Condor: operação militar que mata, tortura e sequestra pessoas
Gérson Trajano
Em ‘Condor’, documentário de Roberto Mader (2007), sobre uma operação conjunta dos governos militares dos países do Cone Sul nos anos 1970: Brasil, Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai e Uruguai, com o apoio dos Estados Unidos, a fim de neutralizar e reprimir qualquer ação que se opunha aos regimes e que vitimou mais de 30 mil pessoas, segundo dados das comissões de Direitos Humanos na América Latina, Jarbas Passarinho pede para que esqueçamos os mortos durante o período militar e que o Brasil vire logo essa página da história.
Passarinho, ex-coronel do exército brasileiro, foi ministro de três governos militares durante a ditadura (1964-1985), senador da República e ainda comandou a pasta da Justiça na gestão Fernando Collor (1990-1992). Em outro depoimento no filme, ele admite que houve um golpe de Estado no Brasil em 1964. “Nós tivemos que almoçá-los antes que eles nos jantassem”, diz, como justificativa para a conduta dos militares.
O coronel também admite a existência da operação Condor, afirmando que ela foi muito mais do que apenas uma troca de informações. Durante duas décadas negou-se a existência dessa operação, sendo tratada como um exagero paranóico, um revanchismo por parte das vítimas e de seus familiares oprimidos pelos governos militares.
A operação foi instituída em novembro de 1975 no Chile, onde os militares dos seis países assinaram um documento que estabelecia uma aliança na troca de informações sobre os ativistas de esquerda, práticas contra alvos suspeitos e ações em países estrangeiros. Curiosamente, o Brasil participou da aliança mas não assinou o acordo.
A operação tinha como função principal combater o terrorismo internacional, que era representado pelos comunistas. Mas a ação não distinguia os meros opositores políticos e ideológicos dos que pegaram em armas para derrubar as ditaduras, mas sendo da mesma maneira, presos, sequestrados, torturados e assassinados brutalmente.
O filme de Mader não fala das estatísticas de mortos e desaparecidos, ou entrevista especialistas sobre o assunto. O diretor preferiu apresentar histórias humanas de pessoas cuja vidas mudaram para sempre em decorrência do acordo firmado em 75. Como é o caso da uruguaia Sara Mendez, que foi seqüestrada com seu filho Simón, que tinha poucas semana de vida. Depois de torturada e solta, ela começou uma incansável procura pelo filho e só o reencontrou 25 anos depois. Simón havia sido criado por um pai policial.
A também uruguaia Victoria Larraberti, teve seus pais presos e torturados. A família fugiu para a Argentina, quando Victoria tinha um ano e meio de idade e seu irmão, Anatole, quatro anos de vida. Os pais foram capturados e assassinados na frente dos filhos. Victoria e seu irmão foram levados de volta ao Uruguai e mantidos em centros de detenção até que finalmente foram levados para um terceiro país, o Chile de Pinochet. Lá, foram adotados e mesmo depois de encontrados pela família biológica continuaram vivendo no Chile.
O documentário descreve com detalhes a operação, mostrando as evidências dos assassinatos políticos de Orlando Letelier, em Washington (Estados Unidos), e de Carlos Prats, em Buenos Aires (Argentina), ambas figuras de destaque no governo Salvador Allende, presidente deposto por Augusto Pinochet em 1973. Mostra também a dimensão da operação, que, em determinados momentos, chegou a eliminar simultaneamente mais de uma centena de opositores do regime militar chileno.
Patrício Polanco, dirigente do MIR – Movimento de Esquerda Revolucionário –, que defendia a luta armada, mesmo enquanto ocupava um posto no governo Allende, fala de como resistiu às humilhações e às degradações num campo de concentração criado pelo governo Pinochet exclusivamente para torturar e matar seus opositores. O filme revela as únicas imagens feitas num campo de concentração chileno dessa época.
A operação fechou o cerco sobre toda a esquerda latino-americana. Quando do golpe em 1964 no Brasil, muitos esquerdista fugiram para o Chile, mas com a queda de Allende e a Condor em execução, Pinochet passou a perseguir os brasileiros em seu país e a informar o governo brasileiro.
A opção de muitos foi se refugiar na Argentina. Mas a partir de 1976, com o governo do general Jorge Videla, já não era tão seguro viver no país, que com os militares no poder viveu uma das ditaduras mais sangrentas na região.
