quarta-feira, 1 de março de 2017

O golpe que o dinheiro comprou





Brasil 247, 26/02/17




O golpe que o dinheiro comprou




Por Emir Sader



Faltava um elo. Não falta mais. Temer pediu à Odebrecht dinheiro para a caixinha de Eduardo Cunha eleger sua bancada de 140 parlamentares, para desatar o golpe. Nada que preocupe a Lava Jato ou o STF. O golpe já foi dado, o governo do golpe desmonta o Brasil, impõe a maior depressão econômica que o país já conheceu, joga no desemprego vários milhões de pessoas, empobrece os brasileiros e o Brasil, entrega a empresas estrangeiras patrimônios nacionais. Enorme custo-benefício para quem o financiou e para quem se beneficia dele.

Pela primeira vez, todo o grande empresariado, numa eleição presidencial, se somou em bloco à oposição ao candidato do governo, em 2014. Todos estavam contra Dilma Rousseff, desde que ela começou a diminuir as taxas de juros, no começo do seu primeiro mandato.

Impossibilitados de ganhar, depois de jogar todo apoio a Aécio Neves, a Marina Silva e a Aécio de volta, o grande empresariado concentrou os recursos nas eleições parlamentares. Como fica claro na doação da Odebrecht, foi dirigido para eleger os 140 parlamentares da bancada de Cunha. Que foram a alavanca indispensável para aprovar o golpe e para todos os retrocessos, todos a favor da concentração de riqueza nas mãos dos mais ricos e contra a massa da população.

Não podia ser mais clara e direta a confissão: na sede da vice-presidência, MT recebeu a Odebrecht, junto com comparsas seus, pediu os recursos para os empresários para apoiar a bancada que o elevaria à presidência. Compra de votos, compra de mandatos, dinheiro por fora para eleger a bancada de Eduardo Cunha e de MT.

Há tempos que o dinheiro pesa decisivamente na política. Mas deixou de poder decidir a eleição do presidente da República quando seus candidatos do coração – Collor e FHC – fracassaram e deixaram o campo livre para a vitória de candidatos que defendem um modelo que atende os interesses da grande maioria da população: desenvolvimento econômico com distribuição de renda.

Aí se montou a grande operação de culpar justo esses governos pela corrupção na política, quando a grana continuou a se concentrar do outro lado, dos que apoiaram José Serra duas vezes, Geraldo Alckmin, Aécio. Em 2014, se deu o maior escândalo de financiamento eleitoral, de que a denúncia que envolve diretamente MT é o caso mais flagrante.

Houvesse ainda justiça no país, tivéssemos um STF digno, independente, não acovardado, seria seu tema central, da maior urgência, porque falseou a história recente do país, afetando diretamente a legitimidade do voto popular. Há evidências e provas mais que suficientes para invalidar o impeachment e cassar os 140 parlamentares que foram comprados para promovê-lo, além dos que participaram diretamente da propina, a começar por MT.

Isso sim passaria a história recente do Brasil a limpo. Ficaria evidenciado como o dinheiro intervém nos processos eleitorais e políticos, como os mandatos de grande parte dos parlamentares são conquistados pela sua venda a grandes empresas particulares.

Se nada disso ocorrer, é porque o Judiciário, o Congresso, o governo, estão eles mesmos corrompidos pelo poder do dinheiro, que rompeu com a democracia no Brasil e faz deles coveiros da soberania do voto popular.






Jornal GGN, 27/02/17




Temer e a pouca vergonha de nossos tempos



Por Eugênio Aragão*



As frações de informação tornadas públicas na entrevista do advogado José Yunes, insistentemente apresentado pelos esbulhadores do Palácio do Planalto como desconhecido de Michel Temer, embrulham o estômago, causam ânsia de vômito em qualquer pessoa normal, medianamente decente.

Conclui-se que Temer e sua cambada prepararam a traição à Presidenta Dilma Vana Rousseff bem antes das eleições de 2014. A aliança entre o hoje sedizente presidente e o correntista suíço Eduardo Cunha existia já em maio daquele ano, quando o primeiro recebeu no Palácio do Jaburu, na companhia cúmplice de Eliseu Padilha, o Sr. Marcelo Odebrecht, para solicitar-lhe a módica quantia de 10 milhões de reais.Não para financiar as eleições presidenciais, mas, ao menos em parte, para garantir o voto de 140 parlamentares, que dariam a Eduardo Cunha a presidência da Câmara dos Deputados, passo imprescindível na rota da conspiração para derrubar Dilma.

