sábado, 20 de setembro de 2014

Ecologistas vão para a direita na política




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Carta Maior, 20/09/2014
 

Ecologistas vão para a direita na política


 
Por Emir Sader




Originalmente as reivindicações ecologistas surgiram no seio dos partidos de esquerda, enriquecendo e ampliando suas plataformas. Na saída da estreita visão de que a resolução da contradição capital x trabalho resolveria a todas as outras, reivindicações de gênero, de etnia, de meio ambiente, vieram renovar a esquerda.

Mas esse processo afetou também os partidos tradicionais da esquerda. Alguns aderiram a variantes do neoliberalismo – como os social democratas ou nacionalistas -, outros foram diretamente afetados pelo fim da URSS – em particular os partidos comunistas. Nesse marco movimentos sociais e mesmo ONGs participaram ativamente da resistência ao neoliberalismo ascendente.

Com as novas temáticas e essas transformações no campo político-partidário, surgiram também novos enfoques teóricos, que passaram a se centrar na “sociedade civil” em lugar de abordagens de classes sociais, com um forte viés anti-Estado, anti-partido, anti-política. O próprio Fórum Social Mundial foi organizado nesse movimento, proibindo a participação de partidos e se localizando no campo da “sociedade civil”.

O partido verde de maior projeção internacional, o alemão, protagonizou o caso mais significativo. Porque teve mais apoio eleitoral, ocupou cargos mais importantes – o de Ministro e Vice-Ministro de Relações Exteriores, com Joschka Fischer, de 1998 a 2005, no governo de Gerhard Schroeder – e aí pôde-se evidenciar mais claramente como o realismo político levou os verdes alemães a desempenhar um papel muito negativo. Fischer apoiou a todas as aventuras militares norte-americanas, incluídas todas as do governo de George Bush.
Na França, sem ocupar cargos de governo, os verdes, sob a liderança de Daniel Cohn-Bendit, se descaracterizaram completamente, até mesmo como força de esquerda. Aqui mesmo no Brasil, a imagem de Fernando Gabeira seguiu trajetória similar e ainda pior, tornando-se aliado estreito dos governos e candidaturas tucanas.

Não é portanto novidade que Marina Silva, aquela que parecia diferenciar-se dos outros lideres verdes ao fazer parte do governo de esquerda no Brasil, terminasse reproduzindo a mesma descaracterização. Seu passado verde já nem deixou marcar na sua plataforma atual – pró capital financeiro e pró capital estrangeiro. É apenas mais um exemplo de que os verdes, quando se destacam da esquerda, terminam, pela via da equidistância da esquerda e da direita, despolitizando-se e fazendo o jogo da direita.

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