Para o desenvolvimento de nosso páis, o que interessa é a sua reestatização.
Alvo do governo tem ligação com tucanos
NATUZA NERY
DE BRASÍLIA
O governo não pediu somente a saída de Roger Agnelli do comando da Vale. A atual diretora de Recursos Humanos e Serviços Corporativos, Carla Grasso, também virou alvo de articulação do Planalto para que deixe a companhia.
A substituição dos dois executivos é dada como certa na Esplanada dos Ministérios. Segundo a Folha antecipou, Tito Martins, atual diretor-executivo de Metais Básicos da Vale e presidente da Vale Inco, no Canadá, substituirá Agnelli no cargo.
A assembleia de acionistas que decretará a nova "cara" da diretoria ocorrerá na próxima semana.
Na segunda-feira, segundo comunicado (fato relevante) distribuído pela Vale na noite de anteontem, haverá uma reunião prévia entre os acionistas para "homologar a contratação de empresa internacional de seleção de executivos" e "manifestar-se sobre a indicação do diretor-presidente" da mineradora.
A empresa ("headhunter") apresentará lista tríplice de executivos à mineradora.
BRAÇO DIREITO
Carla Grasso é tida como braço direito do atual presidente da mineradora. O desejo de seu desligamento foi comunicado ao Bradesco, um dos principais sócios por meio da Bradespar.
Grasso entrou na Vale como diretora de Pessoal, em 1997, logo após a privatização ocorrida naquele ano.
Em 2001, quando Agnelli assume o comando da companhia, ela passa a acumular poderes na diretoria de RH. Ex-mulher de Paulo Renato, ministro da Educação de Fernando Henrique Cardoso, foi secretária de Previdência Complementar na gestão do presidente tucano.
Procurada para comentar, a assessoria de imprensa da empresa não deu retorno.
Presidente durante quase todo o período de Agnelli no cargo, Luiz Inácio Lula da Silva acabou não se mexendo para derrubar executivos em descompasso com as expectativas do Planalto. Pensou em levar a mudança à cabo em 2009, em meio à crise global, mas desistiu.
À época, para evitar efeitos mais duros da desaceleração mundial sobre a economia brasileira, Lula pedira a empresários que evitassem demissões em massa. Agnelli, porém, anunciou o desligamento de 1.300 funcionários.
Começavam, então, os atritos entre o governo do PT e o comando da companhia.
Os diretores-executivos da Vale têm mandato até 21 de maio. A futura composição precisa ser aprovada pelos acionistas controladores com 75% do votos.
Indicação de Tito revolta sindicato canadense que o enfrentou em greve
ANDREA MURTA
DE WASHINGTON
Na pequena Sudbury, cidade do Canadá que há mais de um século se dedica à mineração de níquel -operação hoje controlada pela Vale-, o sindicato que representa os mineiros locais não entendeu nem apreciou a indicação de Tito Martins para substituir Roger Agnelli no comando da empresa.
"Pergunto-me se o Brasil vê Tito como herói", disse à Folha Patrick Veinot, vice-presidente do braço local do forte sindicato internacional Metalúrgicos Unidos (USW).
"Ele chegou e tivemos três greves. Não temos boa opinião dele e não posso imaginar quem tenha. O que veem no Brasil, um homem que quebrou as greves e venceu? O recompensam?"
Veinot diz que, em seus 22 anos na cidade, nunca viu a moral dos trabalhadores tão baixa. "Não vemos a história das greves, uma das quais durou um ano, os danos às operações e às minas, a destruição do relacionamento com os empregados ou a montanha de dinheiro gasta com advogados como um sucesso. Mas ninguém aqui vai parar de resistir."
O discurso mostra que a animosidade continua em níveis altíssimos. Quando visitou Sudbury no ano passado, a Folha encontrou adesivos com palavrões contra a empresa, anedotas críticas e um ódio arraigado.
A Vale comprou a Inco, que controla as minas em Sudbury, em 2006. A cidade de 150 mil habitantes, a 380 km de Toronto, viu sua rotina mudar. A Vale quis renegociar alguns contratos em condições diferentes de bônus e aposentadorias.
"Não sei se Tito será pior, mas ele parecia bem satisfeito em seguir o que Roger mandava", disse Veinot. "Pode ser que a indicação tenha acalmado o pessoal da Vale no Brasil. Mas a experiência dele no Canadá foi terrível. [O estilo agressivo de liderança] é como uma religião pra essa gente."
A fala é corroborada por mineiros como Craigh Thompson, 38, um dos que até meados do ano passado faziam piquete diariamente contra a Vale. "Confiamos em Tito? Não. Acreditamos no que ele diz? Não. Para nós ele e Agnelli são iguais, não vai melhorar nada."
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