Temer armou cedo o golpe que lhe daria o que nunca obteria em uma disputa democrática: o mandato de Presidente da República. Definitivamente, esse sujeitinho não foi feito para a democracia. É um gnomo feio, incapaz de encantar multidões, sem ideias, sem concepções, sem voto, mas com elevada dose de inveja e vaidade. Para tomar a si o que não é seu, age à sorrelfa, à imagem e semelhança de Smeágol, o destroncado monstrengo do épico "O Senhor dos Anéis".

Muito ainda saberemos sobre o mais vergonhoso episódio da história republicana brasileira, protagonizado por jagunços da política, gente sem caráter e vergonha na cara, que só conseguiu seu intento porque a sociedade estava debilitada, polarizada no ódio plantado pela mídia comercial e reverberado com afinco nas redes sociais, com a inestimável mãozinha de carreiras da elite do serviço público.

O resultado está aí: o fim de um projeto nacional e soberano de desenvolvimento sustentável e inclusivo. A mais profunda crise econômica que o país já experimentou. A desconstrução do pouco de solidariedade que nosso Estado já prestou aos mais necessitados. A troca do interesse da maioria pela mesquinhez gananciosa e ambiciosa da minoria que, "em nome do PIB" ou "do mercado", se deu o direito de rasgar os votos de 54 milhões de brasileiras e brasileiros. Rasgaram-nos pela fraude e pelo corrompimento das instituições, com o único escopo de liquidar os ativos nacionais e fazer dinheiro rápido e farto, como na privatização de FHC. Dinheiro que o cidadão nunca verá.

É assim que se despedaça e trucida a democracia: dando o poder a quem perdeu as eleições, garantindo aos derrotados uma fatia gigantesca do governo usurpado e até a nomeação de um dos seus para o STF, para assegurar vida mansa a quem tem dívidas com a justiça. A piscadela de Alexandre de Moraes a Edison Lobão, na CCJ, diz tudo.

Assistiremos a tudo isso sem nenhum sentimento de pudor?

A essa altura dos acontecimentos, o STF e a PGR só podem insistir na tese da "regularidade formal" do impedimento da Presidenta Dilma Roussef com a descarada hipocrisia definida por Voltaire como "cortesia dos covardes".

Caiu o véu da mentira. Não há mais como negar: o golpe foi comprado e a compra negociada cedinho, ainda no primeiro mandato de Dilma. O golpe foi dado com uma facada nas costas, desferida por quem deveria portar-se com discreta lealdade diante da companheira de chapa. O Judas revelado está.

E os guardiões da Constituição? Lavarão as mãos como Pilatos - ou tomarão vergonha na cara?


 


*Eugênio Aragão é sub-procurador-geral da República e foi ministro no governo de Dilma antes do golpe.

http://jornalggn.com.br/noticia/xadrez-da-delacao-do-fim-do-mundo-em-uma-4a-feira-cinza




Jornal GGN, 01/03/13




Xadrez da delação do fim do mundo em uma 4a feira cinza




Por Luis Nassif




Peça 1 – a dupla conspiração

O leitor Marcos Antônio trouxe uma das melhores narrativas para explicar o quadro político atual (https://goo.gl/4PESgu). Tomo emprestado a tese principal.

A fragilidade política de Dilma Rousseff, o avanço da crise econômica e o pré-ensaio bem-sucedido da AP 470 despertaram dois movimentos simultâneos de desestabilização política do governo Dilma.
O primeiro, uma frente composta pelo PSDB, Lava Jato, Poder Judiciário e mídia, visando o impeachment da chapa Dilma-Temer, o terceiro turno inaugurado no mesmo dia da divulgação dos resultados das eleições de 2014. Os personagens centrais dessa estratégia foram Gilmar Mendes no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e a Lava Jato acelerando as delações.

A tentativa de Gilmar acabou frustrada pela reação despertada e pelo fato do governador de São Paulo Geraldo Alckmin ter incorrido na mesma situação de Dilma: impugnar sua chapa significaria impugnar também a vitória de Alckmin.

