quinta-feira, 16 de outubro de 2014

O que está em jogo





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Carta Maior, 16/10/2014 


          

PSDB ou UDN? Aécio ou Carlos Lacerda?


 
Por Francisco Fonseca




​O atual momento político/eleitoral brasileiro cheira, com outros contornos, a 1964, que, por seu turno, remete a 1989! Estamos imersos num golpe civil/midiático/rentista (somente o eixo militar não está presente, felizmente, como o estiveram nos momentos citados).

As características desse golpismo são: o moralismo; o denuncismo sem provas; a tentativa de criminalizar um partido e um grupo político; o engajamento de setores do judiciário, da Polícia Federal, do Ministério Público – em outras palavras, do próprio aparato do Estado – à campanha contra o PT; o ativismo ostensivo da mídia, não por acaso chamada de PIG; a tentativa de o PSDB se colocar como o “bem”, a favor das “pessoas de bem”, contra o inimigo, e não o adversário, simbolizado no PT, típico do comportamento protofascista.

Quanto ao seu candidato, Aécio Neves, contém o que tem de pior de dois tristes personagens nacionais: primeiro, Carlos Lacerda, que foi, como se sabe, golpista de primeira hora, verborrágico e sarcástico, sem qualquer compromisso com a democracia e fortemente “entreguista” (assemelhando-se, nesse aspecto, ao neoliberalismo ostensivo do PSDB); segundo, Collor de Mello: playboy, de biografia soturna, oportunista e igualmente neoliberal.

Trata-se de combinação explosiva, ainda mais com o conjunto de características e de apoios que já tinha com os que passou a ter: da velha UDN, transmutada em PDS, depois PFL e, por fim, DEM (não é casual que o coordenador da campanha do PSDB seja o senador Agripino Maia); o rentismo antiprodutivo, simbolizado na figura de Armínio Fraga; a velha agenda neoliberal, que enxerga o “custo Brasil” no trabalho e no trabalhador, assim como mantém a crença no “livre mercado” privatizante; o desprezo pelos pobres, demonstrado pelos mapas eleitorais em que os brancos das classes médias superiores votam como classe unida, assim como o antipetismo como expressão de ódio de classe; as classes médias ascendentes, imaginárias de sua ascensão resultante de suposta “meritocracia”; a confusão do ambientalismo marinense; a ex-esquerda revolta e oportunista, mas sobretudo sem projeto, casos do PPS e particularmente do PSB.

A lista é longa, cujas marcas são o elitismo, o rentismo, o neoliberalismo, o retorno da delimitação dos espaços entre ricos e pobres, a visão conformista norte/sul das relações internacionais, o descompromisso com a democracia (lembremos do “engavetamento geral da República”) e a prática de aparelhamento político do Estado, embora adornadas como “eficaz, eficiente e moderna” (notadamente pela via da “privatização da gestão pública”), tal como o demonstram as trágicas gestões do PSDB em vários estados, a começar por São Paulo e Minas Gerais, devidamente blindados pela mídia nacional e regional.

Um partido com essas características e com esses apoios tem tudo a retroagir, retroceder sem peias os grandes legados dos Governos Lula e Dilma.

Combater o golpe em processo, com ações sem trégua da militância nas ruas; na campanha eleitoral no rádio e na TV; na mídia alternativa; nos debates eleitorais; na denúncia eloquente do golpe, indicando o papel da mídia; no Supremo Tribunal Federal e no Tribunal Superior Eleitoral, com ações que impeçam divulgação de depoimentos sem provas; no questionamento e acompanhamento metodológico e institucional das pesquisas de opinião; nos fóruns internacionais; e no compromisso com as reformas política e da mídia são tarefas urgentes, a serem empenhadas nessas duas semanas! Em outras palavras, não cabe recuar e sim demonstrar protagonismo.
Simplesmente o que está em jogo são os direitos sociais, a democracia e um projeto de país independente! O aparato ideológico, tal como em 1964 e 1989, estão a postos e operando livremente: pesquisas sem credibilidade, financiadas pela mídia, que as divulga como quer; denuncismo sem provas que adquire status de “verdade”; imagem de caos e desgoverno: tudo isso abastece a direita sintetizada pelo PSDB, distorcendo fatos e realidades de forma incrivelmente antidemocrática.

Uma direita (cada vez mais ex-centro direita) que intenta obter o poder “sem votos”, mas pela manipulação grosseira e grotesca dos fatos, criando imagem do caos na política, na economia e na sociedade é, sem meias palavras, golpista. O Governo FHC já o havia demonstrado isso com o “populismo cambial” e com a “emenda da reeleição”. Não seria agora, em que o PSDB e a centro-direita perdem votos, poder e popularidade que seria diferente.

Isso cheira à polarização verificada na Venezuela e no México, mas o PSDB e a direita brasileira pouco se importam com isso...pois intentam o poder a qualquer custo. Carlos/Aécio Lacerda/Neves que o digam!

Embora curto, ainda há tempo para evitar essa tragédia. Afinal, os pobres ainda são maioria! Mas a disputa tem de se dar também entre as “classes médias ascendentes”.
Duas semanas podem impedir o Brasil de ingressar numa tragédia histórica! Ao se evitar isso, um novo governo Dilma – mais progressista e que “radicalize a democracia” – talvez possa florescer. Somente por isso talvez valha a aflição que os democratas e progressistas estão passando!​

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