O documentário traz ainda uma entrevista com John Dinges, escritor e jornalista, autor do livro Os anos Condor. Ele conta como foi a participação do general Manoel Contreras, braço direito de Pinochet e comandante da polícia secreta do Chile durante a pior fase de terror do estado chileno.
Contreras foi um dos idealizadores da operação Condor e de 1973 a 1978 comandou a Dina – Direção Nacional de Inteligência – apontada como responsável pelo assassinato e desaparecimento de 3. 200 pessoas. No filme, ele diz que nos quartéis da Dina nunca se torturou ninguém. Segundo ele, isso não passava de propaganda comunista.
Atualmente Contrares está em prisão militar, onde cumpre 400 anos de pena por desaparecimentos, execuções e torturas de pessoas quando comandava a polícia política de Pinochet.
Passarinho, ex-coronel do exército brasileiro, foi ministro de três governos militares durante a ditadura (1964-1985), senador da República e ainda comandou a pasta da Justiça na gestão Fernando Collor (1990-1992). Em outro depoimento no filme, ele admite que houve um golpe de Estado no Brasil em 1964. “Nós tivemos que almoçá-los antes que eles nos jantassem”, diz, como justificativa para a conduta dos militares.
O coronel também admite a existência da operação Condor, afirmando que ela foi muito mais do que apenas uma troca de informações. Durante duas décadas negou-se a existência dessa operação, sendo tratada como um exagero paranóico, um revanchismo por parte das vítimas e de seus familiares oprimidos pelos governos militares.
A operação foi instituída em novembro de 1975 no Chile, onde os militares dos seis países assinaram um documento que estabelecia uma aliança na troca de informações sobre os ativistas de esquerda, práticas contra alvos suspeitos e ações em países estrangeiros. Curiosamente, o Brasil participou da aliança mas não assinou o acordo.
A operação tinha como função principal combater o terrorismo internacional, que era representado pelos comunistas. Mas a ação não distinguia os meros opositores políticos e ideológicos dos que pegaram em armas para derrubar as ditaduras, mas sendo da mesma maneira, presos, sequestrados, torturados e assassinados brutalmente.
O filme de Mader não fala das estatísticas de mortos e desaparecidos, ou entrevista especialistas sobre o assunto. O diretor preferiu apresentar histórias humanas de pessoas cuja vidas mudaram para sempre em decorrência do acordo firmado em 75. Como é o caso da uruguaia Sara Mendez, que foi seqüestrada com seu filho Simón, que tinha poucas semana de vida. Depois de torturada e solta, ela começou uma incansável procura pelo filho e só o reencontrou 25 anos depois. Simón havia sido criado por um pai policial.
A também uruguaia Victoria Larraberti, teve seus pais presos e torturados. A família fugiu para a Argentina, quando Victoria tinha um ano e meio de idade e seu irmão, Anatole, quatro anos de vida. Os pais foram capturados e assassinados na frente dos filhos. Victoria e seu irmão foram levados de volta ao Uruguai e mantidos em centros de detenção até que finalmente foram levados para um terceiro país, o Chile de Pinochet. Lá, foram adotados e mesmo depois de encontrados pela família biológica continuaram vivendo no Chile.
O documentário descreve com detalhes a operação, mostrando as evidências dos assassinatos políticos de Orlando Letelier, em Washington (Estados Unidos), e de Carlos Prats, em Buenos Aires (Argentina), ambas figuras de destaque no governo Salvador Allende, presidente deposto por Augusto Pinochet em 1973. Mostra também a dimensão da operação, que, em determinados momentos, chegou a eliminar simultaneamente mais de uma centena de opositores do regime militar chileno.
Patrício Polanco, dirigente do MIR – Movimento de Esquerda Revolucionário –, que defendia a luta armada, mesmo enquanto ocupava um posto no governo Allende, fala de como resistiu às humilhações e às degradações num campo de concentração criado pelo governo Pinochet exclusivamente para torturar e matar seus opositores. O filme revela as únicas imagens feitas num campo de concentração chileno dessa época.
A operação fechou o cerco sobre toda a esquerda latino-americana. Quando do golpe em 1964 no Brasil, muitos esquerdista fugiram para o Chile, mas com a queda de Allende e a Condor em execução, Pinochet passou a perseguir os brasileiros em seu país e a informar o governo brasileiro.