Com isso, a primeira frente acabou sendo atropelada pela segunda, planejada antecipadamente por Eduardo Cunha e pela camarilha de Temer. A ideia do grupo foi montar uma superbancada na Câmara, valendo-se da influência que passou a exercer sobre a Petrobras, depois que a AP470 quase derrubou o governo Lula.

O grupo de Temer sempre se valeu da estratégia da chantagem. No episódio da compra de votos, por exemplo, chantageou Fernando Henrique Cardoso para conseguir cargos-chaves no governo tucano.

Quando a AP 470 colocou o governo Lula na berlinda, nova rodada de chantagem conferiu ao PMDB cargos-chaves no governo e, em especial, na Petrobras.

Com a explosão de obras do período, montou uma supercaixinha que lhe deu condição de ambicionar agora não mais Ministérios, mas o centro do poder, tornando o governo refém da Câmara.

A expectativa de perda de mandato de Eduardo Cunha, o desgaste de Dilma, com uma sucessão inédita de erros, fez Cunha avançar o sinal, paralisar o governo com pautas-bombas e abrir o processo do impeachment.

Montou-se um acordo meia boca com o PSDB, em torno da tal Ponte para o Futuro, a promessa de revogação da Constituição de 1988.  Temer faria o trabalho sujo do desmonte da Constituição e abriria espaço para o PSDB em alguns ministérios.

A partir daí a camarilha saiu do segundo plano e passou a controlar o país, sem nenhuma estratégia anticíclica para enfrentar a crise, nenhuma ideia criativa, nenhum conceito de Nação.

Assumiram com apenas dois mandatos: o desmonte do Estado nacional e, como prêmio, o maior assalto da história aos cofres públicos.

Com a estrada pavimentada, o PT destruído, sua obra anterior reduzida a pó, o PSDB poderia se aventurar em 2018, mesmo sem dispor de programas e de projetos de país, confiando em uma economia em recuperação.

Os principais passos desse balé da conspiração:

1.     A maior parte da corrupção da Petrobras estava sob o comando do PMDB. A Lava Jato tratou de esconder o lobista-mor, ligado ao PMDB, restringir as investigações ao período do PT e investir pesadamente sobre Lula, a fim de não atrapalhar a tomada do poder pelo PMDB.

2.     Já o Procurador Geral da República (PGR) Rodrigo Janot simulou jogar com o governo Dilma até fins de 2014. Quando sentiu que os ventos mudaram, pulou de mala e cuia para o barco da conspiração.

3.     O Supremo Tribunal Federal convalidou o golpe, especialmente após Luís Roberto Barroso e Luiz Edson Fachin terem abdicado de seu papel de defensores da Constituição.

4.     O chega prá-la no PMDB consistiu na derrubada de Eduardo Cunha e, gradativamente, de cada membro da camarilha de Temer. Trabalho facilitado, aliás, pela extensa capivara de cada um. O próximo a cair será Moreira Franco.


Peça 2 – o assalto generalizado à República

O quadro que veio a seguir é dantesco.

No mais alto cargo, um presidente impopular, sem o menor carisma, negocista, com uma carreira política pavimentada pelo fisiologismo e por suspeitas reiteradas de corrupção.

No Congresso e nas estatais, tem-se o maior assalto à luz do dia da história da República:

1.     A privatização do satélite brasileiro.

2.     A entrega das concessões públicas às empresas de telecomunicações e radiodifusão.
3.     A anulação das reservas indígenas.

4.     A autorização para a venda de terras a estrangeiros que, se consumada, sancionará o maior processo de lavagem de dinheiro da história.

5.     A legalização do jogo.

6.     A entrega do pré-sal às operadoras estrangeiras, sem nenhuma exigência de contrapartida.

7.     As sucessivas tentativas de importação de alimentos, reeditando alguns golpes históricos da Nova República.

8.     A venda de ativos da Petrobras na bacia das almas.

9.     O fim do conteúdo nacional nos projetos de construção das plataformas marítimas.

Essa esbórnia foi entregue de bandeja pela Lava Jato para a pior organização política da República, em nome do combate à corrupção.


Peça 3 – o desmonte do país

O desmonte está se dando nas seguintes frentes:

O projeto geopolítico

No dia 22 de fevereiro último, o Washington Post – jornal com estreitas ligações com fontes da CIA – produziu um artigo revelador (https://goo.gl/K2Hsov): ‘Como um escândalo que começou no Brasil está perturbando outros países da América Latina’.

