Greve geral na Grécia é ápice de situação que está se tornando revolucionária
19/10/2011 12:16, Stamatis Karagiannopoulos, com Marxist.com- de Atenas
A situação na Grécia está se tornando mais e mais revolucionária a cada dia que passa. O país foi paralisado por uma onda de greves centradas no setor público e empresas estatais. E esta semana a situação irá aprofundar-se. Manifestante grego lança bomba contra a polícia, no primeiro dia da greve geral de 48 horas, em Atenas
Esta é a resposta que os trabalhadores dão na tentativa de livrarem-se dos terríveis ataques do governo. Esta onda de greves foi antecipada pelo movimento de ocupação em massa nas universidades e escolas em setembro, o que provou mais uma vez que a juventude é um barômetro sensível da luta de classes.
Nós estamos vendo mobilizações naqueles locais de trabalho onde temos os sindicatos mais poderosos da classe trabalhadora grega. Os trabalhadores do transporte, dos portos, da eletricidade, trabalhadores dos governos municipais, dos ministérios, hospitais, da educação, das repartições fiscais, e dos sítios arqueológicos decidiram todos fazerem greve e estão também ocupando prédios governamentais um atrás do outro.
Pela primeira vez os trabalhadores destes setores têm o apoio da maioria esmagadora dos trabalhadores desempregados e trabalhadores do setor privado. A percepção do passado de que os trabalhadores destes setores, ou seja, funcionários públicos eram privilegiados, não existe mais entre os trabalhadores do setor privado porque é precisamente este setor que se encontra no alvo recebendo os mais duros ataques, com demissões em massa e grandes cortes de até 50% em seus salários. A linha que dividia e separava os trabalhadores públicos e privados não existe mais e isso é resultante do ataque brutal realizado pelo governo.
Agora, também no setor privado, nós temos um enorme ataque do governo, com a mesma nova lei exigida pela troika (equipe constituída por responsáveis da BCU, UE e FMI que negociaram as condições de resgate financeiro na Grécia, na Irlanda e em Portugal) e apresentada ao Parlamento na última semana, a qual visa reduzir ao máximo o salário mínimo (de 750 euros para 550 euros) removendo o Acordo Coletivo Geral Nacional e todos os acordos coletivos setoriais. Na verdade, a lei de fato retira o papel oficial dos sindicatos “até a crise acabar”.
O resultado de tudo isso é que a atmosfera entre os trabalhadores tem se tornado mais militante que nunca. Nesse momento o que se destaca claramente é a determinação para lutar até o fim. Ativistas e líderes sindicais estão dizendo abertamente à mídia que as greves são políticas. Um líder sindicalista dos condutores e cobradores de ônibus, na sexta-feira passada em um famoso programa de TV, disse que: “nós vamos continuar as greves até derrubar o governo. Nós queremos acabar com essa gangue!”.
Os mais militantes são os coletores de lixo que estão em greve nos últimos dez dias e têm feito ocupações nos depósitos de lixo. Ontem o governo enviou as Forças Especiais da Polícia para aterrorizar os grevistas, mas eles se recusaram a acabar com a ocupação. Eles afirmaram que se o governo não voltar atrás, isso levaria ao “derramamento de sangue”. O governo então passou a conceder a coleta de lixo para empresas privadas, que, no entanto, são incapazes de recolher o lixo das ruas porque recebem constantes ataques e insultos de pessoas comuns que gritam a eles: “traidores”. Este incidente expressa muito claramente a solidez do apoio para com os grevistas da parte da maioria do povo grego.
O clima que está se amadurecendo entre a classe trabalhadora está indo mais além da greve geral de 48 horas, iniciada nesta quarta. A ideia de que é preciso fazer uma greve total e política geral está tomando conta das cabeças de muitos trabalhadores.
Esta situação está colocando enorme pressão sobre o governo do PASOK, que agora está bem mais fraco do que esteve durante o verão. O grupo parlamentar do PASOK – no qual muitos estão vendo que se eles continuam a apoiar abertamente a austeridade, seus assentos no parlamento estarão em risco – está sob imensa pressão dos sindicatos e trabalhadores em geral. Um deputado do partido socialista PASOK já disse que pretendia votar contra a nova lei e outro ameaçou renunciar. Isso arriscaria reduzir a maioria parlamentar de Papandreou (primeiro Ministro) a níveis insuportáveis. O PASOK tem 154 deputados em um parlamento de 300 membros.
A perda do apoio popular do PASOK está também sendo refletida dentro dos sindicatos. O PASOK tem suas próprias facções – conhecidas como PASKE – dentro dos sindicatos. Neste ano, no sindicato dos trabalhadores municipais e sindicato dos professores, o PASKE já rachou com o PASOK. Na semana passada o PASKE do sindicato dos ferroviários anunciou que estava rompendo com o PASOK. Estamos também testemunhando em toda a Grécia uma onda de indignação no partido, entre muitos dos seus quadros no PASOK.
O cerco ao prédio do Parlamento, organizado por uma facção da liderança stalinista do KKE dentro dos sindicatos tem caráter muito menos espontâneo, desorganizado e amador do que os protestos de junho. Ele foi organizado com a participação dos “batalhões pesados” da classe trabalhadora, os trabalhadores da construção, dos estaleiros navais, etc. Isso significa que o conflito agora envolve um número muito maior e também muito mais organizado de trabalhadores.
A greve geral marca outra virada na situação na Grécia. É a expressão da intensa raiva que foi gerada no seio dos trabalhadores e da juventude em toda a Grécia, que não estava preparada para segurar todos os ataques que estão por vir. A luta de classes, em níveis sem precedentes, está sendo preparada na Grécia e aí será jogado o futuro de toda a Europa.
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