terça-feira, 28 de março de 2017

O país do "somos todos Ronaldinhos"...

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Jornal GGN, 28/03/17





O país do "somos todos Ronaldinhos"...



Por Eduardo Ramos




...o país do "somos todos Ronaldinhos"... ou "do narcisismo nonsense enquanto doença social perversa..." . Não há muita diferença intelectual e psíquica entre Ronaldo-Fenômeno, cracaço de bola brasileiro e os brasileiros de nossa elite social e classe média alta. Se observarmos os argumentos de nossos amigos e familiares, mesmo os com grande cultura acadêmica, mestrados, doutorados, viagens pelo mundo afora, percebemos apenas que o "VERNIZ" destes últimos é mais requintado que o verniz do ex-jogador, apenas isso. No mais, são ABSOLUTAMENTE SEMELHANTES, no orgulho que sentem em pertencer à classe social dos dez milhões de brasileiros com mais dinheiro - em nossa cultura, significando tal fato, pertencer "à casta dos vencedores" - a turma NARCÍSICA por excelência.

Não preciso ler estatísticas para afirmar que a maioria desses brasileiros veio de uma condição social inferior à que ocupa hoje. Ora, conheci ao longo da vida milhares dessas pessoas, muitas com belas histórias de vida, de lutas, esforço, superação, vitórias justas, insofismáveis! Orgulham-se disso, e não consigo ver nisso um demérito, não mesmo. Vejo DEMÉRITO IMENSO, imperdoável, do que fizeram a si mesmos, por conta de suas vitórias pessoais na vida, os MUROS de indiferença que foram construindo em torno de si, suas famílias e de sua classe social. Veremos como tem muito a ver com o verdadeiro nojo, repulsa que sentem, por exemplo, em relação a Lula.... - um nojo jamais devotado ao repulsivo e inócuo Aécio Neves, que nada tem a apresentar de bom em sua biografia, pessoal ou política, um ser medíocre, violento, covarde, envolvido até a medula em diversas corrupções já provadas.

Apenas um exemplo óbvio, que todo o furor, a selvageria com que as vezes desperta essa nossa elite e classe média, NADA TEM A VER com "política" (apesar de suas ações serem políticas no sentido de destruir uma ideologia e levantar outra...) nem com "combate à corrupção" ou coisa que o valha, esses são apenas "motes", por eles levantados, para que sua nudez torpe, obscura, preconceituosa, narcísica, fanática, odiosa mesmo, não apareça a eles mesmos, diante dos espelhos.

Qual o significado para Ronaldinho, de ser aceito nas rodas sociais de Aécio, ser celebrado, amado, "fazer parte de..."? - Significa a superação de todos os complexos que vivenciou até os 17 anos, família paupérrima, o pertencer à classe social das pessoas "invisíveis", as que podem apanhar da polícia ou mesmo serem mortas, sem que ninguém se importe, o "Brasil que não conta" é alvo de crueldades, humilhações insuportáveis, torna a vida algo INDIGNO...

Ora, se Lula era o ícone da "MERDA" para os brasileiros dessas classes sociais finalmente a ele acessíveis, unamo-nos ao coro! - gritará sua mente, inconscientemente, por instinto de defesa, de sobrevivência, de não querer ser o "ET" do novo grupo, das boates caras, das mulheres lindas, de um status tão inatingível, e, finalmente, à mão.

Dos dez milhões de brasileiros com mais renda social entre os 40 e 60 anos, nem 10% tiveram pais com o mesmo grau de luxo e conforto que hoje usufruem, e são esses brasileiros, apenas CINCO POR CENTO de nossa população, os mais selvagens odiadores de Lula, PT, programas sociais. Entre estes, 85% mais ou menos votaram em Aécio nas últimas eleições, provavelmente, número igual dos que foram às ruas pelo impeachment, a prisão de Lula, o "fora PT", o endeusamento de Sérgio Moro.

O que essa turma tem de semelhança com Ronaldo? A auto-estima exacerbadíssima, o narcisismo elevado à lua, pela sensação de "vitória", de "ser exceção no país de perdedores", a sensação inebriante de "ter chegado lá pelos MEUS méritos..." - o que lhes dá esse desprezo inequívoco de quem precisa da presença do Estado, de cotas, de FIES, de PRÓUNI, para galgar os degraus que eles subiram, muitos, diga-se, realmente com esforço gigantesco. Essas pessoas SE RECONHECEM, frequentam os mesmos clubes, viajam as mesmas viagens, têm o prazer de trazer lembranças e fotos na bagagem, seus filhos se conhecem, estudam nas mesmas escolas, fazem parte do "Brasil que conta", não precisam, de fato, do Estado para nada, apenas para a segurança pública, seu único pedido real a qualquer governante, que mantenha suas ruas seguras e o rentismo de suas poupanças, o resto, "eles se viram".

