FSP, 02/03/17
'Fora, Temer' no Carnaval escancara impopularidade do governo
Por Laura Carvalho
A solução dos problemas econômicos do país
parecia ser a única saída para um governo ilegítimo e cada dia mais exposto aos
escândalos de corrupção. O que os dados mostram, ao contrário, é que uma
retomada expressiva do crescimento até 2018 é cada dia mais improvável.
Até agora, a inflação mais baixa, o início da
trajetória de queda da taxa de juros básica e a aprovação da PEC do teto de
gastos são os únicos elementos vendidos pelo governo como sinais de sucesso.
A reforma da Previdência, por sua vez, seria
entregue ainda neste primeiro semestre.
Para os mais de 12 milhões de desempregados
país afora, a taxa de inflação mais baixa não chega a ser motivo para jogar
confetes. Afinal, salários e preços já vinham crescendo menos desde o ano
passado em razão do próprio aumento do desemprego e do fim dos choques de
câmbio e preços administrados.
Os ganhos de poder de compra daqueles que
ainda têm renda crescente, por sua vez, dificilmente compensarão, do ponto de
vista do impacto no consumo, a perda de renda dos que perderam seus empregos.
Quanto aos juros básicos em queda, ainda sem
repercussão sobre as taxas de juros reais cobradas pelos bancos, tampouco serão
suficientes para estimular o consumo e os investimentos no contexto atual.
Famílias e empresas têm dívidas acumuladas a
pagar e ainda enfrentam enorme incerteza acerca de seus rendimentos futuros.
Finalmente, sem ter contribuído em nada para
resolver os problemas fiscais no curto prazo, que são fruto de uma queda brutal
na arrecadação, a PEC 55/241 apresenta-se mais como um obstáculo do que como
uma saída para a crise econômica atual. Com a reforma aprovada, até mesmo
iniciativas como a da volta da CPMF - agora defendida pelo relator da reforma
tributária no Congresso-, mesmo que sirvam para cobrir parte do rombo fiscal
deste ano, não poderão ser utilizadas para ampliar investimentos públicos e
estimular a economia.
Uma eventual elevação de impostos também pode
criar problemas com boa parte da base do governo, que desde os protestos na
avenida Paulista exige não pagar o pato
da crise econômica.
da crise econômica.
Nesse contexto, o engajamento com a reforma
da Previdência — cuja popularidade parece baixa até mesmo entre os parlamentares
da base aliada —, o agravamento da crise nos Estados e a perda de apoio de parte
do empresariado em razão da falta de perspectivas de retomada do crescimento
tornam nebuloso o horizonte até 2018.
De um lado, teve de constatar a bronca dos
foliões de todo o país no horário nobre do Jornal Nacional. De outro, ver um
país em festa esquecer um pouco da crise e injetar algum dinheiro na economia.
Segundo estimativas da Associação Brasileira
da Indústria de Hotéis, só na economia carioca teriam sido injetados R$ 3
bilhões pelos mais de 1,1 milhão de turistas que visitaram a cidade. "Ô
quarta-feira ingrata, chega tão depressa, só pra contrariar", alertava o
clássico do carnaval pernambucano.
Blog do Kennedy, 02/03/17
Vazamentos da Lava Jato prejudicam país e desmoralizam Justica, MP e políticos
Por Kennedy Alencar
Prejudica a Lava Jato, porque mostra mais uma
vez como a investigação, que é importante pelo combate à corrupção, mas também
se presta a manipulações e vazamentos seletivos, apesar da ordem expressa do
procurador-geral da República de manter em segredo os depoimentos dados ao
processo no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) contra a chapa Dilma-Temer.
Prejudica o país, reforçando a imagem de uma
república de bananas em que até na Lava Jato não há respeito à lei, manipulada
para causar danos a políticos. Fere o direito de defesa dos acusados, que
sofrem desgastes com vazamentos e não podem respondê-los oficialmente no âmbito
dos processos. Prejudica a economia, gerando incertezas políticas que afetam
expectativas do empresariado.
Em resumo, é muito ruim para o Brasil. O
segredo, no caso das delações da Odebrecht, não faz mais nenhum sentido.
Para economia, o efeito é péssimo. O país não
pode ter a Lava Jato como tema único, porque há graves problemas na economia,
na saúde, na educação, na segurança pública e em outras áreas que mereceriam
destaque no debate público.
Uma Lava Jato que virou um circo de delações
gera tremenda incerteza no mercado financeiro e nos empresários que precisam
tomar decisões de investimento.
Agora, surgiram dúvidas sobre a capacidade do
governo de aprovar as reformas da Previdência e trabalhista no Congresso. O
país tem quase13 milhões de desempregados, a renda está em queda, a recessão é
grave. Havia expectativa de melhora econômica que perde força com uma
investigação realizada dessa forma.
