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segunda-feira, 21 de março de 2011
O pragmatismo, a sogra, a madrinha e a camisa perigosa
São Paulo, segunda-feira, 21 de março de 2011
Obama elogia "pragmatismo" de Dilma
PATRÍCIA CAMPOS MELLO
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
O presidente Barack Obama gostou do "estilo pragmático" de sua colega Dilma Rousseff e notou uma enorme mudança no posicionamento do governo brasileiro em relação à questão dos direitos humanos.
Nem a abstenção no voto do Conselho de Segurança da ONU sobre uma resolução destinada a proteger civis na Líbia azedou essa impressão, segundo assessores do norte-americano.
"Durante o encontro bilateral que o presidente Obama e a presidente Dilma tiveram, notamos uma enorme mudança, a presidente é realmente apaixonada pela questão dos direitos humanos", disse uma fonte da Casa Branca à Folha.
Em seu encontro de 70 minutos, no sábado em Brasília, os dois líderes conversaram sobre a importância de respeito aos direitos humanos em vários países, mas não discutiram nenhum país específico.
Obama destacou o fato de o Brasil ter se unido à comunidade internacional na condenação de violações a direitos humanos na Líbia.
"Essa condenação é um exemplo de uma série de políticas nas quais a presidente Dilma tem sido muito aberta, e isso une nossos países", disse, em entrevista coletiva ontem no Rio de Janeiro, Dan Restrepo, responsável pelo Hemisfério Ocidental no Conselho de Segurança Nacional dos EUA.
REAPROXIMAÇÃO
Brasil e EUA começaram a se reaproximar depois de a então presidente eleita Dilma conceder uma entrevista ao jornal "Washington Post" dizendo que não iria se abster de condenar violações a direitos humanos em países como o Irã.
A aproximação do Brasil com o Irã era o principal ponto de azedume no relacionamento entre EUA e o governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Portanto, a sinalização de Dilma, apesar de ainda não incluir uma nova posição em relação à questão nuclear iraniana, havia sido comemorada pela Casa Branca.
No encontro bilateral, cimentou-se a mudança, embora Dilma tenha deixado claro que não será seletiva nas condenações a desrespeito a direitos humanos - menção implícita aos EUA, que fazem vista grossa para abusos de países aliados, como a Arábia Saudita.
Restrepo disse que Obama gostou muito do "estilo pragmático da presidente Rousseff". "É muito pragmático, é muito direto", disse.
"Eles passaram 70 minutos conversando, foi o encontro bilateral mais longo que já presenciei", disse Restrepo, que está presente em todas as reuniões do presidente com líderes do Hemisfério Ocidental.
OPINIÃO
Charmoso, primeiro-casal privilegia negros e mulheres
DANUZA LEÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Michelle e Obama são o casal mais sexy e charmoso no governo dos EUA desde Jackie e John Kennedy.
Dilma os recebeu discretamente vestida, usando uma estolinha que não deu para entender. Já Michelle é estilosa: ainda não era meio-dia e ela já usava um conjunto com brilho e o sapato, dourado, era de salto.
Quando foi se despedir, no Palácio do Alvorada, tinha trocado o vestido por outro que também brilhava, e o cabelo preso estava um show. Aliás, ela é um show total.
Mas com todo o respeito: se um presidente brasileiro levasse a sogra e a madrinha da filha em uma visita oficial, seria um escândalo.
Ainda em Brasília, Michelle assistiu a uma banda de percussão - só mulheres -, enquanto Obama percorria uma exposição de arte, com quadros de artistas do país - só mulheres.
Só para lembrar: Dilma Rousseff recebeu Shakira, foi entrevistada por Ana Maria Braga, Hebe Camargo e Claudia Safatle - só mulheres. Por que tanta discriminação com os homens?
No Rio, houve a inevitável ida à favela. Na Cidade de Deus, o casal foi torturado por banda infantil e exibição de capoeira, com Malia e Sasha parecendo morrer de tédio. Folclore e comidas típicas são um perigo.
