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GGN, 28/09/2014
Três armações midiáticas e uma análise
Armações ilimitadas. Prepare-se para as armações ilimitadas da mídia contra o PT, nesta última semana. Seja forte. Isso vem desde de 1989 quando Lula concorreu pela primeira vez. Retrospectiva:
Por Venício A. de Lima
Tão logo as pesquisas revelaram que uma das candidatas à presidência da República havia atingido índices de intenção de voto difíceis de serem revertidos, e que os resultados indicavam a possibilidade de decisão ainda no primeiro turno, a grande mídia e seus "formadores de opinião" reagiram prontamente. Insistiram eles que fatos novos poderiam ocorrer e que ainda era muito cedo para cantar vitória.
Três armações midiáticas e uma análise
Armações ilimitadas. Prepare-se para as armações ilimitadas da mídia contra o PT, nesta última semana. Seja forte. Isso vem desde de 1989 quando Lula concorreu pela primeira vez. Retrospectiva:
Rede Brasil Atual
Em 1989, sequestro de Abílio Diniz foi relacionado ao PT e desmentido logo após eleições, mostra pesquisa
Investigação apontou que não houve
envolvimento do Partido dos Trabalhadores no sequestro de Diniz.
Envolvidos acusaram polícia de obrigá-los a vestir camisa da campanha de
Lula. Clique aqui.
Teoria e Debate
2002: Lula derrota a velha mídia
Apesar de simular neutralidade, como
mostramos no artigo anterior, depois de ajudar a eliminar Roseana Sarney
e afastar Ciro Gomes, o partido midiático coloca toda a sua artilharia
contra o inimigo principal, Lula, até porque sua possibilidade de
vitória era real, e esse risco a mídia não queria correr. Mas Lula, no
segundo turno, no dia 27 de outubro, obteve mais de 61% dos votos
válidos, contra pouco mais de 38% para Serra. Clique aqui.
Carta Capital
Aloprados e aloprados
Em 2006, jornalista contou a araponga
de Cachoeira como escândalo da mala de dinheiro foi usado para
prejudicar campanha petista. Clique aqui.
Por Venício A. de Lima
Tão logo as pesquisas revelaram que uma das candidatas à presidência da República havia atingido índices de intenção de voto difíceis de serem revertidos, e que os resultados indicavam a possibilidade de decisão ainda no primeiro turno, a grande mídia e seus "formadores de opinião" reagiram prontamente. Insistiram eles que fatos novos poderiam ocorrer e que ainda era muito cedo para cantar vitória.
Um exemplo: sob o título "Festa na
véspera", a principal colunista de economia do jornal O Globo escreveu
em sua coluna "Panorama Econômico" do dia 31 de agosto:
"Então é isso? Uma eleição cuja
campanha começou antes da hora acabou antes que os votos sejam
depositados na urna? (...) Fala-se do futuro como inexorável. O quadro
está amplamente favorável a Dilma Rousseff, mas é preciso ter respeito
pelo processo eleitoral. Se pesquisa fosse voto, era bem mais simples e
barato escolher o governante."
Simultaneamente, a poucas semanas do
primeiro turno das eleições, os jornalões, a principal revista semanal e
a principal rede de televisão abriram fartos espaços para a divulgação
de "escândalos" com a óbvia intenção de atingir a reputação pública da
candidata favorita.
O primeiro, diz respeito a vazamento
de informações sigilosas da Receita Federal ocorridos em setembro de
2009 [antes, portanto, da escolha oficial dos candidatos e do início da
campanha eleitoral]. O "escândalo" foi imediatamente comparado com o
caso Watergate, que levou à renúncia o presidente dos EUA Richard Nixon,
em 1974, e também à prisão de integrantes do PT em hotel de São Paulo,
em 2006. A narrativa midiática logo passou a referir-se a ele como
"Aloprados II" e/ou "Receitagate".
O segundo, que surge tão logo o
primeiro parece não ter atingido os objetivos esperados, faz um incrível
malabarismo ao tentar incriminar a candidata favorita através de ações
de lobby e tráfico de influência atribuídos ao filho de sua ex-auxiliar.
Um exemplo: a manchete de primeira página da Folha de S.Paulo de
domingo (12/9): "Filho do braço direito de Dilma atua como lobista".
