quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Wikileaks (Cablesgate) ( III ): A subserviência de Jobim



Não se pode ter dois senhores: Ou o Brasil ou os EUA.
Fora com Johnbim!


http://brasiliaeuvi.wordpress.com/2010/11/30/o-ministro-x-9/

30 de novembro de 2010 às 19:11

Jobim, o ministro X-9

por Leandro Fortes, no Brasília, eu vi

Uma informação incrível, revelada graças às inconfidências do Wikileaks, circula ainda impunemente pela equipe de transição da presidente eleita Dilma Rousseff: o ministro da Defesa, Nelson Jobim, costumava almoçar com o ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil Clifford Sobel para falar mal da diplomacia brasileira e passar informes variados. Para agradar o interlocutor e se mostrar como aliado preferencial dentro do governo Lula, Jobim, ministro de Estado, menosprezava o Itamaraty, apresentado como cidadela antiamericana, e denunciava um colega de governo, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, como militante antiyankee. Segundo o relato produzido por Clifford Sobel, divulgado pelo Wikileaks, Jobim disse que Guimarães “odeia os EUA” e trabalha para “criar problemas” na relação entre os dois países.
Para quem não sabe, Samuel Pinheiro Guimarães, vice-chanceler do Brasil na época em que Jobim participava de convescotes na embaixada americana em Brasília, é o atual ministro-chefe da Secretaria Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE). O Ministério da Defesa e a SAE são corresponsáveis pela Estratégia Nacional de Defesa , um documento de Estado montado por Jobim e pelo antecessor de Samuel Guimarães, o advogado Mangabeira Unger – com quem, aliás, Jobim parecia se dar muito bem. Talvez porque Unger, professor em Harvard, é quase um americano, com sotaque e tudo.
Após a divulgação dos telegramas de Sobel ao Departamento de Estado dos EUA, Jobim foi obrigado a se pronunciar a respeito. Em nota oficial, admitiu que realmente “em algum momento” (qual?) conversou sobre Pinheiro com o embaixador americano, mas, na oportunidade, afirma tê-lo mencionado “com respeito”. Para Jobim, o ministro da SAE é “um nacionalista, um homem que ama profundamente o Brasil”, e que Sobel o interpretou mal. Como a chefe do Departamento de Estado dos EUA, Hillary Clinton, decretou silêncio mundial sobre o tema e iniciou uma cruzada contra o Wikileaks, é bem provável que ainda vamos demorar um bocado até ouvir a versão de Mr. Sobel sobre o verdadeiro teor das conversas com Jobim. Por ora, temos apenas a certeza, confirmada pelo ministro brasileiro, de que elas ocorreram “em algum momento”.
Mais adiante, em outro informe recolhido no WikiLeaks, descobrimos que o solícito Nelson Jobim outra vez atuou como diligente informante do embaixador Sobel para tratar da saúde de um notório desafeto dos EUA na América do Sul, o presidente da Bolívia, Evo Morales. Por meio de Jobim, o embaixador Sobel foi informado que Morales teria um “grave tumor” localizado na cabeça. Jobim soube da novidade em 15 de janeiro de 2009, durante uma reunião realizada em La Paz, onde esteve com o presidente Lula. Uma semana depois, em 22 de janeiro, Sobel telegrafava ao Departamento de Estado, em Washington, exultante com a fofoca.
No despacho, Sobel revela que Jobim foi além do simples papel de informante. Teceu, por assim dizer, considerações altamente pertinentes. Jobim revelou ao embaixador americano que Lula tinha oferecido a Morales exame e tratamento em um hospital em São Paulo. A oferta, revela Sobel no telegrama a Washington, com base nas informações de Jobim, acabou protelada porque a Bolívia passava por um “delicado momento político”, o referendo, realizado em 25 de janeiro do ano passado, que aprovou a nova Constituição do país. “O tumor poderia explicar por que Morales demonstrou estar desconcentrado nessa e em outras reuniões recentes”, avisou Jobim, segundo o amigo embaixador.
Não por outra razão, Nelson Jobim é classificado pelo embaixador Clifford Sobel como “talvez um dos mais confiáveis líderes no Brasil”. Não é difícil, à luz do Wikileaks, compreender tamanha admiração. Resta saber se, depois da divulgação desses telegramas, a presidente eleita Dilma Rousseff ainda terá argumentos para manter Jobim na pasta da Defesa, mesmo que por indicação de Lula. Há outros e piores precedentes em questão.
Jobim está no centro da farsa que derrubou o delegado Paulo Lacerda da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), acusado de grampear o ministro Gilmar Mendes, do STF. Jobim apresentou a Lula provas falsas da existência de equipamentos de escutas que teriam sido usados por Lacerda para investigar Mendes. Foi desmentido pelo Exército. Mas, incrivelmente, continuou no cargo. Em seguida, Jobim deu guarida aos comandantes das forças armadas e ameaçou renunciar ao cargo junto com eles caso o governo mantivesse no texto do Plano Nacional de Direitos Humanos a idéia (!) da instalação da Comissão da Verdade para investigar as torturas e os assassinatos durante a ditadura militar. Lula cedeu à chantagem e manteve Jobim no cargo.
Agora, Nelson Jobim, ministro da Defesa do Brasil, foi pego servindo de informante da Embaixada dos Estados Unidos. Isso depois de Lula ter consolidado, à custa de enorme esforço do Itamaraty e da diplomacia brasileira, uma imagem internacional independente e corajosa, justamente em contraponto à política anterior, formalizada no governo FHC, de absoluta subserviência aos interesses dos EUA.
Foi preciso oito anos para o país se livrar da imagem infame do ex-ministro das Relações Exteriores Celso Lafer tirando os sapatos no aeroporto de Miami, em dezembro de 2002, para ser revistado por seguranças americanos.
De certa forma, os telegramas de Clifford Sobel nos deixaram, outra vez, descalços no quintal do império.
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Quanto mais se sabe sobre Jobim, mais cai seu conceito.
São Paulo, terça-feira, 30 de novembro de 2010


