domingo, 27 de março de 2011

Como surgiu a vida na terra

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Aminoácidos


São Paulo, domingo, 27 de março de 2011

Experiência de 50 anos dá pista sobre origem da vida

RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO

Um experimento clássico, com meio século de idade, voltou a trazer pistas sobre a mais antiga das questões: como surgiu a vida?
O bioquímico Stanley Miller (1930-2007) fez sua primeira simulação da atmosfera primitiva da Terra em 1952. Dois frascos redondos conectados faziam o papel do oceano e da atmosfera, com vapor d'água e gases como metano e hidrogênio; faíscas elétricas faziam as vezes de raios.
"A água no frasco se tornou perceptivelmente rosa depois do primeiro dia. No final da semana, a solução estava profundamente vermelha e turva", relatou Miller em artigo na revista "Science" em 15 de maio de 1953. "A cor vermelha é devida a compostos orgânicos."
Ele tinha produzido aminoácidos, os "tijolos" bioquímicos com os quais são construídas as proteínas.
Guardada em uma coleção de material deixado por Miller estava uma amostra de outro experimento do gênero, feito em 1958, mas misteriosamente não relatado por ele. Um grupo de pesquisadores decidiu analisar a amostra usando técnicas modernas de identificação de compostos químicos.
O experimento de 1958 diferia na composição da "atmosfera"; saía o hidrogênio, entrava o gás sulfídrico.
A equipe, liderada por Jeffrey Bada, da Universidade da Califórnia em San Diego, poderia ter replicado o experimento; mas, como escreveram em artigo na revista científica "PNAS", "a oportunidade única de investigar amostras preparadas pelo pioneiro" era irresistível.
O resultado foi surpreendente. Usando técnicas analíticas mil vezes mais precisas que as de Miller, foram achados 23 aminoácidos diferentes, incluindo a primeira síntese dessas substâncias com enxofre em experimentos do gênero.
"O cenário atual é que compostos simples, feitos por processos como nós descrevemos no artigo, acumularam-se em diversas áreas da Terra primitiva. Em seguida, passaram por processos químicos adicionais, produzindo moléculas cada vez mais complexas", diz Bada.
"A partir da crescente complexidade, uma molécula que poderia catalisar sua própria multiplicação apareceu. E isso teria marcado tanto a origem da vida como o início dos processos evolutivos que deram origem ao moderno mundo de DNA e proteínas", explicou ele à Folha.
Os adeptos da "sopa primordial", como Bada, especulam que, depois dessa fase inicial de autorreplicação, a vida tinha como base o "primo" do DNA, o RNA, mais versátil quimicamente.
Hoje, os cientistas acreditam que a atmosfera primitiva não era como Miller a simulou. Mas Bada diz que condições semelhantes poderiam ter existido em escala local, especialmente vinculadas a emissões de gases por vulcões. E os novos resultados obtidos ao analisar o experimento de 1958 dariam apoio a essa hipótese. Relâmpagos, gases e atividade vulcânica interagiriam para produzir os "tijolos" da vida.

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