam na guerra como recurso de sua salvação. Repartem o mundo entre si impunemente e encarregam a tarefa à belicosa OTAN. Ainda não terminaram de destruir a Líbia e já ameaçam a Síria. Quem de nós irá segui-los?
São as guerras de novo tipo com armas que se chamam “inteligentes” mas que matam e destroem indiscriminadamente. São guerras de conquista para se apropriar dos recursos energéticos e minerais com os quais oxigenar suas vorazes economias. Com a cumplicidade de seus empórios midiáticos, que agem também como armas no combate, pretendem convencer-nos da “mudança de regime” e da “responsabilidade de proteger”. É a nova filosofia colocada em prática para o mesmo objetivo de continuar explorando-nos.
A única ofensiva que não podem livrar suas armas nem suas vorazes empresas, a única contenda legítima que não estão dispostos a empreender, é a necessária contra a fome, o analfabetismo, a incultura e a pobreza para, efetivamente, democratizar a democracia, proteger os excluídos e mudar a atual ordem mundial.
A UNESCO, que na sua carta constitutiva declarou; “dado que as guerras nascem na mente dos homens, é na mente dos homens que devem se erigir os baluartes da paz˜, está chamada a desempenhar um papel de vanguarda na incansável luta por um mundo melhor, em que os seres humanos possam viver livres do temos e da ignorância.

É na UNESCO onde devem levantar-se as armas da educação, da ciência e da cultura para lutar pela paz e pela compreensão mútuas, para que as bombas deixem de matar e mutilar os seres humanos, para que não se destruam as escolas, nem os museus, para que a ciência progrida nos laboratórios e a cultura enriqueça o mundo espiritual. Para que as gerações presentes e futuras possas desfrutar da beleza única e irreprodutível do sistema e seus mais de 900 lugares de patrimônio mundial.

Para isso é preciso refundar a Organização e será necessário fazê-lo com maios pressa e decisão. A reforma em curso, que empreendeu nossa ativa e enérgica Diretora Geral, necessita chegar até os próprios cimentos da instituição. Deve ser profunda e radical. Deve reposicionar e tornar mais visível nossa ação. Deve sair dos escritórios burocráticos para chegar às pessoas comuns e atender suas necessidades elementares, aquelas que temos como mandato.

A educação tem que ser a verdadeira prioridade das prioridades, tanto no compromisso político como no financeiro. É inadmissível que no mundo existam quase 800 milhoes de analfabetos, dos quais 2/3 são mulheres. É inadmissível que quase 70 milhões de crianças não tenham uma escola onde receber a luz da educação.

Cuba, pobre e bloqueada, com seu método de alfabetização “Eu Posso, Sim”, conseguiu em pouco tempo e com escassos recursos, mas com enorme paixão solidária, alfabetizar 5.706.082 pessoas em 28 países da América Latina e Caribe, África, Europa e Oceania. Agradecemos à Diretora Geral seu reconhecimento à eficácia deste programa como método de cooperação Sul-Sul, assim como sua disposição reiterada de acolher as boas práticas no âmbito da educação.

A 36 Conferência Geral deve deixar estabelecidas as pautas da mudança e do reposicionamento da UNESCO no sistema multilateral.

A Conferência deve se pronunciar ademais, e esperamos que o faça de maneira clara e inequívoca, em relação a um tema de transcendental importância: a admissão da Palestina como Estado membro da UNESCO. Não se trata de uma opção. Resulta uma obrigação ética e moral diante da cruel e prolongada injustiça que sofre o povo palestino. Cuba deseja reiterar seu firme e decidido apoio à solicitação da Palestina e espera que a decisão de seu ingresso à UNESCO contribua aos objetivos da paz e da universalidade que animam à nossa organização.

Não devo concluir minhas palavras, sem reclamar e exigir, em nome do povo cubano, a libertação de nossos cinco heróis, quatro deles injustamente prisioneiros em prisões do império e um, René, cumprindo uma pena adicional des três anos falsamente denominada “liberdade vigiada”.

Cuba, que segue firmemente comprometida com a UNESCO e com os valores que esta representa, confina na liderança da Diretora Geral, para o fortalecimento e refundação da Organização.

Nada interessa à imbecilidade, desde que os Sábios de Sião sejam os culpados

http://www.mortesubita.org/sociedades-secretas-e-conspiracoes/textos-conspiracionais/protocolos-dos-sabios-de-siao/capa-protocolos.jpg


Sábado, 29 de Outubro de 2011

Protocolos dos sábios do Sião, aqui, não!