Documento revela que, para EUA, Itamaraty é adversário

FERNANDO RODRIGUES
DE BRASÍLIA

Telegramas confidenciais de diplomatas dos EUA indicam que o governo daquele país considera o Ministério das Relações Exteriores do Brasil como um adversário que adota uma "inclinação antinorte-americana".
Esses mesmos documentos mostram que os EUA enxergam o ministro da Defesa, Nelson Jobim, como um aliado em contraposição ao quase inimigo Itamaraty.
Mantido no cargo no governo de Dilma Rousseff, o ministro é elogiado e descrito como "talvez um dos mais confiáveis líderes no Brasil".
A Folha leu com exclusividade seis telegramas de um lote de 1.947 documentos elaborados pela Embaixada dos EUA em Brasília, sobretudo na última década.
Os despachos foram obtidos pela organização não governamental WikiLeaks. As íntegras desses papéis estarão hoje no site da ONG (cablegate.wikileaks.org/), que também produzirá reportagens em português. A Folha.com divulgará os telegramas completos.
Num dos telegramas, de 25 de janeiro de 2008, o então embaixador dos EUA em Brasília, Clifford Sobel, relata aos seus superiores como havia sido um almoço mantido dias antes com Nelson Jobim. Nesse encontro, o ministro brasileiro contribuiu para reforçar a imagem negativa do Itamaraty perante os norte-americanos.
Indagado sobre acordos bilaterais entre os dois países, Jobim citou o então secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores, Samuel Pinheiro Guimarães.
Segundo o relato produzido por Clifford Sobel, "Jobim disse que Guimarães "odeia os EUA" e trabalha para criar problemas na relação [entre os dois países]."
Não há nos seis telegramas confidenciais lidos pela Folha nenhuma menção a atos ilícitos nas relações bilaterais Brasil-EUA. São apenas descrições de encontros, almoços e reuniões.
Ao mencionar um acordo bilateral, Clifford Sobel diz que caberá ao presidente Lula decidir entre as posições de um "inusualmente ativo ministro da Defesa interessado em desenvolver laços mais próximos com os EUA e um Ministério das Relações Exteriores firmemente comprometido em manter controle sobre todos os aspectos da política internacional".
Num telegrama de 13 de março de 2008, Sobel afirma que o Itamaraty trabalhou ativamente para limitar a agenda de uma viagem de Jobim aos EUA.
Ao relatar a visita (de 18 a 21 de março de 2008), os EUA pareciam frustrados: "Embora existam boas perspectivas para melhorar nossa relação na área de defesa com o Brasil, a obstrução do Itamaraty continuará um problema".

EUA souberam de tumor de Morales por Nelson Jobim

DE BRASÍLIA
DE BUENOS AIRES

Diplomatas dos EUA relatam terem ouvido do ministro da Defesa, Nelson Jobim, que o presidente da Bolívia, Evo Morales, sofre de um "grave tumor" na cabeça. Esse despacho confidencial é de 22 de janeiro de 2009.
Redigido pelo então embaixador dos EUA em Brasília, Clifford Sobel, o telegrama faz parte de um conjunto de seis documentos aos quais a Folha teve acesso ontem com exclusividade do site WikiLeaks.
Sobel diz ter tomado conhecimento da enfermidade durante uma conversa com Jobim "posterior a uma reunião presidencial de 15 de janeiro, em La Paz" entre Lula e Morales.
Nesse encontro, "o ministro da Defesa do Brasil (protegido) confirmou um rumor anterior que Morales sofre de um grave tumor na região do septo nasal", escreveu o então embaixador dos EUA.
A colocação da expressão "protegido", entre parênteses após o nome de Jobim, indica que o diplomata americano pedia reserva em relação à fonte da informação.
"Jobim disse ao embaixador que Lula tinha oferecido a Morales um exame e tratamento em um hospital em São Paulo", prossegue.
Mas o tratamento teria sido adiado, diz Sobel, porque a Bolívia passava por um delicado momento político. Estava marcado um referendo em 25 de janeiro do ano passado, no qual seria aprovada a nova Constituição do país.
Jobim, que participou do encontro em La Paz, relatou ao diplomata que "o tumor poderia explicar por que Morales demonstrou estar desconcentrado [...] nessa e em outras reuniões recentes".

