sábado, 24 de dezembro de 2016

A direita sulista na ideologia de Curitiba






Jornal GGN, 24/12/16



A direita sulista na ideologia de Curitiba


Por André Araújo



A cruzada moralista de Curitiba tem forte enraizamento em uma faixa de opinião publica cristalizada  numa direita antinacional, com raízes separatistas, que tem longa sedimentação nos embates entre correntes em disputa pelo poder no Brasil moderno. Uma história nada pacifica e nada mansa, a História do Brasil é violenta, destrutiva, conflituosa e dada à fragmentação do poder.

Essa direita sulista vê no Norte-Nordeste uma raiz dos males do Brasil em contraste com o Sul operoso, virtuoso e honesto. Essa direita acha que o Sul estaria melhor separado do resto do Brasil. Essa é a base dos chamados "movimentos separatistas" que foram combatidos por Getúlio no Estado Novo, este aliás nasceu entre outras razões para combater um rebrotar desses sentimentos na década de 30. Vargas usou a força policial para enfrentar espasmos regionalistas de natureza étnica nas áreas de colonização alemã e italiana, durante os anos 30 e 40 e, especialmente, durante o período de guerra.

Não é, portanto, coincidência que a operação anticorrupção tenha seu epicentro em Curitiba e seus condutores em nomes de origem italiana. Curitiba é a sede do movimento separatista O SUL É MEU PAIS, fundado em 1992 por Adilcio Cardorin, movimento que tem existência legal e que pretende desligar o sul do resto do Brasil. Todo conjunto de sinais emitidos a partir da operação anticorrupção leva a mensagem de um profundo desprezo pelo Brasil tradicional, da mesma gênese pela qual os milaneses manifestam seu maior desprezo pelo Sul da Itália, "depois de Roma começa a África", já dizia minha bisavó veneta. Os lombardos preferindo se considerar parentes dos alemães do que primos dos atrasados do Sul.

Nem se diz aqui que a força-tarefa tem ligação direta com esses movimentos, mas o ambiente local emana fluidos de uma certa visão do Brasil – que não é aquela da grande integração que o império lusitano conseguiu impor do Oiapoque ao Chui e depois consolidada pelos dois Imperadores da Casa de Bragança, que sufocaram levantes e revoltas contra a unidade nacional na vastidão do território continental. A continuidade territorial do Brasil mantida contra todas as tendências de fragmentação que prevaleceram na América Espanhola mostra uma imensa força da vontade lusófona, ao manter tão vasta região sob uma só bandeira.

Esse grande Estado brasileiro é a criação da Coroa portuguesa, da Igreja Católica e das Forças Armadas, esse Estado não é um aglomerado de colônias de alemães, polacos, italianos, o Estado brasileiro é a criação de gigantes vultos do passado que atravessaram a pé o território de São Vicente para as fronteiras da Colômbia e depois dessa luta titânica de séculos vêm comedores de macarrão dizer "o Sul é meu Pais" como se fossem eles que criaram o Brasil.

Na Itália, precursora de uma Operação Mãos Limpas que serve de modelo a operação de Curitiba, o sentimento separatista implícito em um Norte virtuoso e um Sul corrupto a ser combatido produziu como rescaldo um forte partido separatista, a Lega Lombarda de Umberto Bosi na esteira da completa liquidação dos partidos centrados em Roma e no Sul, especialmente a Democracia Cristã que salvou e recuperou a Itália do pós-guerra.

A destruição de todo sistema político causado pela Mãos Limpas na Itália é a meta não escrita da Operação de Curitiba. O sistema político do pós-guerra que trouxe à Itália décadas de prosperidade foi eliminado pelas Mãos Limpas, levando a Itália a 30 anos de decadência, paralisia econômica e regressão social e política, situação que os admiradores da Mãos Limpas preferem não comentar.

A cruzada moralista, apoiada pela direita sulista, tem em São Paulo o suporte de uma definida parcela da opinião pública que gira em torno dos grandes escritórios de advocacia corporativa, dos bancos de investimento, das consultorias econômicas e empresariais, das escolas de "business" de ponta (Insper e FGV), um mundo globalizado e mais ligado ao exterior que ao Brasil profundo. Todavia, a expressão repetida ad nauseam pela GLOBO de que a operação de Curitiba tem o apoio da opinião pública, como se esse apoio fosse unânime, é falsa e manipulada.

Um dos apoiadores mais simbólicos da operação anticorrupção é o prof. Modesto Carvalhosa, um dos líderes dessa opinião pública paulista, que vê nas empresas brasileiras a emanação do demônio e nas estrangeiras as representantes celestiais do bom comportamento, disse hoje na Rádio Jovem Pan que todas as empreiteiras deveriam ser fechadas e no seu lugar seria ótimo virem empreiteiras suecas.

Um emblemático apoiador da Lava Jato na mídia é Diogo Mainardi, um dos maiores detratores do Brasil como país, seu meio de vida é falar mal do Brasil e dos brasileiros, mais um italiano da Lava Jato a mover essa corrente antibrasileira, lembrando em seu blog e programa de TV quão horrível é o Brasil, quão bom são os EUA, país corretíssimo e onde não há corrupção nem em Wall Street.

Mainardi pode ser considerado o mascote da operação anticorrupção, pois esta confirma suas piores prédicas sobre o Brasil. Tem um apoio específico desse grupo social que vê na operação de Curitiba uma força modernizadora e dentro da agenda global de transparência e governança que eles cultuam.

Essa agenda global é mais uma espécie de teatro do que realidade, os grandes blocos geopolíticos do mundo, Rússia, China e Índia, não seguem essa agenda e o pais líder desse movimento de transparência e governança, os EUA, está dando marcha à ré no próximo Governo Trump. Portanto, essa agenda é mais desejo que realidade, aqui vendida como algo universal e incontroverso quando é de fato uma agenda especifica de um grupo ideológico politicamente correto que está longe de ser unânime no mundo, tanto que o líder de uma plataforma política que contesta essa agenda foi eleito Presidente dos EUA.

A agenda americana de transparência e férreo combate à corrupção e aos crimes financeiros é coisa de Hollywood e não de realidade. Na mega crise de 2008, ninguém foi punido, ninguém foi condenado e ninguém foi preso. E o rombo foi de 700 bilhões de dólares, não gerou sequer um inquérito, portanto é lenda que o Departamento de Justiça combate a ferro e fogo o crime financeiro, é LENDA, repetido pelos bobos alegres da mídia brasileira, hoje mesmo no programa Três em UM da Jovem Pan foi dito "olhe, eles não perdoam crimes financeiros, veja o que eles fizeram na crise de 2008". Não fizeram nada, vocês não sabem nada.

O Departamento de Justiça está fazendo a festa com empresas brasileiras, levadas de bandeja para serem tosquiadas em Washington, dinheiro que sai do Brasil para os cofres do Tesouro americano sem que se saiba sob que estatuto legal uma potência estrangeira pode cobrar multas de empresas brasileiras por delitos cometidos no Brasil ou em terceiros países por brasileiros que não estão sujeitos às leis americanas e não lesaram interesses americanos, qual a justificativa dos EUA cobrarem multas no Brasil?

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