Caio Sarack
São os embates entre pressupostos críticos que dão luz a um debate, e é esta a grande perda do programa Roda Viva desde a entrada de Augusto Nunes. A condução de Nunes não chegou nem ao seu décimo programa e já foi suficiente pra tirar qualquer dúvida que se possa ter sobre a nova conformação do Roda Viva.
Frases como “não há expoente maior da esquerda que Fernando Henrique Cardoso, enquanto outros propugnavam por salários melhores e ditaduras de outra natureza”, do ex-ministro do STF nos dois anos Collor, Francisco Rezek, mostram - e resumem - que matiz assumiu o programa da TV Cultura. Já desde a saída de Mario Sergio Conti, ilustrado e aristocrático, mas muito mais contido ideologicamente, o programa se tornou uma espécie de cobertura ao vivo, fora do horário comercial, das mais conservadoras redações.
Estadão, Folha, Veja, todos na bancada. O debate vai se suavizando e se transforma numa conversa casual, um papo entre amigos. Rigor dá lugar ao mais maniqueísta achismo, um boteco televisionado.
Espionagem americana: nada de novo no front, nós que entendamos o consolidado modo de fazer política no mundo, disse o jurista Rezek. Bolívia e o senador exilado: sentimento de orfandade dos diplomatas explica o impulso de Eduardo Saboia. A capa do supremo parecia estar ainda nas costas do ex-ministro, mas a capa quem pôs não foi o próprio ministro. Indulgentes a todas respostas, os entrevistadores pareciam completar-se, consolidavam suas opiniões e nada mais. O ex-ministro tem um fortíssimo vício: a mais habitual e deteriorada “social-democracia” neoliberal.
E como um bom social-democrata brasileiro - com todas as suas ideias fora do lugar - não questiona seu tio favorito. Os Estados Unidos nada mais fazem do que é habitual, segundo o ex-ministro, cabe a quem espionar o mérito de não ser pego, isto é, nada passa de uma questão de competência. Qualquer tentativa de criar uma lei internacional que queira dar cabo dessas intromissões, sempre segundo o jurista, é ridiculamente ingênua.
O contra-argumento de que agora as cartas estão na mesa e por isso é melhor que assim seja, não passa de ingenuidade: o mediador usa os termos que cunha em suas colunas, a bancada endossa e mais: o entrevistado concorda. As contradições não se expressam, porque não há contradição. O centro reproduz as beiradas.
A maior questão está, no entanto, na constante pauta conservadora do programa, o que antes chegava no pluralismo formal (também ruim e insuficiente) mas competente de Mario Sergio Conti, hoje chega em níveis absurdos de parcialidade panfletária.
A tevê pública tomou forma como espelho do velho mercado conservador que não caduca nunca. A perda do Roda Viva não foi só pela falta de competência de quem agora media as perguntas da bancada e respostas do entrevistado, mas também porque o programa não esgarça qualquer questão. O diagnóstico conservador perpassa todos os momentos do programa, até mesmo as perguntas mais diretas, "o senhor é a favor do embargos infringentes?", são interrompidas por postulados arrogantes. O jurista não se mostra a favor ou contra, não o deixam, não se faz questão de nada novo. Fizeram o mesmo com Miguel Reale Jr (no programa de estreia de Nunes), quando citou o caso do mensalão tucano e nada de lá foi extraído, nem mesmo a presença de Raimundo Rodrigues Pereira conseguiu dar ânimo às controvérsias da Ação Penal 470.
Desde a seleção cuidadosa de quem estará no centro da roda até a bancada estupidamente unânime o programa se transforma no espaço de moralização e superfície.
Frases como “não há expoente maior da esquerda que Fernando Henrique Cardoso, enquanto outros propugnavam por salários melhores e ditaduras de outra natureza”, do ex-ministro do STF nos dois anos Collor, Francisco Rezek, mostram - e resumem - que matiz assumiu o programa da TV Cultura. Já desde a saída de Mario Sergio Conti, ilustrado e aristocrático, mas muito mais contido ideologicamente, o programa se tornou uma espécie de cobertura ao vivo, fora do horário comercial, das mais conservadoras redações.
Estadão, Folha, Veja, todos na bancada. O debate vai se suavizando e se transforma numa conversa casual, um papo entre amigos. Rigor dá lugar ao mais maniqueísta achismo, um boteco televisionado.
Espionagem americana: nada de novo no front, nós que entendamos o consolidado modo de fazer política no mundo, disse o jurista Rezek. Bolívia e o senador exilado: sentimento de orfandade dos diplomatas explica o impulso de Eduardo Saboia. A capa do supremo parecia estar ainda nas costas do ex-ministro, mas a capa quem pôs não foi o próprio ministro. Indulgentes a todas respostas, os entrevistadores pareciam completar-se, consolidavam suas opiniões e nada mais. O ex-ministro tem um fortíssimo vício: a mais habitual e deteriorada “social-democracia” neoliberal.
E como um bom social-democrata brasileiro - com todas as suas ideias fora do lugar - não questiona seu tio favorito. Os Estados Unidos nada mais fazem do que é habitual, segundo o ex-ministro, cabe a quem espionar o mérito de não ser pego, isto é, nada passa de uma questão de competência. Qualquer tentativa de criar uma lei internacional que queira dar cabo dessas intromissões, sempre segundo o jurista, é ridiculamente ingênua.
O contra-argumento de que agora as cartas estão na mesa e por isso é melhor que assim seja, não passa de ingenuidade: o mediador usa os termos que cunha em suas colunas, a bancada endossa e mais: o entrevistado concorda. As contradições não se expressam, porque não há contradição. O centro reproduz as beiradas.
A maior questão está, no entanto, na constante pauta conservadora do programa, o que antes chegava no pluralismo formal (também ruim e insuficiente) mas competente de Mario Sergio Conti, hoje chega em níveis absurdos de parcialidade panfletária.
A tevê pública tomou forma como espelho do velho mercado conservador que não caduca nunca. A perda do Roda Viva não foi só pela falta de competência de quem agora media as perguntas da bancada e respostas do entrevistado, mas também porque o programa não esgarça qualquer questão. O diagnóstico conservador perpassa todos os momentos do programa, até mesmo as perguntas mais diretas, "o senhor é a favor do embargos infringentes?", são interrompidas por postulados arrogantes. O jurista não se mostra a favor ou contra, não o deixam, não se faz questão de nada novo. Fizeram o mesmo com Miguel Reale Jr (no programa de estreia de Nunes), quando citou o caso do mensalão tucano e nada de lá foi extraído, nem mesmo a presença de Raimundo Rodrigues Pereira conseguiu dar ânimo às controvérsias da Ação Penal 470.
Desde a seleção cuidadosa de quem estará no centro da roda até a bancada estupidamente unânime o programa se transforma no espaço de moralização e superfície.
Caio Sarack é estudante de filosofia na USP e estagiário da Carta Maior.
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