A opção de muitos foi se refugiar na Argentina. Mas a partir de 1976, com o governo do general Jorge Videla, já não era tão seguro viver no país, que com os militares no poder viveu uma das ditaduras mais sangrentas na região.
O documentário traz ainda uma entrevista com John Dinges, escritor e jornalista, autor do livro Os anos Condor. Ele conta como foi a participação do general Manoel Contreras, braço direito de Pinochet e comandante da polícia secreta do Chile durante a pior fase de terror do estado chileno.
Contreras foi um dos idealizadores da operação Condor e de 1973 a 1978 comandou a Dina – Direção Nacional de Inteligência – apontada como responsável pelo assassinato e desaparecimento de 3. 200 pessoas. No filme, ele diz que nos quartéis da Dina nunca se torturou ninguém. Segundo ele, isso não passava de propaganda comunista.
Atualmente Contrares está em prisão militar, onde cumpre 400 anos de pena por desaparecimentos, execuções e torturas de pessoas quando comandava a polícia política de Pinochet.
Kerry, Kissinger e o outro 11 de setembro
Amy Goodman - Democracy Now
Enquanto a intervenção militar do presidente Obama na Síria parece ter sido adiada de momento, chama a atenção que o secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry, se tenha reunido com um dos seus antecessores, Henry Kissinger, para supostamente falarem da estratégia das próximas negociações sobre a Síria com funcionários russos. A reunião entre Kerry e Kissinger e a oposição pública ao ataque à Síria, que ambos apoiam, deveriam ser vistas à luz do que aconteceu a 11 de setembro, mas de 1973.
Naquele dia, há 40 anos, o presidente democraticamente eleito do Chile, Salvador Allende, foi derrubado violentamente por um golpe de Estado que contou com o apoio dos Estados Unidos. O general Augusto Pinochet assumiu o controlo do país e deu início a dezessete anos de um regime militar de terror, no qual mais de 3.000 chilenos foram assassinados ou desapareceram, o mesmo número de pessoas, aproximadamente, que morreram no 11 de setembro de 2001. Allende, que era socialista, contava com muito apoio popular no seu país, mas as suas política eram o anátema das elites do Chile e dos Estados Unidos, pelo que o então presidente norte-americano, Richard Nixon, e o seu secretário de Estado e assessor de segurança nacional, Henry Kissinger, apoiaram as tentativas de derrubá-lo.
O papel que Kissinger desempenhou na planificação do golpe de Estado no Chile em 1973 fica mais claro à medida que passam os anos e surgem novos documentos, que o próprio Kissinger tentou manter em segredo. Peter Kornbluh, da organização sem fins lucrativos National Security Archive (Arquivo de Segurança Nacional), revelou as provas durante anos, e recentemente atualizou o seu livro “Pinochet: os arquivos secretos”. Kornbluh disse-me que Kissinger “foi o principal responsável pela elaboração da política de derrubar Allende e inclusive de apoiar Pinochet e as violações dos direitos humanos que ocorreram durante o seu regime”. Afirmou que Kissinger “pressionou Nixon para que assumisse uma política agressiva, mas secretamente, para conseguir derrubar Allende, desestabilizar a sua capacidade de governar e gerar o que Kissinger denominou 'um clima golpista'”.
O regime de Pinochet foi violento, repressivo e um aliado próximo dos Estados Unidos. Pinochet formou alianças com outros regimes militares da América do Sul, que criaram o “Plano Condor”, uma campanha de terrorismo de Estado e assassinatos coordenados na Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai. O Plano Condor chegou até às ruas de Washington DC quando, a 21 de setembro de 1976, o ex-embaixador chileno nos Estados Unidos durante o governo de Allende, Orlando Letelier, foi assassinado juntamente com o seu assistente, um cidadão norte-americano chamado Ronni Moffitt, num atentado com um carro bomba perpetrado pela polícia secreta de Pinochet na zona das embaixadas, a poucos quarteirões da Casa Branca.
Finalmente, após a crescente condenação mundial e a resistência não violenta dentro do seu país, o regime de Pinochet viu-se obrigado a realizar um plebiscito no qual se decidiria se Pinochet devia continuar como ditador no Chile. A população rejeitou o governo de Pinochet com um “Não” rotundo e inaugurou a atual era democrática no Chile.
