Carta Maior, 20/05/17
Na República do Moro e Dallagnol, Aécio e Temer eram tratados como anjinhos
Na República do Moro e Dallagnol, Aécio e Temer eram tratados como anjinhos
A revelação em detalhes cinematográficos dos crimes do Aécio Neves e Michel Temer deixa os integrantes de Curitiba da força-tarefa da Lava Jato numa situação desconfortável.
Ao longo dos
últimos meses, Aécio e Temer foram citados em dezenas de depoimentos de réus,
delatores e investigados da Lava Jato. Os dois também apareceram em conversas
gravadas pelos operadores dos esquemas de propinas na Petrobrás, Furnas, CEF e
em outras estatais.
Apesar disso, o braço curitibano da Lava Jato nunca
encontrou motivos para investigá-los.
As gravações do tucano-peemedebista Sérgio Machado, publicadas em maio
de 2016, são memoráveis. Nelas, Jucá explicou que o objetivo da camarilha integrada
por ele próprio com Temer, Cunha, Padilha, Geddel e
Moreira Franco – todos com apelidos nas planilhas de propinas da
Odebrecht – era derrubar a Presidente Dilma para estancar a Lava Jato.
O juiz Moro, para justificar a fotografia em que ele e
Aécio gargalham como hienas em evento da revista IstoÉ de dezembro de 2016 que
reuniu Temer e a nata política e empresarial do golpe [7 meses após as gravações
de Sérgio Machado virem a público], disse: “Foi um evento público, e o
senador não está sob investigação da Justiça Federal de Curitiba. Foi uma foto
infeliz, mas não há nenhum caso envolvendo ele”.
Em entrevista em março passado, o procurador Dallagnol
tentou explicar da seguinte maneira os motivos para não investigar os políticos
do PSDB: “Não tem como achar na Petrobrás corrupção de um diretor ou
presidente [tucano] até porque não existia diretores do PSDB”.
Detalhe: o autor
do power point infame contra Lula conhecia, há muito tempo, as denúncias
de que US$ 23 milhões roubados por José Serra foram depositados na Suíça, e que
Aécio teria recebido R$ 50 milhões de propinas da Odebrecht.
Moro praticou o
que poderia ser considerado “camaradagem processual” ao impugnar 21 das 41
perguntas que Eduardo Cunha encaminhou para
Temer responder como testemunha. Através das perguntas, que denotavam
conhecimento íntimo, por Cunha e Temer, do funcionamento da organização
criminosa, Cunha mandava recados e subliminarmente
fazia chantagens – como, por exemplo, continuar participando da
distribuição do butim abocanhado pela camarilha, mesmo preso [aquilo que,
sabe-se agora, Temer confirmou a Joesley Batista: “Temos que manter isso, viu?”].
Moro agiu como advogado de defesa do Temer, não como juiz de
direito. No despacho de novembro de 2016, apesar da profusão de
delações da Odebrechet e das inúmeras menções ao papel do Temer nos esquemas de
corrupção, Moro escreveu que “não há
qualquer notícia do envolvimento do Exmo. Sr. Presidente da República nos
crimes que constituem objeto desta ação penal”. Em entrevista em
fevereiro passado, Moro considerou o
roteiro das perguntas elaboradas um “episódio reprovável” de “tentativa
de intimidação da Presidência da República”.
Depois do escândalo que levará Temer à renúncia ou ao
afastamento, um Moro cara de pau
sustenta que “não havia, na época da decisão, qualquer notícia do
envolvimento[sic] de Temer nos crimes que constituem o objeto daquela
ação penal” [18/5/2017].
Como se observa, na
República de exceção do juiz e dos procuradores de Curitiba, os corruptos e
criminosos Michel Temer e Aécio Neves eram tratados como anjinhos, como
santidades inocentes beneficiárias
de uma elástica interpretação do princípio da presunção da inocência.
A revelação dos
crimes mais recentes que Aécio e Temer continuaram cometendo, de assalto ao
Estado, só teve o alcance merecido porque a delação
dos irmãos Joesley e Wesley Batista não passou por Curitiba. Por isso, não puderam
ser seletivamente escondidos.
Os fatos autorizam
pensar que o
braço curitibano da Lava Jato Moro protegia Aécio e Temer, que tem o efeito de
proteger o golpe e a oligarquia golpista. No mínimo, é testemunho da parcialidade e da
seletividade da Lava Jato.
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