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Carta Maior, 12/10/2014
Dilma e Aécio, dos 17 aos 21
Por Katarina Peixoto
Dos 17 aos 21 anos, Aécio Neves vivia no Rio com a família. Seu pai era deputado federal da Arena, partido sustentáculo da ditadura. Segundo o site da Câmara dos Deputados, neste período, ele teve um cargo de secretário de gabinete parlamentar na Câmara Federal, localizada em Brasília, embora morasse no Rio.
Durante esses anos, conforme relatos publicados na imprensa brasileira, Aécio foi um "menino do Rio", que gostava de surfar, de festas e estudava em escolas de elite. Entre 1977 e 1981, período em que o Brasil vivia sob ditadura civil-militar, o jovem de família ligada à Arena, partido de sustentação da ditadura, gozou a vida enquanto o Brasil vivia sob o tacão de um regime ilegítimo.
Como todo regime autoritário, a ditadura brasileira tinha na oligarquia do país o seu sustentáculo da manutenção do poder via a censura e controle da imprensa (que só podia existir como cúmplice) e a força bruta: a tortura, a perseguição e o desaparecimento de dissidentes.
Dos 17 aos 21 anos, Dilma Rousseff resistia à ditadura civil-militar. Segundo ela mesma e os documentos da época, engajou-se na resistência armada que reagiu ao Ato Institucional n. 5 e foi, entre os 18 e 21 anos, barbaramente torturada, pelo governo que tinha, entre outros sustentáculos, a família do candidato Aécio, filho ele mesmo de um deputado da Arena.
Entre 1977 e 1981, Dilma Rousseff morava em Porto Alegre. Estudou, casou, teve uma filha, reerguendo a própria vida e tomando parte na resistência democrática e na luta pela reabertura do país, pelas eleições diretas, pela anistia, pelo fim da ditadura, pela democracia.
A trajetória de Dilma não começou em Porto Alegre, assim como a de Aécio não começou no gabinete de Sarney, onde esteve, por ser neto de Tancredo Neves.
Não é correto, a não ser que se defenda, como o candidato Aécio defende, a redução da maioridade penal, atribuir responsabilidade penal a adolescentes.
Mas é correto, quando se tem compromisso com a democracia, levar a memória, a história e as responsabilidades a sério. A origem social de ninguém, numa democracia, deve ser destino, e menos ainda garantia. Por isso, é inegável reconhecer esta diferença tão radical de trajetórias dos candidatos e da maneira como eles reivindicam as suas biografias; uma candidatura é representante da democracia e da luta histórica pela democracia; outra, da oligarquia e da luta histórica contra a democracia. Em nome dessa luta e de sua legitimidade histórica, é preciso que Aécio seja derrotado pela democracia.
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