Pelo menos dois cidadãos norte-americanos foram assassinados durante o golpe de 1973. Charles Horman e Frank Teruggi viajaram para o Chile para testemunharem a experiência democrática que se estava a desenvolver no país. Trabalhavam como escritores e jornalistas. O seu sequestro e assassinato por parte das forças de Pinochet, com a possível colaboração do governo norte-americano, foram representados no filme “Desaparecido” do realizador Costa Gravas, com Jack Lemon e Sissy Spacek como protagonistas. No Chile, o filme “Desaparecido” foi proibido pelo regime de Pinochet. No 40º aniversário do golpe de Estado, a viúva de Charles Horman, Joyce Horman, realizou uma cerimónia evocativa na cidade de Nova York. O evento foi organizado pela fundação Charles Horman Truth Foundation e atraiu centenas de pessoas, muitas das quais fizeram parte do governo de Allende, perderam familiares durante a ditadura ou viram-se obrigadas a exilar-se do Chile durante aqueles anos terríveis.
Entre os presentes estava Juan Garcés, um cidadão espanhol que foi assessor pessoal do presidente Allende. Garcés estava com Allende no Palácio de La Moneda no dia 11 de setembro de 1973. Pouco antes do palácio ser bombardeado pela força aérea, Allende acompanhou Garcés à porta e disse-lhe que saísse e contasse ao mundo o que tinha acontecido naquele dia.
Allende morreu durante o golpe e Garcés apenas conseguiu escapar do Chile com vida. Anos depois apresentou uma denúncia penal contra Pinochet e finalmente conseguiu que fosse preso na Grã-Bretanha em 1998, onde Pinochet permaneceu detido durante 504 dias. Ainda que Pinochet tenha podido finalmente regressar ao Chile, mais tarde foi processado lá e teve que enfrentar um julgamento e a prisão. Morreu em 2006 em prisão domiciliária aos 91 anos de idade.
Hoje, Juan Garcés considera que há alarmantes semelhanças entre a repressão no Chile e as atuais políticas norte-americanas: “Realizam deportações extraordinárias de presos, execuções extrajudiciais. Têm centros de detenção secretos. O recurso de habeas corpus é ineficaz. Preocupa-me muito que os mesmos métodos que foram utilizados no Chile durante a ditadura, com o conhecimento e o apoio do governo de Nixon e Kissinger, agora estejam a ser utilizados em muitos países, com outra desculpa, com o apoio dos Estados Unidos. Considero que é algo muito perigoso para todos”.
Em vez de reunir com Kissinger para procurar assessoria, John Kerry deveria apoiar a paz e consultar pessoas como Garcés, que dedicaram a sua vida a lutar por essa causa. O único motivo pelo qual se deverá procurar Kissinger é para levá-lo a tribunal, tal como aconteceu com Pinochet.
Naquele dia, há 40 anos, o presidente democraticamente eleito do Chile, Salvador Allende, foi derrubado violentamente por um golpe de Estado que contou com o apoio dos Estados Unidos. O general Augusto Pinochet assumiu o controlo do país e deu início a dezessete anos de um regime militar de terror, no qual mais de 3.000 chilenos foram assassinados ou desapareceram, o mesmo número de pessoas, aproximadamente, que morreram no 11 de setembro de 2001. Allende, que era socialista, contava com muito apoio popular no seu país, mas as suas política eram o anátema das elites do Chile e dos Estados Unidos, pelo que o então presidente norte-americano, Richard Nixon, e o seu secretário de Estado e assessor de segurança nacional, Henry Kissinger, apoiaram as tentativas de derrubá-lo.
O papel que Kissinger desempenhou na planificação do golpe de Estado no Chile em 1973 fica mais claro à medida que passam os anos e surgem novos documentos, que o próprio Kissinger tentou manter em segredo. Peter Kornbluh, da organização sem fins lucrativos National Security Archive (Arquivo de Segurança Nacional), revelou as provas durante anos, e recentemente atualizou o seu livro “Pinochet: os arquivos secretos”. Kornbluh disse-me que Kissinger “foi o principal responsável pela elaboração da política de derrubar Allende e inclusive de apoiar Pinochet e as violações dos direitos humanos que ocorreram durante o seu regime”. Afirmou que Kissinger “pressionou Nixon para que assumisse uma política agressiva, mas secretamente, para conseguir derrubar Allende, desestabilizar a sua capacidade de governar e gerar o que Kissinger denominou 'um clima golpista'”.
