sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Cubanos expulsão norte-americanos da Florida

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OGlobo.com, 24/10/14

Lagarto de Cuba ocupa a Flórida e expulsa os americanos


Por Renato Grandelle
 
 
 
 
 
Parece um filme de terror do Tea Party, o movimento de extrema-direita americano que tem ojeriza à imigração latina. Lagartos cubanos estão invadindo ilhas da Flórida e afugentando seus parentes dos EUA. Para sobreviver aos exóticos caribenhos, a espécie nativa desenvolveu, em apenas 15 anos, lamelas sobre suas patas. Com isso, conseguiram maior adesão aos galhos e uma escalada segura até locais mais altos e lisos, fora do alcance dos intrusos.
 A velocidade da evolução dos lagartos verdes (Anolis carolinensis), da Flórida, impressionou o biólogo Yoel Stuart, pesquisador da Universidade do Texas em Austin.

— A chegada dos lagartos marrons (Anolis sagrei), de Cuba, obrigou a espécie da Flórida a mudar o seu nicho. Se não o fizesse, provavelmente seus filhotes seriam comidos no caminho — conta Stuart, que publicou seu estudo na revista “Science”. — Houve uma pressão muito grande para ele evoluir e se agarrar bem aos galhos, já que o solo estava ocupado pelos cubanos, muito mais populosos.

A equipe de Stuart, reforçada por colaboradores de três universidades americanas, introduziu os lagartos cubanos em três ilhas na Flórida em 1995. Quinze anos depois — tempo equivalente a 20 gerações dos animais —, voltaram e encontraram o ecossistema modificado pela multiplicação dos espécimes cubanos e pela altura na árvore alcançada por seus primos dos EUA.

Professor do Departamento de Ecologia da Uerj, Carlos Frederico Rocha destaca as mudanças impostas pela espécie invasora na comunidade local. Ao chegar ao novo habitat, os lagartos cubanos e os americanos competiram pelos mesmos recursos. Para garantir seus alimentos e a regulação da temperatura corporal, os lagartos da Flórida evoluíram a fim de alcançar as partes superiores de galhos e arbustos, onde não teria adversários.

— Essa mudança só pôde ocorrer pelo surgimento de uma mutação genética, que permitiu o surgimento de lâminas nos dedos — lembra. — A transformação no gene precisa passar de uma geração para outra, até se tornar dominante e garantir o sucesso reprodutivo da espécie.

A revista “Science” apresenta o estudo como um exemplo bem documentado do que os biólogos evolucionistas chamam de “deslocamento de caráter” — quando uma espécie adquire características diferentes para evitar a competição com outra. Um exemplo clássico vem dos tentilhões estudados por Charles Darwin. Duas espécies do pássaro nas Ilhas Galápagos, no Oceano Pacífico, divergiram na forma do bico para se adaptar a diferentes fontes de alimento.

De acordo com Stuart, os lagartos marrons foram vistos pela primeira vez na Flórida na década de 1950, onde teriam chegado como “intrusos” a bordo de navios cargueiros cubanos. Em 1962, um embargo econômico congelou o comércio entre EUA e a ilha dos Castro, mas os marrons já estavam completamente adaptados à terra estrangeira.

— Acho que elas vieram para ficar — opina o pesquisador. — Enquanto houver árvores altas, onde os lagartos cubanos não conseguem chegar, eles e os americanos poderão coexistir.

O homem foi o responsável por colocar, nas última décadas, verdes e marrons no mesmo espaço. Ambientalistas consideram que o convívio entre seres nativos e invasores compromete a diversidade de espécies do planeta.

— O elevado número de invasões biológicas está causando uma perda de biodiversidade, cujos efeitos negativos ainda são pouco conhecidos — lamenta Rocha. — Precisamos manejar as espécies exóticas e erradicá-las dos ambientes em que chegaram.

Mais uma intervenção humana testará o fôlego de outros seres vivos. As mudanças climáticas iniciaram um silencioso processo de extinção. Segundo um estudo publicado na “Science” em 2010, o aquecimento global é o responsável pelo desaparecimento de 5% das espécies de lagartos. O índice pode chegar a 40% em 2080, devido a modificações no tempo de exposição ao Sol e à busca cada vez mais difícil por alimentos.




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