segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Três armações midiáticas e uma análise



http://www.jornalggn.com.br/noticia/tres-armacoes-midiaticas-e-uma-analise



GGN, 28/09/2014


Três armações midiáticas e uma análise



Armações ilimitadas. Prepare-se para as armações ilimitadas da mídia contra o PT, nesta última semana. Seja forte. Isso vem desde de 1989 quando Lula concorreu pela primeira vez. Retrospectiva: 
 
Rede Brasil Atual
Em 1989, sequestro de Abílio Diniz foi relacionado ao PT e desmentido logo após eleições, mostra pesquisa
Investigação apontou que não houve envolvimento do Partido dos Trabalhadores no sequestro de Diniz. Envolvidos acusaram polícia de obrigá-los a vestir camisa da campanha de Lula. Clique aqui.
 
Teoria e Debate 
2002: Lula derrota a velha mídia
Apesar de simular neutralidade, como mostramos no artigo anterior, depois de ajudar a eliminar Roseana Sarney e afastar Ciro Gomes, o partido midiático coloca toda a sua artilharia contra o inimigo principal, Lula, até porque sua possibilidade de vitória era real, e esse risco a mídia não queria correr. Mas Lula, no segundo turno, no dia 27 de outubro, obteve mais de 61% dos votos válidos, contra pouco mais de 38% para Serra. Clique aqui.
 
Carta Capital
Aloprados e aloprados
Em 2006, jornalista contou a araponga de Cachoeira como escândalo da mala de dinheiro foi usado para prejudicar campanha petista. Clique aqui.
 

 
 

Por Venício A. de Lima 
 


Tão logo as pesquisas revelaram que uma das candidatas à presidência da República havia atingido índices de intenção de voto difíceis de serem revertidos, e que os resultados indicavam a possibilidade de decisão ainda no primeiro turno, a grande mídia e seus "formadores de opinião" reagiram prontamente. Insistiram eles que fatos novos poderiam ocorrer e que ainda era muito cedo para cantar vitória.
 
Um exemplo: sob o título "Festa na véspera", a principal colunista de economia do jornal O Globo escreveu em sua coluna "Panorama Econômico" do dia 31 de agosto:
 
"Então é isso? Uma eleição cuja campanha começou antes da hora acabou antes que os votos sejam depositados na urna? (...) Fala-se do futuro como inexorável. O quadro está amplamente favorável a Dilma Rousseff, mas é preciso ter respeito pelo processo eleitoral. Se pesquisa fosse voto, era bem mais simples e barato escolher o governante."
 
Simultaneamente, a poucas semanas do primeiro turno das eleições, os jornalões, a principal revista semanal e a principal rede de televisão abriram fartos espaços para a divulgação de "escândalos" com a óbvia intenção de atingir a reputação pública da candidata favorita.
 
O primeiro, diz respeito a vazamento de informações sigilosas da Receita Federal ocorridos em setembro de 2009 [antes, portanto, da escolha oficial dos candidatos e do início da campanha eleitoral]. O "escândalo" foi imediatamente comparado com o caso Watergate, que levou à renúncia o presidente dos EUA Richard Nixon, em 1974, e também à prisão de integrantes do PT em hotel de São Paulo, em 2006. A narrativa midiática logo passou a referir-se a ele como "Aloprados II" e/ou "Receitagate".
 
O segundo, que surge tão logo o primeiro parece não ter atingido os objetivos esperados, faz um incrível malabarismo ao tentar incriminar a candidata favorita através de ações de lobby e tráfico de influência atribuídos ao filho de sua ex-auxiliar. Um exemplo: a manchete de primeira página da Folha de S.Paulo de domingo (12/9): "Filho do braço direito de Dilma atua como lobista".
 
O que estaria acontecendo na grande mídia brasileira?
 
Controle e dinâmica
 
Em abril de 2006, no correr da "crise do mensalão", escrevi neste Observatório [ver "Escândalos midiáticos no tempo e no espaço"] sobre o conceito de "escândalo político midiático" (EPM) desenvolvido pelo professor da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, John B. Thompson, em seu aclamado 'O escândalo político – Poder e visibilidade na era da mídia' (Vozes, 1ª edição, 2002).
 
O momento é oportuno para retomar os ensinamentos de Thompson.
 
Os EPM surgem historicamente no contexto do chamado jornalismo investigativo, combinado com o crescimento da mídia de massa e a disseminação das tecnologias de informação e comunicação. E, sobretudo, no quadro das profundas transformações que ocorreram na natureza do processo político, ainda dependente, em grande parte, da mídia tradicional. Envolve indivíduos ou ações situados dentro de um campo ligado à aquisição e ao exercício do poder político através do uso, dentre outros, do poder simbólico. Fundamentalmente, o exercício do poder político depende do uso do poder simbólico para cultivar e sustentar a crença na legitimidade.
 
