terça-feira, 7 de janeiro de 2014

O futuro dos coxinhas

O personagem-símbolo dos coxinhas


3/12/12


O Coxinha


Marina Cohen

 

RIO - Churras, champa, califa, sirenight, top. Se essas palavras fazem parte do seu vocabulário, provavelmente, você é um “coxinha”. Se não, o dicionário “Coxês-Português” vai te ajudar a entender não só o significado dos termos como o estilo de vida dessa tribo que adora “causar nos camarotes das baladas top”.

A gente explica: coxinha”, na gíria popular, é o apelido dado aos paulistas que têm dinheiro no bolso e o gastam comprando camisas da Abercrombie e indo a boates frequentadas pelo Luciano Huck com seus “brothers”. O importante é sempre “fechar” um camarote e pedir uma garrafa de “champa”.

Para ajudar a entender o tipo, o paulistano Lucas Guratti, de 23 anos, criou, junto com a amiga e ilustradora Rossiane Antúnez, de 21, o tumblr “Dicionário Coxês-Português”, que, segundo a descrição oficial da página, apresenta “a tradução definitiva do dialeto dos coxinhas para o bom português”.

— Eu sempre gostei de tirar um sarro do comportamento coxinha e não aguentava mais ouvir a palavra “top”. Foi quando eu resolvi escrever a tradução de “top” como se fosse um verbete de dicionário e postei no meu Facebook. Muita gente curtiu e achou que a brincadeira tinha potencial para continuar com outros termos ditos pelos coxinhas — explica Lucas, que é publicitário.

“Top: adj 1. De qualidade, legal, diferenciado 2. Que designa superioridade 3. Neologismo usado pela juventude coxinha criada a sertanejo com energético para demonstrar entusiasmo 4. Comumente seguida pela interjeição “mêo” (ex.: Open bar muito top, mêo) 5. Também costumeiramente seguida da interjeição conjuntiva “mein” - do inglês, man (ex. Baladinha top, man / Baladinha top, mein).”

O vasto material da página, que já tem 32 verbetes, foi coletado por Lucas e Rossiane in loco, já que os dois cursaram publicidade na ESPM, uma “faculdade repleta de estudantes essencialmente coxinhas”, como diz o rapaz.

— Hoje, bastam 10 minutos navegando no Facebook, principalmente em eventos de festas de faculdades particulares, duas cervejas num bar do Itaim ou da Vila Olímpia, um almoço numa praça de alimentação lotada de gente com crachá pendurado e pronto, lá estão mais verbetes — comenta Lucas.

O garoto, que até deixa uma expressão coxinha escapar aqui ou acolá, tranquiliza quem costuma usar um ou dois termos no dia a dia. Isso não quer dizer que a pessoa seja um membro do grupo.

— Todo mundo tem amigos coxinhas ou acaba indo a lugares frequentados por coxinhas de vez em quando, então é normal ser contaminado por essa cultura. Mas isso não torna ninguém coxinha, até porque isso é algo que faz parte da pessoa, é uma mistura de estilo de vida, valores e estado de espírito. Não se vira um João Dória Jr., um Luciano Huck ou um Álvaro Garnero assim, do dia para a noite. Ser coxinha exige anos de prática — conceitua.

— A ideia é colocar coisas diferentes lá, além dos verbetes. Coisas que também têm a ver com esse universo. Vem muita coisa top por aí, mêo — brinca Lucas.

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O futuro do atual levante niilista


Por Wanderley Guilherme dos Santos


Regras democráticas e direitos constitucionais não transferem suas virtudes às ações que os reivindicam como garantia. Máfias e cartéis econômicos também são organizações voluntárias e nem por isso o que perpetram encontra refúgio na teoria democrática ou em dispositivos da Constituição. Esgueirar-se entre névoas para assaltar pessoas ou residências não ilustra nenhum direito de ir e vir, assim como sitiar pessoas físicas ou jurídicas em pleno gozo de prerrogativas civis, políticas e sociais, ofendendo-as sistematicamente, nem de longe significa usufruir dos direitos de agrupamento e expressão.

Parte dos rapazes e moças que atende ao chamamento niilista confunde conceitos, parte exaure a libido romântica na entrega dos corpos ao martírio dos jatos de pimenta, parte acredita que está escrevendo portentoso capítulo revolucionário. São estes os subconjuntos da boa fé mobilizada. Destinados à frustração adulta. É falsa a sugestão de que se aproximam de uma democracia direta ou ateniense da idade clássica. Essa é a versão de jornalistas semi-cultos que ignoram como funcionaria uma democracia direta e que crêem na versão popularesca de que Atenas era governada pelo Ágora – uma espécie de Largo da Candelária repleto de mascarados e encapuzados trajando luto.

Os Ágoras só tratavam de assuntos locais de cada uma das dez tribos atenienses. Em outras três instituições eram resolvidos os assuntos gerais da cidade, entre elas a Pnyx, que acolhia os primeiros seis mil atenienses homens que lá chegassem. Ali falava quem desejasse, apresentassem as propostas que bem houvessem e votos eram tomados. Os nomes dos proponentes, porém, ficavam registrados e um conselho posterior avaliava se o que foi aprovado fez bem ou mal à cidade. Se mal, seu proponente original era julgado, podendo ser condenado ao confisco de bens, exílio ou morte.

A idéia de democracia direta como entrudo, confete e um cheirinho da loló é criação de analistas brasileiros. As cicatrizes que conquistarem nos embates que buscam não semearão, metaforicamente, sequer a recompensa de despertar o País para a luta contra uma ditadura (pois inexistente), apesar de derrotados, torturados e mortos – reconhecimento recebido pelos jovens da rebelião armada da década de 70. Estão esses moços de atual boa fé, ao contrário, alimentando o monstro do fanatismo e da intolerância e ninguém os aplaudirá, no futuro, pelo ódio que agora cultivam, menos ainda pelas ruínas que conseguirem fabricar. Muito provavelmente buscarão esconder, em décadas vindouras, este presente que será o passado de que disporão.

Arrependidos muitos, como vários dos participantes do maio de 68, francês, cuja inconseqüência histórica (e volta dos conservadores) é discretamente omitida nos panegíricos. Revolução? – Esqueçam. Das idéias, táticas e projetos que difundem não surgirá uma, uma só, instituição política decente, democrática ou justa. Não é essa a raiz dessa energia que os velhotes têm medo de contrariar. É uma enorme torrente de energia, sem dúvida, mas é destrutiva tão somente. E mais: não deseja, expressamente, construir nada.

Sob cartolinas e vocalizações caricaturais não se abrigam senão balbucios, gagueira argumentativa e proclamações irracionais. Os cérebros do niilismo juvenil sabem que não passam de peões, certamente alguns muitíssimo bem pagos, talvez em casa, a atrair bispos, cavalos e torres para jornadas de maior fôlego. Afinal, os principais operadores da ordem que se presumem capazes de substituir são seus pais e avós. Em cujas mansões se escondem, no Leblon e nos Jardins.

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