O que estaria acontecendo na grande mídia brasileira?
Controle e dinâmica
Em abril de 2006, no correr da "crise
do mensalão", escrevi neste Observatório [ver "Escândalos midiáticos no
tempo e no espaço"] sobre o conceito de "escândalo político midiático"
(EPM) desenvolvido pelo professor da Universidade de Cambridge, na
Inglaterra, John B. Thompson, em seu aclamado 'O escândalo político –
Poder e visibilidade na era da mídia' (Vozes, 1ª edição, 2002).
O momento é oportuno para retomar os ensinamentos de Thompson.
Os EPM surgem historicamente no
contexto do chamado jornalismo investigativo, combinado com o
crescimento da mídia de massa e a disseminação das tecnologias de
informação e comunicação. E, sobretudo, no quadro das profundas
transformações que ocorreram na natureza do processo político, ainda
dependente, em grande parte, da mídia tradicional. Envolve indivíduos ou
ações situados dentro de um campo ligado à aquisição e ao exercício do
poder político através do uso, dentre outros, do poder simbólico.
Fundamentalmente, o exercício do poder político depende do uso do poder
simbólico para cultivar e sustentar a crença na legitimidade.
O poder simbólico, por sua vez,
refere-se à capacidade de intervir no curso dos acontecimentos, de
influenciar as ações e crenças de outros e também de criar
acontecimentos, através da produção e transmissão de formas simbólicas.
Para exercer esse poder, é necessário a utilização de vários tipos de
recursos, mas, basicamente, usar a grande mídia, que produz e transmite
capital simbólico – vale dizer, controla a visibilidade pública. A
reputação, por exemplo, é um aspecto do capital simbólico, atributo de
um indivíduo ou de uma instituição. O que está em jogo, portanto, num
EPM é o capital simbólico do político, sobretudo sua reputação.
Como a grande mídia se tornou a
principal arena em que as relações do campo político são criadas,
sustentadas e, ocasionalmente, destruídas, a apresentação e repercussão
dos EPM não são características secundárias ou acidentais. Ao contrário,
são partes constitutivas dos próprios EPM.
Escândalo político midiático,
portanto, é o evento que implica a revelação, através da mídia, de
atividades previamente ocultadas e moralmente desonrosas, desencadeando
uma sequência de ocorrências posteriores. O controle e a dinâmica de
todo o processo deslocam-se dos atores inicialmente envolvidos para os
jornalistas e para a mídia.
Jogo de poder
Na verdade, a grande mídia ainda detém
um enorme poder de legitimar a esfera propriamente política através do
tipo de visibilidade pública que a ela oferece. Os atores da esfera
política dependem de visibilidade na esfera midiática para se elegerem
e/ou se manterem no poder. Através desse poder, próprio da esfera
midiática, a grande mídia tenta submeter e controlar o processo
político, em particular os processos eleitorais. É aí que surgem os EPM.
Não seria exatamente a tentativa de
controlar a esfera propriamente política o último recurso que a grande
mídia – declaradamente oposicionista pela voz da presidente da ANJ –
estaria a exercer na construção de EPM a poucas semanas das eleições?
Será que o Brasil de 2010 é o mesmo de 2006, quando tentativa semelhante levou as eleições presidenciais para o segundo turno?
O que está realmente em jogo é o poder
da mídia tradicional – e, por óbvio, dos grupos dominantes do setor –
em tempos de profundas transformações nas comunicações. Em tempos de
internet.
Quem viver verá.
GGN, 29/09/2014
Globo noticia ação terrorista em Brasília associando hotel a Dirceu
Por Cintia Alves
Jornal GGN - Os produtos jornalísticos da Rede Globo
parecem reciclar o expediente adotado no sequestro de Abílio Diniz, que
mudou os rumos da eleição de 1989, para noticiar uma "ação terrorista"
que acontece nesta segunda (29), em Brasília.
O portal G1 e a Globo News publicaram que um sequestro ocorre por
motivação política no mesmo hotel que pretendia contratar o ex-ministro
da Casa Civil José Dirceu (PT), condenado na Ação Penal 470.
