terça-feira, 16 de julho de 2013

'O casamento na Bastilha carioca' (II) ou 'O casamento de D. Baratinha"




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http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/07/1311633-casamento-alvo-de-protestos-no-rio-custou-cerca-de-r-3-milhoes.shtml



16/07/2013


Casamento alvo de protestos no Rio custou cerca de R$ 3 mi


 
CRISTINA GRILLO
DO RIO 



Do calçadão da avenida Atlântica era possível ver os salões do hotel Copacabana Palace transformados em um misto de palácio tropical e indiano, com arranjos de flores multicoloridas sobre mesas espelhadas e painéis reproduzindo trabalhos de artistas da missão francesa, como Debret e Rugendas.
Lá dentro, o clima era tenso entre os cerca de 1.000 convidados do casamento de Beatriz Barata e Francisco Feitosa Filho - ela, neta de Jacob Barata, conhecido como "rei dos ônibus" do Rio; ele, filho de Francisco Feitosa, grande empresário do setor de transportes do Ceará.

A tensão começara mais cedo, quando Beatriz teve que descer da Mercedes que a levara à igreja sob a proteção de policiais militares. Depois da cerimônia, convidados e manifestantes seguiram para a festa no hotel.
"Ficamos todos muito assustados, constrangidos por estarmos ali e com medo do que poderia acontecer", contou à Folha uma convidada. "Todos se olhavam como se fossemos Marias Antonietas prontas para a degola."
No calçadão da avenida Atlântica, manifestantes gritavam "Ox, ox, ox, tá cheia de botox" para as convidadas que chegavam à festa ou ousavam se aproximar da varanda do hotel para ver o que acontecia lá embaixo.
Na dúvida de quem era o noivo, qualquer jovem engravatado que aparecia na sacada era saudado com "Há, há, há, vai brochar".
Beatriz Barata planejava seu casamento grandioso havia mais de dois anos. Nessa época, quando ainda era noiva de Renato Amorim, executivo de uma multinacional de recrutamento de pessoal, ela reservou quase 800 metros quadrados dos principais salões do hotel: o Nobre, o Golden Room e outros três, frontais, que se ligam à varanda do Copacabana Palace.
Guardou também um espaço na concorrida agenda da igreja Nossa Senhora do Carmo, no centro da cidade, e na do decorador Antonio Neves da Rocha.
O namoro com Amorim terminou, Feitosa apareceu e os planos foram mantidos.
Profissionais do ramo de cerimônias de luxo ouvidos pela Folha calculam que o casamento tenha custado em torno de R$ 3 milhões.
O serviço de bufê do hotel, por exemplo, custa cerca de R$ 250 por pessoa. Inclui coquetel, frios, jantar com entrada e saladas, sobremesas e bebidas não alcoólicas.
Uma decoração como aquela, segundo os profissionais, não custa menos de R$ 500 mil. A noite teve ainda show do cantor Latino, cujo cachê para eventos do tipo gira em torno de R$ 80 mil.


Murilo Rezende/Futura Press/Folhapress
Um manifestante ficou ferido com cinzeiro durante manifestação em frente ao Copacabana Palace, no Rio
Um manifestante ficou ferido com cinzeiro durante manifestação em frente ao Copacabana Palace, no Rio
 
CINZEIRO
 
A festa de Beatriz, que nas redes sociais ficou conhecida como "o casamento da dona Baratinha", terminou mal.
Daniel Barata, 18, seu primo, é suspeito de ter atingido com um cinzeiro o manifestante Ruan Nascimento, 24, morador do Complexo do Alemão, que levou seis pontos na testa.
A partir daí o clima esquentou. Cinco carros tiveram vidros quebrados ou foram amassados. Uma vidraça da entrada do hotel foi quebrada.
Mais uma vez, o Batalhão de Choque foi chamado para intervir. O "casamento da dona Baratinha" acabou em uma nuvem de gás lacrimogêneo e spray de pimenta.
Em fotos postadas nas redes sociais, o jovem Barata é visto lançando aviõezinhos feitos com notas de R$ 20 sobre os manifestantes. Convidados da festa jogaram bem-casados da varanda.
Ontem Barata escreveu um pedido de desculpas no Facebook e negou ter arremessado o cinzeiro.
"Para esclarecer as coisas, joguei uma nota de R$ 20 da sacada do hotel com o objetivo, sim, de repudiar os manifestantes [...] e admito que errei, assim como acredito que erraram os que atiraram pedras e ovos nos convidados [...], mas quero deixar bem claro que não tenho nada a ver com quem tacou cinzeiro."
"O que assistimos foi o baile da Ilha Fiscal do nosso século. Houve uma grande reação popular a uma situação de ostentação, e a partir de agora as pessoas vão pensar mais antes de fazer uma festa desse tamanho", disse a colunista social Hildegard Angel, que escreveu sobre a festa em seu blog. 

Colaboraram MARIANA SALLOWICZ e PAULO MAURÍCIO COSTA

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