Jornal do Brasil, 14 de março de 2015
Swissleaks tem nomes de empresários da mídia e jornalistas
Jornal do Brasil
De acordo com documentos vazados por um ex-funcionário do HSBC da Suíça, na lista dos 8.667 brasileiros que, em 2006 e 2007, tinham contas numeradas na instituição financeira estão donos, diretores e herdeiros de veículos de comunicação, além de jornalistas.
Reportagem no jornal O Globo relaciona 22 empresários e sete jornalistas brasileiros entre os correntistas do HSBC suíço.
Na lista, divulgada pelo jornal, constam os nomes de proprietários do Grupo Folha. Tiveram conta conjunta naquela instituição os empresários Octavio Frias de Oliveira e Carlos Caldeira Filho já falecidos. Luiz Frias, atual presidente da Folha e do UOL, aparece como beneficiário da mesma conta, criada em 1990, e encerrada em 1998.
Integrantes da família Saad, dona da Rede Bandeirantes, também tinham contas no HSBC na época em que os arquivos foram vazados. Constam entre os correntistas os nomes do fundador da Bandeirantes, João Jorge Saad e da empresária Maria Helena Saad Barros, também falecidos, e de Ricardo Saad e Silvia Saad Jafet, filho e sobrinha de João Jorge.
Outro nome que aparece na lista obtida pelo jornal é de Lily de Carvalho, viúva de dois jornalistas e donos de jornais, Horácio de Carvalho, ex-proprietário do Diário Carioca, e Roberto Marinho, dono das Organizações Globo. Os dois estão mortos. Lily de Carvalho morreu em 2011.
Na lista do jornal consta ainda Luiz Fernando Ferreira Levy (1911-2002), que foi proprietário do extinto jornal Gazeta Mercantil, e integrantes do Grupo Edson Queiroz, dono da TV Verdes Mares e do Diário do Nordeste. Constam na lista do HSBC, Lenise Queiroz Rocha, Yolanda Vidal Queiroz e Paula Frota Queiroz. Edson Queiroz Filho, que morreu em 2008, também surge como beneficiário de uma das contas.
O jornal revela ainda que na lista estão Dorival Masci de Abreu (morto em 2004), que era proprietário das rádios Scalla, Tupi, Kiss, entre outras, e João Lydio Seiler Bettega, dono das rádios Curitiba e Ouro Verde FM, no Paraná.
O levantamento de O Globo e do UOL indica ainda Fernando João Pereira dos Santos, do Grupo João Santos, da TV e da rádio Tribuna (no Espírito Santo e em Pernambuco) e Anna Bentes, que foi casada com Adolpho Bloch (1908-1995), fundador do antigo Grupo Manchete.
O apresentador Ratinho (Carlos Roberto Massa), dono da Rede Massa (afiliada ao SBT no Paraná), foi outro que teve conta no HSBC da Suíça. A lista inclui ainda Aloysio de Andrade Faria, do Grupo Alfa (Rede Transamérica) e sete jornalistas: Arnaldo Bloch (O Globo), José Roberto Guzzo (Editora Abril), Mona Dorf (apresentadora da rádio Jovem Pan), Arnaldo Dines, Alexandre Dines, Debora Dines e Liana Dines. Finaliza a lista divulgada pelo O Globo, o radialista Fernando Luiz Vieira de Mello (1929-2001), ex-rádio Jovem Pan. Alberto Dines, pai de quatro dos jornalistas citados, informou que três dos seus filhos moram há anos no exterior e não são obrigados a declarar ao Fisco brasileiro.
Procurados, os empresários de mídia e jornalistas que aparecem na lista do HSBC negaram a existência das contas numeradas na Suíça ou qualquer irregularidade. O Grupo Folha e a família de Octavio Frias de Oliveira informaram “não ter registro da referida conta bancária e manifestam sua convicção de que, se ela existiu, era regular e conforme à lei”. O Grupo Bandeirantes, de João Jorge Saad, informou, por meio de sua assessoria, que “não vai comentar o assunto”.
