sábado, 15 de outubro de 2011

Apoio à 'Ocupe Wall Street' faz prefeito de Nova York recuar




Sábado, 15 de Outubro de 2011

Apoio à Ocupa Wall Street faz prefeito de Nova York recuar


David Brooks - la Jornada

O movimento 'Ocupe Wall Street' venceu a queda de braço com o prefeito de Nova York, sua polícia e uma poderosa empresa do setor imobiliário ao defender a ocupação da chamada Praça Liberdade com uma massiva demonstração de solidariedade que obrigou a prefeitura a suspender a ordem de expulsão do local, minutos antes da polícia intervir. Ao longo da noite de quinta-feira, centenas de pessoas chegaram à praça. Ao amanhecer, já eram cerca de duas mil que lotaram a área para resistir à ordem do prefeito Michael Bloomberg de levantar o acampamento às 7 horas para realizar “trabalhos de limpeza e manutenção”, com a advertência de que, caso houvesse resistência, a polícia interveria. 'Ocupe Wall Street' e seus simpatizantes consideraram que o tema da limpeza era só um pretexto para expulsá-los da praça ocupada desde o dia 17 de setembro.

Na manhã de sexta, a polícia começou a multiplicar sua presença na área, instalando barreiras ao redor da periferia do pequeno parque, enquanto os manifestantes, com escovas e esfregões, afirmavam que não só não se moveriam, como, após resistir, marchariam a Wall Street para fazer uma limpeza na desordem do setor financeiro.
Empresário de hip-hop oferece-se para pagar a limpeza
Durante toda a sexta-feira, o sistema de comunicação pública com a prefeitura foi saturado por milhares de chamadas de simpatizantes de todo o país denunciando a ação de Bloomberg. Além disso, segundo os ativistas, uma petição com mais de cem mil assinaturas foi entregue em seu escritório. Dirigentes sociais e alguns líderes políticos expressaram sua opinião e propuseram promover uma negociação entre os manifestantes e a empresa imobiliária que é dona da praça, Brookfield Properties (onde a noiva do prefeito é integrante da direção), para chegar a um acordo para manter a praça sob ocupação. O empresário de hip hop, Russell Simmons indicou que estava dispostos a pagar a limpeza caso o prefeito desistisse da ordem.

Ao aproximar-se a hora da desocupação, sindicalistas dos setores de transporte, automotriz, serviços, professores, entre outras categorias, apareceram para se integrarem à defesa da praça. A central operária AFL-CIO emitiu à noite um chamado para seus filiados defenderem Ocupe Wall Street. Também chegaram estudantes, líderes sociais e políticos e mesmo alguns conselheiros do governo municipal, religiosos e veteranos de guerra, entre outros, que expressaram sua solidariedade ou se integraram ao protesto. Havia tensão no ar, mas também um sentimento coletivo e enérgico de força.

Cerca de 40 minutos antes da hora marcada pela expulsão, a prefeitura anunciou que, por enquanto, estava suspensa a ordem de início da limpeza. Uma onda de regojizo estourou na praça com abraços, gritos de alegria e um coro que levantou as consignas de somos os 99%, todo o dia, toda a semana, ocupemos Wall Street. Também cantaram a música We’re not going to take it (não vamos permitir).

O prefeito informou que a empresa retirou, na última hora, sua solicitação de assistência da força pública para realizar a limpeza, e que políticos haviam pressionado a empresa. Muita gente, porém, considerou que isso é só parte da verdade e que Bloomberg e seus assessores se deram conta de que tinham cometido um grave erro, como comentou um dos defensores da praça. A prefeitura informou que a empresa também disse que confiava que podia chegar a um acordo com os ocupantes para manter a praça, ressaltando porém que se tratou apenas de uma suspensão temporária da ordem. Mas para os manifestantes foi mais uma vitória.

Bill Buster, um porta-voz designado pelo Ocupe Wall Street, declarou ao La Jornada que o que ocorreu na manhã de sexta-feira foi outra mostra incrível do apoio do povo estadunidense e dos nova-iorquinos. Bloomberg e a polícia não intercederam, no final, por causa da massa física das pessoas aqui, do apoio massivo da população, de celebridades, de políticos e de todos os que estão dispostos a vir aqui para enviar uma mensagem, mesmo que isso implique serem golpeados e presos pela polícia.

Ele explicou: “somos um movimento popular, estamos trabalhando a favor de todos, estamos mudando o curso da política para todos, e todos são bem vindos. Aqui escutamos uns aos outros, ninguém busca tirar vantagem de nada nem de ninguém. E esperamos ver uma mudança no governo...Se não podemos conseguir isso de maneira pacífica, o governo também não tem opção...ou mudam ou serão trocados. Não é aceitável a manutenção das coisas como estão, com as empresas e os ricos controlando tudo, inclusive comprando os políticos. É obsceno, e não há lugar para isso na política estadunidense”.

O porta-voz, esgotado após uma longa noite que ameaçava ser a última para o acampamento, acrescentou que a mobilização é uma chamada para a população despertar. E as pessoas estão se levantando por todos os Estados Unidos.

Pouco depois, entre 200 e 400 pessoas iniciaram a marcha anunciada até Wall Street para lavar esse desastre. Foram impedidos, mais uma vez, ao chegar à entrada da famosa rua. Durante duas horas, houve breves e mínimos enfrentamentos entre manifestantes e polícia, como pelo menos dez detidos, em diferentes partes do distrito financeiro, no que se converteu num jogo de “agarra-me se puderes”.

Enquanto isso, relatou-se que o acampamento de Ocupa Denver foi dissolvido pela polícia na madrugada de sexta. Ocupe Wall Street informou que houve também ações repressoras contra esse movimento de protesto, com prisões, em sete cidades, incluindo Seattle, San Diego, Kansas City e em vários lugares do Texas. O movimento convocou ações em nível internacional, neste sábado, 15 de outubro. Nos EUA, os bancos serão o principal alvo. Nós ocuparemos em todas as partes, advertiram os manifestantes.

Tradução: Katarina Peixoto

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