Repetindo de novo: ótimo que a Lava Jato
combata a corrupção. Mas não pode investigar assim, vazando depoimentos que o
procurador-geral da República e que o ministro relator do caso no Supremo
Tribunal Federal, Edson Fachin, querem que fiquem em segredo. Já passou da hora
de tornar públicas as delações da Odebrecht. Esse sigilo só tem feito mal ao
país e bem aos que manipulam os vazamentos.
Não dá para uma investigação de corrupção ser conduzida dessa maneira. Ela vai criar as tais nulidades que a defesa de Temer pretende alegar. Marcelo Odebrecht também fez revelações em relação ao ex-ministro da Fazenda Guido Mantega e ao presidente do PSDB, o senador Aécio Neves. Nos dois casos, diz que repassou recursos.
Ora, é preciso acelerar todas as
investigações. Mas o que se vê é celeridade em relação a petistas e demora no
que se refere a tucanos. Se for verdade o que ele diz, Mantega tem sérios
problemas a responder. Afinal, a acusação é que um ministro da Fazenda
negociava propinas.
E Aécio, que é do partido que pede a cassação
da chapa Dilma-Temer no TSE, fica numa situação política delicada, com a
suspeita da hipocrisia de ter abusado do poder econômico que critica no PT
e de ter usado um operador para obter recursos da Odebrecht exatamente como
fizeram petistas e peemedebistas.
Não faz nenhum sentido a afirmação de Marcelo
Odebrecht, de acordo com o que vazou, de que ele não seria o dono do Brasil,
mas o bobo da corte.
Ele não era o bobo corte, mas um dos maiores
corruptores da corte. Era um empresário que atuava com agressividade, segundo
relatos de diversas autoridades que estiveram com ele. Um empresário que montou
um departamento secreto de operações estruturadas, que, no fundo, era a seção
para documentar as propinas, mostra a arrogância com a qual atuava.
Se entrou em projetos obrigado, entrou pela
expectativa de retorno. A Odebrecht cresceu muito no período em que Marcelo
Odebrecht a comandou. Posar de vítima enquanto atuava como corruptor é querer
fazer o país inteiro de bobo e tentar suavizar a sua situação.
Na Lava Jato, corruptores estão se dando
melhor do que os corruptos, negociando penas baixas e mantendo boa parte de
suas fortunas. Mas esses corruptores e corruptos são irmãos siameses no
cometimento de crimes.
FSP, 02/03/17
História que pode valer a Presidência
Por Janio de Freitas
(A propósito: se um empresário de obras
públicas é convidado a jantar com o vice-presidente da República, em palácio, e
dele ouve um pedido explícito de dinheiro, que alternativas tem para sua
resposta?)
Ao relatar o fato, como quem precisa lavar as
mãos enquanto é tempo, Yunes definiu-se como "mula" de Padilha. Ora,
no jargão policialesco, "mula" é o transportador de dinheiro ou de
droga. Não havendo motivo para supor que Padilha esperasse remessa de droga,
Yunes só poderia ver-se como "mula" se soubesse haver dinheiro na
encomenda.
A nota presidencial, a propósito das palavras
de Yunes, admite que Temer pediu à Odebrecht "auxílio formal e
oficial", e "não autorizou nem pediu que nada fosse feito sem amparo
nas regras da Lei Eleitoral. (...) É essa a única participação do presidente no
episódio".
Única, não. O pedido ao convidado Marcelo
Odebrecht resultou de propósitos financeiros definidos ou, no mínimo,
autorizados por Temer.
São declaráveis e comprováveis? A
responsabilidade (i)legal é de quem teve a iniciativa do pedido, do recebimento
mesmo que indireto, e da destinação. E nesse aspecto Temer se apresenta como
omisso, seja por conveniência ou não. Apresenta-se mas não é.
Nas perguntas que dirigiu a Michel Temer,
dando-o como testemunha de defesa em um dos inquéritos a que responde, Cunha
questionou-o sobre a entrega de dinheiro a Yunes. Como todo o questionário, a
pergunta era um homicídio verbal. Ali estavam questões que talvez nem servissem
de defesa a Cunha, como o cala boca de R$ 1 milhão que lhe teria vindo da
"doação" da Odebrecht.
Mas as perguntas levavam a veredas que,
partindo de Temer, se irradiavam pelos descaminhos da política e de seus
condutores.
O juiz Sergio Moro já podia saber, portanto, o que aquela pergunta de Cunha a Temer representava. Proibiu-a. Assim como várias outras, elaboradas com doses de venenos reveladores. Censura dita judicial.
Michel Temer beneficiou-se. Moro argumentou
que as perguntas não tinham pertinência no tema do inquérito – o que, de resto,
não poderia saber antes de conhecer as respostas e suas implicações.
Nenhum comentário:
Postar um comentário