A reportagem lembra o Brasil como estrela em ascensão quando conseguiu o direito de sediar a Copa do Mundo e as Olimpíadas. E que a Odebrecht se tornou um símbolo do crescimento da importância brasileira no mundo, da mesma forma que a Coca-Cola para os Estados Unidos e a Toyota para o Japão.

Constata o jornal que a Odebrecht se tornou peça central do soft power brasileiro. E – aí não é o jornal afirmando - valendo-se dos mesmos expedientes da Siemens alemã, da IBM norte-americana, da Dassault francesa. Em todos os casos, puniram-se dirigentes, mas preservaram-se as empresas, vistas como ativos nacionais.

A reportagem admite que a corrupção não surgiu no governo Lula, nem com a Odebrecht, mas que ela foi a única a ser pega. E mostra como a Lava Jato, com a ajuda do Poder Judiciário desses países, está ajudando a limpar a área de todos os governos de esquerda no continente.

No Brasil, o desmonte atinge todos os segmentos, dos estaleiros à indústria de defesa e toda rede de fornecedores, com a redução da obrigatoriedade do conteúdo nacional nas plataformas.

Agora, se prepara o golpe final contra as empreiteiras brasileiras, com a cooperação firmada com os Ministérios Públicos de mercados conquistados por elas e a tentativa do TCU (Tribunal de Contas da União) de proibir novos contratos com elas. Um órgão assessor do Congresso se tornou peça-chave na destruição de ativos nacionais.

Não apenas isso.

O desmanche social

E aqui se entra nos desdobramentos não previstos pelo golpe.

A estratégia de desmonte do Estado aprofundou brutalmente a crise fiscal e a crise social.

A cada dia aumentam o desemprego, as tensões sociais, a insegurança nas grandes metrópoles, a crise fiscal da União e dos estados.

Há um brutal endividamento nas empresas. As que mais cresceram no período anterior são as mais endividadas. O sistema bancário montou operações de resgate estendendo os prazos dos financiamentos. Mas sem perspectivas de melhora da economia, caminha-se para uma crise sistêmica.
Por qualquer ângulo que se analise, será impossível a manutenção da política econômica atual e do próprio governo Temer.

A ideologização primária

Hoje em dia uma ideologização pesada domina os debates, tanto à direita quanto à esquerda, dificultando enormemente a busca de consensos. A ideia de construção nacional, pactos de produção, de inovação, afirmação de políticas sociais, equilíbrio entre o papel do Estado e do setor privado, todos os meios tons que deveriam servir de base para políticas de desenvolvimento cederam lugar a uma radicalização profundamente simplificadora.

Rapidamente, o pacote Meirelles torna-se inviável. E não aparece uma alternativa no lugar. Não levará muito tempo para que a agenda neoliberal seja substituída por uma liderança forte – de esquerda ou direita, civil ou militar – repetindo o roteiro norte-americano e britânico. Não mais um centro-esquerda relativamente racional.

Ou seja, o pêndulo com movimentos próximos do centro, mais à direita com o PSDB, mais à esquerda com o PT, mas sem abrir mão dos princípios democráticos, em breve será substituído por alguma saída autocrática.

Aí entram em cena as delações da Odebrecht, como um dos momentos de corte.


Peça 4 – as delações da Odebrecht e o MPF

Considere-se inicialmente o papel do Ministério Público Federal no golpe. Sabia-se desde o início da extensa capivara dos líderes do PMDB no Congresso; sabia-se de Temer, Cunha, Geddel, Padilha, Moreira Franco, como se sabia de Aécio, Serra, Alckmin, tanto quanto de Dirceu, Pallocci. Se sabia que o impeachment jogaria o país nas mãos do pior agrupamento que a política brasileira gestou desde a redemocratização.

O álibi mais generoso para a ação golpista e antinacional do MPF é o da ignorância, um grupo de procuradores desinformados, sem conhecimento mínimo sobre economia, geopolítica, interesse nacional, acreditando que a Lava Jato tinha chegado ao cerne da corrupção brasileira, com os tríplex, pedalinhos e quetais. Ou acreditando que comeria os políticos pelas bordas, primeiro o PT, depois o PMDB. Mas poupando sempre o PSDB.