Katarina Peixoto

Há uma grande conspiração em curso no Brasil. Trata-se da conspiração do PT e da esquerda em geral para assaltar o bolso das famílias, para imporem um modo politicamente correto de pensar, para censurarem o machismo, a homofobia, o sexismo e o nosso direito de andar armados. Essa gente quer assaltar os cofres públicos para nos fazer pagar impostos, com os quais eles só fazem roubar e enriquecer, enquanto eu me sinto vilipendiado e cada vez mais envergonhado. Nunca houve tanta corrupção neste país, nunca. É aquela coisa do pobre que jamais teve algo e que agora se lambuza, minha avó já dizia. Aqui, comediante é levado a sério, só porque é fascista, homofóbico, machista e age contra a lei, enquanto os políticos, ah, os políticos, esses seguem sem ser levados a sério. Por isso eu gosto mesmo é do Bolsonaro, inclusive. Ele vem sendo vítima do festival de autoritarismo e corrupção que assolam este país. Esses petralhas que estão mais preocupados em atacar a liberdade de imprensa do que em governar o país. Sim, porque o país só vai bem graças a Fernando Henrique, que não fosse ele, esses petralhas iam ver. O PT não faz nada que preste e só rouba o nosso dinheiro. O filho de Lula é milionário, Dilma sabe e acoberta Orlando Silva, aquele moleque safado que está podre de rico, caiu porque é culpado, óbvio.

Outro dia um jornal muito importante disse no seu editorial que o país precisava de uma limpeza ética! Eu concordo! Cresce no país a consciência de que chega de tudo isso que aí está! E ainda querem mais imposto para a saúde, e fraudam até provas de ensino médio, que são de alta importância para os nossos filhos! Como eles terão certeza de que entrarão por seus próprios méritos na Universidade? Não basta ter direitos negados pelas vagas dadas de presente – às nossas custas – a quem se diz negro (como se houvesse racismo no Brasil, ora essa!), aos desqualificados das escolas públicas e, pasmem, para indígenas. Chega! Está na hora da nossa marcha, da marcha pela dignidade, contra essa gente que quer mandar em nós, que quer controlar o nosso modo de pensar, que pretende ganhar dinheiro às minhas custas e fazer demagogia com os impostos que eu e minha família e você paga!


Diariamente a Carta Maior recebe comentários de leitores que compartilham o balaio de enunciados contraditórios acima. Essa babilônia de crenças incompatíveis, que não sobrevivem a um inquérito minimamente lógico a respeito da relação entre uma e outra reina na mídia e, até aqui, parece apavorar setores poderosos do governo. Trata-se de uma onda de depravação consciente e deliberada, que convida a barbárie para uma grande orgia semântica, voltada para criar uma farsa. Não porque é contra o PT ou o governo ou a esquerda. A farsa está na invenção de um inimigo a ser revelado e denunciado como responsável pelas ameaças e fragilidades que o poder vem enfrentando. Mas que poder? O da mídia, o do tal do PIG, o da CIA e do FMI? E que fragilidades?

O Protocolo dos Sábios de Sião é uma farsa criada por um serviçal do Czar Nikolai II para tentar, sem sucesso, enfrentar as ameaças ao seu poder. Essa farsa, da virada do século XIX para o XX, denuncia a existência de um grupo de judeus que se reúnem e deliberam como controlar o mundo. Eles traçam planos e estabelecem metas para a empreitada. O texto é tão autêntico que todo judeu denega a sua veracidade, revelando, assim, a sua força, dizem as sumidades de todo tipo que acreditam nessa mentira.

O modelo desse embuste é muito simples e imbecilizante: ele mobiliza o medo do lobo mau que habita as memórias infantis apontando um inimigo ao mesmo tempo genérico e específico que introduz, contamina e assegura a permanência de todo o mal na floresta, quer dizer, na sociedade. Na Rússia czarista, eram os judeus. Depois, no nazismo, eram os judeus comunistas, porque, como se sabe, a Revolução de 17 foi coisa de judeu, segundo nos disse Hitler, o sábio. Já na década de 30, quando as trevas do stalinismo assaltaram o Partido Comunista, os Protocolos foram recuperados, porque ali estariam claros os planos trostskistas – portanto judeus – para atacar o guia dos povos.