O regime de Pinochet foi violento, repressivo e um aliado próximo dos Estados Unidos. Pinochet formou alianças com outros regimes militares da América do Sul, que criaram o “Plano Condor”, uma campanha de terrorismo de Estado e assassinatos coordenados na Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai. O Plano Condor chegou até às ruas de Washington DC quando, a 21 de setembro de 1976, o ex-embaixador chileno nos Estados Unidos durante o governo de Allende, Orlando Letelier, foi assassinado juntamente com o seu assistente, um cidadão norte-americano chamado Ronni Moffitt, num atentado com um carro bomba perpetrado pela polícia secreta de Pinochet na zona das embaixadas, a poucos quarteirões da Casa Branca.
Finalmente, após a crescente condenação mundial e a resistência não violenta dentro do seu país, o regime de Pinochet viu-se obrigado a realizar um plebiscito no qual se decidiria se Pinochet devia continuar como ditador no Chile. A população rejeitou o governo de Pinochet com um “Não” rotundo e inaugurou a atual era democrática no Chile.
Pelo menos dois cidadãos norte-americanos foram assassinados durante o golpe de 1973. Charles Horman e Frank Teruggi viajaram para o Chile para testemunharem a experiência democrática que se estava a desenvolver no país. Trabalhavam como escritores e jornalistas. O seu sequestro e assassinato por parte das forças de Pinochet, com a possível colaboração do governo norte-americano, foram representados no filme “Desaparecido” do realizador Costa Gravas, com Jack Lemon e Sissy Spacek como protagonistas. No Chile, o filme “Desaparecido” foi proibido pelo regime de Pinochet. No 40º aniversário do golpe de Estado, a viúva de Charles Horman, Joyce Horman, realizou uma cerimónia evocativa na cidade de Nova York. O evento foi organizado pela fundação Charles Horman Truth Foundation e atraiu centenas de pessoas, muitas das quais fizeram parte do governo de Allende, perderam familiares durante a ditadura ou viram-se obrigadas a exilar-se do Chile durante aqueles anos terríveis.
Entre os presentes estava Juan Garcés, um cidadão espanhol que foi assessor pessoal do presidente Allende. Garcés estava com Allende no Palácio de La Moneda no dia 11 de setembro de 1973. Pouco antes do palácio ser bombardeado pela força aérea, Allende acompanhou Garcés à porta e disse-lhe que saísse e contasse ao mundo o que tinha acontecido naquele dia.
Allende morreu durante o golpe e Garcés apenas conseguiu escapar do Chile com vida. Anos depois apresentou uma denúncia penal contra Pinochet e finalmente conseguiu que fosse preso na Grã-Bretanha em 1998, onde Pinochet permaneceu detido durante 504 dias. Ainda que Pinochet tenha podido finalmente regressar ao Chile, mais tarde foi processado lá e teve que enfrentar um julgamento e a prisão. Morreu em 2006 em prisão domiciliária aos 91 anos de idade.
Hoje, Juan Garcés considera que há alarmantes semelhanças entre a repressão no Chile e as atuais políticas norte-americanas: “Realizam deportações extraordinárias de presos, execuções extrajudiciais. Têm centros de detenção secretos. O recurso de habeas corpus é ineficaz. Preocupa-me muito que os mesmos métodos que foram utilizados no Chile durante a ditadura, com o conhecimento e o apoio do governo de Nixon e Kissinger, agora estejam a ser utilizados em muitos países, com outra desculpa, com o apoio dos Estados Unidos. Considero que é algo muito perigoso para todos”.
Em vez de reunir com Kissinger para procurar assessoria, John Kerry deveria apoiar a paz e consultar pessoas como Garcés, que dedicaram a sua vida a lutar por essa causa. O único motivo pelo qual se deverá procurar Kissinger é para levá-lo a tribunal, tal como aconteceu com Pinochet.
Artigo publicado em “Truthdig” e "Democracy Now" em 11 de setembro de 2013. Denis Moynihan colaborou na produção jornalística desta coluna. Texto em inglês traduzido por Mercedes Camps para espanhol. Tradução para português de Carlos Santos para Esquerda.net
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