De acordo com a polícia, por volta das 8h da manhã um homem com cerca de 30 anos deu entrada no hotel Saint Peter. Ele foi de quarto em quarto apenas no 13º andar e pediu que os hóspedes esvaziassem o edifício. Segundo fontes ouvidas no local, não se trata de roubo ou sequestro com a finalidade de pedir algo em troca, mas sim de "terrorismo".
No início desta tarde, cerca de 300 hóspedes já haviam deixado o local. O sequestrador faz de vítima um dos mensageiros do hotel, que aparece frequentemente na sacada de um quarto, portando um cinto que supostamente contém explosivos. A polícia ainda não confirmou essa informação, mas estima que se de fato a carga for real, ela tem potencial para danificar a estrutura do prédio.
A polícia identificou que o sequestrador tentou uma vaga de vereador no Tocantins pela coligação PP, PTB e PSDB, mas não foi eleito. Segundo informações da Globo News, a corporação avalia que o infrator apresenta desequilíbrio emocional e diz que sua motivação é de ordem política. Em frases desconexas, ele pede a extradição de Cesare Battisti e ampliação da Lei da Ficha Limpa.
A emissora também associou o episódio ao hotel que contrataria Dirceu - algo equivalente a associar um acidente na linha do Metrô paulista ao caso Alstom.
Caso Diniz
Faltando cinco dias para o primeiro turno das eleições, a grande mídia parece insistir em uma bala de prata contra a vantagem da candidata Dilma Rousseff (PT) nas pesquisas de opinião. A lembrança de Dirceu no sequestro de hoje lembra a cobertura de grandes jornais sobre o sequestro do empresário Abílio Diniz, executivo do grupo Pão de Açúcar, em 1989.
Naquele ano, o caso foi revelado às vésperas do segundo turno das eleições. Fernando Collor de Mello (PRN) e Luís Inácio Lula da Silva (PT) disputavam a Presidência. À época, a grande mídia levantou suspeitas sobre o envolvimento do PT no sequestro de Diniz. Após a vitória de Collor, as acusações foram desmentidas. A investigação apontou que os envolvidos na ação foram obrigados a vestir uma camisa da campanha de Lula.
De acordo com a polícia, por volta das 8h da manhã um homem com cerca de 30 anos deu entrada no hotel Saint Peter. Ele foi de quarto em quarto apenas no 13º andar e pediu que os hóspedes esvaziassem o edifício. Segundo fontes ouvidas no local, não se trata de roubo ou sequestro com a finalidade de pedir algo em troca, mas sim de "terrorismo".
No início desta tarde, cerca de 300 hóspedes já haviam deixado o local. O sequestrador faz de vítima um dos mensageiros do hotel, que aparece frequentemente na sacada de um quarto, portando um cinto que supostamente contém explosivos. A polícia ainda não confirmou essa informação, mas estima que se de fato a carga for real, ela tem potencial para danificar a estrutura do prédio.
A polícia identificou que o sequestrador tentou uma vaga de vereador no Tocantins pela coligação PP, PTB e PSDB, mas não foi eleito. Segundo informações da Globo News, a corporação avalia que o infrator apresenta desequilíbrio emocional e diz que sua motivação é de ordem política. Em frases desconexas, ele pede a extradição de Cesare Battisti e ampliação da Lei da Ficha Limpa.
A emissora também associou o episódio ao hotel que contrataria Dirceu - algo equivalente a associar um acidente na linha do Metrô paulista ao caso Alstom.
Caso Diniz
Faltando cinco dias para o primeiro turno das eleições, a grande mídia parece insistir em uma bala de prata contra a vantagem da candidata Dilma Rousseff (PT) nas pesquisas de opinião. A lembrança de Dirceu no sequestro de hoje lembra a cobertura de grandes jornais sobre o sequestro do empresário Abílio Diniz, executivo do grupo Pão de Açúcar, em 1989.
Naquele ano, o caso foi revelado às vésperas do segundo turno das eleições. Fernando Collor de Mello (PRN) e Luís Inácio Lula da Silva (PT) disputavam a Presidência. À época, a grande mídia levantou suspeitas sobre o envolvimento do PT no sequestro de Diniz. Após a vitória de Collor, as acusações foram desmentidas. A investigação apontou que os envolvidos na ação foram obrigados a vestir uma camisa da campanha de Lula.
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