Quando os delinquentes argentinos que agora estão sendo condenados (finalmente) deram o golpe de estado em 1976, com a missão de exterminar a esquerda, usaram essa bíblia de oligofrenia e irracionalidade para levarem a cabo o extermínio de aproximadamente 30 mil pessoas. Talvez fosse o caso dizer que, no caso da Argentina dos anos Videla-Massera – com o auxílio de refugiados nazi –, da Alemanha nazista e da barbárie stalisnista os tais sábios de Sião tenham aumentado um pouco o número. Porque somando esse horrores se chega na casa dos milhões de “sábios”. Mas não é o caso dizer, quando se respeita a verdade e a razão que viabiliza o seu acesso.

A Política e a inocência são e devem ser inimigas desde a gestação. Disso obviamente não se segue que a Política seja coisa de bandidos; só as pedras são inocentes, disse Hegel, dessa vez com razão: disso se segue que a defesa da inocência é a defesa de uma quimera, não apenas do reino que seria próprio às coisas do poder, mas do da razão. A origem da reclamação de inocência e pureza no mundo está na crônica mítica do pecado original, a primeira corrupção que teve sua CPI vendida pelo governo de Deus, no caso em tela.

Até hoje há gente séria da teologia que debate se Adão levou a serpente a sério por curiosidade intelectual ou por desejo. A primeira vertente de interpretação defenderia que o livre arbítrio dos homens deriva da sua racionalidade; a segunda vertente, que deriva do seu desejo. Mas a coisa mais importante é que a liberdade dos homens, na qual, aliás, veio a se fundar a Política, não deriva nem pode derivar da inocência. Já na sua origem, a liberdade tem a ver com as condicionalidades da contingência.

É claro que não é por isso que o Ministro x ou y cai ou não; por isso se torna evidente, apenas, que a gritaria por inocência não é nem pode ser inocente: ou tem alguma racionalidade, ou tem um desejo incontrolável. Em ambos os casos, é o poder, e não a inocência e a pureza de intenções, que organiza a sua inteligibilidade.

Essas observações também vigoram quanto ao PT e aos seus aliados, em tempo. Não são poucos os que se lembram dos anos 90, no Brasil. Mas eu lembro como se fosse ontem do quanto me indignava com o PT, com o PCdoB e com muitos outros da oposição ao governo Fernando Henrique e Paulo Renato, no MEC de então, naqueles anos tristes. Enquanto a Vale do Rio Doce era entregue à iniciativa privada com financiamento do BNDES, enquanto a CSN e as companhias de energia elétrica eram entregues, enquanto bancos públicos estatais eram praticamente doados, enquanto tudo isso acontecia com o discurso de que era para se qualificar o Estado e este, no período em que o dinheiro das supostas vendas de patrimônio público deveriam estar entrando nos seus cofres, definhava, com os banheiros nas universidades fedendo e os professores doutores ganhando salários ridículos, o que fazia a esquerda, em geral?

Denunciava a corrupção e berrava por CPIs, no Congresso. Eram poucos os que, à esquerda, investigavam e buscavam, amiúde, diagnosticar a destruição que estava em curso no país e que apontavam as dificuldades que viriam pela frente, não apenas para um eventual governo do PT, mas para o país mesmo - este que não se resume ao bolso e ao imaginário classe média cuja vida é do tamanho do sábado com uísque e os amigos, para reclamar do que a revistinha semanal declara.

No início dos anos 2000 e no começo da primeira gestão de Lula na presidência ficou claro que essa tática tinha sido inconsequente: a destruição do Estado, o definhamento da República e o sequestro de seu financiamento pela política parasitária do sistema financeiro causaram uma gigantesca confusão em muitos que, como eu, tinham apostado na interdição do horror que assolou o país nos anos 90. A confusão não acabou, mesmo que muito daquele horror tenha sido revertido, pelo menos quanto ao futuro ou às gerações posteriores às dos beneficiários do Bolsa Família, quanto ao futuro da pesquisa, da Universidade, da ciência, do financiamento público-estatal por meio dos bancos públicos do Estado, do PAC, do Minha Casa, Minha Vida, da redução das desigualdades, enfim, de tudo isso que se tornou o Brasil, dos últimos 6 anos para cá, ao menos.

