Blog do Santayana, 09/10/2014
De novo, o México
Por Mauro Santayana
No último dia 25 de setembro, há apenas alguns dias, portanto, um grupo de alunos de uma escola rural de segundo grau do Estado de Guerrero, resolveu realizar um protesto contra as más condições de ensino.
Perseguidos, atacados
e presos por policiais, e levados para um quartel, por ordem do Chefe de
Polícia, Francisco Salgado Valladares, e do Prefeito, Jose Luis Abarca
- que se encontra foragido - foram entregues a um grupo de
narcotraficantes conhecido como “Guerreros Unidos”, comandado por um
tal de “El Chucky”, e levados para local desconhecido.
Poucos dias depois,
28 corpos foram encontrados, queimados, em uma fossa coletiva na periferia de
Ayala, e 43 estudantes - que estavam se formando como futuros professores para
dar aulas na zona rural - continuam desaparecidos.
De que trata essa
história? De um novo roteiro cinematográfico, prestes a ser filmado por
Hollywood ? De um “thriller", recentemente publicado nos EUA, que, no
final, levará aos motivos do crime e à punição dos culpados?
Ou, simplesmente, de
mais uma notícia, envolvendo uma nação cuja renda, segundo a OCDE, é de menos
de sete dólares por dia; um país que tem o menor salário mínimo da América
Latina, equivalente a 10.99 reais por jornada; no qual apenas 25% das pessoas
tem acesso à internet; que acaba de cair seis posições no ranking de
Competitividade Global do Fórum Econômico Mundial, ficando por trás do Brasil;
e, segundo a OIT, 60% da força de trabalho está na informalidade; mais de 75%
da população não tem cobertura previdenciária, e, segundo a CEPAL, 13% dos
habitantes são indigentes e 40% da população está abaixo da linha de pobreza?
Quem responder que
país é esse ganha um taco ou uma empanada no primeiro restaurante mexicano da
esquina.
Esse é um país que
quase nada fabrica, mas que monta muita coisa produzida por terceiros, a ponto
de ter tido, devido à importação de peças e componentes, um déficit
de 51 bilhões de dólares com a China no ano passado.
Um país que importa
comida de nações como os EUA e o Brasil, porque não
é auto-suficiente sequer em alimentos, e que, embora tenha
feito dezenas de tratados de livre comércio, dirige 90% de “suas”
exportações para apenas dois lugares, o Canadá e os EUA, país a cujo ritmo de
crescimento econômico está totalmente atrelado, e que é sede das maiores
empresas instaladas em seu território e o principal, quase único, destino, das
mercadorias “maquiadas” e dos lucros gerados, graças aos baixíssimos salários,
por sua economia - um trabalhador da indústria automobilística mexicana recebe
um terço do que ganha, em dólar, um brasileiro pelo mesmo trabalho.
Lembramos, de novo,
esse país, porque ele continua a ser citado, agora por lideranças da Rede
Sustentabilidade, como exemplo de país bem sucedido na América Latina.
O Brasil de hoje já
tem problemas suficientes para serem discutidos no debate em curso, que nos
separa da votação do segundo turno.
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