O poder simbólico, por sua vez, refere-se à capacidade de intervir no curso dos acontecimentos, de influenciar as ações e crenças de outros e também de criar acontecimentos, através da produção e transmissão de formas simbólicas. Para exercer esse poder, é necessário a utilização de vários tipos de recursos, mas, basicamente, usar a grande mídia, que produz e transmite capital simbólico – vale dizer, controla a visibilidade pública. A reputação, por exemplo, é um aspecto do capital simbólico, atributo de um indivíduo ou de uma instituição. O que está em jogo, portanto, num EPM é o capital simbólico do político, sobretudo sua reputação.
 
Como a grande mídia se tornou a principal arena em que as relações do campo político são criadas, sustentadas e, ocasionalmente, destruídas, a apresentação e repercussão dos EPM não são características secundárias ou acidentais. Ao contrário, são partes constitutivas dos próprios EPM.
 
Escândalo político midiático, portanto, é o evento que implica a revelação, através da mídia, de atividades previamente ocultadas e moralmente desonrosas, desencadeando uma sequência de ocorrências posteriores. O controle e a dinâmica de todo o processo deslocam-se dos atores inicialmente envolvidos para os jornalistas e para a mídia.
 
Jogo de poder
 
Na verdade, a grande mídia ainda detém um enorme poder de legitimar a esfera propriamente política através do tipo de visibilidade pública que a ela oferece. Os atores da esfera política dependem de visibilidade na esfera midiática para se elegerem e/ou se manterem no poder. Através desse poder, próprio da esfera midiática, a grande mídia tenta submeter e controlar o processo político, em particular os processos eleitorais. É aí que surgem os EPM.
 
Não seria exatamente a tentativa de controlar a esfera propriamente política o último recurso que a grande mídia – declaradamente oposicionista pela voz da presidente da ANJ – estaria a exercer na construção de EPM a poucas semanas das eleições?
 
Será que o Brasil de 2010 é o mesmo de 2006, quando tentativa semelhante levou as eleições presidenciais para o segundo turno?
 
O que está realmente em jogo é o poder da mídia tradicional – e, por óbvio, dos grupos dominantes do setor – em tempos de profundas transformações nas comunicações. Em tempos de internet.
 
Quem viver verá.
GGN, 29/09/2014


Globo noticia ação terrorista em Brasília associando hotel a Dirceu


 
Por Cintia Alves



 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Jornal GGN - Os produtos jornalísticos da Rede Globo parecem reciclar o expediente adotado no sequestro de Abílio Diniz, que mudou os rumos da eleição de 1989, para noticiar uma "ação terrorista" que acontece nesta segunda (29), em Brasília. O portal G1 e a Globo News publicaram que um sequestro ocorre por motivação política no mesmo hotel que pretendia contratar o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT), condenado na Ação Penal 470. 
De acordo com a polícia, por volta das 8h da manhã um homem com cerca de 30 anos deu entrada no hotel Saint Peter. Ele foi de quarto em quarto apenas no 13º andar e pediu que os hóspedes esvaziassem o edifício. Segundo fontes ouvidas no local, não se trata de roubo ou sequestro com a finalidade de pedir algo em troca, mas sim de "terrorismo".
No início desta tarde, cerca de 300 hóspedes já haviam deixado o local. O sequestrador faz de vítima um dos mensageiros do hotel, que aparece frequentemente na sacada de um quarto, portando um cinto que supostamente contém explosivos. A polícia ainda não confirmou essa informação, mas estima que se de fato a carga for real, ela tem potencial para danificar a estrutura do prédio.
A polícia identificou que o sequestrador tentou uma vaga de vereador no Tocantins pela coligação PP, PTB e PSDB, mas não foi eleito. Segundo informações da Globo News, a corporação avalia que o infrator apresenta desequilíbrio emocional e diz que sua motivação é de ordem política. Em frases desconexas, ele pede a extradição de Cesare Battisti e ampliação da Lei da Ficha Limpa.
A emissora também associou o episódio ao hotel que contrataria Dirceu - algo equivalente a associar um acidente na linha do Metrô paulista ao caso Alstom.




























Caso Diniz


Faltando cinco dias para o primeiro turno das eleições, a grande mídia parece insistir em uma bala de prata contra a vantagem da candidata Dilma Rousseff (PT) nas pesquisas de opinião. A lembrança de Dirceu no sequestro de hoje lembra a cobertura de grandes jornais sobre o sequestro do empresário Abílio Diniz, executivo do grupo Pão de Açúcar, em 1989.
Naquele ano, o caso foi revelado às vésperas do segundo turno das eleições. Fernando Collor de Mello (PRN) e Luís Inácio Lula da Silva (PT) disputavam a Presidência. À época, a grande mídia levantou suspeitas sobre o envolvimento do PT no sequestro de Diniz. Após a vitória de Collor, as acusações foram desmentidas. A investigação apontou que os envolvidos na ação foram obrigados a vestir uma camisa da campanha de Lula.

Nenhum comentário:

Postar um comentário