CartaCapital, 22/05/17
Por Redação
JBS lucrou com delação de Joesley? Entenda o que aconteceu no mercado
Por Redação
Antes das gravações feitas por Joesley Batista chegarem ao público, na noite da quarta-feira 17, sua empresa, a JBS,
teria comprado entre 750 milhões de dólares e 1 bilhão de dólares no
mercado futuro da moeda norte-americana após o fechamento do mercado à
vista da quarta.
Enquanto
o mercado de ações derretia e o dólar batia recorde de alta nos últimos
dias da semana passada – atingidos em cheio pelo mais novo escândalo da
política brasileira – ganhavam força os rumores de que pelo menos um
personagem desta novela não tinha exatamente do reclamar.
Além
disso, os controladores da companhia venderam o equivalente a 327,4
milhões de reais em ações da empresa durante o mês de abril, segundo o
formulário mensal enviado pela companhia à Comissão de Valores
Mobiliários (CVM), autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda que
regula e fiscaliza o mercado de capitais.
Os
depoimentos de Joesley e de seu irmão Wesley Batista no âmbito da
delação premiada ocorreram entre abril e maio. As vendas de ações em
abril teriam sido as primeiras movimentações dos controladores no
período de um ano segundo o jornal Valor Econômico.
Reação
Na
quinta-feira 18, tanto o dólar quanto as taxas de juros negociados no
mercado futuro abriram o dia batendo no limite de alta e travaram as
negociações. O mesmo aconteceu com a bolsa de valores, mas por causa da
desvalorização.
A queda do Ibovespa foi tão forte logo na abertura do mercado que houve circuit breaker,
o mecanismo que interrompe a negociação das ações por 30 minutos para
amortecer movimentos bruscos e conter a volatilidade extrema. O
mecanismo não era acionado desde 2008, auge da crise financeira
internacional.
O
dólar comercial fechou com alta de 8,15% em relação ao real, encostando
na marca de 3,40 reais – a maior valorização diária desde o início de
1999. Nos dias anteriores, o dólar foi negociado na casa dos 3,10 reais.
Já o Ibovespa tomou um tombo de 8,8%, o maior dos últimos nove anos. Na segunda-feira 22 as ações da JBS continuavam despencando mais de 20%.
Compra de dólares
À
primeira vista, a compra de dólares nos volume da feita pela JBS não é
incomum. Várias companhias, principalmente as exportadoras – como é o
caso da gigante das carnes – compram e vendem dólares em grandes
montantes todos os dias.
O
que chama a atenção do mercado e também das autoridades é o momento
dessa compra. De acordo com o noticiado pelos veículos que acompanham o
mercado financeiro de perto, logo ficou claro que alguém tinha como
escapar do terremoto criado pela JBS e logo descobriu-se que era a
própria.
Especula-se
que a intenção era usar os recursos para pagar as dívidas com a
Justiça: a multa de 225 milhões de reais, por conta do acordo de
colaboração premiada feito com o Ministério Público, e uma parte do
acordo de leniência, ainda não fechado, e que pode ultrapassar 11
bilhões de dólares.
Em
nota, a JBS afirmou que as operações de câmbio realizadas na fatídica
semana em que vieram a tona suas delações têm como objetivo,
exclusivamente, minimizar os riscos cambiais das operações da empresa,
que incluem dívidas que precisam ser pagas em dólar.
A
JBS informou também que gerencia de maneira minuciosa e diária sua
exposição cambial e de commodities. A empresa acrescenta que as
movimentações no mercado de câmbio feitas nos últimos dias estão
"alinhadas à sua política de gestão de riscos e proteção financeira".
Investigações
A CVM já investiga o assunto. O órgão estima, segundo o Valor Econômico,
que o lucro do JBS com as operações nos mercados de câmbio e bolsa nas
últimas semanas pode ter alcançado 700 milhões de reais. A CVM está
trabalhando em conjunto com o Ministério Público Federal no caso de
suspeita de uso de informação privilegiada envolvendo o grupo.
A
autarquia não tem poder de polícia para acelerar investigações desse
tipo, que exigem quebra de sigilo e bloqueio de transações a fim de
obter informações financeiras e de comunicação telefônica, entre outros.
A
CVM informou, por meio de nota, que suas áreas técnicas irão apurar as
acusações de que o grupo J&F, holding que controla a JBS, teria
operado no mercado financeiro para lucrar com os efeitos da delação
premiada firmada por seus executivos.
O
mercado financeiro prevê sigilo dos investidores, portanto não seria
possível identificar se foi a JBS quem realizou a operação. Caso as
investigações confirmem a prática da empresa, isso configuraria uso
indevido de informações privilegiadas, o que é proibido pela CVM.
Mas mesmo que não fossem investigados pela compra de dólar futuro por parte da JBS às vésperas da divulgação da delação e pela venda de ações da JBS no mês de abril, quando já negociavam com a Procuradoria-Geral da República (PGR) sem que o restante dos agentes de mercado tivessem essa informação, os irmãos Joesley e Wesley Batista já estariam sujeitos a processos da CVM por terem admitido pagamento de propina.
Mas mesmo que não fossem investigados pela compra de dólar futuro por parte da JBS às vésperas da divulgação da delação e pela venda de ações da JBS no mês de abril, quando já negociavam com a Procuradoria-Geral da República (PGR) sem que o restante dos agentes de mercado tivessem essa informação, os irmãos Joesley e Wesley Batista já estariam sujeitos a processos da CVM por terem admitido pagamento de propina.
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