domingo, 5 de janeiro de 2014

Nafta: Camponeses e indígenas denunciam 20 anos de destruição



Portal Vermelho, 5 de Janeiro de 2014  

               

Nafta: Camponeses e indígenas denunciam 20 anos de destruição


Da redação do Vermelho,
Com The Real News

Nafta

      
 
Grande parte da mídia estadunidense comemora os 20 anos do Nafta, o acordo que derrubou barreiras comerciais entre o México, o Canadá e os Estados Unidos, prometendo criar empregos e crescimento econômico sustentável.

Mas outro aniversário, também de 20 anos, está recebendo menos atenção, ressalva Jaisal Noor, produtor de The Real News. Em 1º de janeiro de 1994, o levante zapatista foi lançado no estado mexicano de Chiapas, no sul do país. Camponeses maias dão depoimentos, no vídeo, sobre as advertências que os zapatistas fizeram contra a globalização liderada pelas grandes companhias, como o Nafta, e seu destino de destruição das já empobrecidas comunidades indígenas no México.

Como resposta, exigiam autonomia local e acesso à terra, saúde, alimentação, educação e trabalho, como direitos fundamentais. “Mas, 20 anos depois, enquanto a maior parte da imprensa está saudando o México como grande beneficiado pelo Nafta, a mensagem dos zapatistas está se evidenciando como verdade. Importações subsidiadas de alimentos dos EUA inundaram o México, custando o sustento de mais de dois milhões de trabalhadores mexicanos,” diz o documentário.

De acordo com Esteva, na entrevista, a associação do levante zapatista com a assinatura do Nafta é clara. Em 1992, como pré-condição para a assinatura do acordo, houve uma reforma constitucional que eliminou a última proteção aos povos indígenas e aos camponeses mexicanos. “Era a possibilidade de terem terras e manterem aquela terra fora do mercado”, explica.

Por causa do levante zapatista, diz Esteva, a questão indígena voltou ao topo da lista de prioridades no México. Até então, a questão havia quase desaparecido do debate político.

Além disso, sua luta trouxe propostas alternativas à globalização neoliberal já intensa à época, com a aceitação generalizada. “Os zapatistas foram um chamado à atenção. Todos os movimentos antissistêmicos hoje reconhecem isso. Eles nos dizem, você sabe, você pode dizer não, e nós podemos dizer ‘basta’ a este terrível prospecto de neoliberalismo.”

Para Esteva, o principal impacto do Nafta é “a produção dos homens mais ricos do mundo, e alguns dos mais pobres,” ambos de condições mutuamente dependentes. O ativista indica que a última estimativa revelou um terço dos mexicanos vivendo fora do país, um dos processos migratórios mais expressivos da história recente, com o número de pobres aumentando continuamente no próprio México.
A principal produção mexicana é o milho, mas o país importa, atualmente, um terço do milho que consome, “produzindo muito dano aos camponeses e, principalmente, para as comunidades indígenas.” Por causa do Nafta, diz Esteva, o governo garantiu 50 anos de concessões de terras a companhias estrangeiras e, por isso, precisa “limpar o povo da terra”. Por outro lado, é claro, o povo indígena “está resistindo à agressão e à destituição dos seus meios de subsistência, da possibilidade de viverem as suas próprias vidas.”

“Isto é o Nafta, para nós. É uma situação muito real que nos trouxe o pior tipo de resultados que sofremos na nossa história,” continua. “Estamos diante da possibilidade de ter o pior tipo de guerra civil, ou seja, o tipo em que você não sabe quem está lutando contra quem. Estamos em meio à miséria extrema, à violência extrema, com muitos mexicanos impossibilitados de viverem seu próprio país.”

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