HONDURAS
O ex-presidente de Honduras, Manuel Zelaya, deposto por um golpe de Estado em junho de 2009, anunciou ontem que usará comunicados confidenciais da diplomacia dos EUA revelados pelo WikiLeaks para denunciar o governo americano ao TPI (Tribunal Penal Internacional).
Para Zelaya, um documento enviado desde Tegucigalpa ao Departamento de Estado evidencia "cumplicidade" com os golpistas.
A correspondência, enviada 26 dias após o golpe, é assinada pelo embaixador dos EUA no país, Hugo Llorens.
No documento, o embaixador diz que "não há dúvidas" de que os militares, a Corte Suprema e o Congresso hondurenhos conspiraram para derrubar o governo.
Llorens diz ainda que a suposta carta de renúncia do presidente foi "fabricada".

(FERNANDO RODRIGUES E GUSTAVO HENNEMANN)


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http://www.cartacapital.com.br/destaques_carta_capital/em-com-embaixador-americano-general-felix-tratou-de-combate-ao-terrorismo-no-pais

Carta Capital, 29/11/2010

Papéis secretos: o almoço do general Félix com o embaixador dos EUA

Felipe Corazza



Documento revelado pelo WikiLeaks traz relato de almoço com o chefe do Gabinete de Segurança Institucional feito pela própria embaixada americana; governo pediu à comunidade árabe que vigiasse possíveis terroristas. Foto: Agência Brasil
O vazamento de milhares de documentos secretos do governo dos Estados Unidos pelo site WikiLeaks promete ser um momento de mudança na história mundial. Os dados – comunicados trocados entre embaixadas ao redor do mundo e o governo americano – estão sendo publicados continuamente desde o domingo 28. No total, serão cerca de 251 mil documentos.
Entre os comunicados já publicados, quatro tratam do Brasil. Um deles, em tom mais informal, relata um almoço do embaixador americano John Danilovich com o ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, general Jorge Armando Félix. Danilovich foi o representante dos EUA no Brasil até novembro de 2005. O encontro – narrado pelo comunicado de código 05BRASILIA1207 – aconteceu no dia 4 de maio do mesmo ano. Segundo o cabeçalho, o documento deveria permanecer em segredo até maio de 2015, não fosse a “falta de discrição” do WikiLeaks.
O embaixador começou a conversa com o general falando sobre a preocupação com a ameaça da presença de terroristas na região da tríplice fronteira. Danilovich diz que “o general Félix admitiu haver sérios problemas na região com um movimento ilegal de armas, dinheiro e drogas”. O general garantiu ao embaixador que a trílice fronteira era um dos assuntos de maior preocupação do governo à época.
“Félix disse que tanto a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) quanto a Polícia Federal empregam efetivo reforçado e recursos extraordinários para tentar resolver o problema na região”, diz o embaixador no documento.
Partindo das fronteiras com Paraguai e Uruguai, o assunto evoluiu para o combate ao terrorismo em geral no país. O general Félix contou, então, ao embaixador que o país já tem operações de cooperação com outros governos para monitorar possíveis movimentações de terroristas no país. Além disso, o governo brasileiro, à época, conversou com descendentes de árabes no país – “muitos deles, bem sucedidos homens de negócios”. A intenção era pedir que ficassem atentos a outros árabes que por ventura estivessem em contato com terroristas. O pedido foi o mesmo que havia feito o ex-primeiro-ministro libanês Rafik Hariri à comunidade no Brasil.
Após falarem de terrorismo, Félix e o embaixador conversaram sobre o presidente venezuelano Hugo Chávez. O diplomata americano disse que “Chávez estava minando os esforços brasileiros para assumir uma posição de liderança na América do Sul”. O chefe do GSI, então, meneou a cabeça e pensou muito antes de responder, conforme nota o texto do comunicado. Félix disse ter uma posição pessoal sobre Chávez, diferente da governo, que não poderia ser relatada. Ele foi melancólico ao encerrar o assunto, dizendo que “sendo a favor ou contra Chávez, o fato é que ele já se tornou parte da realidade latino-americana.”
O documento da embaixada cuida de avisar ao governo americano que o general Jorge Félix é amistoso, muito cooperativo e que sua gestão à frente do Gabinete de Segurança Institucional é compatível com os interesses dos Estados Unidos no país.

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