quarta-feira, 23 de março de 2011

Um pretexto denominado "direitos humanos"

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São Paulo, quarta-feira, 23 de março de 2011
Editoriais

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Bahrein, Iêmen, Líbia

Na sexta-feira, atiradores abriram fogo contra manifestantes no Iêmen. A brutalidade, atribuída a sicários da ditadura de Ali Abdullah Saleh, deixou 50 mortos.
No Bahrein, força estrangeira de 2.000 homens, sob liderança saudita, foi convidada pela monarquia para reprimir protestos.
Do Ocidente, tudo que se ouviu nos dois casos foram pedidos, não exigências, de moderação. À luz do ataque à Líbia, evidencia-se o uso de dois pesos e duas medidas.
O massacre iemenita acelerou a marcha da instabilidade. Facções importantes dos militares, de lideranças religiosas e da diplomacia se voltaram contra o ditador.
Os EUA, diante do grave quadro de violação humanitária, limitaram-se a manifestar preocupação com um eventual vácuo de poder. O secretário de Defesa, Robert Gates, sem disfarçar o real interesse em jogo, disse que a instabilidade pode favorecer um braço da Al Qaeda que atua no Iêmen.
No Bahrein, onde a incursão saudita foi seguida da decretação de lei marcial por três meses, a reação da comunidade internacional também parece incoerente.
O contraste com a Líbia, onde os confrontos entre as forças do ditador Muammar Gaddafi e os rebeldes assumem aspecto de guerra civil, é por demais óbvio.
O objetivo declarado da intervenção militar, proteger civis, foi ultrapassado pelos ataques ocidentais, que incluíram prédios do governo e podem ter vitimado não combatentes. Como já estava patente desde a primeira hora, o propósito de franceses, britânicos e americanos é remover Gaddafi.
A diferença de tratamento repousa, como se sabe, no tipo de ligação dos ditadores com as potências ocidentais. Gaddafi, após décadas como o "cachorro louco" do mundo árabe, foi nos últimos anos cortejado pelas nações que agora lhe fazem guerra, França e Reino Unido à frente.
Já os ditadores iemenita e bareinita têm um histórico de aliados mais confiáveis. O Bahrein abriga a Quinta Frota americana. O Iêmen serve há anos como base para a caça a extremistas islâmicos.
Não se trata de minimizar atrocidades do regime líbio. Mas fica evidente que os direitos humanos podem servir, na política mundial, mais de pretexto do que valer por sua universalidade.

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