Sobre a conta de Lily de Carvalho, viúva dos jornalistas Horácio de Carvalho e Roberto Marinho, o Grupo Globo não comenta. Pelo Grupo Edson Queiroz, da TV Verdes Mares, Lenise Queiroz Rocha afirmou desconhecer a existência da conta. Luiz Fernando Ferreira Levy, ex-presidente da Gazeta Mercantil, disse que não tinha conta.
A família de Dorival Masci de Abreu, que era proprietário da rede CBS de rádios, disse, por meio de assessoria, que não se manifestará.
Julieta, mulher de João Lydio Seiler Bettega, da Curitiba e Ouro Verde FMs, afirmou que o casal nunca teve conta na Suíça e que é correntista do banco em Curitiba. Fernando João Pereira dos Santos, do Grupo João Santos, foi procurado por e-mail enviado para sua diretoria dele, mas não respondeu.
Anna Bentes, mulher de Adolpho Bloch, não foi encontrada. O Grupo Massa, de Ratinho, afirmou que todos os bens e valores de Carlos Roberto Massa e Solange Martinez Massa foram devidamente declarados. O Grupo Alfa, de Aloysio de Andrade Faria, afirmou que não tinha “nada a declarar”.
O jornalista Arnaldo Bloch afirmou que nunca teve conta no HSBC, no Brasil ou no exterior. Já o jornalista José Roberto Guzzo disse que “nunca teve conta no HSBC da Suíça em qualquer outra época”. Mona Dorf, da Jovem Pan, foi procurada, por meio de sua assessoria, mas não respondeu.
O jornalista Fernando Vieira de Mello afirmou que nem ele nem o pai foram titulares de conta no HSBC suíço.
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DCM, 14/03/2015
Como a Folha vai reagir à divulgação do nome de Luís Frias no Swissleaks?
Por Paulo Nogueira
O nome mais interessante entre os empresários de mídia listados no Swissleaks é, de longe, Luís Frias, presidente da Folha e do UOL.
Seria em qualquer circunstância, dada a arrogância grosseira com que a Folha regularmente dá lições de moral.
Mas o que torna especialmente picante a presença de Frias na lista é que a notícia foi dada pelo Globo.
Os Marinhos são sócios dos Frias no UOL, e não costumam ser severos com amigos, como se viu pela forma como trataram Aécio na campanha.
Qual a explicação?
Três coisas podem ter se juntado aí. A primeira: o desejo da Globo de não ser a única empresa de mídia a carregar a pecha de sonegadora. Dividir com a Folha pode aliviar a vergonha.
A segunda: dar aquela lista foi uma forma de os Marinhos mostrarem que, ao contrário do que tantos suspeitavam, eles não estão no Swissleaks. Melhor os Frias embaraçados que eles, os Marinhos.
A terceira: Luís Frias é amplamente odiado entre os barões da mídia. Na Abril, lembro bem, quando a sociedade dos Civitas com a Folha no UOL foi desfeita, o comentário no alto escalão foi o seguinte: “Nos livramos do pior sócio do mundo.”
Na Globo, sócios dos Frias no Valor, os ânimos não devem ser muito diferentes. Numa reunião de diretoria da qual participei, o presidente Roberto Irineu Marinho se referiu aos Frias como os “anões da Barão”, em referência à estatura da família.
(Farpas assim não são exatamente incomuns. Uma vez, o caçula dos Marinhos, José Roberto, me perguntou se era verdade que Roberto Civita se referia a ele e aos irmãos como os Três Patetas. Respondi que nunca ouvira RC fazer isso.)
Bem, pessoalmente acho que o motivo do artigo que embaraça os Frias é uma mistura das três hipóteses que mencionei.