Aliás, não dá para esperar essa visão política mais sofisticada do MPF quando nem a presidência da República nem o seu Ministro da Justiça demonstravam a menor sensibilidade para esses temas.
O Brasil está sendo literalmente destruído por um processo amplo de ignorância coletiva.

Era tão hipócrita o discurso anti-corrupção que, para apear do poder uma presidente honesta – jogando no lixo os votos majoritariamente dos mais pobres – tiveram que apelar para a história das pedaladas.

No final do governo Dilma, firmou-se um pacto tácito entre os conspiradores. Para manter as aparência de luta contra a corrupção e de isenção das investigações, seria sacrificado pelo menos um cacique de cada partido. Do PMDB, preferencialmente Cunha e Renan Calheiros; do PSDB, Aécio.

O fator Rodrigo Janot embolou um pouco o meio campo.

Fator Rodrigo Janot

Para investigar o conterrâneo Aécio, a estratégia adotada por Janot tem sido a da postergação das investigações.

A informação de que Janot solicitou ao Ministro Gilmar Mendes prorrogação do inquérito aberto para investigar as ligações de Aécio com a Lista de Furnas, é a comprovação cabal de sua estratégia de postergação permanente dos inquéritos.

Tome-se o caso da Lista de Furnas.

Nas primeiras delações de Alberto Yousseff, apareceram as menções às propinas recebidas por Aécio através do diretor Dimas Toledo. Desde 2010, dormiam na gaveta da PGR as peças do inquérito aberto para investigar as contas de Aécio em Liechtenstein.

Em 29 de fevereiro de 2016 – um ano atrás! – foi homologada a delação do ex-senador Delcídio do Amaral.

O que disse Delcídio sobre Dimas:


DELCIDIO DO AMARAL teve conhecimento de um grande esquema de corrupção que ocorria em Furnas, operado por DIMAS TOLEDO. Tal esquema já foi mencionado, "en passant", anteriormente por ALBERTO YOUSSEF, tendo se referido à participação de AÉCIO NEVES no esquema. 


DELCIDIO DO AMARAL confirma que esta referencia ao Senador Mineiro tem fundamento. A corroboração de que YOUSSEF tinha conhecimento do esquema, e o fato de que ele mencionou a pessoa de DIMAS TOLEDO, experiente e competente profissional do setor elétrico. 


DIMAS TOLEDO era o operador do esquema de corrupção em Furnas pela PSDB. O esquema de Furnas atendia vários interesses espúrios do PP, do PSDB e depois de 2002, do próprio PT. 


DELCIDIO DO AMARAL, em viagem a Campinas com o presidente LULA, foi perguntado pela Ex-Presidente sobre a atuação de DIMAS: "DELCÍDIO, quem é esse cara?" DELCIDIO respondeu: "É um profissional do setor elétrico. Por que o senhor me pergunta isso?" LULA respondeu: "É porque o Janene veio me pedir pela permanência dele, depois o AÉCIO e até o PT, que era contra, já virou a favor da permanência dele. Deve estar roubando muito!"

DELCIDIO sabe que DIMAS TOLEDO sempre teve informações relevantes de vários governos estaduais e federais, vez que era Diretor de Engenharia de FURNAS, tanto que o então Ministro JOSE DIRCEU afirmou: "Se colocarem o Dimas como ascensorista de Fumas, ele manda no presidente". 

Dimas não era mais um operador: era o centro de uma extensa rede de corrupção, como se fosse a soma de Paulo Roberto Costa e Alberto Yousseff. Qualquer investigação minimamente profissional e isenta daria prioridade total a investigá-lo pois, a partir dele, se mapearia toda a estrutura de corrupção em torno de Furnas.

Hoje em dia, são decretadas prisões preventivas às pencas, sob o argumento de que, solto, o suspeito poderia esconder provas. Dimas está solto há anos, tendo sido incomodado pouquíssimas vezes.

Pelo arrazoado de Janot, fica-se sabendo que:

1.     Assim como o inquérito da helicoca, o da Lista de Furnas parou no TRF2 – o Tribunal Regional Federal da 2a Região, com sede no Rio de Janeiro.

2.     O inquérito quebrou o sigilo de Dimas Toledo, mas o TRF1 manteve os dados em sigilo.

3.     O máximo que se avançou foi em uma acareação entre um delator, Fernando Antônio Horneaux de Mora e Dimas, na qual o delator acusou e Dimas se defendeu. E nada mais foi apurado.

