Esta velha fábula, aqui com um final diferente do que é normalmente contado, visa combater a idéia de que o mal pode ser feito a um outro ser de forma gratuita e que a natureza má vence ao final.
Não! Ela só vence se não soubermos usar nossos recursos internos para nos transformar e voar.
O escorpião e o cururu
Gisela Coelho Nascimento
Este fato me foi contado
pelo velho Mandacaru
que observou ali parado
o escorpião e o cururu.
Disseram-se o aracnídeo e o batráquio:
- Me leve à outra margem do rio
- Por que devo levá-lo escorpião,
se podes cravar-me o ferrão?
Respondeu o peçonhento:
- Pense comigo um momento.
Ao fundo vou contigo
se te prejudico, meu amigo.
O sapo ficou convencido:
- Àquela margem, eu já devia ter ido.
Esta carona não negarei, então.
Sobe em meu dorso, escorpião.
Em meio ao caminho,
o pobre sapinho
sentiu no lombo o ferrão
do desleal escorpião.
Por que me fizeste este mal?
Disse o sapo, afinal.
Ao fundo serás tragado
e vais morrer afogado.
Não mais verás o Sol nascer,
nem sentirás da água o frescor,
as árvores para ti não irão florescer.
Por que me instilaste teu rancor?
O traiçoeiro foi logo afirmando:
Meus desejos não comando.
Renuncio a toda essa beleza,
pois essa é minha natureza.
Disse-me o velho Mandacaru:
Continuando a história do cururu.
Pagar ele pela maldade do escorpião
teria alguma justa razão?
Acontece que, ao se debater,
o sapo misturou seu veneno,
(que exala só para se defender),
em seu desespero mais pleno
à terrível peçonha do algoz
que ficou mudo, sem voz.
E os dois venenos unidos
apresentaram uma estranha faceta:
Transformaram o sapo em linda borboleta.
que o cruel pôde observar,
antes de no rio afundar,
as asas azuis ao sol cintilar.
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