E qual é a inconsequência, mesmo? É trazer a farsa dos Protocolos dos Sábios de Sião para a cena Política. A inconsequência, que emergiu na mais regressiva e violenta campanha eleitoral da jovem democracia brasileira, em 2010, é convidar o adão de antes da maçã para juiz das coisas do poder. Pouco importa que ditadura alguma leve a sério a pesquisa e a universidade, como se leva a sério no Brasil, hoje. Não interessa à imbecilidade que não entendeu o que aconteceu há quinze anos, saber o que realmente aconteceu no Ministério dos Esportes hoje ou no do Planejamento, em 1995. Pouco importa que haja emprego e que as crianças pobres do Recife não expilam lombrigas pela boca nos sinais de trânsito. Nada importa que a abundância tenha se tornado regra até para a classe média, mesmo que nos cartões de crédito. Não se preocupam com o valor, sobretudo nas próprias vidas, do automóvel, desde que se angustiem com os impostos a pagar. Desde que os Sábios de Sião sejam os culpados.

É desnecessário e inútil dizer o quanto esse convite à orgia semântica dos Protocolos dos Sábios de Sião é depravado e perigoso. É desnecessário porque na mídia das oito famílias abundam declarações com documentos e atas das reuniões dos Sábios que conspiram para prejudicar as pessoas de bem deste país. E é inútil porque parte do PT aceitou esse convidado indecente, o adão de antes da maçã, para juiz da Política. Então, não é útil, aqui, lembrar que não adianta denunciar a mídia das 8 famílias, nem lembrar que houve, sim (mesmo que seja verdade), um gigantesco e brutal saque do erário no processo de privatização. Não se combate a criação de monstros com uma briga de arquibancada. Na melhor das hipóteses, a briga contra o tal do PIG enche o saco de quem pensa e quer saber o que diabos está acontecendo, até mesmo quando não se tem mais muita esperança de que se vai, afinal, ter alguma ideia do que realmente ocorreu com aquela licitação ou com aquela fraude declarada numa manchete daquele panfleto com papel jornal.

A história dos Protocolos dos Sábios de Sião não parece nem próxima do fim, mas isso não implica que o seu uso seja ou deva ser triunfante. Porque a única vitória dessa irracionalidade é a destruição e o empobrecimento, a morte e a barbárie. No início dos anos 2000, o Rio Grande do Sul foi sequestrado pelos profetas que denunciavam uma grande conspiração petista para destruir a propriedade, os valores das famílias de bem e as mentes das criancinhas. O que aconteceu aqui não se compara à tragédia argentina nem ao horror alemão e nem mesmo ao stalinismo, obviamente.

Mas é um bom exemplo de um estado que, “livre dos Sábios de Sião”, empobreceu, destruiu suas escolas, sucateou os serviços públicos, empobreceu no campo e dilacerou-se nas cidades, com o aumento da violência e do tráfico. É um exemplo de emburrecimento midiático, de estupidez cultural, de indigência literária, de depauperamento geral.
Não dá para dizer quem é o Nikolau II da vez, no Brasil. Quem está exatamente frágil e quem se sente ameaçado, porque a confusão não é pouca e porque o governo não parece estar contribuindo muito para elucidar o estado do que é racional e do que não pode sê-lo. Mas dá para dizer, e se deve dizer, que essa imbecilidade dos balaios de crenças contraditórias e incompatíveis deve ser combatida.

Aqui, na Carta Maior, essa farsa não tem vez.

Katarina Peixoto é doutoranda em Filosofia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. E-mail: katarinapeixoto@hotmail.com

Crise, dogmas, mídia e mentiras

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Crise, dogmas, mídia e mentiras

Por Saul Leblon

Entre as incógnitas embutidas nas decisões anunciadas pela cúpula do euro desta semana, a mais intrigantes é aquela que informa o corte de 50% da dívida da Grécia. Há outras zonas nebulosas num carretel cujo desenrolar operacional não foi ainda explicitado. Por exemplo, como foi tão simples dotar o fundo de estabilização europeu de 1 trilhão de euros para se contrapor às manadas de credores ariscos, cujo trote desordenado potencializa insolvências de governos e bancos? Se a panacéia do dinheiro chinês explica tudo, por que não foi acionada antes?

Outra: como, subitamente, as necessidades de capitalização de bancos micados pela podridão de suas carteiras caiu de 300 bi de euros, calculados originalmente pelo FMI, para os 100 bi decretados na 4ª feira?