Os "famosos" que foram convidados para o Municipal: Taís Araújo, Lázaro Ramos, Martinho da Vila, Alcione, Gil, todos afrodescendentes. Por que tanta discriminação com os brancos?
Obama seduziu a plateia, que babou; lá fora houve também manifestações do tipo "o petróleo é nosso"; agora, o "pré-sal é nosso".
Enquanto isso, Michelle e as meninas foram à Cidade do Samba, onde ficaram por uma hora, tendo direito a uma exibição especial da tropa de elite da Grande Rio. Depois, uma aulinha básica de samba, mais percussão, e houve gente que saiu de lá chorando de emoção.
Como foi proibida a entrada da imprensa, não foi possível saber se, na apresentação, havia mulatas de biquíni, marca registrada da nossa cultura.
Michelle e Obama têm um sorriso tão lindo, um porte tão elegante, que poderiam desfilar no Carnaval com garbo, ela porta-bandeira, ele seu príncipe. E que ninguém leve isso para o mal, pois é um enorme elogio.
ANÁLISE OBAMA NO BRASIL
Segurança oficial e simpatia do casal roubam atenção
JANIO DE FREITAS
COLUNISTA DA FOLHA
O segundo ato importante de Barack Obama no Brasil, sendo o primeiro sua conversa reservada com Dilma Rousseff, esperava-se ser o discurso público previsto para a Cinelândia e reduzido a discurso reservado a convidados no Theatro Municipal.
Se a plateia correspondeu ao privilégio do convite, com os aplausos apropriados, o papel de Obama não exige muito rigor para ser descrito assim: um discurso de churrascaria.
Salvou-se uma frase, talvez, pela retórica: "Quando se acende uma luz de liberdade, o planeta fica mais iluminado". Ao que, dada a seleção dos convidados, não houve um maldoso que indagasse: "Por isso, tome de luzes com bombas e foguetes?" No mais, Barack Obama parece ter utilizado o ato no Municipal para oferecer uma síntese da motivação perceptível de sua visita: "Vejam como eu sou simpático".
Para uma visita que devesse dar novo sentido às relações de Brasil e Estados Unidos, não por causa de duas ou três contrariedades causadas à Casa Branca por Lula, mas por sempre, a missão de Obama fez muito pouco. Se fez algo, não divulgado até agora das suas conversas com Dilma Rousseff.
Do que se sabe, o melhor ficou com a presidente. Pela objetividade com que destacou, já que o palavrório visitante tanto se referia a relações de colaboração, o tratamento prejudicial dado pelo governo dos Estados Unidos a um punhado de produtos da exportação brasileira (tratamento discriminatório mesmo em desobediência a julgamento da Organização Mundial de Comércio).
A frase mais repetida a respeito de Barack Obama, nos meios de comunicação brasileiros, é a que o define como "o homem mais poderoso do mundo". É possível.
Mas a suave Patrícia Amorim -uma lição feminina de como dirigir com honestidade e competência um grande clube de futebol- não poderia sequer presentear Obama, cujo helicóptero usou o campo do Flamengo, com uma camisa do time.
A "segurança" de Obama tinha considerado a camisa tão ameaçadora quanto uma pessoa ter qualquer coisa na mão, ao se aproximar do presidente. Patrícia foi vestida com a camisa.
É o homem mais poderoso ou o mais frágil? (Em tempo: Patrícia Amorim não respondeu, como poderia, que, se a camisa e mesmo ela são tão perigosos, Obama que baixasse em outro lugar, não mais no Flamengo).
O pior da "segurança" em proporções estúpidas é que os locais a tomam como eficiência em nível máximo e exemplar.
Há anos, se um avião com o presidente brasileiro está em voo, o tráfego aéreo é alterado, como se também aqui o avião presidencial estivesse sob risco de ataque da Al Qaeda.
De uma visita que fez tantos esperarem tanto, com as pretensas antecipações de numerosos tratados, o "esquema de segurança" foi o que mais atraiu atenção.
E, claro, a simpatia do casal. À qual o "glamour" da jovem senhora dá, esta sim, uma boa segurança.
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