sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Nada é pior para o capitalismo do que a paz

 
 
Jornal do Brasil, 14/09/2012
 
 
É hora de desarmar Deus
 

Por Mauro Santayana

O grande problema de Deus é que não o conhecemos senão na mente e no coração dos homens. E os homens constroem a sua fé com a frágil experiência de seus limitados sentidos, suficientes apenas para o trânsito no mundo em que vivemos. Os olhos podem crescer nos telescópios e ir ao fundo dos universos, ou na perscrutação das moléculas e átomos, mas isso é pouco para encontrar Deus, e menos ainda para construí-lo.

Sendo assim, e desde que há comunidades políticas, o monoteísmo tem servido para identificar ou acerbar as razões ou desrazões nacionais.

O Ocidente judaico-cristão não assimilou a chamada terceira revelação, a de Maomé, embora ela não tenha significado nenhuma apostasia essencial ao hebraísmo. O problema se tornou político, com a expansão dos povos árabes pelo norte da África e a invasão da Península Ibérica. Os islamitas sempre toleraram os cultos judaicos e cristãos nas áreas sob sua jurisdição política, mas a política recomendava aos reis cristãos a expulsão dos árabes da Europa e a guerra, continuada, fosse para contê-los, fosse para fazê-los retroceder ou para eliminá-los.

As cruzadas ainda não acabaram, e se tornaram menos românticas e mais cruéis por causa do petróleo.

Agora, um filme de baixa qualidade técnica e artística – conforme a opinião de especialistas – traz novo comburente às velhas chamas. Sem nenhum fundamento histórico, um fanático israelita (é o que se sabe) produz película eivada de insultos e ódio contra o fundador do islamismo, como se Maomé tivesse sido o mais infame e desprezível personagem da História. Como o filme foi produzido nos Estados Unidos, a reação imediata foi contra as representações diplomáticas nos países islâmicos. Essa reação, que culminou com a morte do embaixador norte-americano na Líbia, ainda não se encontra contida, e é provável que ainda se agrave, apesar das declarações do governo norte-americano, que busca distanciar-se dos insultos.

Os republicanos, em plena campanha eleitoral, devem ter exultado. A morte do Embaixador (asfixiado no incêndio do Consulado em Benghazi) pode ter sido uma baixa para os seus quadros, mas representa um trunfo contra Obama: sua política não tem conseguido dar segurança absoluta aos cidadãos norte-americanos. É essa a mensagem de Romney ao eleitorado dos Estados Unidos. A resposta de Obama, enviando dois destróieres à Líbia, não foi a melhor para reduzir as tensões; ela pode intensificá-las.

O que o governo de Washington e os republicanos não dizem é que o apoio, incondicional, aos radicais de Israel, que pregam abertamente a eliminação dos muçulmanos do mundo — assim como os nazistas desejavam a eliminação de todos os judeus – estimulam os insultos infamantes ao Islã e a resposta espontânea e violenta dos fanáticos do outro lado contra aqueles a quem atribuem a responsabilidade maior: os norte-americanos. E há ainda a hipótese, tenebrosa, mas provável, diante dos precedentes históricos, de que as manifestações tenham partido de agentes provocadores dos próprios serviços ocidentais – ou israelistas, o que dá no mesmo.

A mentira de Blair e Bush – dois homens que o bispo Tutu, da África do Sul, quer ver no banco dos réus em Haia – custou centenas de milhares de civis mortos no Iraque e no Afeganistão, e muitos milhares de jovens norte-americanos mortos, feridos, enlouquecidos nos combates inúteis. Nada é pior para os capitalistas do que a paz – e nada melhor do que a guerra, que sempre os enriquece mais, e na qual só os pobres morrem.
 
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Jornal do Brasil, 13/09/2012

Embaixadas dos EUA e de aliados são alvo de mais protestos de muçulmanos

Agência Brasil


As capitais do Egito, do Iêmen e do Irã – todos países muçulmanos – amanheceram hoje (13) em clima de tensão, pois manifestantes protestam em frente às embaixadas dos Estados Unidos e aliados dos norte-americanos nesses locais. No Cairo, capital egípcia, os policiais usaram bombas de gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes.
Em Teerã, capital iraniana, cerca de 500 pessoas ocuparam uma área perto da Embaixada da Suíça, enquanto no Iêmen a representação diplomática norte-americana foi ocupada por manifestantes. Em todos os locais, as reações ocorreram por causa da divulgação de um filme, produzido por norte-americanos, considerado ofensivo ao profeta Maomé e ao islamismo.
Os protestos ocorrem um dia depois de os Estados Unidos reforçarem a segurança em todas as embaixadas e consulados no exterior, após a morte do embaixador americano na Líbia, John Christopher Stevens, e mais três funcionários durante um ataque de manifestantes. As autoridades norte-americanas condenaram o ataque e também os protestos.
No Egito, 13 pessoas ficaram feridas apenas no protesto de hoje que começou de madrugada. Os manifestantes, segundo as autoridades, atiraram pedras e garrafas com explosivos contra os policiais. A área onde fica a Embaixada dos Estados Unidos foi cercada por carros policiais. Ontem (12), o governo egípcio apelou para a população se conter.
No Irã, os manifestantes foram convocados por uma associação de estudantes. Com exemplares do Corão e cartazes com a fotografia do guia supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, os manifestantes gritaram: “Morte à América e Morte a Israel”.
No Iêmen, os manifestantes ocuparam a embaixada norte-americana, mas a polícia conseguiu retirar os funcionários do local. Antes de entrar na embaixada, os manifestantes protestaram retirando a placa que identificava as instalações diplomáticas e queimaram pneus. Fuzileiros norte-americanos atiraram para o ar na tentativa de dispersar os manifestantes, e a polícia iemenita lançou bombas de gás lacrimogêneo e usou canhões de água para dispersar os manifestantes.

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