Sem dúvida, porém, o calote de 50% da dívida grega é a viga estrutural de todas as dúvidas. Tome-se o exemplo da Argentina. O país decretou um calote de 70% da dívida em 2005. Até hoje é demonizado pela mídia, tendo vetado o acesso a novos empréstimos no mercado mundial. Como então, súbito, a cúpula liderada pela conservadora Angela Merkel abona 50% da dívida grega, a mídia aplaude, as bolsas sobem e os bancos aquiescem, sem um piu? Como fica o jornalismo de economia que, antes, encampou os cálculos e o terrorismo ortodoxo para legitimar sacrifícios, perdas e danos que devastaram a sociedade grega, a ponto de gerar uma epidemia de suicídios em sua população?
A ser efetivo tudo o que se anunciou na 4ª feira, e não apenas um truque contábil, chega-se a conclusões interessantes:

a) o governo de Papandreu não merece mais 24 no poder; açoitou seu povo com sacrifícios devastadores para honrar uma dívida que, de uma penada, caiu à metade, sem que tenha havido mais caos do que o já produzido pelas suas decisões;

b) o mesmo raciocício vale para a crise bancária do euro, em nome da qual Espanha, Portugal e outros estão sendo esfarelados com sucessivos cortes de gastos para 'acalmar os mercados'. Se bastava uma penada para impor calotes e recapitalização aos banqueiros, por que tanto sacrifício inútil, que já arrastou 43 milhões de europeus à vida abaixo da linha da pobreza?

Só um fator empresta coerência ao conjunto: a pressão ascendente das ruas, sempre omitida, desdenhada ou desqualificada pelo conservadorismo midiático. Com a palavra, o jornalismo de economia.

O capitalismo, a ética protestante e a depravação da América

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A depravação da América


John Kozy - Global Research
 
Foi-se o tempo em que a ética protestante definia o caráter dos Estados Unidos. Ela foi usada como fator responsável pelo sucesso do capitalismo na Europa do Norte e na América, pelos sociólogos, mas a ética protestante e o capitalismo são incompatíveis, e o capitalismo, em última análise, faz com que a ética protestante seja abandonada.

Há um novo ethos que emergiu, e as elites governamentais não o entendem. Trata-se do etos da “grande oportunidade”, do “prêmio”, da “próxima grande ideia”. A marcha lenta e deliberada em direção ao sucesso é hoje uma condenação do destino. Junto à próxima grande ideia comercial está o novo modelo do "sonho americano". Tudo o que importa é o dinheiro. Dada essa atitude, poucos na América expressam preocupações morais. A riqueza é só o que se tem em vista; vale inclusive nos destruir para alcançá-la. E se não chegamos lá ainda, certamente em breve chegaremos.

Eu suspeito que a maior parte das pessoas gostaria de acreditar que sociedades, não importa as bases de suas origens, tornam-se melhores com o tempo. Infelizmente a história desmente essa noção; frequentemente as sociedades se tornam piores com o tempo. Os Estados Unidos da América não é exceção. O país não foi benigno em sua origem e agora declina, tornando-se uma região de depravação raramente superada pelas piores nações da história.

Embora seja impossível encontrar números que provem que a moralidade na América declinou, evidências cotidianas estão onde quer que se veja. Quase todo mundo pode citar situações nas quais o bem estar das pessoas foi sacrificado pelo bem das instituições públicas ou privadas, mas parece impossível citar um só exemplo de instituição pública ou privada que tenha sido sacrificada em nome do povo.

Se a moralidade tem a ver com o modo como as pessoas são tratadas, pode-se perguntar legitimamente onde a moralidade desempenha um papel no que está se passando nos EUA? A resposta parece ser: “Em lugar nenhum!Então, o que tem aconteceu nos EUA para se ter a atual epidemia de afirmações de que a moralidade na América colapsou?

Bem, a cultura mudou drasticamente nos últimos cinquenta anos. Foi isso o que aconteceu. Houve um tempo em que a "América", o "caráter americano", era definido em termos do que se chamava de Ética Protestante. O sociólogo Max Weber atribuiu o sucesso do capitalismo a isso. Infelizmente, Max foi negligente; ele estava errado, completamente errado. O capitalismo e a ética protestante são inconsistentes entre si. Nenhum dos dois pode ser responsável pelo outro.

