O caos nosso de cada dia
Converse o prezado leitor com um
executivo de uma empresa local, de qualquer porte, e dele ouvirá
histórias de horror. Todas elas parecem viver em constante estado de
confusão. Jornadas intermináveis de trabalho, telefones celulares que
não param de cuspir emergências, e-mails que não cessam de disparar
urgências, chefes atordoados e liderados em pânico: a lista é longa e
tenebrosa. Todos parecem viver à beira de um ataque de nervos.
O que provoca tal estado das coisas? O
suspeito usual é velho conhecido. Nove entre dez executivos perguntados
a respeito provavelmente culparão a globalização, a volatilidade
econômica e a instabilidade dos mercados. Há alguma verdade nessa
resposta. De fato, quanto mais conectado for um sistema, mais sensível
um componente será em relação à ação de outro componente. Uma borboleta
batendo as asas na Amazônia pode provocar um tufão no Texas.
O primeiro fator é a confusão
estratégica. Se estratégia significa aonde ir e como chegar lá, então,
provavelmente, o conceito está ausente da maioria das organizações.
Muitas empresas multiplicam iniciativas, projetos e ações, perdendo
tempo e recursos em atividades que não as levará a lugar algum. Tempo,
recursos e energia jogados fora.
O segundo fator é a confusão estrutural.
Um modelo de organização bem pensado provê foco ao trabalho, indica o
que cada um deve fazer e os limites de sua ação. Os melhores modelos
equilibram clareza e flexibilidade, permitem extrair o melhor de cada
profissional, ao mesmo tempo que garante espaço à criatividade. Muitas
empresas ignoram as boas práticas e trabalham com estruturas mal
desenhadas, provocam alocação inadequada de recursos e geram conflitos.
Com isso, gasta-se mais tempo definindo o que deve ser feito e quem
deve fazer, do que realizando.
O terceiro fator é a confusão na gestão.
As consultorias, aliadas à fantasiosa mídia de negócios, vêm há tempos
criando e disseminando soluções mágicas para todos os males
organizacionais. Muitas empresas adotaram as soluções sem ter os
problemas. Então, para justificarem os vultosos investimentos
realizados, desenvolveram as respectivas patologias. Com isso,
tornam-se verdadeiros hospícios, nos quais os executivos passam parte
considerável do tempo em intermináveis comitês, reuniões e atividades
que não agregam valor.
O quarto fator é a confusão cultural.
Nas últimas décadas, empresas de todos os setores passaram por inúmeros
processos transformacionais: fusões, aquisições e outras mudanças
radicais. Hoje, muitas empresas constituem aglomerados de tribos com
histórias, identidades e culturas distintas, trabalhando sob uma mesma
bandeira. Ocorre que elas mantêm seus valores, comportamentos e formas
de tomar decisões e conduzir negócios. O resultado é uma nau em estado
permanente de motim, o capitão e seus asseclas sempre atarantados,
procurando manter a aparência de normalidade sob uma realidade
convulsionada.
O quinto fator é a presença dos agentes
do caos (não confundir com agentes da Kaos, da antiga série de tevê,
embora haja semelhanças). Os agentes do caos são executivos que sofrem
de confusão mental crônica. Eles (e elas) poderiam ter vida produtiva e
feliz longe dos centros decisórios empresariais. Por razões
desconhecidas, conseguiram penetrar nas pirâmides corporativas e delas
fizeram seu lar. Foram promovidos por motivos misteriosos, vindo a
ocupar cargos nos quais têm grande poder de influência. E fazem de seus
cargos a plataforma para espalhar a confusão.
Os agentes do caos marcam e desmarcam
reuniões, nas quais sempre chegam com atraso e das quais sempre saem
mais cedo; sua mente flana por outras galáxias; eles estabelecem
prioridades, esquecendo-as em seguida; mobilizam equipes para realizar
projetos de utilidade duvidosa e resultados embaraçosos; esquecem
compromissos e ignoram cronogramas. O melhor amigo do agente do caos é
seu telefone celular, permanentemente em ação, sua principal ferramenta
para disseminar a desordem.
O tempo, sabemos, é inexorável. No
entanto, o ritmo do trabalho é socialmente construído. Certos
executivos o modelam ao gosto de sua paranoia, convulsivo e frenético,
em esforço patológico para manter as hordas sob seu controle.
Para ajudá-los, criam exércitos de
agentes do caos. Eles confundem frenesi com produtividade, atividade
insana com trabalho eficiente. Em muitas organizações, o caos não vem
do ambiente. É fruto direto da incompetência gerencial.
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