O que Lula e seu jeito caipira, sua fala errada, sua figura tipicamente nordestina, seu jeito eminentemente simples de ser tem a ver com essa turma? Nada! Sentem por ele um desprezo inominável, beira ao NOJO, acham-no ABJETO, um usurpador, alguém que "jamais deveria ter chegado onde chegou", um "sortudo", um ser acanalhado, que "aproveitando-se do nível rasteiro desse contingente enorme de miseráveis", entrou na política "para se dar bem", o "ladrão, o canalha...." - é assim que Lula é visto por essa gente, em seu narcisismo doentio, maligno, perverso, preconceituoso, fanático!

São todos "Ronaldinhos", felizes, felizes, por se sentirem mais próximos da classe social de um Aécio, um FHC, do que dos "perdedores", os fracos, os pobres, os "sem força de vontade", que aceitam viver "porque assim querem", em condições sub-humanas! Meu coração entra no mais absoluto DESESPERO à medida em que penso em gente que amo profundamente, gente que respeito, admiro, chega a ser engraçado e paradoxal, gente que me faz "olhar para cima", porque melhores do que eu em pontos cruciais da vida... E no entanto, nessa área específica, tornaram-se monstruosos, toscos, ignaros, DESCONSTRUÍRAM parte de sua humanidade linda, tornaram-se esponjas vivas receptoras desse esgoto fétido que vem da mídia e de seus pares sociais, tornaram-se injustos, prepotentes, desejosos do mal alheio independentemente daquilo ser justo ou injusto, baseado em verdades ou falsidades, não lhes importa, uma coisa doida, perderam seus valores, desejam é que "SATANÁS SEJA DESTRUÍDO", ao preço que for...

Seguirão esses brasileiros nessa toada, não tenho mais esperança em relação a isso, virou doença psíquica e doença social! Seguirão votando em Dória Jr., Aécio, Bolsonaro, Serra, a escória da escória do nosso país, homens abjetos, que qualquer sociedade civilizada, com conhecimentos de Sociologia, História, rejeitaria como o lixo do lixo em seu meio...
Seguirão chamando a bolsa família de "bolsa esmola", numa indiferença desumana com os miseráveis, seguirão em sua ignorância enfim, seguirão sorridentes, ostentando camisetas como a de Ronaldinho, orgulhoso: "Eu não tenho culpa, eu votei no Aécio" - Jesus, dizer o que a quem tem a coragem de votar em Aécio Neves?!? - Pior, se orgulha disso?! Jamais saberão que destruíram nosso país, o jogaram numa vala fétida de esgoto moral, social, político, existencial. Jamais saberão que a dupla Moro/Janot quebrou nossas maiores empresas, esmagou nossa democracia, destruiu direitos fundamentais, fez com que nosso país se tornasse motivo de um espanto ruim lá fora, onde hoje, somos vistos com desprezo, com horror pelos povos civilizados...

Seu narcisismo primário, feroz, complexado, doentio, foi e é a porta de sua morte. Jamais apreenderão essa verdade, porque se acham "bons", "educados", "gentis", pela forma como se tratam uns aos outros, na família, nas rodas sociais..., eventualmente, alguns estendendo esse comportamento aos brasileiros que os servem, garis, porteiros, empregados domésticos, etc. etc. - no que, provavelmente, acham-se "o máximo".

Contra essa classe social, só cabe uma atitude: A MAIS RADICAL E DETERMINADA GUERRA POLÍTICA! Lula e Dilma acreditaram num "Brasil conciliatório", acreditaram no "republicanismo das instituições", deu no que deu..... uma golpeada, o outro massacrado, odiado, prestes a ser preso por Moro.

Somos um país ODIOSO, onde a luta de classes é UMA REALIDADE DRAMÁTICA, SECULAR! O narcisismo patológico desses brasileiros da Casa Grande impedirá sempre o diálogo, a luta é política, e politicamente deve ser lutada. Com todas as forças que puderem ser aglutinadas em torna das candidaturas progressistas, que representem aqueles que entre nós, de fato, precisam do Estado até para sobreviver, para que a miséria não os leve à morte, à indignidade absoluta. Lutemos por estes! É isso!

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