A ética protestante (ou puritana) está baseada na noção de que o trabalho duro e a ascese são duas consequências importantes para ser eleito pela graça da cristandade. Se uma pessoa trabalha duro e é frugal, ele ou ela é considerado como digno de ser salvo. Esses atributos benéficos, acreditava-se, fizeram dos estadunidenses o povo mais trabalhador do que os de quaisquer outras sociedades (mesmo que as sociedades protestantes europeias fossem consideradas parecidas e as católicas do sul da Europa fossem consideradas preguiçosas).

Alguns de nós afirmam agora que estamos testemunhando o declínio e a queda da ética protestante nas sociedades ocidentais. Como a ética protestante tem uma raiz religiosa, o declínio é frequentemente atribuído a um crescimento do secularismo. Mas isto seria mais facilmente verificável na Europa do que na América, onde o fundamentalismo protestante ainda tem muitos seguidores. Então deve haver alguma outra explicação para o declínio. Mesmo que o crescimento do secularismo tenha levado muita gente a dizer que ele destruiu os valores religiosos juntamente aos valores morais que a religião ensina, há uma outra explicação.

No século XVII, a economia colonial da América era agrária. Trabalho duro e ascese combinam perfeitamente com essa economia. Mas a América não é mais agrária. A economia dos EUA hoje é definida como capitalismo industrial. Economias agrárias raramente produzem mais do que é consumido, mas economias industriais o fazem diariamente. Assim, para se manter a economia industrial funcionando, o consumo deve não apenas ser contínuo, como continuamente crescente.

Eu duvido que haja um leitor que não tenha escutado que 70% da economia dos EUA resulta do consumo. Mas 70% de um é 0,7, ou de dois é 1,4, de três, 2,1, etc. À medida que economia cresce de um a dois pontos do PIB, o consumo deve crescer de 0,7 para 1,4 pontos. Mas o aumento crescente do consumo não é compatível com a ascese. Uma economia industrial requer gente para gastar e gastar, enquanto a ascese requer gente para economizar e economizar. A economia americana destruiu a ética protestante e as perspectivas religiosas nas quais foi fundada. O consumo conspícuo substituiu o trabalho duro e a poupança.

No seu A Riqueza das Nações, Adam Smith afirma que o capitalismo beneficia a todos, desde que cada um aja em benefício dos outros. Agora estão nos dizendo que “economizar mais e cortar gastos pode ser um bom plano para lidar com a recessão. Mas se todo mundo proceder assim isso só vai tornar as coisas piores....aquilo de que a economia mais precisa é de consumidores gastando livremente”. A grande recessão atingiu Adam Smith na sua cabeça, mas o economista admitiria isso. “Um ambiente em que todos e cada um quer economizar não pode levar ao crescimento. A produção necessita ser vendida e para isso você precisa de consumidores”.

Poupar é (presumivelmente) bom para indivíduos, mas ruim para a economia, a qual requer gasto contínuo crescente. Se um economista tivesse dito isso na minha frente, eu teria lhe dito que isso significa claramente que há algo fundamentalmente errado com a natureza da economia, que isso significa que a economia não existe para prover as necessidades das pessoas, mas que as pessoas existem apenas para satisfazer as necessidades da economia. Embora não pareça isso, uma economia assim escraviza o povo a quem diz servir. Então, de fato, o capitalismo industrial perpetrou a escravidão; ele tem reescravizado aqueles que um dia emancipou.

Quando o consumo substituiu a poupança na psique americana, o resto de moralidade afundou junto na depravação. A necessidade de vender requer marketing, o que nada mais é que a mentira das mentiras. Afinal de contas, toda empresa é fundada no que disse o livro de Edward L. Bernays, de 1928: Propaganda. A cultura americana tem sido inundada por um tsunami de mentiras. O marketing se tornou a atividade predominante da cultura. Ninguém pode se isolar disso. É uma coisa seguida por pessoas de negócios, políticos e pela mídia. Ninguém pode ter certeza de estarem lhe contando a verdade a respeito de alguém. Nenhum código moral pode sobreviver numa cultura de desonestidade, e de resto, ninguém pode!

Tendo subvertido a ética protestante, a economia destruiu toda ética que a América um dia promoveu. O país tornou-se uma sociedade sem um etos, uma sociedade sem propósito humano. Os americanos se tornaram cordeiros sacrificáveis para o bem das máquinas. Então, um novo etos emergiu do caos, um etos que a elite governamental desconhece completamente.

