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Todos com Marina
Por Guilherme Scalzilli
A figura pública de Marina Silva foi longamente construída
para transformá-la em candidata presidencial. Apesar dos esforços
despendidos, houve quem duvidasse do projeto. As teimosias da
ex-senadora afastavam apoios de amplo espectro, resultando numa base
partidária pequena, esparsa e amadorística. As trapalhadas no registro
da Rede e a submissão aos planos do PSB deixaram-na em posição
secundária, consolidando o indigesto Aécio Neves na disputa.
Papel ingrato, pois nem os bastidores tucanos acreditavam nas pretensões do mineiro. O escândalo do aeroporto e o estranho incêndio na prefeitura local agravaram problemas de imagem que já seriam difíceis de neutralizar numa disputa nacionalizada. Com pouco tempo de propaganda, lutando em duas frentes, rejeitado por setores do próprio PSDB, Aécio teve dificuldade até para equacionar os apoios regionais que lhe faltavam.
Há tempos o meio político sabe que Marina representa a única alternativa capaz de aglutinar o antipetismo no segundo turno. Eduardo Campos frustrava essa expectativa, pois sua trajetória tinha natureza demasiado regional e oligárquica. Além disso, apesar da hipocrisia póstuma dos novos admiradores, Campos era visto com relutância pelo jornalismo corporativo, que temia sua guinada pró-governo durante a polarização na reta final da campanha.
Apadrinhamento da grande imprensa
Após a tragédia, Marina ressurgiu como a última esperança do oposicionismo. Seu programa dúbio de governo recebeu aplausos nos circuitos “especializados” e abriu as portas dos reticentes meandros do tucanato. O plano conservador agora é empurrá-la cada vez mais à direita, forçando os atritos com o PT ao nível da ruptura inconciliável, de maneira que seu eventual governo seja aglutinado pela antiga base de FHC.
Essa estratégia aposta na demonização da campanha dilmista para chocar os setores indecisos do eleitorado e para radicalizar os apoiadores de Marina. Mas é importante lembrar que a reação contra o “terrorismo do PT” só veio quando as críticas à candidata se mostraram eficazes. Depois de passar meses pregando o voto antipetista (“vamos protestar em outubro”) e tolerando os ataques pessoais a Aécio e a Dilma, o bondoso comentarismo não suporta a desconstrução da fantasia messiânica da terceira via.
Que ninguém se engane, portanto, com a falácia de que Marina é vítima de jornalistas tucanos. Essa ideia não sobrevive a uma análise do noticiário ou, principalmente, das colunas de opinião. Aliviados em dispor de um favorito competitivo, certos autores mandaram os escrúpulos às favas e passaram a fazer campanha aberta pela candidata dos sonhos. Os textos recentes de Eliane Cantanhêde na Folha de S.Paulo, por exemplo, são legítimas peças publicitárias de mobilização marinista.
Em época propícia a comparações dolorosas, eis um ponto que Marina compartilha com Fernando Collor e FHC: o vigoroso apadrinhamento da grande imprensa. Daí, podemos abstrair tantas outras semelhanças constrangedoras. Inclusive a tentativa de ocultá-las.
Papel ingrato, pois nem os bastidores tucanos acreditavam nas pretensões do mineiro. O escândalo do aeroporto e o estranho incêndio na prefeitura local agravaram problemas de imagem que já seriam difíceis de neutralizar numa disputa nacionalizada. Com pouco tempo de propaganda, lutando em duas frentes, rejeitado por setores do próprio PSDB, Aécio teve dificuldade até para equacionar os apoios regionais que lhe faltavam.
Há tempos o meio político sabe que Marina representa a única alternativa capaz de aglutinar o antipetismo no segundo turno. Eduardo Campos frustrava essa expectativa, pois sua trajetória tinha natureza demasiado regional e oligárquica. Além disso, apesar da hipocrisia póstuma dos novos admiradores, Campos era visto com relutância pelo jornalismo corporativo, que temia sua guinada pró-governo durante a polarização na reta final da campanha.
Apadrinhamento da grande imprensa
Após a tragédia, Marina ressurgiu como a última esperança do oposicionismo. Seu programa dúbio de governo recebeu aplausos nos circuitos “especializados” e abriu as portas dos reticentes meandros do tucanato. O plano conservador agora é empurrá-la cada vez mais à direita, forçando os atritos com o PT ao nível da ruptura inconciliável, de maneira que seu eventual governo seja aglutinado pela antiga base de FHC.
Essa estratégia aposta na demonização da campanha dilmista para chocar os setores indecisos do eleitorado e para radicalizar os apoiadores de Marina. Mas é importante lembrar que a reação contra o “terrorismo do PT” só veio quando as críticas à candidata se mostraram eficazes. Depois de passar meses pregando o voto antipetista (“vamos protestar em outubro”) e tolerando os ataques pessoais a Aécio e a Dilma, o bondoso comentarismo não suporta a desconstrução da fantasia messiânica da terceira via.
Que ninguém se engane, portanto, com a falácia de que Marina é vítima de jornalistas tucanos. Essa ideia não sobrevive a uma análise do noticiário ou, principalmente, das colunas de opinião. Aliviados em dispor de um favorito competitivo, certos autores mandaram os escrúpulos às favas e passaram a fazer campanha aberta pela candidata dos sonhos. Os textos recentes de Eliane Cantanhêde na Folha de S.Paulo, por exemplo, são legítimas peças publicitárias de mobilização marinista.
Em época propícia a comparações dolorosas, eis um ponto que Marina compartilha com Fernando Collor e FHC: o vigoroso apadrinhamento da grande imprensa. Daí, podemos abstrair tantas outras semelhanças constrangedoras. Inclusive a tentativa de ocultá-las.
Guilherme Scalzilli é historiador e escritor
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