quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

A Entrada de José Serra no caso FHC-Mirian


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DCM, 18/02/2015



A Entrada de Serra no caso FHC-Mirian

Por Paulo Nogueira



E eis que Serra entra no escândalo Mírian-FHC.

Não que, a rigor, seja novidade. Os conhecedores da história sabem que Serra foi um dos articuladores da operação ‘Cala Mírian’, nos anos 1990.

Mas agora a história rompeu a Conspiração do Silêncio contra Mírian, feita para proteger a candidatura presidencial de um mau marido, mau amante e mau pai.

E Serra entra a seu modo: usando dinheiro público. A irmã de Mírian, Margrit Dutra, é funcionária fantasma do gabinete de Serra.
É um velho hábito dele. Virtualmente toda a família de Soninha foi empregada no governo de São Paulo quando Serra ocupava o Palácio dos Bandeirantes.

Nada melhor do que ser generoso com o dinheiro do outro, Serra sabe. Você recebe a gratidão sem ter que mexer na carteira.

Aécio, com os múltiplos amigos, parentes e agregados que empregou em Minas, conhece bem essa cartilha.

A importância do episódio está em desmascarar a pregação cínica de Serra (e Aécio) a respeito de meritocracia.

Eles falam em meritocracia  — o ato de montar uma equipe com base em talento e mérito, em vez de compadrio e interesse pessoal – tanto quanto a desrespeitam.

Isso se chama demagogia. Isso é uma atitude corrupta.

Serra tenta defender o indefensável dizendo que a irmã de Mírian trabalha em casa.

Para repetir a grande frase de Wellington, quem acredita nisso acredita em tudo.

Quem mexer no Senado vai encontrar, certamente, vários casos além do de Serra.

A filha do protagonista do presente escândalo, FHC, estava lotada no gabinete do ex-senador Heráclito Fortes sem pisar lá.

Como o PSDB é amigo da mídia, nada é noticiado.

Não fosse o surgimento do jornalismo digital, tudo isso continuaria a não ser noticiado, e demagogos como FHC, Serra e Aécio poderiam fazer seus discursos cínicos de falsos Catões.

Considere o caso Mírian.

Ele só se tornou amplamente conhecido por causa da internet. Não fosse a modesta revista digital BrazilcomZ, que deu voz à namorada rejeitada de FHC, e ficaria escondida entre poucos privilegiados a lama que veio à tona para milhões de brasileiros.

A imprensa – que sempre soube de tudo – corre agora para falar de um assunto em que ela teve um papel vital.

Até o Globo, que manteve Mírian na folha de pagamentos por anos em troca do seu silêncio, está correndo atrás da história depois que ela viralizou nas redes sociais.

E a Folha, que sempre alegou que era um caso de interesse privado para não noticiar o caso, agora faz sucessivas entrevistas que desmentem a tese indecente sob a qual o jornal acobertou FHC.

Não será surpresa se a Folha reivindicar que o grande furo foi seu, ao dar a empresa que ajudou FHC a pagar um mensalão para Mírian.

Bastava o mínimo de empenho para descobrir todos os horrores que demonstram cabalmente que se trata de um fato de enorme interesse público.

A internet livrou a sociedade da manipulação da mídia. Essa é a principal conclusão duma história de amor que se transformou numa trama de terror.


http://www.brasil247.com/pt/blog/terezacruvinel/217646/Miriam-Dutra-FHC-fomos-todos-c%C3%BAmplices.htm


​Brasil 247, 18/02/16


Miriam Dutra-FHC: fomos todos cúmplices

​Por Tereza Cruvinel​


Estamos diante de mais uma visita da hipocrisia nacional, e especialmente, da hipocrisia midiática. Para os donos e para os profissionais da imprensa nacional, não há surpresa alguma, não há novidade alguma no que a jornalista Miriam Dutra contou em duas entrevistas - uma à revista BrazilcomZ, outra à jornalista Monica Bérgamo, na Folha de S. Paulo - sobre seu relacionamento com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ao longo dos últimos 30 anos este foi o maior segredo de polichinelo de Brasília,  na elitista colmeia que reúne o jornalismo e a política.  Ali fui também uma abelha importante por muitos anos, até ser expurgada por razões de não vêm ao caso aqui. Na colmeia, todos sempre souberam  e muitos testemunharam tudo isso que agora surge como notícia e revelação. Agora a mídia trata do assunto não apenas porque Miriam falou mas também porque os fatos, de tão velhos, não podem mais morder os envolvidos, ou talvez porque o ex-presidente já entrou para o Olimpo histórico, onde se pensa que nada mais pode atingi-lo.

Ao longo dos últimos 30 anos, o romance, o filho e o exílio bem remunerado de Miriam foram ignorados pela mídia porque pertenceriam ao domínio da vida privada, embora em algum momento tenha se tornado uma questão política.  Pessoalmente, defendo com fervor o respeito à privacidade das pessoas públicas, exceto quando há um tangenciamento discutível com o interesse público

Não há um só jornalista que tenha atuado em Brasília nas últimas décadas, ou mesmo fora da capital, mas em sintonia com a política nacional, que não tenha acompanhado ou sabido dos fatos que Miriam narrou agora.  Com exceção,  talvez, da história de dois abortos, questão que ela só revelou às amigas mais íntimas ao longo destes anos. Ser bem informado em Brasília é também saber daquilo que não vira informação. A vida de Miriam e os desdobramentos do caso, ao longo dos anos, sempre foram acompanhados com interesse pela imprensa, não para produzir notícia mas para o controle da informação, digamos assim.

No mais, fomos todos cúmplices, assim como ela própria viveu tudo isso porque, como disse, porque se permitiu.  Nunca ninguém sequer cogitou, em nenhuma redação de Brasília, de escrever sobre o assunto.  Nem os chefes e muito menos os repórteres.  Nunca se ignorou que Fernando Lemos, então marido da irmã de Miriam, fosse o encarregado da parte financeira do problema. Ela tinha muitos e gordos contratos pela Esplanada afora na era FHC. Ele já se foi mas a morte não interdita a verdade.  Nunca se ignorou que a  TV Globo  mantinha Mirim contratada mas não a pautava.  Até há dois anos atrás, quando veio à baila a história do DNA com afirmação em contrário, Thomaz Dutra era por todos, inclusive pelo próprio, tido como filho do ex-presidente. Nunca se ignorou que dona Ruth Cardoso, em vida, aborreceu-se tanto com a historia que um reconhecimento, enquanto ela vivesse, tornou-se inviável.

Quando a revista “Caros Amigos” fez uma matéria sobre o assunto, há alguns anos, talvez uns dez ou doze, a reação da grande  mídia foi um silêncio obsequioso.

Então não me venham, caros colegas, com estes ares de novidade.

Miriam deve ter suas razões para falar agora, e sejam quais forem, é um direito dela.  O ex-presidente falará se quiser.

Aos brasileiros hoje divididos pelo conflito político, a história apenas confirma a opção preferencial da grande mídia pelo PSDB. Aos moralistas de plantão, reitera que o método de resolver problemas pessoais da elite política sempre foi o mesmo: passando pelo Estado ou pelas conexões empresariais.

De resto, o folhetim nos diz que o amor faz das suas, em todos os ambientes. Miriam era uma moça linda e desejada. FHC um homem brilhante, inteligente e charmoso, que encantava mesmo as mulheres. Alguns abismos os separavam. Deu nisso. Ou, como eu ouvia de uma velha tia, incrédula, quando era menina em Minas: "o amor é uma flor roxa que nasce no coração dos trouxas."

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