Roberto Silva, o Príncipe do Samba, morre aos 92 anos
Conhecido como ‘Príncipe de samba”, Roberto Silva se destacava pela elegância
Laura Marques / Agência O Globo
Laura Marques / Agência O Globo
— Viemos todos, de vários lugares diferentes, a pedido dele. Meu avô estava em casa, como queria, e morreu em paz. Passamos a noite rezando — conta a neta Amanda Napoleão.
Ídolo de Zeca Pagodinho, Beth Carvalho e Caetano Veloso
Zeca Pagodinho lamentou a morte do ídolo:
— A gente perde um grande sambista. uma pessoa completamente do bem, e que viveu com muita dignidade.
Foram quase 75 anos dedicados à música. Nascido em Copacabana, mas criado em Inhaúma, ele começou a cantar ainda garoto e se destacou pela voz grave e pelo estilo, inspirado inicialmente em Orlando Silva. Sua interpretação, que se destacava pelo sincopado, logo chamou atenção no seu primeiro sucesso, “Mandei fazer um patuá” (R. Olavo/N. Martins). Trabalhou na Rádio Nacional, levado por Paulo Gracindo, e depois migrou para a Tupi, onde passou 17 anos e ganhou o apelido com que ficaria conhecido por toda a vida.
Foi nesta época que gravou seus sambistas preferidos, como Ataulfo Alves, Geraldo Pereira, Haroldo Lobo, Bide & Marçal. “Maria Teresa” (Altamiro Carrilho), “Escurinho” (Geraldo Pereira) e "Notícia" (Nelson Cavaquinho) foram alguns dos sambas que ficaram conhecidos em suas gravações.
Caetano Veloso, que gravou "Juracy" com o Príncipe no disco "Casa de samba ao vivo", lamentou a perda:
— Roberto Silva é a ponte que vai de Orlando Silva a João Gilberto. Um dos melhores cantores que o Brasil já teve — afirmou.
O arranjador e violonista Luis Felipe de Lima ressalta o balanço e a elegância de sua interpretação:
— Roberto Silva é o último cantor de sua linhagem, uma das mais nobres da música brasileira. Voz empostada, mas comunicativa, deixou sua marca na história. É chavão, mas é verdade: uma perda irreparável.
Beth Carvalho conta que ele gravou participação no DVD dela, que ainda não foi lançado. Na ocasião, cantou música de Nelson Cavaquinho.
— Ele era maravilhoso, um sambista moderno, como Jorge Veiga e Moreira da Silva. A bossa nova tirou sua modernidade de sambistas como eles. Tinha uma voz muito agradável, era afinadíssimo e muito simpático.
Enterro em Inhaúma
Apesar da idade avançada, Roberto estava bem e vinha fazendo shows, como o que relembrou seu disco “Descendo o morro” no Instituto Moreira Salles (RJ), em junho (veja a apresentação na íntegra aqui). O álbum, de 1958, fez tanto sucesso que ganhou três continuações, de 2 a 4.
— Fui abençoado por uma voz que me permite cantar de tudo, canções, valsas, baiões e até bolero, mas é com o samba que mais me identifico — disse na ocasião, garantindo que mantinha o instrumento de trabalho em forma graças aos 20 minutos de exercícios vocais que fazia toda manhã.
Em 2002, ele integrou o elenco do espetáculo "O samba é a minha nobreza", em que se apresentava ao lado de novos sambistas revelados pela Lapa, como Pedro Miranda e Pedro Paulo Malta, ganhando uma nova geração de fãs. O show contava com uma vinheta gravada com João Gilberto reverenciando o Príncipe do Samba, que era um de seus ídolos.
— O Roberto era a própria nobreza do samba — afirma Hermínio Bello de Carvalho, que concebeu o espetáculo. — Quando estava fazendo a produção, lembrei que João Gilberto era fã dele. Ele o admirava tanto que até gravou uma frase em homenagem, que incluímos no show. Roberto gostava muito de trabalhar, dominava o palco e era sempre ovacionado.
Roberto, que completou 92 anos em abril, deixou viúva, Syone Costa, sete filhos e 30 netos, bisnetos e tataranetos. O enterro aconteceu no domingo, no Cemitério de Inhaúma.
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