Outro ponto torna ainda mais excitante o artigo do Globo. Como a Folha vai reagir?
No caso da sonegação da Globo na compra dos direitos da Copa de 2002, a atitude da Folha foi abjeta.
Ela deu uma nota, e depois o assunto sumiu do jornal para sempre.
Os Frias agora devem estar arrependidos de poupar os Marinhos, ou por deliberação própria ou depois de um telefonema dos sócios.
É previsível que, além de tentar limpar sua imagem no escândalo, os Frias se dediquem nos próximos tempos a retaliar a Globo.
Assuntos não faltam, sabemos todos.
Se a lista do Globo representar o fim da proteção que as grandes empresas de mídia são umas às outras, a sociedade sairá lucrando.
Não só os Frias lutarão por sua reputação, a rigor. Também o jornalista Fernando Rodrigues, do UOL, está numa situação constrangedora.
Por vários dias ele teve o monopólio da lista no Brasil, e o que se viu foi um engavetamento descarado de nomes.
A relação das contas foi depois passada também ao Globo, e deu no que deu.
Rodrigues está desmoralizado, é certo. Mas não é fácil a vida de um jornalista que recebe uma lista de predadores e, ao examiná-la, descobre o nome de seus patrões.
Isso tem que ser reconhecido.
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
Folha.com, 14/03/2015
França recomenda ação contra HSBC da Suíça
DO "GUARDIAN" DE BRASÍLIA
A Promotoria de Crimes Financeiros da França recomendou a abertura de processo contra a divisão de serviços bancários para alta renda do HSBC na Suíça sob suspeita de sonegação de impostos em benefício dos clientes.
A recomendação segue-se a uma longa investigação por uma suposta fraude tributária envolvendo 3.000 contribuintes do país. O banco tem um mês para responder, antes que os juízes decidam levá-lo ou não a julgamento.
A holding do HSBC, que enfrenta outra investigação na França, afirmou que esse "é um passo normal no procedimento judicial e a questão ainda não teve desfecho".
O banco tem um mês para responder, antes que magistrados franceses tomam a decisão final sobre conduzi-lo ou não a julgamento.
Segundo o jornal "Le Monde", o banco recusou um acordo para encerrar o processo mediante o pagamento de € 1,4 bilhão em multas.
O HSBC, que admitiu falhas em seus procedimentos de fiscalização e controle na unidade suíça, é alvo de dez inquéritos pelo mundo após vir à tona que o banco teria ajudado clientes a ocultar milhões de dólares até 2007.
O escândalo, que ficou conhecido como SwissLeaks, estourou com a publicação de informações vazadas por um funcionário francês do banco a um consórcio de jornalistas em fevereiro.
O presidente-executivo do HSBC, Stuart Gulliver, afirmou que as revelações são vergonhosas e prometeu uma "limpeza", mas se eximiu das ações da subsidiária suíça.
O "Guardian" relatou que Gulliver tinha conta pessoal na unidade suíça e usou empresa panamenha para canalizar ganhos. O executivo admitiu o arranjo, desfeito em 2009, mas disse que o intuito era proteger sua privacidade.
BRASIL
O Ministério da Justiça do Brasil fez contatos diplomáticos pelo acordo de cooperação bilateral com a França para trazer do país os documentos do SwissLeaks e checar o envolvimento dos brasileiros.
Segundo o secretário nacional de Justiça, Beto Vasconcelos, as informações devem chegar em até um mês.
Eventuais processos judiciais no país só podem usar documentos enviados por canais oficiais de cooperação.
Até que essas informações cheguem, porém, o governo brasileiro "adianta as investigações" com a lista vazada à imprensa, disse Gerson Schaan, chefe da Coordenação de Pesquisa e Investigação da Receita Federal.
Ministério da Justiça, Receita, Polícia Federal, Banco Central, Ministério Público e Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) trabalham na operação desde 11 de fevereiro, sem previsão para concluí-la.
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