Carta Maior, 13/04/2016
O impedimento: a repetição da tragédia brasileira?
Por Leonardo Boff
A cordialidade brasileira, em sua face sombria, descrita por Sérgio Buarque de Holanda, que se expressa pelo ódio e pela intolerância, fornece o húmus de onde pode se precipitar novamente a tragédia brasileira.
Em que consiste esta tragédia? Nesse fato: sempre que o povo, os pobres, seus movimentos e seus líderes carismáticos irrompem no cenário político, surgem as velhas elites que carregam dentro de si a estrutura da Casa Grande para negar-lhes direitos, conspirar contra eles, difamar e criminalizar suas lideranças, empurrá-los para as periferias de onde nunca deveriam ter saído. Aos negros, aos índios, aos quilombolas, aos pobres e a outros discriminados se lhes negam reconhecimento e dignidade. E contudo constituem a grande maioria do povo brasileiro. É o que está ocorrendo atualmente no Brasil. Face a todos esses, as oligarquias e, em geral, os conservadores e até reacionários, mostram-se cruéis e sem piedade, apoiados por uma imprensa malvada e sem vínculo com a verdade pois distorce e mente.
O que é intolerável para a classe dominante é o fato de um operário de pouca escolaridade ter se tornado presidente do país. O que mais os irrita é dar-se conta de que ele, Luiz Inácio Lula da Silva, é muito mais inteligente que a maioria deles, possui um liderança carismática que impressionou o mundo e que seu governo fez mais transformações que eles em todo o tempo em que estiveram no poder. Com ele o povo ganhou centralidade e o considera como o maior presidente que este país já teve. Com frequência se ouve de suas bocas: “foi um presidente que sempre pensou nos pobres e que implantou políticas que não apenas melhoraram nossas vidas mas nos devolveram dignidade. Éramos invisíveis, agora podemos aparecer.”
A atual conflagração política que atingiu níveis vergonhosos de expressão nasce desta mudança operada no andar de baixo, negada pelos do andar de cima. Estes escandalizam o mundo por sua riqueza e poder. Jessé de Souza, presidente do IPEA revelou recentemente que o topo da pirâmide social brasileira é composta por cerca de 71 mil bilhardários representando apenas 0,05% da população adulta do país. E são beneficiados por isenções de impostos sobre lucros e dividendos, enquanto os trabalhadores carregam o pesado fardo dos impostos.
Por Leonardo Boff
A cordialidade brasileira, em sua face sombria, descrita por Sérgio Buarque de Holanda, que se expressa pelo ódio e pela intolerância, fornece o húmus de onde pode se precipitar novamente a tragédia brasileira.
Em que consiste esta tragédia? Nesse fato: sempre que o povo, os pobres, seus movimentos e seus líderes carismáticos irrompem no cenário político, surgem as velhas elites que carregam dentro de si a estrutura da Casa Grande para negar-lhes direitos, conspirar contra eles, difamar e criminalizar suas lideranças, empurrá-los para as periferias de onde nunca deveriam ter saído. Aos negros, aos índios, aos quilombolas, aos pobres e a outros discriminados se lhes negam reconhecimento e dignidade. E contudo constituem a grande maioria do povo brasileiro. É o que está ocorrendo atualmente no Brasil. Face a todos esses, as oligarquias e, em geral, os conservadores e até reacionários, mostram-se cruéis e sem piedade, apoiados por uma imprensa malvada e sem vínculo com a verdade pois distorce e mente.
O que é intolerável para a classe dominante é o fato de um operário de pouca escolaridade ter se tornado presidente do país. O que mais os irrita é dar-se conta de que ele, Luiz Inácio Lula da Silva, é muito mais inteligente que a maioria deles, possui um liderança carismática que impressionou o mundo e que seu governo fez mais transformações que eles em todo o tempo em que estiveram no poder. Com ele o povo ganhou centralidade e o considera como o maior presidente que este país já teve. Com frequência se ouve de suas bocas: “foi um presidente que sempre pensou nos pobres e que implantou políticas que não apenas melhoraram nossas vidas mas nos devolveram dignidade. Éramos invisíveis, agora podemos aparecer.”
A atual conflagração política que atingiu níveis vergonhosos de expressão nasce desta mudança operada no andar de baixo, negada pelos do andar de cima. Estes escandalizam o mundo por sua riqueza e poder. Jessé de Souza, presidente do IPEA revelou recentemente que o topo da pirâmide social brasileira é composta por cerca de 71 mil bilhardários representando apenas 0,05% da população adulta do país. E são beneficiados por isenções de impostos sobre lucros e dividendos, enquanto os trabalhadores carregam o pesado fardo dos impostos.
