13/09/2012
Acidente radioativo com césio 137 completa 25 anos
O acidente radioativo mais grave do
país de que se tem conhecimento, o vazamento do material radioativo
césio 137, em Goiânia, completa 25 anos nesta quinta-feira. No dia 13 de
setembro de 1987, dois catadores de materiais recicláveis encontraram
em instalações do antigo Instituto Goiano de Radioterapia uma máquina
que desconheciam ser um aparelho usado para esse tipo de tratamento.
Eles levaram o material para casa e,
após retirar algumas partes, venderam o que restou a um ferro-velho, de
propriedade de Devair Ferreira. Este, também sem saber do que se
tratava, desmontou a máquina para reaproveitar o chumbo e expôs, assim,
ao ambiente 19,26 gramas de cloreto de césio 137. O pó branco que emitia
uma luz azulada no escuro foi exibido durante quatro dias para toda a
vizinhança. Algumas pessoas, inclusive, levaram amostras do césio para
casa. Como parte do equipamento acabou sendo vendida para outro
ferro-velho, o material radioativo acabou se espalhando por uma área
ainda maior.
Não demorou muito para que as
pessoas começassem a apresentar os primeiros sinais de que carregavam no
corpo altos níveis de radiação – diarreia, naúseas, tonturas e vômito.
Elas procuraram os hospitais da cidade, onde foram medicadas como
portadores de doença contagiosa. Somente depois de 16 dias, quando parte
da máquina de radioterapia foi levada à Vigilância Sanitária,
constatou-se que os sintomas eram de contaminação radioativa.
O acidente resultou em milhares de
toneladas de lixo radioativo que se encontram em contêineres e tambores
revestidos de aço e concreto, em um depósito, na cidade de Abadia de
Goiás (GO). As primeiras vítimas da contaminação pelo césio foram a
esposa do dono do ferro-velho, Maria Gabriela, que morreu no dia 23 de
outubro de 1987, e sua sobrinha, a menina Leide das Neves Ferreira, de 6
anos, que ingeriu pequenas quantidades de césio depois de brincar com o
pó azul. A menina foi a vítima que apresentou a maior dose de radiação.
Ela morreu horas depois da tia.
Quarenta e nove pacientes vítimas da
radiação do césio 137 foram levadas para o Rio de Janeiro, onde foram
tratados no Hospital Naval Marcílio Dias, referência no tratamento de
vítimas de acidentes radioativos. Vinte e um desses pacientes passaram
por tratamento intensivo e quatro morreram. No total, mais de 112 mil
pessoas foram expostas aos efeitos do césio, em Goiânia.
O diretor de Radioproteção e
Segurança Nuclear da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), Ivan
Salati, avalia que, desde 1987, houve muitos avanços em relação à
segurança da manipulação de fontes radioativas, em termos de regulação e
controle. Para ele, a situação em Goiânia foi específica. O diretor da
Cnen atribuiu grande parte do acidente aos responsáveis pelas
instalações do antigo Instituto Goiano de Radioterapia, que “não
exerceram a responsabilidade sobre os materiais ali existentes de
maneira adequada”.
Em 1988, a Cnen realizou uma
operação pente-fino em todo o país, para levantar, nos hospitais e
institutos de pesquisa, fontes que tinham chegado antes desse período e
que não estavam mais sendo utilizadas ou que precisavam ser registradas.
Foi criado também um sistema de
atendimento 24 horas para denúncias e manifestações. Esse serviço aciona
equipes preparadas para investigar possíveis riscos radioativos em
qualquer lugar do Brasil.
Salati reiterou que, no caso de
Goiânia, contribuiu para a contaminação pelo césio o tempo demorado para
se detectar o acidente, embora admita que um serviço 24 horas não
mudaria muito a ação diante do caso, devido ao desconhecimento das
pessoas que lidaram com o material à época e que, por essa razão,
“dificilmente teriam buscado informações com a Cnen”.
O alarme sobre o acidente radioativo
de Goiânia foi dado pelo físico Walter Mendes, no dia 29 de setembro de
1987. A partir daí, a Cnen enviou uma equipe a Goiânia para tomar as
providências necessárias.
Fonte: Agência Brasil
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