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Jornal GGN, 21/09/2014
Com Marina, menina bonita não paga, mas também não leva
Por Paulo Emílio Douglas de Souza
Aquela brincadeira que nos acostumamos a ouvir desde criança (“Menina bonita não paga, mas também não leva”) parece descrever a candidatura de Marina Silva. Ao vê-la dizendo a que veio, tem-se a impressão de que ela (quase) nada poderia comprometer em termos de ética no trato da coisa pública.
Por outro lado, percebe-se com certa facilidade que, na eventualidade de uma vitória, Marina não faria qualquer diferença para o País. Sua prosa rarefeita, discurso errático e a postura de impertubabilidade professoral kindergarten, não disfarçam o óbvio: ela não tem a menor ideia do que está falando.
Pior que isso, não há projeto estratégico – por elementar que seja – para um país labiríntico como o Brasil. Além, é claro, do PSB (e da própria Marina, caso opte pela saída à francesa na troca de siglas) parecer uma das expedições de Amyr Klink: solitário, ocioso e dispensável.
Seduzidos pela retórica tão fluida quanto oca da acriana, em especial os jovens da classe média urbana mais bem escolarizada e os artistas moderninhos logo aderiram à sua empreitada política.
Apenas dois exemplos, dentre muitos, de posições políticas duvidosas assumidas pela candidata ao longo dos anos: a pesquisa com células-tronco embrionárias e a descentralização da política ambiental brasileira.
A primeira posição possui desdobramentos práticos bastante ruins para o avanço científico no país, uma vez que as células-tronco embrionárias são dotadas de maior capacidade para se transformar em outros tipos de células.
A segunda perspectiva materializou-se em desastre com a criação do Serviço Florestal Brasileiro (SFB) durante seu mandato junto ao Ministério do Meio Ambiente, proposta que golpeou de morte o importante IBAMA.
Por razões de economia de espaço abstenho-me aqui de discutir a matriz religiosa que embasa sua visão de mundo.
Recentemente, alçada à condição de fenômeno, Marina conquistou apoio mais amplo. Quero crer que são três as razões a explicar o protagonismo súbito na campanha de 2014: i) o dramalhão midiático – bem a gosto de um número infindo de brasileiros – montado por ocasião da trágica morte de Eduardo Campos; ii) um adversário pífio do PSDB; e iii) o indefectível e difuso “anseio de mudança”.
O último dos componentes é de longe o mais curioso. Bem ou mal, quer se questione ou não a razoabilidade dos seus efeitos colaterais perversos de longo prazo, o PT tem um projeto para o Brasil que está escancarado e já foi discutido à exaustão. Se se observa Aécio Neves e Marina Silva, a resposta é negativa. Aécio, por pura ausência de uma proposta; e Marina pelo messianismo voluntarioso e bem intencionado, mas que ignora por completo as implicações e o sentido daquilo que (não) propõe. Sendo assim, mudar com base em quê?
Como numa querela digna dos Universais, nada se tem a perder com Marina na Presidência da República, salvo o que há de mais precioso: o tempo para desenvolver-se sócio, econômico e institucionalmente enquanto nação. Vinicius de Morais eternizou em versos, de modo genial, algo que ilustra com perfeição a “alternativa Marina”: “Era uma casa/Muito engraçada/Não tinha teto/Não tinha nada/Ninguém podia/Entrar nela, não/Porque na casa/Não tinha chão”.
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