Estes endinheirados possuem sua expressão política nos partidos
conservadores e com síndrome de vira-latas, porque não conseguem ser
aquilo que gostariam de ser: sócios, ainda que meros agregados, do
projeto-mundo hegemonizado pelos EUA.
Eles não negam a democracia, pois seria vergonhoso demais. Mas querem um estado democrático não de direito mas de privilégio, estado patrimonialista que lhes permite o enriquecimento, ocupando altas funções de governo e controlar os órgãos reguladores pelos quais garantem seus interesses corporativos. O grosso do PSDB e do PMDB (graças a Deus há neles pessoas honradas que pensam no Brasil e não só nas próprias vantagens) sem citar outros partidos menores, se inscrevem dentro deste arco político de uma modernidade conservadora e anti-popular.
Ao contrário, os grupos progressistas que ganharam corpo no PT e nos seus aliados, postulam um Brasil autônomo, com projeto nacional próprio que resgata a multidão dos injustamente deserdados com políticas sociais consistentes apontando para uma completa emancipação. Estes agora ocupam o estado que se vê cercado como que por uma matilha de cães raivosos que querem liquidá-lo.
São esses que estão promovendo o impedimento da presidenta Dilma Rousseff sem base jurídica consistente de crime de responsabilidade. Dois meses após a sua vitória em 2014, o PSDB já conclamava nas ruas um impedimento da presidenta sem apontar as condições constitucionais que permitissem tal ato extremo. Primeiro se condena, depois procura-se algum eventual crime. Como não lhes importa a democracia, apenas aquela de sua conveniência, passam por cima de leis e normas constitucionais para arrebatar o poder central que não conseguiriam conquistar pelo voto. Não é de se admirar que este partido arrogante, cuja base social é a classe média conservadora, esteja se diluindo internamente, por não manter ligação orgânica com o povo e com seus movimentos e por sustentar um projeto neocolonialista.
Estes com outros articulam um golpe parlamentar e renovar a tragédia política brasileira como foi com Vargas e com Jango, culminando com a ditadura militar. Agora no lugar dos tanques e das baionetas funcionam as tramoias, forjando uma argumentação insustentável juridicamente para afastar a presidenta. Querem ocupar o estado para realizarem seu projeto privatista e antinacional. Se ocorrer uma convulsão social, porque os milhões dos que saíram de miséria não aceitarão mudanças contra eles, os golpistas serão seus principais responsáveis. Não podemos permitir que a tragédia novamente se consuma.
Eles não negam a democracia, pois seria vergonhoso demais. Mas querem um estado democrático não de direito mas de privilégio, estado patrimonialista que lhes permite o enriquecimento, ocupando altas funções de governo e controlar os órgãos reguladores pelos quais garantem seus interesses corporativos. O grosso do PSDB e do PMDB (graças a Deus há neles pessoas honradas que pensam no Brasil e não só nas próprias vantagens) sem citar outros partidos menores, se inscrevem dentro deste arco político de uma modernidade conservadora e anti-popular.
Ao contrário, os grupos progressistas que ganharam corpo no PT e nos seus aliados, postulam um Brasil autônomo, com projeto nacional próprio que resgata a multidão dos injustamente deserdados com políticas sociais consistentes apontando para uma completa emancipação. Estes agora ocupam o estado que se vê cercado como que por uma matilha de cães raivosos que querem liquidá-lo.
São esses que estão promovendo o impedimento da presidenta Dilma Rousseff sem base jurídica consistente de crime de responsabilidade. Dois meses após a sua vitória em 2014, o PSDB já conclamava nas ruas um impedimento da presidenta sem apontar as condições constitucionais que permitissem tal ato extremo. Primeiro se condena, depois procura-se algum eventual crime. Como não lhes importa a democracia, apenas aquela de sua conveniência, passam por cima de leis e normas constitucionais para arrebatar o poder central que não conseguiriam conquistar pelo voto. Não é de se admirar que este partido arrogante, cuja base social é a classe média conservadora, esteja se diluindo internamente, por não manter ligação orgânica com o povo e com seus movimentos e por sustentar um projeto neocolonialista.
Estes com outros articulam um golpe parlamentar e renovar a tragédia política brasileira como foi com Vargas e com Jango, culminando com a ditadura militar. Agora no lugar dos tanques e das baionetas funcionam as tramoias, forjando uma argumentação insustentável juridicamente para afastar a presidenta. Querem ocupar o estado para realizarem seu projeto privatista e antinacional. Se ocorrer uma convulsão social, porque os milhões dos que saíram de miséria não aceitarão mudanças contra eles, os golpistas serão seus principais responsáveis. Não podemos permitir que a tragédia novamente se consuma.
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