Diz-se frequentemente que Washington perdeu o contato com as pessoas que governa, que não entende mais seu próprio povo ou como sua cultura comum funciona. Washington e a elite do país não entendem isso, mas a cultura não valoriza mais o certo sobre o errado ou o trabalho duro e a ascese sobre a preguiça e a extravagância. Hoje os americanos estão buscando a “grande oportunidade”, o “prêmio”, a “próxima grande ideia”. O Sonho Americano foi hoje reduzido ao “acertar em cheio!”. A longa e deliberada estrada para o sucesso é uma condenação. Vejam American Idol, The X-Factor e America’s Got Talent e testemunhe a horda que se apresenta para os auditórios. Essas pessoas, em sua maior parte, não trabalharam duro em nada na vida. Contem o número de pessoas que regularmente apostam na loteria. Esse tipo de aposta não requer trabalho algum. Tudo o que essas pessoas querem é acertar em cheio. E quem é nosso homem de negócios mais exaltado? O empreendedor!

Empreendedores são, na sua maior parte, fogo de palha, mesmo que haja exceções notáveis
. O problema com o empreendedorismo, no entanto, é a alta conta em que passou a ser tomado. Mas o único valor ligado a ele é a quantidade de dinheiro que os empreendedores têm feito. Raramente ouvimos alguma coisa a respeito do modo nefasto como esse dinheiro foi feito. Bill Gates e Mark Zuckerberg, por exemplo, dificilmente representam imagens de pessoas com moralidade exemplar, mas na economia sem escrúpulos morais, ninguém se importa; tudo o que importa é o dinheiro.

Dada essa atitude, por que alguém, nessa sociedade, expressaria preocupações morais? Poucos na América o fazem. Assim, enquanto a elite americana fala na necessidade de produzir força de trabalho sustentável para as necessidades de sua indústria, as pessoas não querem nada disso.

A elite frequentemente lastima a falência do sistema educacional americano e tem tentado melhorá-lo sem sucesso, por várias décadas. Mas se alguém presta atenção no atual estado de coisas na América, vê que a maior parte dos empreendedores de sucesso são pessoas que abandonaram faculdades. Como se pode convencer a juventude de que a educação universitária é um empreendimento que vale a pena? Assim como Bill Gates, Steve Jobs e Mark Zuckerberg mostraram, aprender a desenhar um software não requer graduação universitária. Nem ganhar na loteria ou vencer o American Idol. Fazer parte da Liga Nacional de Futebol pode requerer algum tempo na universidade, mas não a graduação. Todo o empreendedorismo requer uma nova ideia mercantil.

Entretenimento e esportes, loterias e programas de jogos e disputas, produtos de consumo de que as pessoas não tiveram necessidade por milhões de anos são agora as coisas que formam a cultura americana. Mas não são coisas, são lixo; não podem formar a base de uma sociedade humana estável e próspera. Esta é uma cultura governada meramente por um atributo: a riqueza, bem ou mal havida!

A capacidade humana de autoengano é sem limites. Os estadunidenses vêm se enganando com a crença de que a riqueza agregada, a soma total de riquezas, em vez de como ela é distribuída, dá certo. Não importa como foi obtida ou o que foi feito para se obter tal riqueza. A riqueza agregada é a única coisa que se tem em vista; é algo pelo que vale à pena destruir a nós mesmos. E mesmo que não o tenhamos alcançado ainda, em breve certamente o conseguiremos.

A história descreve muitas nações que se tornaram depravadas. Nenhuma delas jamais se reformou. Nenhum garoto bonito pode ser convocado para desfazer a catástrofe do Toque de Midas. O dinheiro, afinal de contas, não é uma coisa de que os humanos precisem para sobreviver, e se o dinheiro não é usado para produzir e distribuir as coisas necessárias, a sobrevivência humana é impossível, não importa o quanto de riqueza seja agregada ou acumulada.

(*) John Kozy é professor aposentado de filosofia e lógica que escreve sobre assuntos econômicos, sociais e políticos. Depois de ter servido na Guerra da Coréia, passou 20 anos como professor universitário e outros 20 trabalhando como escritor. Publicou um livro de lógica formal, artigo acadêmicos. Sua página pessoal é http://www.jkozy.com onde pode ser contatado.

Tradução: Katarina Peixoto