Um ano após a homologação da delação de Delcídio, Janot solicita mais 60 dias de prorrogação do inquérito para que a PF traga os seguintes documentos:

·      Juntada de cópia do relatório final elaborado pelo TCU sobre o "Mensalão de Furnas", sobre possíveis irregularidades em contratos celebrados por DIMAS FABIANO TOLEDO, enquanto Diretor de Engenharia de FURNAS, conforme solicitado pela autoridade policial no Ofício 0200/217 de fl. 481);

·      Juntada de cópia do relatório final elaborado pela Controladoria Geral da União sobre o "Mensalào de Furnas", conforme solicitado pela autoridade policial no Ofício 0201/2017 de fl. 482;

·      Juntada de autos que tramitaram perante a 3a Vara Criminal da Comarca do Rio de Janeiro, no qual houve quebra de sigilo bancário de DIMAS FABIANO TOLEDO, conforme solicitado no Ofício 0202/2017 de fl. 487;

·      Oitiva de SILVIO PEREIRA (fl. 456); Oitiva de JOSÉ DIRCEU (fl. 455); Oitiva do colaborador DELCIDIO DO AMARAL GOMEZ; g) Oitiva do investigado.

Daqui a 60 dias, tudo pode ocorrer: uma nova solicitação de prorrogação de prazo, alguma medida de Gilmar visando paralisar o inquérito, a alegação de que nada foi encontrado capaz de corroborar as acusações.


Peça 6 – o barril de pólvora

Com a divulgação da delação da Odebrecht monta-se o quadro, com a mais completa desmoralização do poder civil brasileiro desde os idos de 1964.

A delação é o estopim em cima do seguinte barril de pólvora:

1.     Economia sem sinais de reativação. A necessidade de criar fatos faz a mídia comemorar possibilidade de crescimento do PIB de 1% no próximo ano, depois de queda de 8%. Ou saudar a entrada de investimentos externos, que estão vindo exclusivamente atrás de empresas em dificuldades, sendo vendidas na bacia das almas, como se fosse sinal de recuperação. Quem opera no mundo real, como a Fnac, está tirando o time do país.

2.     Desmoralização do discurso da austeridade, a ideia de que com mais arrocho se terá a volta do crescimento.

3.     A corrupção do grupo de Temer eliminando qualquer tentativa de legitimidade do Executivo, ao mesmo tempo em que se tenta colocar goela abaixo do país a reforma da Previdência. Os papéis distribuídos pelo Anonymous mostram estreitas relações de negócio entre Temer, José Yunes e Sandro Mabel (https://goo.gl/95WjSw). Tanto Mabel quanto Yunes foram nomeados assessores especiais por Temer, na sua cota pessoal. Yunes foi acusado de intermediar propinas para o PMDB, com o conhecimento de Temer (https://goo.gl/yjf8PF). Mabel é conhecido por intenso trabalho de lobby no Congresso (https://goo.gl/4aCwz2).

4.     Avanço avassalador do crime organizado nas principais regiões do país, movimento ampliado pelo fato da economia formal ser incapaz de gerar empregos.

5.     Aumento da criminalidade e da insegurança, devido à crise fiscal dos estados, desaparelhando as polícias, e ao aumento do desemprego. Em grande parte dos estados, as PMs abriram mão de suas responsabilidades em relação ao crime organizado para se tornarem polícias políticas. O caos do Espírito Santo expôs as vísceras de um modelo fiscal inviável.

6.     Desmanche da imagem do Brasil internacionalmente, como futura média potência. O arranjo político legado pela Lava Jato tornou o Brasil, aos olhos da opinião pública mundial esclarecida, uma republiqueta similar às piores republiquetas africanas (https://goo.gl/I1Y40t). Obviamente, em nome da grande causa de combate à corrupção. O artigo do Le Monde analisa o significado da indicação de Alexandre de Moraes para o Supremo.

Temer não resistirá. O PSDB não resistirá. O PT está fora do jogo.

O que sobrará após as delações da Odebrecht? O que a Globo, o Supremo, o mercado, o PGR terão a oferecer para evitar o caos, como contrapartida à sua responsabilidade nesse desmanche do país?

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